Maria de Lima das Mercês

educadora e filantropa brasileira

Maria de Lima das Mercês ( — Salvador, 1864) foi uma professora e filantropa brasileira. Dedicou a vida a acolher e educar crianças que viviam nas ruas de Salvador, entre 1820 e 1864.[1] De origem humilde, negra ou mestiça, era alforriada e viveu numa pequena casa em Salvador.[1][2] Em função de sua filantropia em Salvador, foi comparada com Irmã Dulce, porém, sem o mesmo reconhecimento.[1]

Maria de Lima das Mercês
Maria de Lima das Mercês
Maria de Lima das Mercês com uma aluna
Morte 1864
Salvador
Residência Salvador
Cidadania Império do Brasil
Etnia afro-brasileiros
Ocupação educadora, filantropa

É referida na obra Mulheres Ilustres do Brasil, publicada em 1899 pela igualmente baiana Inês Sabino. Na obra, diz-se que “Maria recebia innumeras crianças, aquellas, a rir, a brincar despreoccupadas, olhar limpido como a sua consciencia, ou languido pela febre, das urgentes necessidades, que conduzem a mais das vezes á podridão do vicio e do vicio á cadeia e de lá aos prezidios”. Na obra, surge como educadora e mãe adotiva muito amada: “Os pequeninos achavam nella os melindres do amor materno. Pois não era ella mulher. Desse punhado de orphãas que gratas a sua protectora, cobriam de affagos a quem soube educar homens para o trabalho e mulheres honestas para o exercicio util da vida pratica”.[1]

Com o auxílio do padre Francisco Gomes de Sousa, conseguiu montar um modesto asilo, fundado inicialmente na casa dela, onde passou a acolher meninas desvalidas,[2] a Casa dos Desprotegidos da Sorte: “Os magníficos predios, os terrenos devolutos, alguns dos quaes pertenciam ao Mosteiro de S. Bento, tão rico, com fazendas e propriedades, em quanto ella invejava um cantinho d’aquellas terras para nellas fundar um modesto asylo em proveito da infancia desvalida." (...) “Ambos principiaram a agir. Á final, á custa de muitos sacrificios. (...) Foi um dia de festa para o seu espirito, o da inauguração da Casa dos Desprotegidos da Sorte, cuja direcçào inteira, era sua, somente sua”.[1]

Manteve o asilo até 1850, quando a idade já lhe dificultava o trabalho. Nesse ano, o governo da Bahia veio em seu auxílio, tomando conta do estabelecimento, e conservando-a no cargo até à sua morte. Depois de morrer, foi substituída na direção pelas irmãs de São Vicente de Paulo.[2][3]

Em 1859, Maria de Lima conseguiu auxílio financeiro da imperatriz Teresa Cristina, durante uma sua visita a Salvador, passando a ganhar um ordenado até à sua morte, em 1864 — o qual dedicou igualmente à filantropia.[1]

Inês Sabino assinala a “ingratidão humana”, que tornou Maria das Mercês esquecida: “Nem ao menos o seu retrato ficou, para que a posteridade venerasse-lhe a memoria. Ella era uma alma ignorada, dessas que se encontram semeando os beneficios, porem recebendo os espinhos cruentos do olvido [esquecimento]”. Apesar desta nota, Maria de Lima acabou efetivamente por ser retratada. No livro Ethnographic portraits of Indigenous women of Pernambuco and Bahia 1861-1862, o suíço Hermann Kummler publicou um registro de Maria das Mercês, em 1862, ao lado de uma aluna, único retrato conhecido da educadora.[1]

Ver também editar

Referências

  1. a b c d e f g Galdea, João Gabriel (20 de fevereiro de 2022). «O anjo bom que a Bahia apagou da memória: conheça Maria de Lima das Mercês - Jornal Correio». www.correio24horas.com.br. Consultado em 20 de fevereiro de 2022 
  2. a b c D. Jayme (1937). «Mulheres célebres - Um anjo de caridade». memoria.bn.br. Fon Fon: Semanario Alegre, Politico, Critico e Espusiante (RJ) - 1907 a 1958. p. 50. Consultado em 20 de fevereiro de 2022 
  3. «Brasileiras Célebres». memoria.bn.br. Nação Brasileira (RJ) - 1923 a 1947. Agosto de 1924. p. 30. Consultado em 20 de fevereiro de 2022