Olga Fossati

música brasileira

Olga Fossati (Porto Alegre, 1898 — Pelotas, depois de 1995) foi uma violinista brasileira.

Olga e seu pai César Fossati em 1908.
Concerto no Theatro São Pedro em 1928 com Olga como spalla da orquestra.

Membro de uma família de músicos e artistas, aos seis anos de idade iniciou seus estudos com o pai César Fossati, que havia se formado no Conservatório Santa Cecília de Roma.[1] Seu talento incomum se manifestou cedo. Em 1907, se apresentando em público em Porto Alegre, já era vista como um um prodígio, tocando peças difíceis de cor e sem esforço,[2][3][4] e recebendo "tempestades de aplausos".[5] Em 1908 se apresentou em Bagé, Pelotas e Rio Grande e a imprensa publicou louvores ainda mais entusiasmados, chamando-a de "prodigiosa menina-artista que encanta e assombra quantos a ouvem",[6] de "engenho estupendo, fenômeno inexplicável, uma revelação divina",[7] "a sua assombrosa agilidade no manejo do arco, a facilidade pasmosa com que supera as passagens mais difíceis das músicas que executa são verdadeiramente de espantar. Tudo isso o faz Olga sem a menor preocupação, sem a mínima demonstração de esforço", e já se profetizava para ela um futuro brilhante.[8]

Aos onze anos viajou a Bruxelas financiada pelo Estado para iniciar seu aperfeiçoamento no Conservatório Real, estudando com César Thompson, diplomando-se quatro anos depois com distinção, recebendo dois primeiros prêmios do Conservatório[1] e vencendo um concurso internacional.[9] Voltando ao Brasil em 1913, foi recebida festivamente[10] e iniciou uma série de excursões pelas principais cidades do país, sendo invariavelmente aclamada.[1] No fim da década de 1910 lecionou no Conservatório de Música de Porto Alegre,[11] em 1928 foi spalla da orquestra sinfônica formada pela Sociedade Rio-Grandense de Cultura Musical para uma série de concertos no Theatro São Pedro sob a regência de Francisco Braga,[12] e no mesmo ano foi convidada a dar aulas no Conservatório de Música de Pelotas. Foi spalla da Sociedade Orquestral de Pelotas e deu concertos nas rádios locais.[1] Também deu aulas no Conservatório de Rio Grande.[13] Angelo Guido em 1940 resenhou um concerto que deu no Theatro São Pedro dizendo que o evento foi...

"[...] uma afirmação vigorosa de um cintilante talento de artista. Já tivemos a oportunidade de assinalar [...] o equilíbrio admirável que se encontra, na arte de Olga Fossati, entre a técnica e a emoção. No concerto de ontem pudemos apreciar com mais amplitude, através de peças de diversos estilos, como é claro e penetrante, na talentosa artista do arco, o sentido da forma. Sua arquitetura musical é sempre sólida e de contornos claramente definidos, como são de uma admirável precisão os efeitos de claro-escuro que dão às suas execuções tão viva plasticidade. Nota-se, além disso, dentro de uma grande nobreza de estilo, uma maneira segura de conduzir o ritmo e um fraseado cheio de força expressiva. Dentro desses belos requisitos de técnica, que incluem um agudo sentido de musicalidade, flui uma sonoridade límpida e quente, que é um veículo vivamente sugestivo e palpitante do grande poder expressivo desta admirável violinista. [...] O público soube fazer justiça à distinta recitalista aplaudindo com entusiasmo".[14]

Na década de 1950 integrou o Trio Lemos-Pagnot-Fossati com Milton de Lemos e Jean Jacques Pagnot, realizando diversas excursões pelo sul do Brasil,[1] também com grande sucesso. O Jornal do Dia, por exemplo, celebrou as "interpretações superiores de elementos profundamente conhecedores da música e da inspiração poética dos compositores. Perfeição em todos os detalhes. Segurança e compreensão. Uma beleza total".[15] Foi uma das poucas mulheres gaúchas de sua geração que conseguiu se afirmar profissionalmente na música.[16] Após sua morte seu violino foi doado ao Museu da Baronesa.[17]

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Referências

  1. a b c d e Nogueira, Isabel Porto & Michelon, Francisca Ferreira. "Mulheres intérpretes: representação e música em fotografias em branco e preto do acervo do Conservatório de Música da UFPEL". In: Trans — Revista Transcultural de Música, 2011 (15)
  2. "Olga Fossati". A Federação, 08/11/1907
  3. "Olga Fossati". A Federação, 09/11/1907
  4. "Olga Fossati". A Federação, 13/11/1907
  5. "Theatros e diversões". A Federação, 26/11/1907
  6. "Uma creança genial". A Opinião Publica, 14/03/1908
  7. "Palcos e salões". A Opinião Publica, 20/03/1908
  8. "Concerto". O Dever, 12/03/1908
  9. Canaud, Fernanda. O virtuosismo e o "Swing" revelados na revisão fonográfica de Flor da Noite e Modinha & Baião de Radamés Gnattali. Doutorado. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2013, p. 40
  10. "Olga Fossati". O Brazil, 17/04/1913
  11. Conedera, Leonardo de Oliveira. Músicos no novo mundo : a presença de musicistas italianos na banda municipal de Porto Alegre (1925-1950). Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2017, p. 250
  12. Corte Real, Antônio. Subsídios para a História da Música no Rio Grande do Sul. 2ª ed. revista e aumentada. Movimento, 1984, p. 82
  13. Atallah, Gianne Zanella. Trajetórias musicais de alunas e professoras do Conservatório de Música de Rio Grande. Mestrado. Universidade Federal de Pelotas, 2011, p. 60
  14. Guido, Angelo. "O concerto de Olga Fossati". Diário de Notícias, 14/01/1940
  15. "Trio Lemos-Pagnot-Fossati". Jornal do Dia, 18/04/1953
  16. Weimer, Günter. A vida cultural e a arquitetura na fase positivista do Rio Grande do Sul. EDIPUCRS, 2018, p. 142
  17. Braga, Sylvia Maria (coord.). Patrimônio Vivo 7 — Pelotas. IPHAN / Programa Monumenta, 2007, p. 65