Paradoxo das folhas de chá

O paradoxo das folhas de chá descreve um fenômeno em que as folhas de chá numa xícara de chá migram para o centro e para o fundo da xícara depois desta ser agitada, ao invés de ser forçado para as bordas da taça, como seria de esperar a partir de uma espiral de força centrífuga. A primeira solução veio de Albert Einstein em um artigo de 1926, onde ele usava isso para explicar a erosão nas margens de rios (lei de Baer).[1][2]

Folhas de chá concentradas no fundo e no meio, ao invés das bordas.

Explicação editar

 
Fluxo secundário que empurra as folhas de chá para o meio.

Mexer o líquido o faz girar dentro do copo. A fim de manter esta trajetória curva, uma força centrípeta em direção ao centro é necessária (semelhante à tensão em uma corda ao girar um balde sobre a cabeça). Isto se deve a um gradiente de pressão para fora (pressão mais elevada na parte de fora do que na parte de dentro). No entanto, perto do fundo e da borda exterior a velocidade do líquido é diminuída pela fricção contra o copo. Ali, a força centrífuga é mais fraca e não pode ultrapassar o gradiente de pressão. Assim, estas diferenças de pressão tornam-se mais importantes para o fluxo de água. Isso se chama camada limite, ou mais especificamente, uma camada de Ekman.[3]

Por causa da força centrífuga, a pressão é mais elevada nas laterais do que no meio. Se todo o líquido rodasse como um corpo sólido, a força para dentro (força centrípeta) iria se equilibrar com a força para fora (força centrifuga) a partir da rotação e não haveria qualquer movimento para dentro ou para fora. Numa xícara de chá, onde a rotação é lenta na parte inferior, o gradiente de pressão assume e cria um fluxo para dentro ao longo do fundo. Mais acima, em vez disso, o líquido flui para o exterior. Este fluxo secundário viaja para dentro na parte inferior trazendo as folhas para o centro e, em seguida, para cima, para fora e para baixo perto da lateral. As folhas são muito pesadas​ para subirem, então, elas ficam no meio. Combinado com o fluxo primário de rotação, as folhas irão espiralar para dentro no fundo da xícara.[2]

Aplicações editar

O fenômeno tem sido usado para desenvolver uma nova técnica para separar os glóbulos vermelhos do plasma de sangue,[4][5] para entender os sistemas de pressão atmosférica,[6] e no processo de fabricação de cerveja em uma etapa conhecida como whirlpool.[7]

Ver também editar

Notas

  1. Bowker, Kent A. (1988). «Albert Einstein and Meandering Rivers». Earth Science History. 1 (1). Consultado em 28 de dezembro de 2008 
  2. a b Einstein, Albert (março de 1926). «Die Ursache der Mäanderbildung der Flußläufe und des sogenannten Baerschen Gesetzes». Berlin / Heidelberg: Springer. Die Naturwissenschaften. 14 (11): 223–4. Bibcode:1926NW.....14..223E. doi:10.1007/BF01510300  English translation: The Cause of the Formation of Meanders in the Courses of Rivers and of the So-Called Baer’s Law Arquivado em 25 de janeiro de 2009, no Wayback Machine., accessed 2008-12-28.
  3. «CEE 262A Hydrodynamics Lecture 18» (PPT). 2007. p. 35. Consultado em 29 de dezembro de 2008 
  4. Arifin, Dian R.; Leslie Y Yeo, James R. Friend (20 de dezembro de 2006). «Microfluidic blood plasma separation via bulk electrohydrodynamic flows». American Institute of Physics. Biomicrofluidics. 1 (1): 014103 (CID). PMC 2709949 . PMID 19693352. doi:10.1063/1.2409629. Consultado em 28 de dezembro de 2008. Arquivado do original em 9 de dezembro de 2012. Resumo divulgativoScience Daily (17 de janeiro de 2007) 
  5. Pincock, Stephen (17 de janeiro de 2007). «Einstein's tea-leaves inspire new gadget». ABC Online. Consultado em 28 de dezembro de 2008 
  6. Tandon, Amit; Marshall, John. «Einstein's Tea Leaves and Pressure Systems in the Atmosphere» (PDF). Consultado em 29 de dezembro de 2008 
  7. Bamforth, Charles W. (2003). Beer: tap into the art and science of brewing 2nd ed. [S.l.]: Oxford University Press. p. 56. ISBN 978-0-19-515479-5 

Referências