Mr. Tambourine Man

Canção de Bob Dylan

"Mr. Tambourine Man" (Sr. Homem do Pandeiro, em livre tradução[nota 1]) é o título da canção de 1965 do cantor e compositor estadunidense Bob Dylan, considerada um dos grandes clássicos do rock.

"Mr. Tambourine Man"
Mr. Tambourine Man
Capa do EP no Reino Unido (1966)
Single de Bob Dylan
do álbum Bringing It All Back Home
Lançamento 22 de março de 1965 (1965-03-22)
Gravação 15 de janeiro de 1965
Estúdio(s) Columbia Recording Studios, Nova York
Gênero(s) Folk rock
Duração 5:29
Idioma(s) (em inglês)
Gravadora(s) Columbia
Letra Bob Dylan
Composição Bob Dylan
Produção Tom Wilson

Regravada por numerosos artistas, já em 1965 atingiu o topo das paradas na versão do grupo The Byrds, que tinha no grupo britânico The Beatles a maior influência, e é tida como a responsável pelo surgimento de um novo gênero musical, o folk rock bem como jangle pop,[3] provocando "uma revolução dentro da revolução" da música rock.[4] Essa versão esteve presente na lista das 500 melhores canções de todos os tempos da revista Rolling Stone.[5]

Letra editar

Sua letra, com tons surrealistas com influência de artistas bem diversos como Arthur Rimbaud ou Federico Fellini, é considerada uma das que justificaram o recebimento por Dylan do Nobel de Literatura de 2016.[3]

A canção, composta por quatro estrofes (com o refrão), é longa e complexa.[6] Numa tradução feita pela BBC, sua introdução (e refrão) diz:[3]

"Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me, / Hei! Senhor Tocador de Pandeiro, toque uma canção para mim,
I'm not sleepy and there is no place I'm going to. / Não estou dormindo, e não há lugar onde eu possa ir.
Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me / Hei! Senhor Tocador de Pandeiro, toque uma canção para mim,
In the jingle jangle morning I'll come followin' you. / No treme-treme da manhã, eu procurarei você.

Histórico editar

A canção, uma das principais do repertório de Dylan, fora inspirada por Bruce Langhorne, um parceiro frequente nos trabalhos do artista; fora escrita depois que ele viu o amigo chegar para uma sessão de estúdio trazendo um tipo de pandeirola turca com pequenos sinos. Langhorne morreu aos setenta e oito anos, em 2017.[7]

Versão de The Byrds editar

"Mr. Tambourine Man"
 
Mr. Tambourine Man
Capa do single
Single de The Byrds
do álbum 'Mr. Tambourine Man'
Lado B I Knew I'd Want You
Lançamento 12 de abril de 1965 (1965-04-12)
Gravação 20 de janeiro de 1965
Estúdio(s) Columbia Studios, Hollywood
Gênero(s) Folk rock, jangle pop[8]
Duração 2:18
Idioma(s) (em inglês)
Gravadora(s) Columbia Records
Letra Bob Dylan
Composição Bob Dylan
Produção Terry Melcher
Cronologia de singles de The Byrds
 
"All I Really Want to Do"
(1965)
 

O grupo estadunidense The Byrds era recém-formado e estava iniciando suas gravações nos estúdios da Columbia quando já nas sessões iniciais em janeiro de 1965 escutaram uma versão demo gravada por Dylan, que pertencia ao cast da mesma gravadora, para seu álbum Bringing It All Back Home (lançado em março) e foi incorporada em seu repertório pelos jovens participantes de The Byrds que, embora influenciados até no nome por grupos britânicos como Beatles e The Animals, traziam um matiz de folk, que incorporaram na versão.[4] Dylan mesmo havia iniciado seu trabalho no estilo folk mas, quando compôs Tambourine Man já havia se afastado do gênero.[6]

Na gravação o grupo ainda não contava com seus participantes Gene Clark e David Crosby, tiveram a colaboração de músicos que mais tarde criaram o The Wrecking Crew; o experimento musical assim por conta da voz e da "ressonância marcante da Rickenbancker de 12 cordas" de Jim McGuinn (mais tarde chamado Roger McGuinn) e Chris Hillman, que junto aos demais compunham o grupo.[4]

"Mr. Tambourine Man" ganhou, graças a eles, um novo ritmo e a canção deu nome ao seu álbum de estreia, com a qual atingiram a fama mundial; a união de folk com o rock fora feita de forma consciente e se converteu num "dos lançamentos mais importantes na história do pop e do rock", ocorrido em junho daquele ano, causando um impacto tão grande que o próprio Dylan teria exclamado, ao ouvi-la: "Uau, cara, dá até para dançar!"[4]

Apesar do sucesso a gravação apresenta somente o refrão e uma das quatro estrofes originais (a segunda), de forma que deixam de ser exibidas muitas da construções poéticas e imagens complexas que o autor construíra; esta versão reduzida muitas vezes é confundida com a versão de Dylan, e como tal foi regravada por vários artistas, como Johnny Rivers, Johnny Johnson, William Shatner e Judy Collins; outra diferença nas versões é que Dylan canta toda a letra sozinho, mas a versão traz o refrão cantado em coro.[6]

Versões brasileiras editar

 
Jackson do Pandeiro, homenageado na versão de Braulio Tavares da música de Dylan.

Três versões da canção foram lançadas no Brasil, com quatro gravações; a primeira, de 1981, foi feita por Gileno e foi gravada por Renato e seus Blue Caps e participação de Zé Ramalho; seis anos mais tarde uma nova versão foi feita por Necão Castilhos, com título alterado para "Sr. Camelô" e gravada pelo grupo Hallai; em 2007 Zé Geraldo regravou a versão de Gileno e, finalmente, em 2009, Zé Ramalho voltou a gravar uma nova versão, feita por Braulio Tavares e com título "Mr. do Pandeiro", em 2009.[6]

A versão de Gileno seguiu a redução apresentada por The Byrds, e também segue o modelo do refrão cantado em coro; já a tradução feita por Castilhos traz três estrofes e o refrão, com adaptações para o grupo que a gravou; a gravação de Zé Geraldo apresenta mudanças no refrão com relação à versão de Gileno que utilizou e, finalmente, a terceira adaptação apresentada no álbum Tá Tudo Mudando — Zé Ramalho Canta Bob Dylan e nela, dentre outras grandes modificações, o Tambourine Man passa a ser Jackson do Pandeiro; ainda assim é a única das versões brasileiras que apresenta o mesmo número de estrofes da composição de Dylan.[6]

A versão de Tavares, natural de Campina Grande e residente do Rio de Janeiro, parte de uma fantasia que imaginara e narrava antes de apresentar sua releitura do clássico; na estória imaginada pelo autor Dylan teria vindo ao Brasil em 1964 em busca de inspiração latina para seu trabalho e foi levado no Rio até a Feira de São Cristóvão com sua forte presença nordestina; ali conhecera e ficara encantado com o Jackson do Pandeiro, a tal ponto que de ao voltar para os Estados Unidos produzira no ano seguinte Mr. Tambourine Man inspirado no músico; Tavares narrava: “Lá [em S. Cristóvão] eles começaram a beber cachaça e Jackson tocando pandeiro, e eles lá, e o pessoal dizendo: ‘Dylan, seu avião vai sair às 9h’ e ele falando ‘não, eu vou ficar aqui porque tá legal demais’, e o dia amanhecendo, depois pegaram um carro e foram bater na praia. Ele pegou o avião e voltou para os Estados Unidos. Ficou com aquela história toda na cabeça, deslumbrado e daí veio a inspiração: “hey, mister tambourine man, play a song for me”, que é algo como ‘ei, seu do pandeiro, toque uma música pra mim”.[1]

Impacto cultural editar

Junto a outras canções de sucesso de Dylan integra o musical da Broadway "The Times They Are A-Changin" da coreógrafa Twyla Tharp, em 2006, após sugestão do próprio cantor; apesar de uma pré-temporada bem recebida pela crítica em San Diego, o mesmo não se deu com a crítica novaiorquina.[9]

A canção foi incluída na trilha sonora dos filmes Distante Nós Vamos do diretor Sam Mendes, Código de Conduta de F. Gary Gray e Mentes Perigosas, de John N. Smith.[10]

Notas

  1. Tambourine é a palavra em inglês para "pandeiro" (genérico, uma vez que esse instrumento possui inúmeros variantes tipológicos, cada um deles recebendo um nome específico). Embora a grafia se assemelhe ao instrumento tamborim pode-se dizer que se trata de um falso cognato;[1] o erro a que isto remete pode ser conferido, por exemplo, em matéria da revista brasileira Época assinada por Nina Finco, onde a autora afirma "Bob Dylan pede a um homem que toque uma canção no tamborim".[2] O termo para tamborim é o mesmo nos dois idiomas: en:Tamborim.

Referências

  1. a b «Escritor relata 'encontro' de Bob Dylan com Jackson do Pandeiro e origem de 'Mr. Tambourine Man'». Iguaí Mix. 6 de setembro de 2019. Consultado em 9 de setembro de 2019. Cópia arquivada em 9 de setembro de 2019 
  2. Nina Finco (14 de outubro de 2016). «Mr. Bob Dylan, toque uma canção para mim». Época. Consultado em 9 de setembro de 2019. Cópia arquivada em 10 de janeiro de 2019 
  3. a b c «#SalaSocial: Seis letras que mostram por que Bob Dylan mereceu o Nobel de Literatura ─ na opinião dos leitores». BBC Brasil. 14 de outubro de 2016. Consultado em 6 de setembro de 2019. Cópia arquivada em 1 de novembro de 2016 
  4. a b c d Fernando Navarro (7 de agosto de 2015). «'Mr. Tambourine Man': a revolução luminosa». El País. Consultado em 6 de setembro de 2019. Cópia arquivada em 4 de julho de 2017 
  5. «The RS 500 Greatest Songs of All Time». Rolling Stone. 9 de dezembro de 2004. Consultado em 2 de janeiro de 2024. Arquivado do original em 22 de junho de 2008 
  6. a b c d e Maiaty Saraiva Ferraz. «Traduções de Mr. Tambourine Man no Brasil: da refração à retradução». Cadernos de Tradução, vol.37 no.2 Florianópolis May/Aug. 2017. Consultado em 7 de setembro de 2019. Cópia arquivada em 7 de setembro de 2019 
  7. «Morre homem que inspirou Dylan em 'Mr. Tambourine Man'». Veja. 17 de abril de 2017. Consultado em 20 de abril de 2017. Cópia arquivada em 6 de setembro de 2019 
  8. LaBate, Steve (18 de dezembro de 2009). «Jangle Bell Rock: A Chronological (Non-Holiday) Anthology… from The Beatles and Byrds to R.E.M. and Beyond». Paste. Consultado em 24 de julho de 2016 
  9. «Crítica americana ataca musical de Bob Dylan». BBC Brasil. 30 de outubro de 2006. Consultado em 7 de setembro de 2019. Cópia arquivada em 7 de setembro de 2019 
  10. «Especial Bob Dylan». Cinema em Cena. Consultado em 7 de setembro de 2019. Cópia arquivada em 7 de setembro de 2019 
  Este artigo sobre uma canção é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.