Munição NTA

tipo de munição atóxica

Munição NTA (de Non-Toxic Ammunition), é a expressão usada genericamente no Brasil, para se referir à munições não tóxicas.

Projétil M855A1 para fuzis 5,56×45mm da OTAN substituem os núcleos de liga de chumbo tradicional por um núcleo de cobre ecologicamente correto com uma ponta de aço "stacked-cone" de 19 grãos (1,23 gramas).

Na língua inglesa, são usados também os termos "green bullet", "green ammunition" ou "green ammo".

Visão geral

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Balas de cobre sólidas típicas da maioria das munições certificadas para caçar na Califórnia.[1] A bala calibre .25" (6,4 mm) à esquerda tem uma pequena cavidade cilíndrica na ponta, e a bala de calibre .35" (9 mm) à direita tem uma cavidade maior com uma ponta de plástico aerodinâmica.

Munição NTA, "munição verde", e outras, são expressões coloquiais derivadas de um programa do Departamento de Defesa dos Estados Unidos de 1992,[2] que tinha como objetivo, eliminar o uso de materiais perigosos de munições de armas curtas e do processo de fabricação das mesmas. Os objetivos iniciais foram a eliminação de substâncias agressivas à camada de ozônio, compostos orgânicos voláteis e metais pesados, principalmente das balas e das espoletas. Ficou constatado que esses materiais estavam causando dificuldades em todo o ciclo de vida da munição. Os materiais geravam resíduos e emissões perigosos tanto nas fábricas durante o processo de produção quanto nos estandes de tiro quando da sua utilização. Perigos potenciais para a saúde tornaram o processo de descarte de munições não utilizadas difícil e caro.[3]

Em meados da década de 1980 estudos já detectavam um número elevado de mortes de pássaros e aves por ingestão de chumbo vindo de munição usada por caçadores, tanto devido a tiros que não atingiram o alvo pretendido, quanto das víceras dos animais abatidos que eram deixadas para trás com chumbo em seu interior, que era ingerido por aves de rapina; a gravidade da situação foi de tal ordem que em 1987, foi proibido o uso de chumbo nas munições de espingardas para "caça ao pato".[4]

O Joint Working Group for Non-Toxic Ammunition foi formado pelo Small Caliber Ammunition Branch do United States Army Armament Research Development and Engineering Center em outubro de 1995. Os membros desse grupo de trabalho incluíram a Guarda Nacional dos Estados Unidos, a Guarda Costeira dos Estados Unidos, a Escola de Infantaria do Exército dos Estados Unidos, o Comando de Operações Industriais, a "Lake City Army Ammunition Plant", o Laboratório Nacional de Oak Ridge, o Laboratório Nacional de Los Alamos e o Departamento de Energia dos Estados Unidos.[3]

Segundo estudos conduzidos pelo National Bureau of Standards, em média, 80% do chumbo aerotransportado nos estandes de tiro vem do projétil e os 20% restantes vêm da combustão da mistura da espoleta.[5] Portanto, para produzir uma munição verdadeiramente atóxica, devem ser usadas espoletas sem chumbo na química e balas totalmente encamisadas ("FMJ").[5] Como a maioria das polvoras sem fumaça atuais já não usam componentes químicos tóxicos, a escolha recai sobre aquelas que geram o melhor desempenho balístico.[5]

Materiais tóxicos identificados

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Materiais tóxicos Localização[3] Novo material / procedimento
antimônio projétil tungstênio-estanho ou -nylon[6]
trissulfeto de antimônio espoleta diazodinitrofenol (DDNP)[7]
nitrato de bário projétil traçante ou incendiário
peróxido de bário espoleta e projétil traçante ou incendiário diazodinitrofenol
acetato de etila selante da ponta de cartuchos de festim processamento sem solventes[8]
álcool etílico projétil traçante ou incendiário
éter glicólico ponta de projétil pintada
chumbo projétil aço[9] tungstênio-estanho ou tungstênio-nylon[10][11][12] cobre[13]
Dióxido de chumbo projétil traçante ou incendiário
estifnato de chumbo espoleta diazodinitrofenol, MIC, por exemplo: Al/MoO3
clorofórmio metílico selante da boca do estojo para projétil traçante ou incendiário
metil-etil-cetona espoleta e selantes para bolsos de espoleta e pontas de cartuchos de festim processamento sem solventes
metil-isopropil-cetona espoleta e selantes para bolsos de espoleta e pontas de cartuchos de festim processamento sem solventes
tolueno espoleta e selantes para bolsos de espoleta e pontas de cartuchos de festim processamento sem solventes
xileno espoleta e selantes para bolsos de espoleta e pontas de cartuchos de festim

Nos Estados Unidos

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Em 2013, a produção de balas de chumbo representava o segundo maior uso de chumbo nos EUA, após as baterias de chumbo-ácido.[14] Estudos conduzidos pelo U.S. CDC sugeriram que os níveis de chumbo do sangue estavam correlacionados com o consumo declarado de carne de caça silvestre.[15]

 
Características de uma munição NTA típica:
1 - bala totalmente jaquetada;
2 - estojo com bom custo x benefício;
3 - pólvora não tóxica;
4 - espoleta não tóxica.

Em 11 de outubro de 2013 o Governador Jerry Brown da Califórnia assinou a Lei "AB 711 Hunting: nonlead ammunition".[16] Os custos da conversão para a "munição verde" são estimadas em "US$ 2,5 milhões necessários para a remoção de resíduos em cada campo de disparo ao ar livre, bem como os US$ 100 mil de custos anuais para monitoramento de contaminação de chumbo".[17]

No Brasil

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Com o intuito de minimizar a exposição tanto de atiradores quanto de instrutores de tiro a metais pesados, principalmente em estandes de tiro em ambientes fechados ("indoor"), a Companhia Brasileira de Cartuchos – CBC apresentou em 1998, uma munição não tóxica (que não liberava metais pesados), ao mercado. Usando balas jaquetadas, o que impedia a liberação de chumbo no ambiente, espoletas usando uma química especial (sem estifnato de chumbo e nitrato de bário), cuja detonação não gerava gases ou resíduos tóxicos, além de uma pólvora aperfeiçoada que emitia menos fumaça.[18][19]

Esse produto foi chamado comercialmente pela CBC de "munição NTA", primordialmente voltada para a atividade de treinamento com uma boa relação custo x benefício,[19] sem no entanto comprometer seu uso para outras atividades, como defesa pessoal.[20]

Ver também

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Referências

  1. «Certified Nonlead Ammunition». California Department of Fish and Wildlife. 10 de abril de 2021. Consultado em 7 de julho de 2021 
  2. «Hazardous Technical Information Services». p2infohouse.org. 29 de outubro de 1996. Consultado em 7 de julho de 2021 
  3. a b c Bunting, Wade H. (Setembro de 1997). «Hazardous Technical Information Services Bulletin». Departamento de Defesa dos Estados Unidos. 7 (5): 4-5 
  4. Andrew McKean (4 de março de 2021). «Toxic ammo: How to wean hunters from lead shot». Columbia Insight. Consultado em 7 de julho de 2021 
  5. a b c Jay Kuca (2006). «Developing a Non-Toxic Handload for Indoor Range Use». citeseerx.ist.psu.edu. Consultado em 7 de julho de 2021 
  6. Don Mikko (Junho de 2000). «U.S. Military Green Bullet. A Technical Report» 
  7. Michael Courtney and Amy Courtney (2012). «High-speed measurement of firearm primer blast waves». arXiv:1203.2701  [physics.pop-ph] 
  8. T. G. Manning; D. Thompson; M. Ellis; R. Lieb; M. Leadore; J. Colburn; B. E. Homan; D. A. Worrell; K. B. Moran; S. J. Ritchie. «Environmentally Friendly 'Green' Propellant for the Medium Caliber Training Rounds» 
  9. Information Search of Toxic-Free Ammunition, DTIC A336762, 1994, https://web.archive.org/web/20180718224339/http://www.dtic.mil/dtic/tr/fulltext/u2/a336762.pdf
  10. [1], Jack Erickson, Joel Sandstrom, Gene Johnston, Neal Norris, Patrick Braun, Reed Blau, Lisa Spendlove Liu 
  11. 1994 report: Tungsten ‘highly toxic', 2007, updated 2011 https://www.capecodtimes.com/article/20070222/NEWS01/302229999
  12. Army to scrap tungsten bullets, 2008 https://www.capecodtimes.com/article/20080911/NEWS/809110313
  13. National Guard goes green with copper bullets, 2012 https://www.capecodtimes.com/article/20120926/NEWS/209260326
  14. National Minerals Information Center. «Lead Statistics and Information». U.S. Geological Survey. Consultado em 7 de julho de 2021 
  15. Iqbal, Shahed; Blumenthal, Wendy; Kennedy, Chinaro; Yip, Fuyuen Y.; Pickard, Stephen; Flanders, W. Dana; Loringer, Kelly; Kruger, Kirby; Caldwell, Kathleen L.; Jean Brown, Mary (2009). «Hunting with lead: Association between blood lead levels and wild game consumption». Environmental Research. 109 (8): 952–959. Bibcode:2009ER....109..952I. ISSN 0013-9351. PMID 19747676. doi:10.1016/j.envres.2009.08.007 
  16. «California signed into law AB 711 Hunting: nonlead ammunition». leginfo.legislature.ca.gov. 21 de fevereiro de 2013. Consultado em 6 de julho de 2021 
  17. John Middleton (2000). «Elimination of Toxic and VOC Constituents from Small Caliber Ammunition (WP-1057)». Consultado em 6 de julho de 2021 
  18. Felipe Saldanha (20 de fevereiro de 2021). «Munições NTA». espacotatico.com. Consultado em 7 de julho de 2021 
  19. a b «MUNIÇÕES NTA - NON TOXIC AMMUNITION» (PDF). CBC. Maio de 2013. Consultado em 7 de julho de 2021 
  20. Marcos Medeiros (Distrito 22 Tiro Esportivo) (6 de julho de 2021). Você Utilizaria munição NTA para sua defesa? Parte 2. YouTube. Em cena em 11:35. Consultado em 7 de julho de 2021 

Ligações externas

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