Cerno

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Cerno[1] (em grego: κέρνος; romaniz.:kérnos ou cérnos ou κέρχνος; plural: cérnoi ou kérnoi) é a designação de um tipo de vaso da Grécia Antiga em forma de anel cerâmico ou de tabuleiro de pedra ao qual se pregam vários pequenos vasos contendo oferendas a divindades. A sua forma usual é descrita em fontes literárias, as quais também enumeram e descrevem os ingredientes rituais que podiam conter.[2] Os cernos eram usados principalmente nos cultos de Deméter, Core, Cibele e Átis.[3] Os mais antigos conhecidos são da Civilização Cicládica e remontam pelo menos ao século XIV ou XIII a.C.[4]

Cerno de terracota da Civilização Cicládica, c. 2000, encontrada num túmulo em Milos, atualmente no Museu do Louvre, Paris
Outro cerno cicládico, século XXII a.C.

O termo grego é por vezes aplicado a vasos similares de outras culturas encontradas no Mediterrâneo, Levante, Mesopotâmia e Ásia Meridional.[5]

Descrição de Ateneu editar

Há uma descrição antiga dos cernos da autoria de Ateneu de Náucratis:

[...] um vaso de terracota com muitas pequenas taças presas a ele. Continham salva, sementes de papoila-branca, trigo, cevada, aveia, espelta (?), ervilhas (?), ervilhacas (?), legumes secos, lentilhas, feijões, bolos de fruta esmagada, mel, azeite, vinho, leite e de ovelha sem ser lavada. Quando se oferece o vaso, como um licnóforo (λικνοφόρος), prova-se o seu conteúdo.
 
Dipnosofistas (Banquete dos Eruditos). Ateneu de Náucratis [6].

O cerno era carregado em procissão nos Mistérios Eleusinos no cimo da cabeça de uma sacerdotisa, algo que se encontra representado em peças de arte. Por vezes era colocada uma lâmpada por cima dos cernos estáticos.[7][a]

Notas e referências editar


[a] ^ O verbo kernophorein (cernoforein) significa "segurar o cerno"; o substantivo correspondente é kernophoria (cernoforia).[7]
  1. «Nomes portugueses para cerâmica grega e romana». Consultado em 9 de setembro de 2015 
  2. Collins-Clinton, Jacquelyn (1976), A Late Antique Shrine of Liber Pater at Cosa, ISBN 9789004052321 (em inglês), Brill Archive, p. 29–30, consultado em 22 de janeiro de 2014 
  3. Borgeaud, Phillippe (1976), Mother of the Gods: From Cybele to the Virgin Mary, ISBN 9780801879852 (em inglês), Johns Hopkins University Press (publicado em 2004), consultado em 22 de janeiro de 2014 
  4. Mertens, Joan R. (2010), How to Read Greek Vases, ISBN 9781588394040 (em inglês), Nova Iorque: Metropolitan Museum of Art, p. 32–35, consultado em 22 de janeiro de 2014 
  5. Dales, George F.; Kenoyer, Jonathan M.; Alcock, Leslie (1986), «Kernos Rings», Excavations at Mohenjo Daro, Pakistan: The Pottery, ISBN 9780934718523 (em inglês), University of Pennsylvania Museum, p. 226, consultado em 22 de janeiro de 2014 
  6. Ateneu 11.478c = Polemon, frg. 88 Preller. In Thompson, Homer A. (1934), Hellenistic Pottery and Terracottas, ISBN 9780876619445 (em inglês), American School of Classical Studies at Athens (publicado em 1987), p. 448, consultado em 22 de janeiro de 2014 
  7. a b Xanthoudides, Stephanos (1906), «Cretan Kernoi», Annual of the British School at Athens (em inglês) (12): 9 
 
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