Missa Solemnis (Beethoven)

A Missa solemnis (Missa solene) em ré maior, Op. 123 é uma missa composta por Ludwig van Beethoven no período 1819-1823. Estreada em 7 de abril de 1824 em São Petersburgo, é geralmente considerada uma das obras supremas de Beethoven e uma das mais importantes missas do repertório ocidental.

Neste famoso retrato de Beethoven pintado por Joseph Karl Stieler, o compositor escreve a Missa Solemnis em ré maior.
Detalhe da página autógrafa do Kyrie

A Missa Solemnis é a segunda missa de Beethoven e sua maior obra sacra. O compositor já entretinha a ideia de escrever uma nova missa em 1818, tentando aperfeiçoar seu domínio da prosódia latina e estudando composições de outros autores na biblioteca musical dos seus patronos o arquiduque Rodolfo e o príncipe Lobwokitz,[1] mas a composição começou efetivamente em 1819, após saber que o arquiduque Rodolfo havia sido criado cardeal e seria instalado como arcebispo de Olmütz, e a ele a obra foi dedicada em seu término em 1823. Nem o autor nem o recipiente da dedicatória chegariam a ver uma apresentação completa.[2] A primeira audição ocorreu em São Petersburgo em 24 de março de 1824, sob os auspícios do patrono de Beethoven, o príncipe Nikolai Galitzin, e a primeira em Viena se deu em 5 de maio do mesmo ano, mas ali só foram apresentados o Kyrie, o Credo e o Agnus Dei, tendo o compositor na regência.[3] Foi publicada em 1827 pela editora Schott de Mainz, e novas apresentações foram organizadas somente após a morte do artista, em 1830 (Warnsdorf), 1839 (Dresden e Londres) e 1845 (Bonn).[2]

Obra de grande complexidade, difícil de ser executada, com um estilo arcaizante e um impacto dramático que desviavam das convenções mais aceitas na época para a composição de missas, embora tivesse defensores, foi recebida em geral com certa perplexidade pelo público e pela crítica, assim como ocorreu com outras peças do seu último período compositivo.[4] Os primeiros críticos geralmente assinalaram sua monumentalidade, mas não aprofundaram a análise do seu processo compositivo, sua substância musical e seu impacto. Permaneceu relativamente pouco estudada e compreendida até a década de 1970, quando começaram a aparecer vários trabalhos de crítica estética e musicologia, aproveitado especialmente a publicação de um caderno de rascunhos para a obra que até então permanecera pouco conhecido.[5]

O autor a considerava sua melhor composição,[6] mas nunca se tornou uma obra realmente popular entre o grande público, sendo raramente executada,[7] e ainda subsiste considerável polêmica e dificuldade em sua análise,[8] mas a despeito das discordâncias é reconhecida pelos especialistas como uma de suas maiores obras-primas e um ponto de virada no desenvolvimento de seu processo compositivo, além de ser vista em geral como a suma da expressão de sua própria religiosidade pouco convencional e pouco afeita ao cerimonial. Ela muitas vezes é estudada em relação à Nona Sinfonia, escrita na mesma época, que no movimento final com coro faz diversas alusões à missa em termos de motivos, estilo, sonoridades e da maneira como usa as forças vocais.[5]

A partitura indica a seguinte composição orquestral: 2 flautas; 2 oboés, 2 clarinetes (em lá, dó, e si♭); 2 fagotes; 1 contrafagote; 4 trompas (em ré, mi♭, si♭ baixo, mi, e sol); 2 trompetes (em ré, si♭ e dó); trombone alto, tenor, e baixo; tímpano; órgão contínuo; cordas: (violinos I e II, violas, violoncelos, e contrabaixos); solistas vocais soprano, alto, tenor, e baixo; e coro com secções de sopranos, altos, tenores e baixos.[9]

Ver também editar

Referências

  1. Solomon, Maynard. Beethoven Essays. Harvard University Press, 1990, p. 294
  2. a b Drabkin, William. "Beethovem Lizst, and the Missa Solemnis". In: Saffle, Michael & Dalmonte, Rossana. Proceedings of the International Conference Lizst and the Birth of Modern Europe. Villa Serbelloni, 14-18/12/1998
  3. Forbes, Elliot (ed.). Thayer's Life of Beethoven, vol. II. Princeton, 1970, pp. 908; 925
  4. Kunze, Stefan et al. Ludwig van Beethoven. Das Werk im Spiegel seiner Zeit. Gesammelte Konzertberichte und Rezensionen bis 1830. Laaber, 1987, p. 284
  5. a b Drabkin, William. Beethoven: Missa Solemnis. Cambridge University Press, 1991, pp. 1-9
  6. Thomas, Michael Tilson. "Thoughts on Missa solemnis". San Francisco Symphony, 03/06/2015
  7. Swafford, Jan. "Missa Solemnis, a Divine Bit of Beethoven". NPR Review, 12/02/2006
  8. Heinemann, Michael. "Suspended Time: The Fugue on et vitam venturi saeculi in the Credo of the Missa solemnis". In: Journal of Musicological Research, 2013; 32 (2-3)
  9. Beethoven, Ludwig van. Missa solemnis in full score. Courier Corporation, 1991

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