Metrocles de Maroneia

Metrocles ou Metrocles de Maroneia (em grego: Μητροκλῆς; fl. c. 325 a.C.) foi um filósofo cínico de Maroneia, região da Macedônia Oriental e Trácia. Ele estudou no Liceu de Aristóteles com Teofrasto[1] eventualmente tornando-se um seguidor de Crates de Tebas que se casou com a irmã de Metrocles, Hipárquia.[2] Pouco restou de seus trabalhos, mas é um dos primeiros cínicos a adotar a prática de escrever anedotas (chreiai) morais sobre Diógenes e outro cínicos.

Metrocles de Maroneia
Nascimento século IV a.C.
Maronia
Morte século III a.C.
Irmão(ã)(s) Hipárquia
Ocupação filósofo

Vida editar

A suposta história da conversão de Metrocles para o cinismo é relatada por Diógenes Laércio.[3] Metrocles aparentemente teria soltado gases durante a prática de um discurso na escola e ficou tão envergonhado que fechou-se em sua casa a fim de cometer suicídio por inanição. Crates visitou-o e o fez um jantar a base de tremoço - uma fava conhecida por causar flatulência[4] - e explicou-lhe que o que ele fez foi de acordo com a natureza e, portanto, nada tinha de se envergonhar. Quando o próprio Crates soltou gases para demonstrar o quão natural era isso, Metrocles então se convenceu a deixar sua vergonha.[5][6]

Obras editar

De acordo com Hecato de Rodes, Metrocles queimou todos os seus escritos, mas outros disseram que apenas as notas que escrevera na escola de Teofrasto foram queimadas por ele.[3] Pode ter sido através de Metrocles que sua irmã Hipárquia conheceu Crates com quem ela mais tarde se casou, assim, tornando-se também uma cínica. Plutarco descreveu Metrocles como um vagante que dormia entre as ovelhas no inverno e no verão nos pórticos dos templos.[7] Ele aparentemente conheceu o filósofo Estilpo com quem rivalizava,[8] e Estilpo escreveu um diálogo chamado Metrocles[9] em sua biografia, Diógenes Laércio aparentemente enumera uma série de seus alunos,[3] mas a lista provavelmente refere-se a Crates.[10] Metrocles morreu em uma idade avançada, e é dito ter deliberadamente sufocado a si mesmo.

Metrocles possuía grande habilidade,[3] e escreveu várias obras, mas pouco delas restaram. Ele opunha-se à riqueza, a menos que colocada para uma boa utilização; e dividiu as coisas entre aquelas que podiam ser compradas com o dinheiro (como uma casa) e aquelas que levam tempo e cuidado, como a educação.[11] Uma de suas obras foi chamado chreiai (em grego: Χρεῖαι), isto é," Anedotas" ou "máximas".[12] Assim, Metrocles se tornou um dos primeiros a contribuir para a forma de arte literária mais importante para os cínicos: milhares de anedotas foram recolhidas (e inventadas) sobre Diógenes, Crates e outros cínicos, todos fornecendo mensagens morais por meio das ações dos cínicos. Uma anedota escrita por Metrocles relativa a Diógenes é preservada por Laércio na seguinte passagem:

Em uma ocasião, Diógenes que estava com metade da cabeça raspada se tornou o entretenimento de um grupo de rapazes, como Metrocles nos diz em seu chreiai, e assim foi espancado por eles. Depois disso, ele escreveu os nomes de todos aqueles que o haviam espancado em um tablete e o pendurou em volta do pescoço de modo a expô-los ao insulto, como eram geralmente condenados e censurados por sua conduta.

Referências

  1. Keith Seddon; C. D. Yonge. An Outline of Cynic Philosophy: Antisthenes of Athens and Diogenes of Sinope in Diogenes Laertius Book Six. Lulu.com; 2010. ISBN 978-0-9556844-8-7. p. 113.
  2. Simon Critchley. The Book Of Dead Philosophers. Granta Publications; 2011. ISBN 978-1-84708-542-9. p. 61 – 62.
  3. a b c d Diógenes Laércio, Vida do eminentes filósofos, vi. 94
  4. Derek Krueger. Symeon the Holy Fool: Leontius's Life and the Late Antique City. University of California Press; 1996. ISBN 978-0-520-08911-2. p. 97.
  5. J. C. McKeown. A Cabinet of Greek Curiosities: Strange Tales and Surprising Facts from the Cradle of Western Civilization. Oxford University Press; 2013. ISBN 978-0-19-998212-7. p. 234.
  6. Jim Dawson. Did Somebody Step on a Duck?: A Natural History of the Fart. Random House LLC; 2010. ISBN 978-1-58008-348-5. p. 37.
  7. Plutarco, Moralia
  8. Plutarco, De Tranquilliate Animi, vi. 468
  9. Diógenes Laércio, Vida do eminentes filósofos, ii. 120
  10. R. Bracht Branham, Marie-Odile Goulet-Cazé, (2000), The Cynics: The Cynic Movement in Antiquity and Its Legacy, p. 398. Cf. p. 392 ressalta que Diógenes Laércio vi. 98 também retorna para a biografia de Crates.
  11. Robin Hard. Sayings and Anecdotes: with Other Popular Moralists. Oxford University Press; 2012. ISBN 978-0-19-162740-8. p. 101.
  12. R. BRACHT BRANHAM; MARIE-ODILE-GOULET CAZE. Os Cínicos. LOYOLA; ISBN 978-85-15-03223-5. p. 429.