Osmunda regalis, comummente conhecida como feto-real[1], é uma espécie botânica de pteridófitas, pertencentes à família das Osmundáceas.[2][3]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaOsmunda regalis
feto-real

Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Pteridophyta
Classe: Pteridopsida
Ordem: Osmundales
Família: Osmundaceae
Género: Osmunda
Espécie: O. regalis
Nome binomial
'Osmunda regalis
L.

Nomes comuns editar

Além de «feto-real»[4][5], dá ainda pelos seguintes nomes comuns: afentos, fento-real[6] e fento-de-flor[7] e osmonda[8] [9] ou osmunda [10] (não confundir com as demais espécies do género Osmunda que também dão por estes dois últimos nomes comuns).

Etimologia editar

Do que toca ao nome científico:

  • O epíteto específico, regalis, provém do étimo latino rēgālis, que significa «real». [12]

Quanto ao nome comum «feto-real», por seu turno, resulta de este ser o feto de maiores dimensões, dentre os fetos europeus.[13]

Descrição editar

É uma planta caducifólia herbácea, do tipo fisionómico hemicriptófito[4]. Tem um rizoma grosso, coberto pelos restos dos pecíolos[14].

Produz separadamente dois tipos de frondas fascículadas de crescimento anual, heteromorfas: as fertéis e as estéreis. As estéreis atingem até 60 a 160 centímetros de altura[5] e entre 30 a 40 cm de largura. As frondas férteis são erectas e mais curtas, medindo entre 20 a 50 cm de altura.[15]

As lâminas têm um formato oblongo-lanceolado.[5]As pínulas têm formatos oblongo-lanceolados.[5] As pínulas estéreis medem até 5x1,5 centímetros, ao passo que as férteis medem cerca de 12x3 milímetros.[5] As pínulas são verde-pálidas, tornando-se castanhas com o tempo.[5]

Conta com esporângios dispostos em forma de panícula na parte superior das frondes, subglobosos, curtamente pediculados.[16][15] Os esporos são verdes e globosos.[5]

A folhagem adquire um tom vermelho acastanhado no Outono.[3]

Variedades editar

 
Closeup of sterile frond
  • Osmunda regalis var. regalis. Europa, África, sudoeste de Asia. Frondas estéreis de 1,6 m de altura[17][18]
  • Osmunda regalis var. panigrahiana R.D.Dixit. Sur de Asia (India).[17][18]
  • Osmunda regalis var. brasiliensis (Hook. & Grev.) Pic.Serm. Regiões tropicais do Centro e Sul do continente América; tratada como sinónimo de la var. spectabilis por alguns autores.[17][18]
  • Osmunda regalis var. spectabilis (Willd.) A.Gray; este do Norte da América. Frondas estéreis de 1 m de altura.[17][18]

Distribuição editar

É uma planta de cosmopolita[3], capaz de prosperar tanto em zonas tropicais como temperadas, pelo que conhece grande distribuição pelo mundo, com expressão na Europa Ocidental, na América, na África e na Ásia, excluindo-se, por conseguinte, a Austrália e as ilhas do Pacífico, de onde está ausente.[7]

Portugal editar

 
Na Córsega

Trata-se de uma espécie presente no território português, em Portugal Continental e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira.

Mais concretamente, em Portugal continental, encontram-se maiores populações nas zonas do Noroeste, sendo certo que também algumas populações mais modestas dispersas pelas regiões do Centro e da Estremadura.[15] Há uma população significativa no barlavento Algarvio, ao passo que o interior alentejano e o interior algarvio têm muito poucas comunidades desta espécie.[7]

Do que toca ao arquipélago dos Açores, embora esta espécie marque presença em todas as ilhas, é rara em Santa Maria e muito rara na Graciosa, sendo, por contraste, extremamente comum nas Flores.[5]

Em termos de naturalidade é nativa da região atrás indicada.

Ecologia editar

 
Rebentos de folhas novas

Trata-se de uma planta ripícola e higrófita, ou seja, privilegia as orlas dos cursos de água e o sotobosque de áreas ribeirinhas ou em barrocas.[7][1] Medra em zonas húmidas e umbrias, em solos tendencialmente mais ácidos.[1]

Proza também em turfeiras florestadas, ravinas e taludes, bem como em falésias costeiras. Embora possa ocorrer abaixo dos 100 metros de altitude, é geralmente encontrada entre os 500 e os 1000 metros de altitude.[5]

Cultivo editar

 
Planta

A Osmunda regalis é lautamente cultivada nas regiões temperadas.[3] As espécies[19] e o cultivar "cristata"[20] chegaram, inclusive, a ganhar o prémios da Royal Horticultural Society britânica.[21]

O feto-real deve ser plantado em solos húmidos com PH de teor ácido. Convivem bem com outras plantas higrófilas como a Rodgersia e a Gunnera.[22][3]

Usos editar

A raiz, na senda do que também acontece com as raizes das demais espécies do género Osmunda, são usadas para produzir "fibra de osmunda"[23], que por sua vez serve como suporte de crescimento de orquídeas e outras plantas epifíticas.[24]

Feto-real temperado é um prato tradicional da cozinha namul da corte real da Coreia. Os rebentos da planta são comestíveis, a par dos de outras variedades de fetos, ostentando um travo similar ao dos espargos.[25]

No folclore editar

 
Folhas do feto-real


A esta planta foram atribuidas propriedades mágicas em diferentes mitologias e folclores europeus, ao longo dos séculos.[25][26]

Folclore português editar

Na crença popular portuguesa sustentava-se que, na noite de S. João, pouco antes da meia-noite, o feto real brota uma flor vermelha e escura, que ilumina tudo o que estiver derredor. À meia noite, essa flor larga uma semente invisível, que confere uma infinidade de virtudes mágicas possíveis[26][27][28]:

  • Obter conhecimento a respeito do que quiser.[28]
  • Obter força mágica, para derrotar demónios.
  • Obter uma espécie de magnetismo carismático, capaz de atrair as pessoas que se deseje ou de produzir encontros fortuitos com quem se queira, e de convencer a pessoa atraída a aceder às vontades do detentor da semente mágica.[26][27]

Mas a sua apanha é difícil e perigosa, porque há entidades maléficas (como sendo, o Diabo, bruxas ou almas penadas) que também desejam apanhar a semente encantada, pelo que é necessário vencê-las, para a obter.[26][28]

A tradição popular prescreve, para esse efeito, que é preciso, aquando da meia-noite, pôr-se sob o feto um lenço, guardanapo, pano ou toalha, para onde a semente invisível possa cair, sem se perder, visto que, se cair ao chão nunca mais se volta a encontrar.[28] Para que o diabo não interfira com esta solução, a tradição popular aconselhava a que se desenhasse um signo saimão no chão, englobando o espaço ocupado pela planta e pelo aventureiro, porquanto o Diabo era incapaz de entrar nesse espaço.[27]

Mitologia Eslava editar

De acordo com a mitologia eslava, o feto-real, denominado "flores de Perun"[29], estavam imbuídas dos mais variegados poderes mágicos, como sendo: dar ao seu detentor a força para derrotar demónios; concretizar desejos; desvendar segredos; permitir comunicar com as árvores e as plantas.[24]

Sem embargo, para que se pudesse colher as «flores de Perun» era necessário triunfar numa provação difícil e medonha. As tradições mais recuadas no tempo indicavam que a flor só poderia ser colhida por ocasião da noite de Kupala (coincidente com a véspera de S. João); ulteriormente, no rescaldo da cristianização dos povos eslavos, a data foi alterada por forma a coincidir com a Páscoa. [30]

O ritual de provação implicava desenhar um círculo de volta da planta e resistir ao assédio de demónios, que também cobiçavam a flor de Perun.[30]

Referências

  1. a b c «Flora-On | Flora de Portugal interactiva». flora-on.pt. Consultado em 14 de janeiro de 2021 
  2. University), Izolda Matchutadze (Shota Rustaveli State (17 de fevereiro de 2013). «IUCN Red List of Threatened Species: Osmunda regalis». IUCN Red List of Threatened Species. Consultado em 27 de janeiro de 2021 
  3. a b c d e «Osmunda regalis | royal fern/RHS Gardening». www.rhs.org.uk (em inglês). Consultado em 27 de janeiro de 2021 
  4. a b Castroviejo, S. (coord. gen.). 1986-2012. Flora iberica 255. Real Jardín Botánico, CSIC, Madrid.
  5. a b c d e f g h i Bento Elias, Rui (2022). Guia Prático da Flora Nativa dos Açores. Angra do Heroísmo: Instituto Açoriano da Cultura. p. 232. 518 páginas. ISBN 978-989-8225-74-0 
  6. S.A, Priberam Informática. «Consulte o significado / definição de fento no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o dicionário online de português contemporâneo.». dicionario.priberam.org. Consultado em 27 de janeiro de 2021 
  7. a b c d «UTAD- Jardim Botânico -Osmunda Regalis». Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Consultado em 21 de janeiro de 2020 
  8. «osmonda». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  9. S.A, Priberam Informática. «Consulte o significado / definição de osmonda no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o dicionário online de português contemporâneo.». dicionario.priberam.org. Consultado em 27 de janeiro de 2021 
  10. S.A, Priberam Informática. «osmunda». Dicionário Priberam. Consultado em 22 de julho de 2023 
  11. Coombes, Allen J. (2012). The A to Z of plant names. USA: Timber Press. p. 312. ISBN 9781604691962 
  12. «rēgālis - ONLINE LATIN DICTIONARY - Latin - English». www.online-latin-dictionary.com. Consultado em 22 de julho de 2023 
  13. RHS A-Z encyclopedia of garden plants. United Kingdom: Dorling Kindersley. 2008. p. 1136. ISBN 978-1405332965 
  14. «Le zone umide della Toscana settentrionale». web.archive.org. 19 de agosto de 2009. Consultado em 27 de janeiro de 2021 
  15. a b c «Flora-On | Flora de Portugal interactiva». flora-on.pt. Consultado em 14 de janeiro de 2021 
  16. Castroviejo, S. (coord. gen.). 1986-2012. Flora iberica 255. Real Jardín Botánico, CSIC, Madrid.
  17. a b c d «Tropicos | Name - Osmunda regalis L.». legacy.tropicos.org. Consultado em 27 de janeiro de 2021 
  18. a b c d «Osmunda species of fern in the world». web.archive.org. 8 de setembro de 2009. Consultado em 27 de janeiro de 2021 
  19. «RHS Plant Selector - Osmunda regalis». Consultado em 16 de Janeiro de 2021 
  20. «RHS Plant Selector - Osmunda regalis 'Cristata'». Consultado em 16 de Janeiro de 2021 
  21. «AGM Plants - Ornamental» (PDF). Royal Horticultural Society. p. 70. Consultado em 14 de Abril de 2018 
  22. «Osmunda regalis». BBC Gardeners’ World Magazzine. Consultado em 14 de Setembro de 2019 
  23. «Osmunda fibre | plant anatomy». Encyclopedia Britannica (em inglês). Consultado em 27 de janeiro de 2021 
  24. a b Schönfelder, Peter (1988). Atlas der Farn- und Blütenpflanzen der Bundesrepublik Deutschland. Stuttgart: Eugen Ulmer. 768 páginas. ISBN 3-8001-3434-9 
  25. a b Metzgar, J.S. (2008). The paraphyly of Osmunda is confirmed by phylogenetic analyses of seven plastid loci. Oxford: Systematic Botany. pp. 31–36 
  26. a b c d Veiga de Oliveira, Ernesto (1984). Festividades cíclicas de Portugal, Cap. 11 «O São João em Portugal». Lisboa: Publicações Dom Quixote. 357 páginas. doi:10.4000/books.etnograficapress.5888 
  27. a b c VILHENA, M. Assunção (1995). Gentes da Beira Baixa. Castelo Branco: Colibri. p. 97 
  28. a b c d Coelho, Francisco Adolfo (1993). Obras etnográficas (I): Festas, costumes e outros materiais para uma Etnologia de Portugal. Lisboa: Etnográfica Press. 306 páginas. ISBN 972-20-1107-3. doi:10.4000/books.etnograficapress.5446  «Na noite de S. João, segundo a crença popular, o ‘feto real’ (planta) larga a flor à meia-noite. É costume estender-se um lenço por baixo da planta para a flor, que tem grandes virtudes, cair nele. Mas é muito difícil depois ir buscar o lenço, por causa das bruxas que o não consentem. No entretanto se lá se pode chegar, apanha-se a flor, mete-se dentro de um canudo de lata, e quando se quer saber alguma coisa, vai-se ao canudo porque se sabe logo.»
  29. «Perun's flowers». TheFreeDictionary.com. Consultado em 27 de janeiro de 2021 
  30. a b «Oxford University Plants 400: Osmunda regalis». herbaria.plants.ox.ac.uk. Consultado em 27 de janeiro de 2021 
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