Paecilomyces lilacinus

fungo filamentoso saprófita

Paecilomyces lilacinus é um fungo filamentoso saprófita comum. Tem sido isolado numa grande variedade de habitats incluindo solos cultivados e não cultivados, florestas, pradarias, desertos, sedimentos estuarinos e em lamas de esgoto. Foi também encontrado em ovos de nemátodes, e ocasionalmente em fêmeas de nemátodes das galhas e quistos das raízes. Adicionalmente, é frequentemente detectado na rizosfera de muitas culturas. A espécie pode desenvolver-se num amplo intervalo de temperatura – dos 8°C aos 38°C para alguns isolados, tendo crescimento óptimo no intervalo entre os 26°C e os 30°C. Tem também uma grande tolerância ao pH e pode crescer sobre uma grande variedade de substratos.[1][2] P. lilacinus mostrou resultados promissores para o seu uso como agente de controlo biológico contra os nemátodes das galhas das raízes.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaPaecilomyces lilacinus
Fiálides divergentes, e longas cadeias enredadas de conídios elípticos com origem em estruturas frutíferas mais complexas de Paecilomyces lilacinus; ampliação 460X.
Fiálides divergentes, e longas cadeias enredadas de conídios elípticos com origem em estruturas frutíferas mais complexas de Paecilomyces lilacinus; ampliação 460X.
Classificação científica
Reino: Fungi
Filo: Ascomycota
Classe: Eurotiomycetes
Ordem: Eurotiales
Família: Trichocomaceae
Género: Paecilomyces
Espécie: P. lilacinus
Nome binomial
Paecilomyces lilacinus
(Thom) Samson (1974)

Descrição editar

P. lilacinus forma um micélio denso que produz conidióforos. Estes sustentam as fiálides em cujas extremidades se formam longas cadeias de esporos. Os esporos germinam quando as condições de humidade e nutrição são adequadas. Colónias em agar de malte crescem bastante depressa, atingindo um diâmetro de 5 a 7 cm em 14 dias a 25°C, consistindo duma camada basal sobre a qual se forma um micélio aéreo flocoso; inicialmente apresenta cor branca, mas quando em esporulação passa a exibir um tom vináceo. O reverso é por vezes incolor mas geralmente apresenta-se em tons vináceos. As hifas vegetativas têm paredes lisas, hialinas e 2.5–4.0 µm de largura. Os conidióforos com origem em hifas submersas têm 400–600 µm de comprimento e os que têm origem em hifas aéreas metade desse comprimento. As fiálides consistem de uma parte basal inchada, que afunila num distinto pescoço delgado. Os conídios encontram-se dispostos em cadeias divergentes, de forma elipsóide a fusiforme, e com paredes lisas a ligeiramente rugosas. Clamidiósporos estão ausentes.[1]

Ciclos de vida editar

P. lilacinus é altamente adaptável quanto à sua estratégia de vida: dependendo da disponibilidade de nutrientes no microambiente que o rodeia, pode ser entomopatogénico,[3][4][5] micoparasita,[6] saprófita,[7] bem como nematófago.

Patogenicidade humana editar

P. lilacinus é uma causa pouco frequente de doença humana.[8][9] A maioria dos casos relatados envolve pacientes com sistema imunitário comprometido, introdução de corpos estranhos, ou implantes de lentes intra-oculares.[10][11] As pesquisas da última década sugerem que pode ser um patógeno emergente tanto em adultos imunocomprometidos[12] como em adultos imunocompetentes..[13]

Agente de controlo biológico editar

Os nemátodes parasitas de plantas causam perdas económicas significativas a uma grande variedade de culturas. O controlo químico é uma opção amplamente utilizada no controlo de nemátodes parasitas de plantas. Porém, os nematicidas químicos encontram-se em reavaliação no que toca ao seu risco ambiental, elevados custos, disponibilidade limitada em países em desenvolvimento e à sua eficácia diminuída após várias aplicações.

Controlo de nemátodes parasitas de plantas editar

P. lilacinus foi observado pela primeira vez em ovos de nemátodes em 1966[14] e mais tarde foi encontrado parasitando ovos de Meloidogyne incognita no Peru.[15] Foi entretanto isolado a partir de muitos nemátodes de quisto e galha e em solos de muitos locais.[16][17] Vários ensaios de campo bem-sucedidos de uso de P. lilacinus contra nemátodes foram feitos no Peru.[15] O isolado peruano foi então enviado para nematólogos de 46 países para análise, como parte dum projecto internacional, resultando daí muitos outros ensaios de campo em várias culturas em muitos tipos de solo e clima diferentes.[18] Ensaios de campo e de estufa e análise in vitro de P. lilacinus continuam a ser feitos e mais isolados foram obtidos de solo, nemátodes e ocasionalmente insectos. Os isolados variam na sua patogenicidade relativamente aos nemátodes parasitas de plantas. Alguns isolados são parasitas agressivos, enquanto outros, apesar de morfologicamente indistinguíveis, são menos ou mesmo não-patogénicos. Por vezes, isolados que parecem promissores em ensaios in vitro ou de estufa, falharam quando utilizados em ensaios de campo.[19]

Enzimas editar

Foram estudadas muitas enzimas produzidas por P. lilacinus. Foi identificada uma serino-protease com actividade biológica contra ovos de Meloidogyne hapla.[20] Foi demonstrado que uma estirpe de P. lilacinus produz proteases e uma quitinase, enzimas que poderiam enfraquecer o exterior dos ovos de nemátodes permitindo a penetração de uma cunha de infecção.[21]

Infecção de ovos editar

Antes de infectar um ovo de nemátode, P. lilacinus achata-se contra o ovo fixando-se neste. P. lilacinus produz apressórios simples em qualquer ponto do revestimento do ovo de nemátode quer após o crescimento de algumas hifas ao longo da superfície do ovo, ou após a formação de uma malha de hifas no ovo. A presença de apressórios parece indicar que o ovo está, ou prestes a estar, infectado. Em qualquer dos casos, o apressório tem o mesmo aspecto, o de um simples inchaço na extremidade de uma hifa, unido ao revestimento exterior do ovo. A adesão entre o apressório e a superfície do ovo de nemátode tem de ser suficientemente forte para resistir à força oposta produzida pela extremidade extensível de uma hifa de penetração.[22] Quando a hifa penetra o ovo, destrói rapidamente o juvenil no seu interior, antes de crescer para o exterior do ovo para produzir conidióforos e para continuar o seu crescimento em direcção aos ovos adjacentes.

Referências

  1. a b Samson, RA (1974). «Paecilomyces and some allied hyphomycetes». Baarn: Centralbureau voor Schimmelcultures. Studies in Mycology. 6. 119 páginas 
  2. Anderson, Traute-Heidi; Domsch, K. H.; Gams, W. (1995). Compendium of Soil Fungi. [S.l.]: Lubrecht & Cramer Ltd. ISBN 3-9803083-8-3 
  3. Rombach MC, Aguda RM, Shepard BM Roberts DW. (1986). Infection of rice brown planthopper, Nilaparvata lugens (Homoptera: Delphacidae), by field application of entomopathogenic hyphomycetes (Deuteromycotina). Environ Entomol 15:1070–3.
  4. Marti GA, Lastra CC, Pelizza SA, García JJ (2006). «Isolation of Paecilomyces lilacinus (Thom) Samson (Ascomycota: Hypocreales) from the Chagas disease vector, Triatoma infestans Klug (Hemiptera: Reduviidae) in an endemic area in Argentina». Mycopathologia. 162 (5): 369–72. PMID 17123036. doi:10.1007/s11046-006-0072-3 
  5. Fiedler, Z. and Sosnowska, D. (2007) Nematophagous fungus Paecilomyces lilacinus (Thom) Samson is also a biological agent for control of greenhouse insects and mite pests. BioControl 52, 547–558
  6. Gupta, S.C., Leathers, T.D. and Wicklow, D.T. (1993) Hydrolytic enzymes secreted by Paecilomyces lilacinuscultured on sclerotia of Aspergillus flavus. Appl Microbiol Biotechnol 39, 99–103.
  7. Tigano-Milani, M.S., Carneiro, R.G., de Faria, M.R., Frazão, H.S. and McCoy, C.W. (1995) Isozyme characterization and pathogenicity of Paecilomyces fumosoroseus and P. lilacinus to Diabrotica speciosa (Coleoptera: Chrysomelidae) and Meloidogyne javanica (Nematoda: Tylenchidae). Biol Control 5, 378–382
  8. Saberhagen C, Klotz SA, Bartholomew W, Drews D, Dixon A (1997). «Infection due to Paecilomyces lilacinus: a challenging clinical identification». Clin. Infect. Dis. 25 (6): 1411–3. PMID 9431388 
  9. Westenfeld F, Alston WK, Winn WC (1996). «Complicated soft tissue infection with prepatellar bursitis caused by Paecilomyces lilacinus in an immunocompetent host: case report and review». J. Clin. Microbiol. 34 (6): 1559–62. PMC 229063 . PMID 8735119 
  10. O'Day DM (1977). «Fungal endophthalmitis caused by Paecilomyces lilacinus after intraocular lens implantation». Am. J. Ophthalmol. 83 (1): 130–1. PMID 299984 
  11. Pettit TH, Olson RJ, Foos RY, Martin WJ (1980). «Fungal endophthalmitis following intraocular lens implantation. A surgical epidemic». Arch. Ophthalmol. 98 (6): 1025–39. PMID 7190003 
  12. Safdar A (2002). «Progressive cutaneous hyalohyphomycosis due to Paecilomyces lilacinus: rapid response to treatment with caspofungin and itraconazole». Clin. Infect. Dis. 34 (10): 1415–7. PMID 11981740. doi:10.1086/340260 
  13. Carey J, D’Amico R, Sutton DA, Rinaldi MG. Paecilomyces lilacinus vaginitis in an immunocompetent patient. Emerg Infect Dis [serial online] 2003 Sep
  14. Lysek, H. «Study of biology of geohelminths. II. The importance of some soil microorganisms for the viability of geohelminth eggs in the soil». Acta Universitatis Palackianae Olomucensis. 40: 83–90 
  15. a b Jatala, P; Kaltenbach R and Bocangel M. «Biological control of Meloidogyne incognita acrita and Globodera pallida on potatoes». Journal of Nematology. 11. 303 páginas 
  16. Stirling, GR (1991). Biological Control of Plant Parasitic Nematodes. UK: CABI Publishing. 282 páginas 
  17. Stirling, GR; West LM. «Fungal parasites of root-knot nematode eggs from tropical and sub-tropical regions of Australia». Australasian Plant Pathology. 20: 149–154. doi:10.1071/APP9910149 
  18. Jatala, P (1986). «Biological control of plant-parasitic nematodes». Annual Review of Phytopathology. 24: 453–489. doi:10.1146/annurev.py.24.090186.002321 
  19. Gomes Carniero, RMD; Cayrol J. «Relationship between inoculum density of the nematophagous fungus Paecilomyces lilacinus and control of Meloidogyne arenaria on tomato». Revue Nématologique. 14 (4): 629–634 
  20. Bonants, PJM; Fitters PFL, Thijs H, den Belder E, Waalwijk C and Henfling J W DM (1995). «A basic serine protease from Paecilomyces lilacinus with biological activity against Meloidogyne haplaeggs». Microbiology. 141: 775–784. PMID 7773385 
  21. Khan, A; Williams KL, and Nevalainen HKM (2004). «Effects of Paecilomyces lilacinus protease and chitinase on the eggshell structures and hatching of Meloidogyne javanica juveniles». Biological Control. 31: 346–352. doi:10.1016/j.biocontrol.2004.07.011 
  22. Money, NP (1998). Mechanics of invasive fungal growth and the significance of turgor in plant infection. In: Molecular genetics of host-specific toxins in plant disease. Netherlands: Kluwer Academic Publishers. pp. 261–271