Misoprostol

composto químico
Misoprostol
Alerta sobre risco à saúde
Nome IUPAC Methyl 7-((1R,2R,3R)-3-hydroxy-2-((S,E)-4-hydroxy-4-methyloct-1-enyl)-5-oxocyclopentyl)heptanoate
Identificadores
Número CAS 59122-46-2,(mistura equimolar de quatro esteroisômeros)
59122-49-5 (esteroisômero 8R, 11R, 12R, 16S)
PubChem 5282381
DrugBank APRD00037
ChemSpider 4445541
Código ATC A02BB01
Propriedades
Fórmula química C22H38O5
Massa molar 382.51 g mol-1
Farmacologia
Via(s) de administração oral, vaginal e sublingual
Meia-vida biológica 20–40 minutos
Ligação plasmática 82%[1]
Excreção renal e fecal
Classificação legal

Lista de substâncias sujeitas a controle especial - Lista C1 (BR)



Riscos associados
Frases R R60, R61, R25
Frases S S53, S22, S36/37/39, S45
LD50 81 mg·kg-1 (Rato, Per os) [2]
Página de dados suplementares
Estrutura e propriedades n, εr, etc.
Dados termodinâmicos Phase behaviour
Solid, liquid, gas
Dados espectrais UV, IV, RMN, EM
Exceto onde denotado, os dados referem-se a
materiais sob condições normais de temperatura e pressão

Referências e avisos gerais sobre esta caixa.
Alerta sobre risco à saúde.

O misoprostol é a versão sintética da prostaglandina E1 (PGE1) usado no tratamento e prevenção de dor no estômago, para induzir o parto, para parar hemorragia uterina pós-parto e como abortivo.[3] Também é usado na medicina veterinária para proteção estomacal de animais.[4]

O misoprostol foi introduzido no Brasil em 1984, através do laboratório Searle, sem qualquer restrição de compra nas farmácias até 1991, pois era aprovado para tratamento de úlcera gástrica e duodenal. Todavia, logo se descobriram suas propriedades abortivas. Posteriormente, o Ministério da Saúde limitou sua venda somente com retenção de prescrição médica.[5] Sua comercialização é proibida no Brasil para o público geral desde 1998.[6] Atualmente, os meios de mídia denunciam a venda clandestina do medicamento em algumas farmácias e drogarias, e também via Internet.[7]

Está registrado na Anvisa pelo nome Prostokos, da Infan Indústria Química Farmacêutica Nacional S/A, para uso hospitalar. Cytotec não pode ser comercializado no Brasil por não possuir registro,[8]

O misoprostol foi desenvolvido em 1973. Está na Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial de Saúde, os medicamentos mais eficazes e seguros necessários em um sistema de saúde. A dose custa entre 0,40 e 2 euros (cerca de 2 a 9 reais).[9]

Farmacocinética editar

De fácil absorção, rapidamente sofre uma desesterificação e assim forma o ácido de misoprostol que é livre. Esta mudança também pode ocorrer em menor escala nas células parietais. Antiácidos e alimentos influenciam na absorção de misoprostol. A administração de uma única dose termina de produzir ácido em 30 minutos, tem efeito máximo de 30 a 90 min. e dura por 3 horas.[10]

Uso médico editar

Estômago editar

É indistinguível da PGE1, e age nos mesmos receptores, aumentando seu mecanismo fisiológico, No estômago, aumenta a produção de muco protetor, e aumenta o fluxo sanguíneo local, que contém bicarbonato neutralizante do ácido. Efeitos de proteção da mucosa gástrica.

O misoprostol é utilizado para diminuir os efeitos adversos de anti-inflamatórios não esteroides.

Parto editar

O misoprostol é amplamente usado para indução do parto. Causa contrações uterinas e o amadurecimento (obliteração ou afinamento) do colo do útero. Pode ser mais barato que o outro agente de amadurecimento comumente usado, a dinoprostona. A ocitocina também é usada há muito tempo como agente padrão para a indução do parto, mas não amadurece o colo do útero fechado. O misoprostol pode ser usado em conjunto com a ocitocina.[11]

O misoprostol também é usado para prevenir e tratar sangramento pós-parto. O misoprostol administrado por via oral foi um pouco menos eficaz que a ocitocina, mas é mais barato, termoestável, prático e seguro, por isso, é uma boa opção em países pobres ou quando a ocitocina é contraindicada. A ocitocina deve ser injetada e conservada em geladeira, o misoprostol dura mais e pode ser administrado oral ou retalmente.[12]

Aborto editar

O misoprostol é usado no aborto farmacológico em alternativa ao aborto cirúrgico. A vantagem deste tipo de aborto é que é mais barato, mais simples, menos invasivo, não requer anestesia, e não há risco de cicatriz de aborto cirúrgico. A Organização Mundial da Saúde fornece orientações para seu uso em abortos, bem como informa acerca de riscos.[13]

O misoprostol é mais eficaz quando combinado com o metotrexato ou a mifepristona (RU-486)[14] S e usado sozinho, o misoprostol é menos eficaz (a taxa de sucesso para provocar um aborto é de cerca de 88% até 9 semanas de gestação). Não é um método inseguro, mas 1% das mulheres necessitarão de cuidados médicos devido a forte hemorragia. Não pode ser utilizado em caso de gravidez ectópica, e para gravidezes que continuam após o uso de misoprostol há maior probabilidade de o feto sofrer de defeitos à nascença.[15]

A maioria de estudos recomenda um protocolo para o uso de misoprostol em combinação com mifepristona,[16] sendo a eficácia desta combinação bastante elevada, cerca de 98% durante o primeiro trimestre;[17] o misoprostol usado sozinho é mais eficaz em gravidezes de início de gestação.[18] As orientações da OMS recomendam para término de gravidez de até 12 semanas o uso de até 4 doses de misoprostol (de 800 µg cada) por via sublingual ou vaginal, com pelo menos 3 horas de intervalo entre cada dose.[14] Funciona 90%, mas caso falhe, a mulher pode voltar a tentar repetir o procedimento passados no mínimo de 3 dias.

O misoprostol pode também ser utilizado para dilatar o cérvix em preparação para um aborto cirúrgico, principalmente durante o segundo trimestre (ou sozinho ou em combinação com tendas laminárias).

Doses usuais editar

Estômago editar

Para tratamento de úlceras duodenais, as doses estabelecidas por via oral são de 200 mcg, 4 vezes por dia, antes ou após as refeições e ao deitar. Na prevenção de lesões gastrintestinais provocadas por AINE, utiliza-se 200 mcg, 2 a 4 vezes ao dia, antes ou após as refeições e ao deitar-se.[19]

Como abortivo e facilitador do parto editar

Em hospitais, nas interrupções terapêuticas da gravidez, indução de parto em morte fetal intrauterina, tratamento farmacológico de aborto espontâneo ou indução do parto, dependendo do caso pode receber doses de 200 µg a 800 µg por via vaginal, sublingual ou bucal de tempo em tempo e quantidade específica de acordo com o tempo de gestação e sob critério médico. As doses aplicadas são reduzidas para um mínimo que tenha efeito satisfatório. Dependendo do caso pode ser efetuada administração conjunta com mifepristona.[20] Também existem apresentações de 25 mcg utilizadas em casos de colo uterino imaturo, na indução de parto quando não há riscos maternais e fetais.[21] Estudos demonstram que doses de 25 mcg sublingual e 25 mcg vaginal possuem a mesma efetividade e segurança.[22]

Usos clínicos editar

  • Indução do parto (com feto vivo ou morto).
  • Prevenção e tratamento da hemorragia pós-parto.
  • Aborto farmacológico, por exemplo para prevenir complicações de aborto espontâneo incompleto ou nos casos de aborto terapêuticos e legais.
  • Tratamento de ulcerações gástricas ou duodenais.
  • Tratamento de disfunção eretora (vasodilatador).
  • Dilatação cervical para histeroscopia.

Efeitos adversos editar

O efeito adverso mais comumente reportado após a toma oral de misoprostol para a prevenção de úlceras é a diarreia. Em ensaios clínicos, cerca de 13% dos pacientes reportaram diarreia, que geralmente está associada com a dose e que costuma surgir no início do tratamento (após 13 dias) e que desaparece por si mesma (geralmente após 8 dias) mas que em alguns casos(2% dos pacientes) foi necessário parar o tratamento.[23]

Outros efeitos adversos reportados em pacientes a usar o misoprostol para o tratamento de úlceras gástricas foram: dor abdominal, náusea, flatulência, cefaleia, dispépsia, vómitos, e prisão de ventre, mas nenhum destes efeitos adversos ocorreu mais vezes quando comparado com a toma de placebos.[23] Na prática, a febre é um sintoma quase universal quando são tomadas múltiplas doses a cada 4 ou 6 horas.

O misoprostol não deve ser tomado por mulheres grávidas para reduzir o risco de úlceras gástricas induzidas por anti-inflamatórios não esteroides pois aumenta o tônus uterino e contrações durante a gravidez, que podem causar um aborto parcial ou completo. Não devem também fazer esse uso porque foi associado com defeitos de nascença.[23][24]

Todo o amadurecimento cervical e agentes de indução podem causar hiperestimulação uterina, o que pode afetar negativamente o fornecimento de sangue para o feto e aumentar o risco de complicações, como a rutura uterina.[25] Algumas preocupações foram levantadas relativamente ao facto do tratamento da hiperestimulação uterina que ocorre durante o uso de misoprostol para provocar o parto, ser mais difícil do que quando induzida por outros fármacos.[26] Porque as complicações são raras, é difícil determinar se o misoprostol tem um risco maior que outros fármacos que causam amadurecimento cervical. Uma estimativa diz que seria necessária a participação de 61.000 pessoas um ensaio clínico para poder detetar uma diferença clínica significativa em complicações fetais sérias e cerca de 155.000 pacientes para detetar uma diferença significativa em complicações maternais sérias.[27]

Contraindicações editar

Esse medicamento não deve ser usado na gravidez, pois pode causar aborto ou parto prematuro nem em pacientes com antecedentes de alergia ao princípio ativo. Mesmo que não cause aborto pode induzir efeitos teratogênicos no feto.[28]

A indução do parto com misoprostol é contra-indicada no caso de pacientes nos quais o parto não é indicado na vagina como no caso de:[29]

  • Múltiplas cesarianas ou cirurgia uterina importante (risco de ruptura uterina);
  • Desproporção cefalopélvica (cabeça do bebê maior que a pélvis materna);
  • Suspeita ou evidência clínica de sofrimento fetal preexistente;
  • História de parto difícil e/ou parto traumático;
  • Multíparas com 6 ou mais gestações anteriores a termo;
  • Situações transversais do feto com mais de 32 semanas;
  • Emergências obstétricas quando a relação benefício-risco para o feto e a mãe aconselham uma intervenção cirúrgica;
  • Gravidez múltipla (com fetos em posição desfavorável);
  • Corrimento vaginal inexplicável e/ou sangramento uterino irregular durante a gravidez atual;
  • Placenta prévia;
  • Herpes genital ou outra infecção ativa;
  • Superestimulação das contrações uterinas;
  • Fatores de risco para embolia do líquido amniótico;
  • Pré-eclâmpsia grave ou eclâmpsia.

Sobredose editar

Os sintomas de sobredosagem podem incluir:[30]

  • Dor de barriga;
  • Vômito;
  • Diarreia;
  • Confusão;
  • Sonolência;
  • Perda do tônus muscular;
  • Tremor incontrolável de uma parte do corpo;
  • Convulsões;
  • Dificuldade para respirar;
  • Febre ou hipertermia;
  • Batimentos cardíacos acelerados ou mais lentos;
  • Tontura;
  • Desmaio.

Ver também editar

Notas e referências

  1. BIAM. «Misoprostol». Consultado em 16 de maio de 2010 
  2. Datenblatt für Misoprostol ≥99% (TLC) – Sigma-Aldrich 20. Juli 2008
  3. "Misoprostol". The American Society of Health-System Pharmacists. Archived from the original on 2015-02-21. Retrieved Feb 20, 2015.
  4. Saunders manual of small animal practice. «Misoprostol». Consultado em 4 de fevereiro de 2010 
  5. MENGUE, Sotero Serrate and DAL PIZZOL, Tatiane da Silva. Misoprostol, aborto e malformações congênitas. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. [online]. 2008, vol.30, n.6, pp. 271-273. ISSN 0100-7203. doi: 10.1590/S0100-72032008000600001.
  6. Revista Criativa. «Mortes clandestinas». Consultado em 15 de maio de 2010 
  7. G1. «Remédio abortivo é vendido ilegalmente pela internet». Consultado em 17 de maio de 2010 
  8. Anvisa. Anvisa proíbe a propaganda de medicamentos à base de misoprostol Arquivado em 22 de fevereiro de 2016, no Wayback Machine.. Acesso em 12 de abril de 2011
  9. "WHO Model List of Essential Medicines (19th List)" (PDF). World Health Organization. April 2015.
  10. Goodman & Gilman. As bases farmacológicas da terapêutica. [tradução da 10. ed. original, Carla de Melo Vorsatz. et al] Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2005.
  11. Summers, L (1997). "Methods of cervical ripening and labor induction". Journal of Nurse-Midwifery. 42 (2): 71–85. doi:10.1016/S0091-2182(96)00138-3. PMID 9107114
  12. Villar, J; Gülmezoglu, AM; Hofmeyr, GJ; Forna, F (2002). "Systematic review of randomized controlled trials of misoprostol to prevent postpartum hemorrhage". Obstetrics & Gynecology. 100 (6): 1301–12. doi:10.1016/S0029-7844(02)02371-2. PMID 12468178.
  13. «Medical methods for first trimester abortion». The WHO Medical Reproductive Library. Consultado em 22 de junho de 2014 
  14. a b Safe abortion: technical and policy guidance for health systems World Health Organization, 2012
  15. What is the "Mexican abortion pill" and how safe is it? Jen Gunter, July 27, 2013
  16. «Annotated Bibliography on Misoprostol Alone for Early Abortion» (PDF). Gynuity Health Projects. Consultado em 22 de agosto de 2006. Arquivado do original (PDF) em 29 de Setembro de 2007 
  17. Ed Hillary Bracken, Gynuity Health Project, "Providing Medical Abortion in Low-Resource Settings" Arquivado em 22 de fevereiro de 2016, no Wayback Machine., 31/8/2015
  18. «Instructions for Use: Abortion Induction with Misoprostol in Pregnancies up to 9 Weeks LMP» (PDF). Gynuity Health Projects. 2003. Consultado em 24 de agosto de 2006. Arquivado do original (PDF) em 29 de Setembro de 2007 
  19. Prospecto do Cytotex no AEMPS. «Cytotec». Consultado em 16 de maio de 2010 [ligação inativa]
  20. Prospecto do Misive na AEMPS. «Misive». Consultado em 16 de maio de 2010 [ligação inativa] 
  21. Ficha Técnica do Misofar na AEMPS. «Misofar 25». Consultado em 16 de maio de 2010 [ligação inativa]
  22. Welkovic, Stefan; Cecatti, José Guilherme; Ribeiro, Renata Holanda; Pacheco, Álvaro José Correia; Albuquerque, Rivaldo Mendes de; Filho, Moraes; De, Olímpio Barbosa (1 de janeiro de 2005). «Misoprostol sublingual versus vaginal para indução do parto a termo». Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 27 (1): 24–31. doi:10.1590/S0100-72032005000100006 – via SciELO 
  23. a b c Pfizer (setembro de 2006). «Cytotec US Prescribing Information» (PDF). Consultado em 15 de março de 2007. Arquivado do original (PDF) em 16 de Fevereiro de 2007 
  24. Pharmacia (julho de 2004). «Cytotec UK SPC (Summary of Product Characteristics)». Consultado em 15 de março de 2007 
  25. Briggs, G. G.; Wan, SR (2006). «Drug therapy during labor and delivery, part 2». American Journal of Health-System Pharmacy. 63 (12): 1131–9. PMID 16754739. doi:10.2146/ajhp050265.p2 
  26. Wagner 2006
  27. Goldberg & Wing 2003, which cites:
    Weeks, Andrew; Alfirevic, Zarko (2006). «Oral Misoprostol Administration for Labor Induction». Clinical Obstetrics and Gynecology. 49 (3): 658–71. PMID 16885670. doi:10.1097/00003081-200609000-00023 
  28. Pfizer (September 2006). "Cytotec US Prescribing Information" (PDF). Archived from the original (PDF) on 2007-02-16.
  29. Spain, Vidal Vademecum. «Misoprostol, ginecología». www.vademecum.es 
  30. «Diclofenaco y Misoprostol: MedlinePlus medicinas». medlineplus.gov 

Ligações externas editar