Maria Helena Dá Mesquita

crítica de teatro portuguesa (1933-2022)

Maria Helena Dá Mesquita (Lisboa, 19 de Julho de 1933 — Lisboa, 21 de Março de 2022),[1] foi uma professora e crítica teatral portuguesa.

Maria Helena Dá Mesquita
Nascimento 19 de Julho de 1933
Lisboa
Morte 21 de Março de 2022
Lisboa
Nacionalidade portuguesa
Alma mater Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Ocupação Crítica de teatro e professora

Biografia editar

Nasceu em 19 de Julho de 1933, e em Julho de 1951 terminou os estudos secundários, tendo ficado dispensada do exame de aptidão para entrada na universidade.[2] Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde concluiu uma licenciatura em Filologia Germânica e tirou o curso de ciências pedagógicas.[2]

Foi professora, tendo feito vários estágios em diversos países, e de 1968 a 1975 trabalhou no Instituto de Meios de Audiovisual em regime de comissão de serviço, onde foi responsável pelo desenvolvimento de experiências pedagógicas ligadas à promoção teatral.[2] Desta forma, participou na realização de filmes e na encenação de peças de teatro em conjunto com os alunos, tendo sido interpretadas obras de vários autores internacionais, como John Steinbeck, Charles Dickens e William Shakespeare.[2] Por exemplo, no ano lectivo de 1968 a 1969, Maria Helena Dá Mesquita e Carmen Gonzalez encenaram a peça A excepção e a regra, com estudantes do Liceu Padre António Vieira, que foi organizada como parte dos programas de Ocupação dos Tempos Livres da Mocidade Portuguesa.[3]

Em 1968 iniciou a sua carreira como crítica teatral, tendo provavelmente sido a primeira mulher em território nacional a exercer esta função.[2] Escreveu para os jornais Notícias da Tarde,[2] O Diário e A Capital.[4] O seu afastamento do periódico A Capital, em 1988, causou uma polémica entre o Conselho de Informação para a Imprensa e a redacção do jornal, tendo o Conselho pedido esclarecimentos sobre a decisão de afastar Helena Dá Mesquita, enquanto que a redacção do jornal respondeu que «as colaborações nunca tiveram carácter vitalício», tendo comentado que «não ser da competência deste conselho pronunciar-se sobre tal questão», e que estava a assistir com «apreensão que o Conselho de Imprensa está a desviar-se das funções que lhe são cometidas pela legislação em vigor».[5] Destacou-se pelas seus textos sobre teatro, onde além das críticas sobre as peças em si também ofereceu uma análise mais profunda dos autores e da evolução da arte. Por exemplo, no seu artigo sobre a peça Abel, Abel, de Augusto Sobral, de 1984, comentou que «é uma peça sobre problemas colectivos e individuais; é uma das obras universais da dramaturgia portuguesa. Augusto Sobral refere no programa que ‘chegou a vir nos jornais que os dramaturgos são uma espécie em vias de extinção’. Quem tal escreveu não conhece os dramaturgos contemporâneos, quem tal escreveu não sabe, nem sonha, como é fulgurante a trajectória em ascensão de um autor como Augusto Sobral».[6] Os seus artigos também constitutem testemunhos de figuras célebres e momentos marcantes do ambiente teatral nacional, tendo por exemplo descrito a sessão inaugural do Teatro Maria Matos, em 22 de Outubro de 1969: «Igrejas Caeiro, emocionado, fez a apresentação dos colegas, pediu palmas para quem construiu a sala de espectáculos e chamou Luís de Oliveira Guimarães que, na presença de Maria Helena, filha da gloriosa actriz, fez o elogio a Maria Matos. Traçou a sua biografia através de anedotas destinadas a ilustrar a personalidade da artista [...] A sala escureceu. Um retrato iluminou o palco e a voz acentuadamente beiroa de Mestre Aquilino falou da sua vida e obra com a modéstia e o espírito liberal que o caracterizavam. Do que disse, um aviso ficou a ressoar bem nítido: Cultivem a inquietação!».[7] Além da crítica, também chegou a colaborar nalgumas peças de teatro e de ensino.[2]

Foi um dos membros fundadores da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro, em 1984.[2] Também foi co-fundadora da Escola de Leitura e Escrita, em conjunto com Fernanda Lapa, tendo dirigido aquela associação durante mais de quinze anos.[2] Esteve integrada na Associação Portuguesa de Escritores, onde foi responsável pelo programa Escola de Leitura e Escrita.[8] Em 23 de Março de 1973, fez parte do júri para a atribuição dos Prémios Bordalo de 1971.[9] Em 2020 doou a sua biblioteca e arquivo ao Centro de História de Arte e Investigação Artística da Universidade de Évora.[2]

Faleceu em 21 de Março de 2022, aos 88 anos de idade, no Hospital de Jesus, em Lisboa.[2]

Referências

  1. Lusa (22 de março de 2022). «Crítica de teatro Maria Helena Dá Mesquita morre aos 88 anos». Público. Consultado em 22 de março de 2022 
  2. a b c d e f g h i j k Lusa (22 de Março de 2022). «Crítica de teatro Maria Helena Dá Mesquita morre aos 88 anos». Observador. Consultado em 22 de Março de 2022 
  3. DELILLE, Maria Manuela Gouveia. Bertolt Brecht em Portugal, antes do 25 de Abril de 1974: Um capítulo da história da resistência ao salazarismo (PDF). [S.l.: s.n.] p. 71. Consultado em 22 de Março de 2022 – via Associação Portuguesa de Leitura Comparada 
  4. CAMPOS, Tânia Alexandra Marques Filipe e (2005). Tradução Indirecta: Sintoma das relações entre literaturas - A recepção do teatro de August Strindberg em Portugal (PDF) (Tese de Mestrado). Volume 1. Évora: Universidade de Èvora. p. 92, 184. Consultado em 22 de Março de 2022 
  5. «Pagina 15». Debates Parlamentares. Assembleia da República. 13 de Janeiro de 1988. Consultado em 22 de Março de 2022 
  6. SILVA, Claudiomar Pedro da (2019). A Personagem e seu Duplo - Singularidades do Teatro de Nelson Rodrigues e Augusto Sobral (PDF) (Tese de Mestrado/Doutorado). Universidade do Estado de Mato Grosso. p. 173-174. Consultado em 22 de Março de 2022 
  7. «40.º Aniversário do Teatro Maria Matos». MM Jornal. Lisboa: Teatro Municipal Maria Matos. Setembro de 2009. p. 12. Consultado em 22 de Março de 2022 – via Issuu 
  8. «Colaboradores». Apresentação. Res Sinicae - Base digital de fontes documentais em latim e em português sobre a China (séculos XVI - XVIII). Consultado em 22 de Março de 2022 – via Universidade de Lisboa 
  9. «Prémios Bordalo». Sindicato dos Jornalistas. 22 de Janeiro de 2002. Consultado em 22 de Março de 2022 


  Este artigo sobre teatro (genérico) é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.