Luzerna (nomenclatura oriunda de Portugal,[1] bola de luz) é um termo que está ligado a uma lenda comum do interior do Nordeste do Brasil transmitida pela tradição oral através dos tempos, e que é usado popularmente para designar luzes globulares que flutuam em uma velocidade pequena, pelas estradas e caminhos se digladiando a noite inteira (batendo uma contra a outra).[2][3] O fenômeno chamado de luzerna é bastante confundido em algumas obras com outro fenômeno chamado fogo-corredor.[4]

Etimologia e origem editar

 
Gravura de uma luzerna entrando pela janela para perseguir pessoas (1901)

As luzernas no imaginário popular nordestino seriam as almas de dois compadres que morreram sem se falar.[2] Por conta disso, essas almas estariam amaldiçoadas à viverem como luzes globulares em conflito (guerreando pelas estradas) até que consigam fazer as pazes ou explodam como fogos de artifício, liberando um odor de enxofre.

A lenda nordestina mescla duas outras lendas: termo luzerna tem origem portuguesa, como um mito popular de pescadores que afirmavam ver luzes que flutuam no céu,[1] e a lenda de que pessoas se transformam nessas luzes certamente se origina da variação dos mitos dos povos amerindios,[5] onde a luzerna seria uma entidade sobrenatural:

"(...) E, afinal, transtormou-se numa luzerna, clarão sem chamas, fogaréu azulado, desprendido dos olhos que ainda estavam vivos nela. Foi assim e foi por isso que os homens, quando viram a boi-guaçu tão demudada, não a conheceram mais."[5]

Explicação científica editar

Assim como toda lenda é uma narrativa fantasiosa que combina fatos reais e históricos com fatos irreais que são meramente produto da imaginação aventuresca humana, as luzernas realmente existem e se tratam de fenômenos elétricos chamados raios globulares. Esse fenômeno se tornou lenda: até os anos 1960, a maioria dos cientistas argumentavam que raio globulares não eram um fenômeno real, apesar de inúmeras aparições.

Tem sido sugerido que um raio globular é baseado em oscilações não lineares esfericamente simétricas de partículas carregadas no plasma[6][7][8][9] - o análogo de um solitão de Langmuir espacial. Essas oscilações foram descritas tanto por teorias clássicas[9] como teorias quânticas.[6][7][8] Verificou-se que as oscilações de plasma mais intensas ocorrem nas regiões centrais de um raio globular. Porém, dados científicos sobre os raios globulares naturais ainda são escassos, devido à sua raridade e imprevisibilidade.

Ver também editar

Referências editar

  1. a b SILVA, Antonio Arthur Baldaque da. Estado actual das pescas em Portugal: comprehendendo a pesca maritima, fluvial e lacustre em todo o continente do reino, referido ao anno de 1886. Editora Imprensa nacional. Oxford. 1892. 519 páginas.
  2. a b SANTOS, José Marcio Mateus dos. Mitos e folclores de Tobias Barreto. Tobiasbarreto.wordpress. 2016.
  3. BARRETO, Luiz Antônio. A luzerna de Itabaiana. Serigy. Sergipe. 2010.
  4. MORAIS FILHO, Melo. Palácio da mão d'água. In: mitos e poemas: nacionalismo. Rio de Janeiro. Tipografia de G. Leuzinger & Filhos. 1884, p.15-13.
  5. a b ORICO, Osvaldo. Mitos amerindios: Sobrevivencias na tradição e na literatura brasileira. 2° Edição. São Paulo editora limitada. São Paulo. 1930. 195 páginas.
  6. a b Dvornikov, Maxim (8 de fevereiro de 2012). «Effective attraction between oscillating electrons in a plasmoid via acoustic wave exchange». Proc. R. Soc. A (em inglês). 468 (2138): 415-428. ISSN 1364-5021. doi:10.1098/rspa.2011.0276 
  7. a b Dvornikov, Maxim (1 de novembro de 2012). «Quantum exchange interaction of spherically symmetric plasmoids». Journal of Atmospheric and Solar-Terrestrial Physics. 89: 62-66. doi:10.1016/j.jastp.2012.08.005 
  8. a b Dvornikov, Maxim. «Pairing of charged particles in a quantum plasmoid». Journal of Physics A: Mathematical and Theoretical. 46 (4). doi:10.1088/1751-8113/46/4/045501 
  9. a b Dvornikov, M. «Stable Langmuir solitons in plasma with diatomic ions». Nonlinear Processes in Geophysics. 20 (4): 581-588. doi:10.5194/npg-20-581-2013