Nota: Para outros significados, veja Lótus.

O lotos (em grego: λωτός; romaniz.:lōtós) ou árvore de lótus (ou árvore de lotos) é uma planta fantástica que aparece em duas histórias da mitologia grega: a Odisseia de Homero[1] e em Metamorfoses e Fastos de Ovídio,[2] que também é mencionada no Livro de Jó[3] do Antigo Testamento, por Plínio, o Velho[4] e por Maomé.[1]

Na Odisseia, lotos era uma comida em forma de flor, com aroma suave de mel, que fazia a pessoa que a comia esquecer a sua missão. Odisseu enviou três homens para explorar a ilha, chamada terra dos comedores de lotos (Lotófagos ou Lotophagi), e estes homens não quiseram voltar aos navios, sendo arrastados à força, chorando. Odisseu foi rapidamente embora desta ilha, antes que os outros homens comessem o lotos e não quisessem mais voltar para casa.[5][6] O termo lotófago é por isso aplicado a alguém que leva uma vida despreocupada e de luxúria.[1]

Em Fastos, Ovídio narra uma história de quase violação da ninfa Lótis, que dormia sob efeitos do álcool.[carece de fontes?] Baco havia dado uma festa, para a qual foram convidados os seus companheiros e várias náiades, que, sob o efeito do vinho, começaram a despir-se: várias estavam com os cabelos despenteados, uma usava a túnica acima dos joelhos, uma com a roupa rasgada mostrava o seu seio, uma despiu os ombros e outra deixou a saia na relva, e todas estavam descalças, o que deixou os sátiros em fogo, inclusive o velho Sileno.[7] Príapo,[a] a glória e o guardião dos jardins, se apaixonou por Lótis, mas ela desprezou o seu amor. Quando chegou a noite e ela adormeceu na relva, longe das outras, Príapo tentou aproveitar-se dela, mas quando já havia tirado sua cobertura, o asno de Sileno fez um barulho que a acordou. Lótis acordou e, em terror, empurrou Príapo e acordou as outras ninfas ao sair a correr. Príapo, cuja parte obscena estava claramente visível sob a luz da Lua, foi ridicularizado por todos. O asno foi punido com a morte, e agora é um sacrifício ao deus do Helesponto.[8] Na fuga, Lotis se transformou em um arbusto, que dava flores na cor da púrpura de Tiro.[9][10] O nome lotos é derivado do nome da ninfa.[1]

Em Metamorfoses de Ovídio, Dríope de Ecália ia um dia com o seu filho ao colo quando colheu uma flor de lótus e foi instantaneamente transformada num lotos.[9][1]

O Livro de Jó menciona o lotos nos versículos 40:21-22, que falam numa grande criatura chamada Behemoth que está deitada debaixo de árvores de lotos, escondida entre juncos e outras plantas; os lotos estão rodeados de choupos.[3][11] Segundo Maomé, há uma árvore de lotus no 7º céu, à direita do trono de Deus.[1]

Plínio, o Velho menciona várias vezes o lotos na sua obra História Natural,[4] nomeadamente citando a plantação de seis lotos por Lúcio Licínio Crasso no jardim da sua casa em Roma, no final do século II a.C., árvores que causavam admiração e que sobreviveram até ao Grande incêndio de Roma em 64 d.C.[12] Plínio descreve o lotos como uma árvore que cresce em África e foi introduzida em Itália, do tamanho da pereira, com a folha muito recortada. Os seus frutos cresciam muito juntos nos ramos, eram do tamanho de favas e quando maduros eram da cor do açafrão, comestíveis, com e sem caroço e com eles se produzia um vinho muito doce. A madeira era negra e era usada para fazer flautas.[13]

A árvore de lotos pode ter sido inspirada pelo diospireiro (Diospyros lotus), uma árvore nativa de África que atinge sete a oito metros de altura e cujas flores são verdes amareladas, ou a Ziziphus lotus, da família da jujuba, cujo fruto é comestível e nativa do Norte de África[1][14] e das ilhas do golfo de Gabès, como Djerba.

Notas e referências editar

[a] ^ Na iconografia grega e romana, Príapo é representado com um pénis avantajado. O texto de Ovídio, traduzido por James George Fazer em 1931, faz referências indiretas a este dado, de conhecimento do leitor romano.
  1. a b c d e f g Brewer, Ebenezer Cobham (1898), Dictionary of Phrase and Fable (em inglês), Nova Iorque: Harper & Brothers, p. 569, consultado em 6 de janeiro de 2013 
  2. Wirt, Elizabeth Washington (1837), Flora's dictionary (em inglês), Baltimore: F. Lucas, Jr., p. 41-42, consultado em 6 de janeiro de 2013 
  3. a b «Job 40:21 (New International Version)». www.BibleGateway.com (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2013 
  4. a b «Pline l'Ancien - Histoire naturelle». remacle.org (em francês). Site de l'antiquité grecque et latine et du moyen âge. Consultado em 6 de janeiro de 2013 
  5. Homero, Odisseia, Livro 9, 82-104 [em linha]
  6. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, Epítome, 7.3 [em linha]
  7. Ovídio, Fastos, Livro I, 393-414 [em linha]
  8. Ovídio, Fastos, Livro I, 415-440
  9. a b Ovídio, «Dryope et Lotis (IX, 324-393)», Metamorfoses (em francês), consultado em 6 de janeiro de 2013 
  10. Folkard, Richard (1884), Plant lore, legends, and lyrics (em inglês), p. 417-418, consultado em 6 de janeiro de 2013 
  11. «Job 40:22 (New International Version)». www.BibleGateway.com (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2013 
  12. Plínio, o Velho (século I d.C.), História Natural, XVII, 1 
  13. Plínio, o Velho (século I d.C.), História Natural, XII, 32 
  14. Wilson, John Marius (1848), The Rural cyclopedia, or A general dictionary of agriculture: and of the arts, sciences, instruments, and practice, necessary to the farmer, stockfarmer, gardener, forester, landsteward, farrier &c. (em inglês), 2, Edinburgo: A. Fullarton, p. 9, 873, consultado em 6 de janeiro de 2013