Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém

A Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém (em latim: Ordo Equestris Sancti Sepulcri Hierosolymitani - OESSH) é uma instituição leiga da Santa Sé encarregada de suprir as necessidades do Patriarcado Latino de Jerusalém e de sustentar a atividade e as iniciativas em favor da presença cristã na Terra Santa.[1]

Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém
(OESSH)
Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém
Brasão da Ordem
Lema "Deus Lo Vult"
Fundação 1103 (921 anos)
Estado legal Ativa
Propósito Sustentar a atividade e iniciativas em favor da presença cristã na Terra Santa.
Sede Cidade do Vaticano, Vaticano
Membros 20 mil
Filiação Igreja Católica
Grão-Mestre Itália Fernando Filoni
Fundador(a) Godofredo de Bulhão
Antigo nome Ordem dos Cônegos do Santo Sepulcro
Sítio oficial oessh.va

Atualmente a Ordem conta com 20 mil[2] Cavaleiros e Damas, os quais recebem a precedência de vestirem capa branca, no caso dos Cavaleiros, e capa preta e véu, no caso das Damas, bordada com o símbolo máximo de Jerusalém: a Cruz vermelha de Jerusalém, enquadrada por outras quatro pequenas cruzes, em recordação às cinco feridas sofridas por Jesus Cristo.[1]

A Ordem é a única instituição secular do Vaticano.[3] E, em conjunto com a Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta, são as únicas Ordens de Cavalaria reconhecidas, histórica e juridicamente, pela Santa Sé.[4][5]

História editar

Fundação editar

A Ordem Equestre do Santo Sepulcro tem sua origem na Ordem dos Cônegos da Santo Sepulcro, constituída por Godofredo de Bulhão, depois da conquista de Jerusalém, na época da Primeira Cruzada. Após a conquista os Cavaleiros, de diversas nacionalidades fizeram votos de obediência sob juramento de entregar suas vidas em proteção do Santo Sepulcro.[6] Tal feito foi eternizada pelo escritor espanhol Torquato Tasso no livro de poemas e cantos A Jerusalém Libertada, de 1581.[7]

 
Brasão em prédio da Ordem

Alguns anos depois, em 1103, segundo os cronistas desta época, Balduíno I de Jerusalém, segundo rei cruzado, se torna superior da Ordem dos Cônegos do Santo Sepulcro, com prerrogativas, por si e para seus sucessores, de criar Cavaleiros. No caso de ausência ou impedimento do monarca, esta faculdade era subordinada ao Patriarca Latino de Jerusalém. Entre os membros da Ordem, alguns eram considerados Sargentos, os quais representavam uma espécie de milícia eleita dentro da companhia cruzada e se devotavam à defesa do Santo Sepulcro e dos Lugares Santos.[8]

Logo após a Primeira Cruzada, em 1114, Arnolfo de Choques, então Patriarca de Jerusalém, obrigou os cônegos a viverem em comunidades sob a regra de Santo Agostinho além de outras normas elaboradas pelo Papa Calisto II. Erigindo-se, outrossim, uma divisão feminina. A igreja do Santo Sepulcro estava exclusivamente sob os cuidados dos cônegos e cônegas da Ordem.[8][9]

Período de obscuridade editar

Com o desaparecimento do Reino Cristão de Jerusalém, a Ordem permanece sem um superior, ainda que os priorados continuassem a existir sob a proteção de vários senhores e soberanos europeus e da Santa Sé.[10] A vacância do patriarcado Latino fez com que a faculdade de criar novos cavaleiros fosse prerrogativa da mais alta autoridade religiosa na Terra Santa, isto é, a Custódia da Terra Santa, instituição liderada pelos Franciscanos.[11]

A Ordem chegou a ser extinta pelo Papa Inocêncio VIII em 21 de março de 1489, pela publicação da bula Cum Solerti meditatione, a qual repassou seus bens e propriedades aos Hospitalários.[12] Contudo a Ordem resiste à extinção e, em 1496, Papa Alexandre VI revoga a bula de Inocêncio VIII trazendo a ordem à tona novamente, agora diretamente sob os auspícios da Santa Sé.[6][13]

Apesar da revogação da bula papal de Inocêncio VIII, a Ordem não conseguiu recuperar os bens e propriedades repassados aos Hospitalários, a despeito das, fracassadas, tentativas em 1555 e 1558.[14]

 
Cavaleiros com as capas da Ordem

Após esse período os parcos registros que se tem da Ordem, referem-se aos clérigos que se dispersaram pela Europa por mosteiros na Itália, Alemanha, Espanha, Portugal e Holanda.[9]

Volta às origens editar

Com o restabelecimento do Patriarcado pelo Papa Pio IX em 1847, a Ordem retorna a suas origens de custodiar o Santo Sepulcro com a promulgação de um novo estatuto e a sua colocação de seu governo, sob a proteção da Santa Sé, ao Patriarca Latino.[15] Nesta situação, foi definida a função preeminente da Ordem de sustentar as obras do Patriarcado Latino de Jerusalém e de incentivar a propagação da fé cristã.[16]

A partir de 3 de agosto de 1888, através das cartas apostólicas Venerabilis Frater Vicentius do Papa Leão XIII, mulheres leigas também passaram a ter acesso à Ordem por meio do chamado Braço de Damas.[17][18]

O termo Equestre substituiu o termo Militar no nome da Ordem em 1928.[17]

Em 1949, o Papa Pio XII estabeleceu que o Grão Mestre fosse um cardeal da Santa Igreja Romana, assegurando ao Patriarca Latino a prerrogativa de ser o Grão-Prior.

 
Estandarte da Ordem com a cruz de Jerusalém

Em 1962, o Papa João XXIII e depois, em 1967, o Papa Paulo VI modificaram o estatuto, para favorecer uma ação mais coordenada e eficiente. Em fevereiro de 1996, o Papa João Paulo II elevou a dignidade da Ordem a Associação Pública de Fiéis, ereta pela Sé Apostólica, de acordo com o artigo 312, parágrafo 1, 1º do Código de Direito Canônico, com personalidade canônica e civil.[19]

Papa Paulo VI aprovou a nova constituição da Ordem, em 8 de julho de 1977, na qual descreve seus principais propósitos:[20]

  • A prática da vida cristã;
  • A custódia e manutenção da fé cristã na Palestina;
  • A defesa dos direitos da Igreja Católica na Terra Santa.

Atualmente, entre outras obras de caridade, a Ordem contribui diretamente com a manutenção da Universidade de Belém, além de escolas, asilos, dispensários e hospitais na Palestina.[21][22][23]

Descrição Jurídica da Ordem editar

 
Sede da OESSJ

A Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém é uma associação de fiéis leigos aberta aos eclesiásticos, estabelecida com base no Direito Canônico, à qual é confiada, pelo Soberano Pontífice, a missão especial de assistir a Igreja da Terra Santa e de estimular em seus membros a prática da vida cristã. Somente a Santa Sé tem competência para erigir associações públicas, universais e internacionais de fiéis. Uma vez que seus membros estão dispersos além das fronteiras nacionais e diocesanas e possuem um estatuto aprovado e promulgado pela Santa Sé, a Ordem é claramente uma associação pública internacional de fiéis. Isto é decorrente das normas comuns do Direito Canônico, das disposições eclesiásticas particulares e das disposições do estatuto da Ordem.[3][24]

Estrutura editar

 
Vela da Ordem

Desde a sua fundação a Ordem possui dois tipos distintos de membros: o cavaleiro, que se dedica à guerra e afazeres profanos, e o clérigo, dedicado aos afazeres do sacerdócio da Ordem.[6] A Ordem tem uma estrutura hierárquica, com o governo do Cardeal Grão-Mestre, que é nomeado diretamente pelo Papa. O Grão-Mestre recebe a colaboração do Grão Magistério, o qual, de acordo com o Patriarca Latino de Jerusalém, define o programa de ação e as operações a favor da estrutura cristã na Terra Santa.[25]

Atualmente, o Grão Magistério está dividido em cinquenta e dois Lugares-Tenências,[10] sendo:

O número de membros ativos da Ordem, ou seja, dos que participam de sua vida no empenho do serviço e da caridade, assumidos no ato de admissão, é de cerca de vinte mil.


Insígnias da Ordem editar

 
Estátua em bronze, de 2,5 metros de altura, sobre o Santuário em Deir Rafat

Padroeira editar

Como ordem católica que é, a Ordem do Santo Sepulcro tem por padroeira Nossa Senhora da Palestina, a quem, juntamente com o Patriarcado Latino, dedica e cuida de um Santuário, construído em 1928, na cidade de Deir Rafat, a 30 km de Jerusalém.[27][28]

Deus lo vult editar

O lema da Ordem, Deus vult, ou Deus lo vult em latim medieval (Deus o quer; português), foi usado pelos cruzados como um grito de guerra ao serem convocados pelo Papa Urbano II para a Primeira Cruzada, no Concílio de Clermont em 1095, quando o Império Bizantino solicitou ajuda para defender a Terra Santa da invasão dos Turcos seljúcidas.[29]

Cruz de Jerusalém editar

Principal símbolo da Ordem, acredita-se que esta cruz tenha surgido no século XI para ser o símbolo do Reino de Jerusalém. As cinco cruzes representam as chagas de Cristo, sendo as quatro pequenas a dos membros e a maior se refere ao trespasse da lança de Longino.[30]

Palma de Jerusalém editar

Introduzida em 1949, possui 3 graus: Ouro, prata e bronze. É concedida a quem tenha prestado um serviço de caráter excepcional à Ordem ou às obras de caridade dela dependentes.[31]

Concha do Peregrino editar

Bastante difundida em razão dos caminhos de Santiago, a Concha do Peregrino, ou Peregrinatoris em latim, é uma condecoração a ser atribuída a Cavaleiros durante sua peregrinação à Terra Santa. A imposição é feita pelo próprio Patriarca Latino de Jerusalém.[31]

Insígnias e heráldicas da Ordem
 
Concha do Peregrino
 
Palma de Jerusalem em Bronze
 
Palma de Jerusalem em Prata
 
Palma de Jerusalem em Ouro

Graus editar

  • Cavaleiro de Colar ou Dama de Colar
  • Cavaleiro de Grã-Cruz ou Dama de Grã-Cruz
  • Grande-Oficial / Cavaleiro-Comendador com Placa ou Dama-Comendadora com Placa
  • Cavaleiro-Comendador ou Dama-Comendadora
  • Cavaleiro ou Dama

Referências

  1. a b Pinchiari, Marcos Rodrigues.Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém. In: Folha do Abc - Junho/2012.
  2. Ordem do Santo Sepulcro tem novo Governador Geral - Rádio Vaticano
  3. a b The Knights of the Holy See. Página oficial do Governo da Itália.
  4. PINHO, António Brandão de (2017). A Cruz da Ordem de Malta nos Brasões Autárquicos Portugueses. Lisboa: Chiado Editora. 426 páginas. Consultado em 28 de agosto de 2017 
  5. VATICANO; reconhece, 17 out 12 / 08:42 am-A. Secretaria de Estado do Vaticano fez uma precisão sobre as Ordens Equestres que; Jerusalém, como a Ordem de Malta e a Ordem Equestre do Santo Sepulcro de; Estado, para evitar assim a expedição ilícita de documentos e o uso indevido de lugares sagrados Segue o comunicado divulgado ontem: "A Secretaria de; sacras, em resposta aos frequentes pedidos de informação sobre a posição da Santa Sé ante as Ordens Equestres dedicadas a santos ou auto-intituladas; equestres, considera oportuno reiterar o que já foi publicado anteriormente":"Além das suas próprias ordens; Malta, a Santa Sé reconhece e tutela apenas a Ordem Soberana e Militar de; Jerusalém, também denominada Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de; Malta, de Rodes e de. «Vaticano reitera postura sobre Ordens Equestres para evitar uso indevido de lugares sagrados». www.acidigital.com. Consultado em 14 de abril de 2022 
  6. a b c Teixidó, Antonio M. (2002). «La Orden de Caballería del Santo Sepulcro de Jerusalén.». Studia Historica: Historia Moderna. 24: 207-219. ISSN 0213-2079. doi:10.14201/shhmo 
  7. Tasso, Torquato (1864). A Jerusalém Libertada. Lisboa: Typographia Universal 
  8. a b Carvalhos, Isabel MM (2006). A Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém 1103 - 2005. (PDF) (Tese de Mestrado). Universidade de Coimbra. 
  9. a b Gomez, José A. C. (2015). «Los Canónigos Regulares del Santo Sepulcro de Jerusalén en la Península Ibérica (siglos XII-XV).». Medievalismo. 25: 55-84. ISSN 1131-8155. doi:10.6018/j/241321 
  10. a b Cavaleiros do Santo Sepulcro, peregrinos da Alemanha. Christian Media Center.
  11. History The Equestrian Order of the Holy Sepulchre of Jerusalem. Diocese de Veneza (em inglês).
  12. Valente, Vasco (1924). A Ordem do Santo Sepulcro em Portugal. (PDF). Porto: Companhia Portuguesa. p. 13 
  13. Coimbra, Álvaro V. (1963). «Ordens militares de cavalaria de Portugal». Revista de História (USP). 26: 21-33. ISSN 2316-9141. doi:10.11606/issn.2316-9141.rh.1963.121849 
  14. Verdegal, Joan M. (2000). Las órdenes militares: realidad e imaginario. Castelló: Publicacions de la Universitat Jaume I. p. 144. ISBN 9788480212977 
  15. Papa João Paulo II. (2 de março de 2000). To the Equestrian Order of the Foly Sepulchre. Página oficial do Vaticano
  16. Valente, 1924, p. 15.
  17. a b Westdal, Stewart J. (1998). «The badges of the Equestrian Order of the Hoyl Sepulchre of Jerusalem» (PDF). The Journal of the Orders and Medals Society of America. 49: 34-36 
  18. Equestrian Order of the Holy Sepuchre Arquivado em 29 de agosto de 2017, no Wayback Machine.. Diocese of Alexandria.
  19. História. Página oficial da Ordem.
  20. Equestrian Order of the Holy Sepulchre of Jerusalem Collection. Universidade de Notre Dame.
  21. Boix, Jordi L. (8 de outubro de 2016). «Edwin Frederick O'Brien, el jefe católico del 'ejército' protector del Santo Sepulcro.». La Vanguardia 
  22. Bethlehem University Receives a Gift from the Middle Atlantic Lieutenancy of the Equestrian Order of the Holy Sepulchre of Jerusalem. Bethlehem University.
  23. The Equestrian Order of the Holy Sepulchre of Jerusalem−German Lieutenancy Visits Bethlehem University. Bethlehem University.
  24. Organização. Página oficial da Lugar-Tenência de Portugal.
  25. Magistrado amazonense é um dos sete brasileiros escolhidos para a Ordem do Santo Sepulcro. Tribunal de Justiça do Amazonas.
  26. Edwin Cardinal O’Brien, Grand Master of the Equestrian Order of the Holy Sepulchre of Jerusalem, to visit the Republic of China. Ministério das Relações Internacionais da China (em inglês).
  27. La Orden Ecuestre del Santo Sepulcro celebra a su patrona, la Virgen de Palestina, con una misa presidida por el Cardenal. Arquidiocese de Valencia.
  28. Nossa Senhora, Rainha da Palestina, “filha ilustre” desta terra. Christian Media Center.
  29. Morwood, James (1998). A Dictionary of Latin Words and Phrases. Oxford: Oxford University Press. p. 46. ISBN 9780198601098 
  30. Koloski, Philip. (11 de agosto de 2017). O significado da Cruz de Jerusalém. Aleteia.
  31. a b «Insígnias e heráldicas» (PDF). Informe da OESSJ. 4. 2 páginas. Fevereiro de 2017 

Ligações externas editar