Malcolm Williamson (criptógrafo)

 Nota: Este artigo é sobre um criptógrafo britânico. Para o compositor australiano, veja Malcolm Williamson.

Malcolm John Williamson (Stockport, 2 de novembro de 1950San Diego, 15 de setembro de 2015) foi um matemático e criptógrafo britânico que, em 1974, descobriu os aspectos fundamentais da chamada criptografia de chave pública, três anos antes de Whitfield Diffie, Martin Hellman, Ralph Merkle, Ronald Rivest, Adi Shamir e Leonard Adleman, estes considerados os inventores da criptografia de chave pública.

Biografia editar

Infância e educação editar

Williamson nasceu em Heaton Mersey, subúrbio de Stockport, cidade da região metropolitana de Manchester, na Inglaterra, em 2 de novembro de 1950. Era filho de Helen Catherine Johnson e Malcolm Williamson, tendo um irmão mais velho chamado Stephen Maiden Williamson.[1] Aos dez anos, o professor de matemática de Williamson o encorajou a frequentar a tradicional e prestigiosa escola Manchester Grammar School, e assim ele o fez após realizar o exame de admissão da instituição.[1] Na Grammar School, ele conheceu Clifford Cocks, de quem seria amigo e colega de profissão por toda sua vida.[1]

Em 1967, aos 16 anos, Williamson juntou-se a sete outros jovens estudantes da Inglaterra a fim de representar o país pela primeira vez na Olimpíada Internacional de Matemática (International Mathematical Olympiads, IMO), que naquele ano ocorreu entre os dias 2 e 13 de julho, em Cetinje, Montenegro, até então parte a Iugoslávia.[1][2] Williamson recebeu a medalha de prata na competição.[1][2] Em 1968 ele alcançou o primeiro lugar na Olimpíada Britânica de Matemática, classificando-se junto a Cocks para representar mais uma vez o país na IMO, que naquele ano ocorreu entre os dias 5 e 18 de julho em Moscou, Rússia, até então parte da União Soviética.[1][2] Cocks recebeu uma medalha de prata e Williamson recebeu uma medalha de ouro na competição, tendo recebido também um prêmio especial por apresentar uma solução matemática de extraordinária elegância.[1][2]

Ainda em 1968, Williamson foi admitido no Trinity College, integrante da Universidade de Cambridge, tendo transposto o primeiro ano do curso de matemática e graduando-se em 1971.[1][3] Ele estudou ainda na Universidade de Liverpool entre 1971 e 1972.[1][3]

Carreira editar

Em 1972, Williamson foi admitido para trabalhar no Government Communications Headquarters (CESG), um braço do Government Communications Headquarters (GCHQ), o serviço de inteligência eletrônica do governo britânico, localizado em Cheltenham, no Condado de Gloucester; ele trabalharia lá até 1982.[1][3] Cocks, que havia rumado para estudar matemática no Kings College, graduou-se na Universidade de Oxford e juntou-se a Williamson no GCHQ em setembro de 1973.

No GCHQ, Williamson e Cocks juntaram-se a James Ellis, que em 1970 havia proposto um esquema de "criptografia não secreta" num relatório de pesquisa secreto nº 3006 do CESG — The Possibility of Secure Non-Secret Digital Encryption ("a possibilidade de criptografia digital não secreta segura").[4] Ellis disse que a ideia lhe ocorreu pela primeira vez depois de ler um artigo da Segunda Guerra Mundial escrito por alguém do Bell Labs descrevendo o esquema denominado Projeto C43, uma forma de proteger as comunicações de voz adicionando (e posteriormente subtraindo) ruído aleatório.[5] Williamson e Cocks expandiram o trabalho de Ellis, e Cocks logo chegou na implementação de uma função matemática do trabalho de Ellis, hoje conhecido como criptografia de chave pública ou criptografia assimétrica.[5] Em 1974, Williamson, pretendendo provar que a teoria de Cocks estava incorreta, chegou a sua própria solução para o problema descrito por Ellis.[1] Na época, o GCHQ não encontrou pronta utilidade para o trabalho desenvolvido pela equipe, mas optou de qualquer maneira por mantê-lo como segredo de estado.[1][5][6][7] Em 18 de dezembro de 1997, durante uma palestra, Clifford Cocks finalmente revelou ao público as contribuições dos pesquisadores do GCHQ para o desenvolvimento da criptografia de chave pública.[8]

Em 1976 o governo britânico o enviou para Washington, Estados Unidos, para integrar a Embaixada Britânica no país. Após dois anos lá, Williamson foi transferido para o Institute for Defense Analyses (IDA) em Princeton, Nova Jersey, onde ele trabalhou por mais um ano.[1] Ele emigrou para os Estados Unidos em 1982, trabalhando para a Verbex, uma firma de tecnologia digital em fala e reconhecimento de voz localizada Bedford, Massachusetts.[1][3] Em 1985 ele mudou-se para Madison, Wisconsin para trabalhar em tecnologia pioneira de auxílio para audição na Nicolet Instruments, permanecendo lá até 1989.[1][3] Na Nicolet Instruments, ele foi autor de duas patentes de aparelhos auditivos digitais.[9][10] Nessa época ele também fechou um contrato com o governo americano para o desenvolvimento de software de reconhecimento de voz em uma companhia estabelecida por ele, a Harken Research, Inc.[1]

No outono de 1989, Williamson mudou-se para San Diego, Califórnia, a fim de integrar o recém inaugurado escritório do Center for Communications Research (CCR) do IDA na área de La Jolla.[1][3] Williamson permaneceria no CCRL até o fim de sua vida.[3][11]

Vida pessoal e morte editar

A mãe de Williamson, Helen, faleceu em fevereiro de 1977.[1] Após uma temporada de viagens com o filho pela costa oeste dos Estados Unidos em 1979, o pai de Williamson, Malcolm, faleceu em fevereiro de 1980 em decorrência de câncer de cólon.[1] Em abril de 1981, o próprio Williamson foi diagnosticado com a mesma doença, tendo prontamente passado por uma intervenção cirúrgica que retraiu a manifestação da doença pelos próximos 17 anos.[1]

Ele conheceu sua companheira Danielle Wellander em uma festa em dezembro de 1985, e os dois se casaram em abril de 1992.[1] No outono de 1997, o casal começou a pesquisar a adoção de uma criança na Rússia, tendo o processo sido brevemente interrompido pela volta do câncer de Williamson na primavera do no seguinte, que culminou em uma nova intervenção cirúrgica.[1] Em setembro de 1998, o casal viajou a Rússia para adotar um recém nascido de cinco meses, que recebeu o nome de Sergei.[1] A família mudou-se em seguida para University City, em San Diego, visando a proximidade com o local de trabalho de Williamson.[1] Seu irmão mais velho, Stephen, faleceu em julho de 2001.[1]

Em fevereiro de 2015, Williamson foi diagnosticado com um novo câncer raro e agressivo, com seu médico tendo lhe dito que lhe restaria pouco tempo de vida.[1] Após breves sessões de quimioterapia, sentiu-se melhor e voltou a trabalhar parcialmente em junho; todavia, sua condição voltou a deteriorar-se rapidamente em setembro. Ele foi transferido de sua casa a um hospital e esteve sob os cuidados de sua esposa e família, falecendo na manhã do dia 15 de setembro aos 64 anos de idade em decorrência de complicações da doença. Ele deixou sua esposa Danielle e seu filho Sergei.[1]

Reconhecimento e legado editar

Por suas contribuições na invenção da criptografia de chave pública, Malcolm Williamson, Clifford Cocks e James Ellis foram conjuntamente reconhecidos pelo prêmio IEEE Milestone Award Nº 104 em 2010[12] e introduzidos no Salão de Honra Criptológico da NSA em 2021.[13]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa Balboa Cremation Services (9 de outubro de 2015). «Malcolm Williamson Obituary - San Diego, California». Legacy.com (em inglês). Consultado em 3 de fevereiro de 2024 
  2. a b c d «International Mathematical Olympiad: Malcolm John Williamson». www.imo-official.org. Consultado em 3 de fevereiro de 2024 
  3. a b c d e f g «International Mathematical Olympiad---Past UK Team Members (UK IMO Register)». www.imo-register.org.uk. Consultado em 3 de fevereiro de 2024 
  4. Ellis, James H. (janeiro de 1970). «The Possibility of Secure Non-Secret Digital Encryption» (PDF). CESG Research Report No. 3006. Consultado em 3 de fevereiro de 2024. Arquivado do original (PDF) em 16 de fevereiro de 2017 
  5. a b c Levy, Steven. «The Open Secret». Wired (em inglês). ISSN 1059-1028. Consultado em 3 de fevereiro de 2024 
  6. «British Document Outlines Early Encryption Discovery». archive.nytimes.com. Consultado em 3 de fevereiro de 2024 
  7. Simon Singh (2000). "O Livro dos Códigos". [S.l.]: Record. pp. 313–14. 8501055980 
  8. «Public Key Cryptography (PKC), RSA, PKI». www.livinginternet.com. Consultado em 8 de abril de 2010 
  9. Williamson, Malcolm J.; Bustamante, Diane K. (10 de novembro de 1988). «Feedback suppression in digital signal processing hearing aids». Google Patents. Consultado em 3 de fevereiro de 2024 
  10. Williamson, Malcolm J.; Cummins, Kenneth L.; Hecox, Kurt E. (10 de novembro de 1988). «Adaptive, programmable signal processing and filtering for hearing aids». Google Patents. Consultado em 3 de fevereiro de 2024 
  11. Arratia, Richard; Liggett, Thomas; Williamson, Malcolm (janeiro de 2014). «Scale-free and power law distributions via fixed points and convergence of (thinning and conditioning) transformations». Electronic Communications in Probability (none): 1–10. ISSN 1083-589X. doi:10.1214/ECP.v19-2923. Consultado em 3 de fevereiro de 2024 
  12. «Milestones:Invention of Public-key Cryptography, 1969 - 1975». ETHW. 14 de junho de 2022. Consultado em 3 de fevereiro de 2024 
  13. «National Security Agency/Central Security Service > History > Cryptologic History > Historical Figures». www.nsa.gov. Consultado em 3 de fevereiro de 2024 
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