Leite Derramado é o quarto romance de Chico Buarque, lançado no dia 28 de março de 2009 pela editora Companhia das Letras.[1][2]

Leite Derramado
Leite Derramado
Capa da primeira edição do livro Leite Derramado de Chico Buarque
Autor(es) Chico Buarque
Idioma português
País  Brasil
Editora Companhia das Letras
Lançamento 2009
Páginas 200
Cronologia
Budapeste (livro)
O Irmão Alemão

Sinopse editar

Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o descendente, garotão do Rio de Janeiro atual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A visão que o autor nos oferece da sociedade brasileira é extremamente pessimista: compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção, destruição da natureza, delinquência.[1]

A saga familiar marcada pela decadência é um gênero consagrado no romance ocidental moderno.[1]

A fala desarticulada do ancião, ao mesmo tempo que preenche uma função de verossimilhança, cria dúvidas e suspenses que prendem o leitor. O discurso da personagem parece espontâneo, mas o escritor domina com mão firme as associações livres, as falsidades e os não-ditos, de modo que o leitor pode ler nas entrelinhas, partilhando a ironia do autor, verdades que a personagem não consegue enfrentar.[1]

Há também um jogo com os espaços onde ocorrem os acontecimentos narrados. As várias casas em que o narrador morou, como as décadas acumuladas em suas lembranças, se sobrepõem e se revezam. Recolocá-las em ordem cronológica é assistir a uma derrocada pessoal e coletiva: o chalé de Copacabana, “longínquo areal” dos anos 20, é substituído por um apartamento num edifício construído atrás de seu terreno; esse apartamento é trocado por outro, menor, na Tijuca; o palacete familiar de Botafogo, vendido, torna-se estacionamento de embaixada; a fazenda da infância, na “raiz da serra”, transforma-se em favela, com um barulhento templo evangélico no local da velha igreja outrora consagrada pelo bispo. Embaixo da última morada do narrador, nesse “endereço de gente desclassificada”, está o antigo cemitério onde jaz seu avô.[1]

Percorre todo o texto a paixão mal vivida e mal compreendida do narrador por uma mulher. Os múltiplos traços de Matilde, seu “olhar em pingue-pongue”, suas corridas a cavalo ou na praia, suas danças, seus vestidos espalhafatosos, ao mesmo tempo que determinam a paixão do marido e impregnam indelevelmente sua lembrança, ocasionam a infelicidade de ambos. Os preconceitos e o ciúme doentio do homem barram a realização plena da mulher e levam-na a um triste fim, que, por não ter nem a certeza nem a teatralidade dos desfechos de uma Emma Bovary ou de uma Ana Karênina, tem a pungência de um desastre. Embora vista de forma indireta e em breves flashes, Matilde se torna, também para o leitor, inesquecível.[1]

O fato de nem no fim da vida o homem compreender e aceitar o que aconteceu torna seu drama ainda mais lamentável. Os enganos ocasionados por seu ciúme são tragicômicos.[1]

Edições editar

Edição brasileira

Traduções

Referências

  1. a b c d e f g Buarque, Chico (2009). Leite Derramado. [S.l.]: Companhia das Letras 
  2. «'Leite Derramado' é o título do novo livro de Chico Buarque» 

Ligações externas editar

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