Movimento Nour al-Din al-Zenki

O Movimento Nour al-Din al-Zenki (em árabe: حركة نور الدين الزنكي‎ Ḥaraka Nūr ad-Dīn az-Zankī) é um grupo sunita islamista rebelde envolvido na Guerra Civil Síria. Entre 2014 e 2015, integrou o Conselho do Comando Revolucionário Sírio e foi um dos recipientes de equipamento militar americano, ao receber mísseis antitanque BGM-71 TOW.[1] Em 2014, era relatado que o grupo era um dos mais poderosos na zona de Alepo.[2] A 18 de Fevereiro de 2018, o Movimento fundiu-se com Ahrar al-Sham para dar origem à Frente da Libertação da Síria.[3]

Movimento Nour al-Din al-Zenki
Participante na Guerra Civil Síria
Datas Final de 2011 - presente
Ideologia Islamismo sunita
Salafismo
Jihadismo
Objetivos derrube do governo de Bashar al-Assad
declarar um estado islâmico na Síria
Organização
Parte de Frente da Autenticidade e Desenvolvimento (2013-2014)

Conselho do Comando Revolucionário Sírio (2014-2015)
Frente do Levante (2014-2015)
Exército dos Mujahidin (2014-2015) Exército da Conquista (2016-2017)
Frente da Libertação da Síria (2018)
Frente Nacional para a Libertação da Síria (2018-presente)

Líder Sheikh Tawfiq Shahabuddin
Orientação
religiosa
Sunismo
Área de
operações
Alepo e Idlib, Síria
Efetivos 7.000 (2017)
Antecessor(es)
anterior
Batalhão Nour al-Din al-Zenki
Relação com outros grupos
Aliados Arábia Saudita (até 2017)
 Turquia
 Catar
 Estados Unidos (até 2016)
Exército Livre Sírio
Ahrar al-Sham
Frente al-Nusra/ Tahrir al-Sham (2012-2014/2016-2017)
Inimigos Síria Síria
Irã Irão
 Rússia
Hezbollah
Estado Islâmico
Frente al-Nusra/ Tahrir al-Sham (2015/2017-presente)
União Fastaqim (2016-presente)
Frente do Levante (2016-presente)
Exército dos Mujahidin (2016-presente) Divisão Sultan Murad (2017-presente)
Divisão Hamza (2017-presente)
Conflitos
Guerra Civil Síria

História editar

O Batalhão Nour al-Din al-Zenki foi formado no final de 2011 por Shaykh Tawfiq Shahabuddin no noroeste de Alepo. O seu name tem origem em Nouredine, um importante emir de Damasco e Alepo no século XII. A maioria dos seus combatentes estavam concentrados nos subúrbios a noroeste de Alepo.[4] Al-Zenki esteve presente no início da Batalha de Alepo, capturando o bairro de Salaheddine, embora tenha rapidamente se retirado para a zona rural da província de Alepo.[5]

O grupo teve diferentes afiliações desde que foi fundado. Inicialmente, foi uma facção dentro do Movimento do Amanhecer, depois juntou-se às Brigada al-Tawhid durante o ataque em Alepo, antes de se retirar e juntar-se à Frente da Autenticidade e Desenvolvimento, financiada pela Arábia Saudita.[6]

Em Janeiro de 2014, al-Zenki foi um dos grupos fundadores do Exército dos Mujahidin para combater a ascensão do Estado Islâmico (EI).[7] Em Maio do mesmo ano, acabaria por se retirar do Exército e, de seguida, a Arábia Saudita aumentou o seu financiamento ao grupo, que tinha as suas dúvidas em financiar o Exército dos Mujahidin pelas suas ligações à Irmandade Muçulmana Síria.

Em Dezembro de 2014, o movimento juntou-se à Frente do Levante, uma ampla aliança de diversos grupos islamistas rebeldes que operavam na província de Alepo.[8] A 6 de Maio de 2015, juntou-se a outros 13 grupos islamistas na aliança Conquista de Alepo.[9]

A partir de Novembro de 2015, Nour al-Din al-Zenki absorveu diversos grupos rebeldes sírios turcomenos apoiados pela Turquia. A 11 de Novembro, 35 combatentes turcomenos desertaram para a Frente al-Nusra, e a 15 de Novembro, um dos líderes do grupo foi substituído por um comandante turcomeno.[10]

Durante as Conversações de Paz de Viena para a Síria em Novembro de 2015, a Jordânia foi encarregue de estipular uma lista de grupos terroristas, com o grupo a ser, alegadamente, incluído em tal lista.[11]

Em 28 de Janeiro de 2016, o Movimento al-Zenki retirou-se das suas posições em Alepo, que rapidamente foram tomadas pela Al-Nusra.

A 24 de Setembro de 2016, al-Zenki junta-se ao Exército da Conquista[12] e, a 15 de Outubro, quatro batalhões da Frente do Levante juntam-se ao movimento.[13]

Em 2 de Novembro de 2016, durante a ofensiva governamental de Alepo, militantes da União Fastaqim capturam um comandante do Movimento al-Zenki. Em resposta, o grupo mobilizou-se e atacou a sede da União Fastaqim nos distritos de Salaheddine e Al-Ansari de Alepo e, devido a estes confrontos, um militante morreu e 25 ficaram feridos.[14] No dia seguinte, a Frente do Levante e as Brigadas Abu Amara começaram a patrulhar as ruas e a prender quaisquer rebeldes que estejam envolvidos em confrontos.[15] Pelo menos 18 rebeldes morreram nestes confrontos.[16] Al-Zenki e as Brigadas Abu Amara acabaram por capturar todas as posições da União Fastaqim no leste de Alepo, com dezenas de rebeldes da União a serem presos ou a renderem-se, a juntarem-se a Ahrar al-Sham ou a desertarem.[17]

A 27 de Janeiro de 2017, a secção de Idlib do movimento juntou-se aos jihadistas do Tahrir al-Sham (HTS), enquanto a sua facção do norte juntou-se à Legião do Sham.[18]

Em 27 de Julho de 2017, al-Zenki liderado por Sheikh Tawfiq Shahabuddin anunciou a sua separação de Tahrir al-Sham no decorrer de fortes combates entre HTS e Ahrar al-Sham, e tornou-se um grupo independente.[19]

Em Novembro de 2017, fortes confrontos eclodiram entre al-Zenki e HTS no norte de Idlib e oeste de Alepo, com especial destaque para a área entre Atme e Khan al-Asal.[20]

Em Janeiro de 2019, o grupo foi fortemente atacado por HTS, com os últimos capturando o território controlado pelo grupo e, praticamente, acabando com o Movimento al-Zenki.[21][22]

Apoio estrangeiro editar

Em Maio de 2014, al-Zenki recebeu maior financiamento da Arábia Saudita após se ter retirado do Exército dos Mujahidin. O grupo também recebeu apoio financeiro dos Estados Unidos, num programa gerido pela CIA para financiar rebeldes aprovados pelos EUA,[23] alegadamente através do Centro Operacional Militar (COM) baseado na Turquia. Apesar disto, em Outubro de 2015, o grupo afirmou que já não era financiado pelo COM[24] - "por causa dos relatos constantes que tinha cometido abusos."[25] 7

A 9 de Maio de 2016, um plano foi alegadamente proposto pelos EUA, Arábia Saudita, Catar e Turquia para que al-Zenki criasse um "Exército do Norte" e juntar cerca de 3.000 combatentes para a operação. A próxima fase seria a transferência dos combatentes de Idlib para o norte de Alepo através do postos fronteiriços de Bab al-Hawa e Azaz. Isto alegadamente começou a 13 de Maio.[26] Este plano foi adiado após dúvidas de oficiais americanos das capacidades militares dos rebeldes juntados pela Turquia, a oposição das Forças Democráticas Sírias apoiadas pelos EUA, e a tensão entre a Turquia e a Rússia que apenas foi resolvida no verão de 2016.[27]

Crimes de Guerra editar

De acordo com a Amnistia Internacional, o Movimento al-Zenki, juntamente com a 16.ª Divisão De Infantaria, a Frente do Levante, Ahrar al-Sham e a Frente al-Nusra, estiveram envolvidos no rapto e torturas de diversos jornalistas e trabalhadores humanitários na zona rebelde de Alepo durante 2014 e 2015.[28]

Nour al-Din al-Zenki, em conjunto com as Brigadas Abu Amara, foram acusados de matarem pessoas ao atirá-las de prédios quando controlavam território em Alepo.[29]

2016 editar

Decapitação de um jovem de 12 anos editar

Em 19 de Julho de 2016, durante a Campanha de verão em Alepo, um vídeo emergiu em que mostrava combatentes Al-Zenki a filmarem-se enquanto gozavam e, mais tarde, a decapitarem um rapaz palestiniano chamado Abdullah Tayseer Al Issa.[30] No vídeo, os rebeldes defendiam que o rapaz foi capturado enquanto combatia por Liwa al-Quds, uma milícia palestiniana pró-governo.[31] Liwa al-Quds negou esta acusação, e afirmou que Al Issa era um jovem refugiado de 12 anos que vinha de uma família pobre[31] que tinha sido raptado.

Numa declaração oficial, al-Zenki condenou a decapitação e afirmou que "um erro individual que não representa a política geral do grupo", e que tinha detido todos aqueles envolvidos no crime.[32]

De acordo com Thomas Joscelyn, escrevendo no The Weekly Standard, que o vídeo da decapitação foi exibido ao presidente americano Donald Trump e influenciou a decisão de Trump em acabar com o apoio americano à Oposição Síria: "Trump queria saber porquê que os Estados Unidos tinham apoiado Zenki se os seus membros eram extremistas. O tema foi discutido de forma prolongada com oficiais superiores da inteligência (CIA), e nenhuma boa resposta surgiu."[33]

Referências

  1. «EXCLUSIVE - 18 Syrian revolutionary factions advancing toward a One Army project - The Arab Chronicle». web.archive.org. 26 de agosto de 2014. Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  2. «Resisting Al-Assad's Advance: A Look at Two Rebel Commanders Inside Aleppo (Free)». Jamestown (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  3. «Hardline Syria rebels announce merger». Business Recorder (em inglês). 19 de fevereiro de 2018. Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  4. «The Jamestown Foundation: JANUARY BRIEFS». web.archive.org. 4 de março de 2016. Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  5. Anjarini, Sahib (22 de outubro de 2013). «The Story of Al-Tawhid Brigade: Fighting for Sharia in Syria». Al-Monitor (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019. Arquivado do original em 25 de setembro de 2014 
  6. Pierret, Thomas. «External support and the Syrian insurgency». Foreign Policy (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  7. «The Mujahideen Army of Aleppo». Carnegie Middle East Center (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  8. «The Levant Front: Can Aleppo's Rebels Unite?». Carnegie Middle East Center (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  9. Aless; AM, riamasi 06/06/15 AT 8:11 (6 de junho de 2015). «Syria's Coming Battle For Aleppo: It's Everybody Against Assad And ISIS». International Business Times. Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  10. al-Jablawi, Hosam. «Nour al-Din al-Zenki Movement: How a Once Moderate Group Joined Fateh al-Sham». Atlantic Council (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  11. Szakola, Albin. «CIA-vetted Aleppo rebels lash out at Jordan». now.mmedia.me. Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  12. C4H10FO2P (24 de setembro de 2016). «Harakat Nour al-Din al-Zenki join Jaish al-Fatah in northern #Syriapic.twitter.com/X4HWSW5Gg1». @markito0171 (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  13. Obs, Syrian Rebellion (15 de outubro de 2016). «Liwa al-Tawhid (ONLY 4 battalions who defected from Jabhat ash-Shamiyah, retaking old brigade name) joining Nur ad-Din Zenki in #Aleppo.pic.twitter.com/QwdXzI77SY». @Syria_Rebel_Obs (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  14. «Fighting between 2 factions in the eastern section of Aleppo kills and injures about 25 fighters from both parties». OSDH. 2 de novembro de 2016. Consultado em 6 de janeiro de 2018 
  15. «aranews.org». ww1.aranews.org. Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  16. Source, The Inside (2 de novembro de 2016). «#Syria // #Aleppo // Approximately 18 dead so far in rebel infighting across East Aleppo.». @InsideSourceInt (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  17. «Zenki and Abu Amarah control all headquarters of Fastaqim Kama Umirt, the leaders of which go to Ahrar al-Sham». OSDH. 3 de novembro de 2016. Consultado em 6 de janeiro de 2018 
  18. «Al Qaeda and allies announce 'new entity' in Syria | FDD's Long War Journal». www.longwarjournal.org (em inglês). 28 de janeiro de 2017. Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  19. «Nour e-Din a-Zinki defects from HTS, citing unwillingness to end rebel infighting». Syria Direct (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  20. الميادين, شبكة (10 de novembro de 2017). «النصرة تُهاجم الزنكي في ريفي حلب وإدلب.. وأنباء عن تحالف عسكري لمواجهتها». شبكة الميادين (em árabe). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  21. «PressTV-Over 500 militants killed as infighting spreads in Syria». www.presstv.com. Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  22. «Battles continue between Tahrir Al-Sham against the National Liberation Front west of Aleppo amid calm prevailing the clash areas in Idlib province». OSDH. 4 de janeiro de 2019. Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  23. «Rebels in northern Syria say U.S. has stopped paying them». mcclatchydc (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  24. «Rebel Defiance, Relief as Assad Forces Get Bogged Down». VOA (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  25. Chulov, Martin (20 de julho de 2016). «Syrian opposition group that killed child 'was in US-vetted alliance'». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
  26. «Proposed 'Northern Army' in Syria alienates Kurds | Manar Abdel Razzak». AW (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  27. «Putin mends broken Turkey relations». BBC News (em inglês). 9 de agosto de 2016 
  28. «Syria: Abductions, torture and summary killings at the hands of armed groups». www.amnesty.org (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  29. Dalati, Riam (31 de janeiro de 2017). «Several witnesses from #Aleppo City accusing #Zinki #JFS aligned Abu Amara Brigade of summary executions, throwing gay men off rooftopspic.twitter.com/9ZAfnYPL6S». @Dalatrm (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  30. «Boy beheaded in Syria 'was fighter'». BBC News (em inglês). 21 de julho de 2016 
  31. a b «Syria rebels 'filmed beheading boy'». BBC News (em inglês). 19 de julho de 2016 
  32. «Syria rebel beheading of child sparks outrage | News , Middle East | THE DAILY STAR». www.dailystar.com.lb. Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  33. «Trump Got This One Right». The Weekly Standard (em inglês). 28 de julho de 2017. Consultado em 6 de janeiro de 2019