Nove Noites é o sexto romance do escritor Bernardo Carvalho, que recebeu o Prêmio Portugal Telecom de 2003 (hoje Prêmio Oceanos) e o Prêmio Machado de Assis de melhor romance de 2023, conferido pela Biblioteca Nacional.[1] É considerado um dos principais romances da ficção brasileira contemporânea.[2]

Contexto e enredo editar

Em 1939, o jovem antropólogo estadunidense Buell Quain se matou no Brasil, entre os indígenas Krahô, de forma violenta e aparentemente inexplicável. Bernardo Carvalho se interessou pelo caso ao ler uma notícia de jornal, e começou a pesquisar a história, em busca de uma explicação para o suicídio do antropólogo. Quando se deu conta de não iria chegar a nenhum resultado, optou pelo caminho da ficção. Durante a pesquisa, encontrou o diário de campo de Quain, e chegou a viver um período entre os Krahô, no lugar onde o antropólogo viveu seus últimos meses, para tentar entender o que o teria levado à morte.[3]

O enredo, que mistura realidade e ficção, tem dois narradores em dois tempos distintos: o jornalista que investiga obsessivamente o suicídio do antropólogo, 62 anos depois do ocorrido, e um engenheiro que foi seu amigo nos últimos meses de vida, cujo testamento o jornalista encontrou. A busca do jornalista é motivada por razões pessoais ligadas ao período em que viveu na selva, quando criança, e a morte de seu pai.

A história de Buell Quain revela as contradições e desejos de um homem sozinho numa terra estranha, confrontado com seus próprios limites e com a alteridade mais absoluta, numa narrativa que faz referência aos romances de Joseph Conrad e aos relatos do escritor inglês Bruce Chatwin.[4]

Estilo e temática editar

O professor Emerson Cruz Inácio, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, enquadra Nove noites na categoria metaficção historiográfica. O mesmo professor aponta três estratégias narrativas presente em Nove Noites e outras obras do autor: as experiências de viagem, a paixão e obsessão do personagem-narrador e a reconfiguração do modelo de narrativa de mistério, com um personagem detetive que foge ao modelo tradicional.[1] A memória e a distorção da memória, a alteridade e a dissolução dos limites entre ficção e realidade são temas apontados por outros pesquisadores.[5]

Em sua condição de ficção contemporânea, Nove Noites caracteriza-se por questionar a realidade do presente. " Bernardo Carvalho consegue em Nove Noites explorar e sugerir, através do uso de métodos típicos à produção de ficção contemporânea, a existência de uma nova realidade crítica ao debate sobre literatura" (p. 84).[2]

Nessa obra, recursos típicos do discurso realista, como o uso de cartas e reportagens, buscam "desmistificar os discursos de “verdade”, apontando para o caráter simbólico de todo processo", em vez de criarem uma uma representação transparente da realidade.[6]

Edições editar

No Brasil editar

2004 - Claro Enigma - ISBN 9789727950577

2004 - Companhia das Letras - ISBN 8535902872

2006 - Companhia de Bolso - ISBN 8535908617

2008 - Claro Enigma - ISBN 9788561041175

2015 - Companhia das Letras - ISBN: 9788535926705

Em outros países editar

Nove noites - Cotovia (Portugal) - 2003

Neuf nuits - Éditions Métalier (França) - 2005

Negen nachten - Atlas (Holanda) - 2006

Neun nächte - BTB Verlag (Alemanha) - 2007

Nio nätter - Atlas (Suécia) - 2008

Nine Nights - Vintage Books (Inglaterra) - 2008

Nueve noches - Edhasa (Argentina) - 2011

Devet noči - Modrijan (Eslováquia) - 2013

Referências

  1. a b Costa, Claudia (5 de junho de 2020). «Nove Noites desconstrói as estratégias da narrativa realista». Universidade de São Paulo. Jornal da USP. Consultado em 28 de abril de 2024 
  2. a b Benevenutto, Luiz Fernando Etelvino (2016). «Ressonâncias teóricas e a ficção contemporânea em Nove Noites de Bernardo Carvalho». Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Revista Kalíope. 12 (23): 66-86. Consultado em 28 de abril de 2024 
  3. «Um escritor na biblioteca: Bernardo Carvalho». Biblioteca Pública do Paraná. Cândido (149). Abril de 2024. Consultado em 28 de abril de 2024 
  4. Carvalho, Bernardo (2002). Nove noites. São Paulo: Companhia das letras. pp. 171p. ISBN 8535902872 
  5. Bolognin, Renan Augusto Ferreira (2016). Memória e identidade em Nove noites, de Bernardo Carvalho (dissertação de mestrado). São Carlos: [s.n.] 170 páginas 
  6. Brasileiro, Marcus Vinicius Camara (2014). «Duplicidade do olhar em Nove noites (2002), de Bernardo Carvalho». Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Navegações. 7 (2): 125. Consultado em 30 de abril de 2024