Michael X (17 de agosto de 1933 - 16 de maio de 1975)[1], nascido Michael de Freitas em Trinidade e Tobago, foi um autoafirmado revolucionário e ativista dos direitos humanos na década de 60, em Londres. Ele também era conhecido como Michael Abdul Malik e Abdul Malik. Foi acusado de assassinato em 1972, e posteriormente executado por enforcamento em 1975, na Cadeia Real de Porto da Espanha

Michael X
Nome completo Michael de Freitas
Pseudônimo(s) Red Mike
Abdul Malik
Michael Abdul Malik
Nascimento 17 de agosto de 1933
Belmont, Porto de Espanha, Trinidade e Tobago
Morte 16 de maio de 1975 (41 anos)
Porto de Espanha, Trinidade e Tobago
Causa da morte Enforcamento
Etnia negra
Ocupação ativista, assassino
Filiação John Lennon
Yoko Ono
Principais interesses black power
igualdade social
Supremacismo negro
Religião Islamismo

Biografia editar

Michael de Freitas nasceu em Belmont, Porto da Espanha, Trinidade e Tobago, filho de uma mulher negra, praticante de Obeah, provinda de Barbados e um pai Português vindo de São Cristóvão e Nevis.[2] Encorajado a se passar por branco por sua mãe, "Red Mike" teve uma juventude delinquente e foi suspenso da escola aos 14 anos de idade. Em 1957 ele imigrou para o Reino Unido, onde foi morar em Londres e trabalhou como porta-voz para Peter Rachman, um trabalho que ele confessou não gostar, mas pagava pelo seu estilo de vida. Pensando em sair daquela situação, começou a se envolver no radicalismo político e com grupos pertos de Notting Hill.[3]

Na década de 60, inspirado por Malcolm X, optou por escolher o nome de "Michael X" e veio a ser conhecido entre o movimento Black Power em Londres. Escrevendo no The Observer em 1965, Collin McGlashan chamou-o de "Uma voz negra autêntica ressentida." [1]

Em 1965, sob o pseudônimo de Abdul Maliik ele fundou a Sociedade de Ação de Ajustamento Racial (SAAR).[4]

Em 1967 se envolveu com a organização hippie, London Free Schol (LFS), através de John "Hoppy" Hopkins, onde ambos ajudaram a ampliar a causa social do grupo que se concentrava perto de Notting Hill, assim criando problemas com a polícia local que desaprovava o grupo. Michael e o LFS foram fundamentais na organização do primeiro Notting Hill Carnival.[5]

Um ano mais tarde, ele ficou conhecido por ser a primeira pessoa não-branca a ser presa pela UK's Rece Relations Act, uma delegacia designada para proteger a população negra e asiática da discriminação. "Ele foi sentenciado à 12 meses de prisão após defender a pena de morte imediata à homens brancos que tocassem mulheres negras." Ele também disse que "homens brancos não tem alma."[6]

Em 1969, ele se tornou autointitulado líder de uma comuna Black Power em Holloway Road, North London, chamada de "Black House" (ou "Casa Negra" em português). A comuna foi financiada pelo jovem milionário e benfeitor, Nigel Samuel. Michael X disse, "Eles me fizeram um arcebispo da violência nesse país. Mas essa retórica de 'Pegue uma arma' acabou. Nós estamos falando de construir novas mudanças na comunidade para as 'pessoas da comunidade'.' Nós estamos mantendo uma abordagem consciente." John Lennon e Yoko Ono venderam uma saco contendo seus cabelos para doar ao Black House.[7]

No que a mídia chamava de "o caso do colar escravo", o empresário Marvin Brown foi manipulado e atraído para a Black House, onde foi obrigado por Michael e outros membros a vestir um colar "escravo" espinhoso em volta de seu pescoço, enquanto o ameaçavam por dinheiro. A Black House foi fechada no outono de 1970. Dois homens foram inocentados por atacarem Marvin Brown que ficou 18 meses em cárcere.

A Black House foi incendiada em misteriosas circunstâncias, e mais tarde Michael X e seus quatro colegas foram presos por extorsão. Sua fiança foi paga por John Lennon em Janeiro de 1971.

Em fevereiro de 1971, ele retornou para seu país natal, Trinidade e Tobago, onde ele começou uma comuna agricultural sob a ideologia do empoderamento negro á 16 milhas (26 km) ao este da capital, Porto da Espanha. "A única política que eu entendi é a política da revolução.", ele disse ao Trinidad Express. "A política da mudança, a política de um completo novo sistema." Ele começou outra comuna, também chamada de Black House, onde, em fevereiro de 1972, também foi incendiada.

Tentativa de assassinato e morte editar

A polícia que foi até a comuna para investigar o fogo e descobriu os corpos de Joseph Skerritt e Gale Benson, membros da comuna. Eles foram enterrados ainda vivos e em covas separadas e fundas. Benson, que tinha o pseudônimo de Hale Kimga, era a filha do Primeiro Ministro Conservador Leonard F. Plugge. Ela teve um relacionamento com o primo de Malcolm X, Hakim Jamal.

Michael X, voou até Guiana e lá depois de alguns dias foi capturado. Eles foi acusado pelo assassinato de Skerritt e Benson, mas nunca foi julgado pelo seu último crime. Uma testemunha afirmou que Skerritt foi um membro do Malik's "Black Liberation Army, e foi morto por ele, pois ele se recusou a obedecer a ordem de um ataque à delegacia de polícia local sendo assim, Malik sentenciado a morte. Foi criado Comitê Salve Malik, onde está presente Angela Davis, Dick Gregory, Kate Millet e outros, incluindo o conhecido jurista radical William Knunstler, que foi pago por John Lennon pedindo clemência, porém esta não lhe foi conferida, tendo posteriormente Michael X executado por enforcamento em 1975.[8][9][10] Outros membros do grupo foram acusados do assassinato de Benson. Foi afirmado que Gale Benson foi morta pelo golpe de um facão deferido por Malik, no pescoço, enquanto a mesma estava distraída. Foi levado até seu país natal, onde foi executado.

Legado editar

Sob o nome de Michael Abdul Malik, Michael X foi o tema do livro From Michael Freitas to Michael X (André Deutsch, 1968). Michael X também começou a escrever uma novela sobre um romance negro onde havia uma jovem mulher chamada Lena Boyd-Richardson. A novela nunca foi concluída.

Referências culturais editar

  • Michael X é o assunto da redação "Michael X e os assassinatos Black Power em Trinidade[11]" escrita por V.S. Naiapul, coletado em O retorno de Eva Perón e as Mortes em Trinidade (1980), e é também acreditado que ele seja modelo para o personagem ficcional, "Jimmy Ahmed" na novela de Naiapul, "Guerillas"[12][13][14], escrita em 1975.
  • Michael X é um personagem em The Bank Job (2008)[15], uma dramatização baseado num roubo à banco que ocorreu em 1971. O filme afirma que Michael X tinha posse de fotos indecentes da Princesa Margaret e usou-as para prossecução criminal e ameaças de publicá-las. Ele foi interpretado pelo autor Peter de Jersey.
  • Michael X e seu julgamento foram os temas de um dos capítulos do livro de Geoffrey Robertson, "The Justice Game" de 1998.[16]
  • Michael X é citado no livro de Diana Athill, Fingimiento .(1993).[17]
  • Michael X é o epônimo de uma peça teatral da autoria de Vanessa Walters, que endossa o movimento do Black Power do início da década de 60. Foi exibido no The Tarbenacle Theathre, Powis Square, London W11 (Notting Hill), em novembro de 2008.[18]
  • Michael X (interpretado por Adrian Lester) é retratado numa cena ao lado de Jimi Hendrix no filme "All Is By My Side" baseado no início da carreira de Jimi, em 2013.[19]
  • Muhammad Ali deu suas luvas de boxing, ensaguentadas de quando ele lutou com Henry Cooper para Michael Abdul Malik, que é referido como um militante negro de Trinidade e Tobago no filme de 1975 "The Greatest: My Own Story" de 1975, dirigido por Muhammad Ali e Richard Durham .

Referências

  1. a b Didion, Joan (12 June 1980), "Without Regret or Hope", The New York Review of Books.
  2. Malcolm, Jean (1958). «Nightfall at Notting Hill: A Study in Black and White». The Phylon Quarterly (4). 364 páginas. ISSN 0885-6826. doi:10.2307/273097. Consultado em 20 de dezembro de 2020 
  3. Stenton, Michael (19 de outubro de 2000). «Black and White». Oxford University Press: 22–28. ISBN 978-0-19-820843-3. Consultado em 20 de dezembro de 2020 
  4. Bell, Derrick (19 de abril de 2004). «Affirmative Action and Racial Fortuity in Action». Oxford University Press. ISBN 978-0-19-517272-0. Consultado em 20 de dezembro de 2020 
  5. «Kurten, David Michael, (born 22 March 1971), Member (UK Ind) London Assembly, Greater London Authority, since 2016». Oxford University Press. Who's Who. 1 de dezembro de 2016. Consultado em 20 de dezembro de 2020 
  6. «'MICHAEL X' DOOMED IN TRINIDAD MURDER (Published 1972)». The New York Times (em inglês). 22 de agosto de 1972. ISSN 0362-4331. Consultado em 20 de dezembro de 2020 
  7. Orlando Parfitt2017-04-26T08:12:00+01:00. «Feature documentary about civil rights activist Michael X in the works». Screen (em inglês). Consultado em 20 de dezembro de 2020 
  8. «Militant Is Hanged by Trinidad After Long Fight for Clemency (Published 1975)». The New York Times (em inglês). 17 de maio de 1975. ISSN 0362-4331. Consultado em 20 de dezembro de 2020 
  9. Wicker, Tom (9 de dezembro de 1973). «'Gallows Tuesday' (Published 1973)». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 20 de dezembro de 2020 
  10. «Michael de Freitas also called Michael Abdul Malik v (1) George Ramoutar Benny (2) The Attorney General (3) Tom Iles, Commissioner of Prisons (Trinidad and Tobago) | [1976] AC 239 | Privy Council | Judgment | Law | CaseMine». www.casemine.com (em inglês). Consultado em 20 de dezembro de 2020 
  11. Coovadia, Imraan (2009). Coovadia, Imraan, ed. «V. S. Naipaul and the Black Power Killings in Trinidad». New York: Palgrave Macmillan US (em inglês): 63–92. ISBN 978-0-230-62246-3. doi:10.1057/9780230622463_4. Consultado em 7 de janeiro de 2021 
  12. «World Literature Forum». World Literature Forum (em inglês). Consultado em 7 de janeiro de 2021 
  13. «Guerrillas». archive.nytimes.com. Consultado em 7 de janeiro de 2021 
  14. Guerrillas Summary (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  15. «The Bank Job (2008) - Financial Information». The Numbers. Consultado em 7 de janeiro de 2021 
  16. «Trove». trove.nla.gov.au. Consultado em 7 de janeiro de 2021 
  17. Athill, Diana (27 de setembro de 2006). Fingimiento (em espanhol). [S.l.]: Circe 
  18. «A new take on Michael X». Institute of Race Relations (em inglês). Consultado em 7 de janeiro de 2021 
  19. «All Is By My Side | tiff.net». web.archive.org. 14 de agosto de 2013. Consultado em 7 de janeiro de 2021 

Bibliografia editar

  • Malik, Michael Abdul. From Michael de Freitas to Michael X (London: André Deutsch, 1968).
  • Levy, William, and Michell, John (editors). Souvenir Programme for the Official Lynching of Michael Abdul Malik with Poems, Stories, Sayings by the Condemned (privately published: Cambridge, England, 1973).
  • Humphry, Derek. False Messiah - The Story of Michael X (London: Hart-Davis, MacGibbon Ltd, 1977).
  • Naipaul, V. S. "Michael X and the Black Power Killings in Trinidad", in: The Return of Eva Perón and the Killings in Trinidad (London: André Deutsch, 1980).
  • Sharp, James. The Life and Death of Michael X (Uni Books, 1981).
  • Athill, Diane. Make Believe: A True Story (London: Granta Books, 1993).
  • Williams, John. Michael X: A Life in Black and White (London: Century, 2008).