Os Princípios da Psicologia

Os Princípios da Psicologia (The Principles of Psychology) é um livro de 1890 escrito por William James, um filósofo e psicólogo norte-americano que foi um dos fundadores da psicologia moderna. Existem quatro métodos no livro de James: fluxo de consciência (a metáfora psicológica mais famosa de James); emoção (mais tarde conhecida como teoria de James-Lange); hábito (hábitos humanos são constantemente formados para alcançar certos resultados), e vontade.

Resultados experimentais do século XIX editar

A abertura de Os princípios da psicologia apresentou o que se sabia até o momento sobre a localização das funções no cérebro: como cada sentido parecia ter um centro neural ao qual se reportava e como os movimentos corporais variados têm suas origens em outros centros.

As hipóteses e observações particulares nas quais James se baseou estão agora muito obsoletas, mas a conclusão mais ampla a que seu material conduz ainda é válida, isto é, que as funções dos "centros inferiores" (abaixo do telencéfalo) tornam-se cada vez mais especializadas à medida que nos afastamos dos répteis, por meio de mamíferos cada vez mais inteligentes, até os humanos, enquanto as funções do próprio cérebro se tornam cada vez mais flexíveis e menos localizadas à medida que nos movemos ao longo do mesmo contínuo.

Psicologia comparada editar

No uso do método comparativo, James escreveu, "os instintos dos animais são dissecados para lançar luz sobre os nossos. . . . "[1] Por esta luz, James descarta a banalidade de que "o homem difere das criaturas inferiores pela quase total ausência de instintos".[2] Não existe tal ausência, então a diferença deve ser encontrada em outro lugar.

James acreditava que os humanos possuem muito mais instintos do que outras criaturas. Instintos que, quando observados fora de seu contexto mais amplo, podem ter parecido tão automáticos quanto os mais básicos dos instintos animais. No entanto, à medida que o homem experimentava os resultados de seus instintos, e essas experiências evocavam memórias e expectativas, esses mesmos instintos foram sendo gradualmente refinados.[3]

Por esse raciocínio, James chegou à conclusão de que em qualquer animal com capacidade de memória, associação e expectativa, o comportamento é, em última análise, expresso como uma síntese de instinto e experiência, e não apenas um instinto cego sozinho.[4]

Tópicos selecionados editar

Fluxo de consciência editar

Fluxo de consciência é sem dúvida a metáfora psicológica mais famosa de James.[5] Ele argumentou que o pensamento humano pode ser caracterizado como uma corrente fluindo, que era um conceito inovador na época devido ao argumento anterior de que o pensamento humano era mais como uma cadeia de pensamentos distinta. Ele também acreditava que os humanos nunca podem experimentar exatamente o mesmo pensamento ou ideia mais de uma vez. Além disso, ele via a consciência como completamente contínua.

Emoção editar

James introduziu uma nova teoria da emoção (mais tarde conhecida como teoria de James-Lange), que argumentava que uma emoção é a consequência e não a causa das experiências corporais associadas à sua expressão.[5] Em outras palavras, um estímulo causa uma resposta física e uma emoção segue a resposta. Esta teoria tem recebido críticas ao longo dos anos, desde a sua introdução, mas de qualquer forma, ainda tem seus méritos.

Hábito editar

Os hábitos humanos são formados constantemente para alcançar certos resultados devido aos fortes sentimentos de querer ou desejar algo. James enfatizou a importância e o poder do hábito humano e observou que as leis de formação de hábitos são imparciais, e que os hábitos são capazes de causar boas ou más ações. E uma vez que um hábito bom ou mau começou a ser estabelecido, é muito difícil mudá-lo.[5]

Vontade editar

Vontade é o capítulo final de The Principles of Psychology, que foi influenciado pelas próprias experiências de vida de James. Havia uma questão que incomodava James durante sua crise, que era se o livre-arbítrio existia ou não.[5] "A realização mais essencial da vontade, ... quando é mais 'voluntária', é atender a um objeto difícil e segurá-lo firmemente diante da mente. . . " O esforço da atenção é, portanto, o fenômeno essencial da vontade."[5]

Influência e recepção editar

The Principles of Psychology foi um livro didático de grande influência, que resumiu o campo da psicologia até a época de sua publicação. A psicologia estava começando a ganhar popularidade e aclamação nos Estados Unidos nesta época, e a compilação deste livro apenas solidificou ainda mais a credibilidade da psicologia como ciência. O filósofo Helmut R. Wagner escreve que a maior parte do conteúdo do livro está desatualizada, mas que ele ainda contém ideias interessantes.[6]

Em 2002, James foi listado como o 14ª psicólogo mais eminente do século 20, com sua teoria sobre a emoção (a Teoria de James-Lange) apresentada neste livro sendo um fator contribuinte para essa classificação[7]

Em áreas fora da psicologia, o livro também teve um grande impacto. O filósofo alemão Edmund Husserl se envolve especificamente com o trabalho de William James em muitas áreas. Seguindo Husserl, este trabalho também impactaria muitos outros fenomenólogos.[8] Além disso, o filósofo anglo-austríaco Ludwig Wittgenstein leu a obra de James e a utilizou em seus cursos para alunos,[9] embora Wittgenstein mantivesse divergências filosóficas sobre muitos dos pontos de James. Por exemplo, a crítica de Wittgenstein a William James na seção 342 de Investigações filosóficas.[10]

Ver também editar

Referências editar

  1. James, William (1 de janeiro de 1890). The principles of psychology. [S.l.]: New York : Holt. pp. 194. So it has come to pass that the instincts of animals are ransacked to throw light on our own; and that the reasoning faculty of bees and ants, the minds of savages, infants, madmen, idiots, and the deaf and blind, criminals, and eccentrics, are all invoked in support of this or that special theory about some part of our own mental life. 
  2. James, William (1 de janeiro de 1893). Psychology (em inglês). [S.l.]: Henry Holt. pp. 395. Nothing is commoner than the remark that man differs from lower creatures by the almost total absence of instincts, and the assumption of their work in him by 'reason.' 
  3. James, William (1 de janeiro de 1893). Psychology (em inglês). [S.l.]: Henry Holt. pp. 395. Man has a far greater variety of impulses than any lower animal; and any one of these impulses taken in itself, is as 'blind' as the lowest instinct can be; but owing to man's memory, power of reflection, and power of inference, they come each one to be felt by him after he has once yielded to them and experienced their results, in connection with a foresight of those results. 
  4. James, William (1 de janeiro de 1893). Psychology (em inglês). [S.l.]: Henry Holt. pp. 396. It is plain then that, no matter how well endowed an animal may originally be in the way of instincts, his resultant actions will be much modified if the instincts combine with experience, if in addition to impulses he have memories associations inferences and expectations on any considerable scale. 
  5. a b c d e Rutherford, Raymond E. Fancher, Alexandra (2012). Pioneers of psychology: a history 4th ed. New York: W.W. Norton. ISBN 9780393935301 
  6. Wagner, Helmut R. (1983). Phenomenology of Consciousness and Sociology of the Life-world: An Introductory Study. Edmonton: The University of Alberta Press. 218 páginas. ISBN 0-88864-032-3 
  7. Haggbloom, Steven J.; Warnick, Renee; Warnick, Jason E.; Jones, Vinessa K.; Yarbrough, Gary L.; Russell, Tenea M.; Borecky, Chris M.; McGahhey, Reagan; Powell, John L. (junho de 2002). «The 100 Most Eminent Psychologists of the 20th Century». Review of General Psychology (em inglês). 6 (2): 139–152. ISSN 1089-2680. doi:10.1037/1089-2680.6.2.139 
  8. Edie, James M. "William James and Phenomenology." The Review of Metaphysics 23, no. 3 (1970): 481-526.
  9. Goodman, Russell B. "What Wittgenstein Learned from William James." History of Philosophy Quarterly 11, no. 3 (1994): 339-54.
  10. Wittgenstein, Ludwig, and G. E. M. Anscombe. 1997. Philosophical investigations. Oxford, UK: Blackwell.