O Naraz[1][2] é um gesto jocoso ou trocista, que consiste em pôr o polegar no nariz, enquanto se mantém a palma da mão aberta e perpendicular à cara e se abanam os restantes dedos da mão.[3]

Estaline a fazer um naraz, foto da década de 40 do séc. XX

Por vezes este gesto pode ser acompanhado do acto de deitar a língua de fora, o qual, por si mesmo, também é um gesto que veicula um significado trocista ou jocoso.[3]

História editar

 
«O Festival dos Tolos», gravura de Pieter Bruegel, o Velho. O segundo tolo, a contar do canto inferior esquerdo está a fazer narazes com as duas mãos.

Um dos registos pictóricos mais antigos, conhecidos deste gesto encontra-se numa gravura do artista holandês Pieter Bruegel,o Velho , denominada «O Festival dos Tolos» datada de 1563.[4]

Há um relato escrito mais antigo, constante do décimo nono capítulo do segundo tomo da obra de 1534 de François Rabelais, «Gargântua e Pantagruel», sob a epígrafe «Como Panúrgio confundiu o inglês que argumentava por signos», na qual a personagem Panúrgio e o inglês Taumaste se travam numa contenda teológico-filosófica diante dos escóis da Universidade de Sorbonne, e onde se faz alusão ao uso desse gesto pantomimeiro[5]:

«Panúrgio de seguida ergueu a mão direita e pôs o correspondente polegar na narina do mesmo lado, enquanto esticava os demais quatro dedos, em linha paralela à ponta do nariz (...)»

O significado do gesto passa por insinuar que a pessoa com quem se fala tem um nariz comprido, subjazendo o entendimento de que a pessoa se trata de um tolo ou de um mentiroso. Historicamente, no continente europeu há uma considerável conotação, em meios folclóricos, de narizes compridos a personagens que inspiram comicidade ou que mentem.[3]

Além das abonações históricas sobreditas, são ainda dignas de menção a «Nasenzung» (o cortejo dos narigudos) do carnaval de Wolfach, na Alemanha[6] e o Pinóquio, personagem fictícia do autor italiano Carlo Collodi, cujo nariz crescia sempre que a mesma proferia mentiras[7].

Pedopsicologia editar

 
Illustração do artista dinamarquês Vilhelm Pedersen de uma criança a fazer um naraz séc. XIX

De acordo com o psicólogo francês Paule Aimard, o naraz: [8]

«é um gesto de escárnio que encerra uma certa jocosidade, em que se agitam quatro dedinhos em prolongamento do apêndice nasal, que opera como uma afronta à autoridade, a qual não se realiza à descarada, mas antes pelas costas. É como deitar a língua de fora, trata-se de um gesto praticado pelos mais fracos, que se vêem incapazes de lutar ou dizer aquilo que pensam contra os fortes. O naraz é um gesto de David contra Golias.»

Referências

  1. S.A, Priberam Informática. «Naraz». Dicionário Priberam. Consultado em 12 de junho de 2021 
  2. Machado, José Pedro (1981). O Grande Dicionário da Língua Portuguesa vol. VII. Porto: Amigos do Livro - editores. p. 519. 638 páginas. ISBN 9722344595 
  3. a b c Morris, Desmond (1994). Bodytalk: A World Guide to Gestures (em inglês). London, UK: Jonathan Cape. pp. 180–181. ISBN 0224039695 
  4. Bigotte de Carvalho, Maria Irene (1997). Nova Enciclopédia Larousse. Lisboa: Círculo de Leitores. p. 1242. ISBN 9724215156 
  5. Rabelais, Francois (2006). Gargantua and Pantagruel (em inglês). London: Penguin UK. 1088 páginas. ISBN 0141935782 
  6. Germany, Schwarzwälder Bote, Oberndorf. «Wolfach: Archaischer, triumphaler Nasenzug». schwarzwaelder-bote.de (em alemão). Consultado em 27 de fevereiro de 2022 
  7. Collodi, Carlo (1993). As aventuras de Pinóquio. Alfragide: Leya. 64 páginas. ISBN 978-989-660-018-1 
  8. Aimard, Paule (1988). Les bébés de l'humour. Liège: Mardaga. p. 232. 344 páginas. ISBN 2800501545