Paulinho da Viola

violinista, multi-instrumentista, cantor, compositor e sambista brasileiro

Paulo César Batista de Faria, mais conhecido como Paulinho da Viola (Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1942), é um produtor musical, violonista, cavaquinista, bandolinista, cantor e compositor de samba e choro brasileiro, conhecido por suas harmonias sofisticadas e sua voz suave e gentil. Paulinho é baluarte da Portela, sendo membro de sua Velha Guarda e integrante de sua ala de compositores.

Paulinho da Viola
Paulinho da Viola
Paulinho da Viola em 2014, no 25º Prêmio da Música Brasileira.
Informação geral
Nome completo Paulo César Batista de Faria
Nascimento 12 de novembro de 1942 (81 anos)
Local de nascimento Rio de Janeiro, DF
Brasil
Nacionalidade brasileiro
Gênero(s) Samba
Choro
Ocupação(ões)
Instrumento(s) voz
violão
cavaquinho
Período em atividade 1965–presente
Prêmios Lista
Página oficial paulinhodaviola.com.br

Biografia editar

Filho mais velho do violonista Benedicto Cesar Ramos de Faria, integrante da primeira formação do grupo de choro Época de Ouro, Paulinho da Viola nasceu no bairro de Botafogo em 1942 e desde pequeno gostava de ouvir choros e sambas.[1][2] Assim, teve a oportunidade de conviver com grandes chorões da época, como Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Dilermando Reis, entre outros, observando a maneira de tocar dos músicos.[3][4][5][6]

Embora o pai não desejasse que o filho se tornasse músico, este, contudo, o convenceu a lhe dar um violão, instrumento que começou a aprender a tocar sozinho, aos 15 anos e, logo depois com o violinista Zé Maria, amigo da família, que o instruiu com o método de Matteo Carcassi.[1][7]

Paulinho da Viola no Projeto Seis e Meia, realizado no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, em 27 de dezembro de 1977. Programa "É preciso cantar". Imagem do Fundo da Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa

Ao mesmo tempo, começou a se envolver com carnaval e organizou com um grupo de amigos o bloco carnavalesco Foliões da Rua Anália Franco, para representar a rua onde morava sua tia Trindade, no bairro de Vila Valqueire, na Zona Oeste do Rio, onde costumava visitar aos fins de semana e tinha mais liberdade para sair à noite.[1] Por essa época, ingressou na ala de compositores da escola de samba União de Jacarepaguá.[8][9] Lá conheceu sambistas como Catoni e Jorge Mexeu e, atuando como cavaquista, compôs em 1962 "Pode Ser Ilusão", um de seus primeiros sambas.[1]

Pouco antes, logo após ter completado 19 anos, Paulinho conseguiu seu primeiro emprego como contador em uma agência bancária do centro do Rio e estudava economia.[10][11] Em um dia de trabalho, viu Hermínio Bello de Carvalho, a quem conhecia de vista dos saraus musicais na casa de Jacob do Bandolim, entrar no banco para pagar uma conta e — depois de uma rápida conversa — lhe aconselhou a abandonar a carreira enquanto era jovem.[10][11] Paulinho atendeu um convite para visitar o apartamento do poeta no Catete, que naquela época era bastante frequentado por músicos, intelectuais e artistas diversos.[12] Lá, pôde ouvir pela primeira vez gravações de compositores como Anescar do Salgueiro, Carlos Cachaça, Cartola, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Zé Ketti e também a ensaiar composições originais com Hermínio, um de seu primeiros parceiros musicais e grande incentivador de sua carreira.[1]

Ainda em 1963, Hermínio levou Paulinho para conhecer o Zicartola, bar e restaurante fundado por Cartola e a Dona Zica na Rua da Carioca que se convertera em um reduto de sambistas, chorões artistas, intelectuais e jornalistas.[13][14] Quando aparecia por lá, o jovem Paulinho acompanhava, no cavaquinho ou no violão, compositores e intérpretes e também se apresentando cantando músicas de outros autores e, após fazer um show com o compositor Zé Ketti, foi incentivado pelo mesmo a cantar suas próprias músicas no Zicartola.[1]

 
Paulinho da Viola, abril de 1970. Arquivo Nacional.

No ano seguinte, após ter acompanhado o cantor Ciro Monteiro em uma canja no Zicartola, decidiu abandonar seu posto de bancário para se dedicar exclusivamente à música.[11] Também em 1964, seu primo Oscar Bigode, que era diretor de bateria da Portela, o convenceu a se mudar de escola de samba e o apresentou para a ala de compositores da agremiação de Oswaldo Cruz, onde Paulinho mostrou a primeira parte de um samba que fazia e que Casquinha, um dos compositores portelenses, havia gostado e completado com a segunda parte, criando-se assim "Recado".[1]

Já em 1965, participou do musical "Rosa de Ouro", montado por Kléber Santos e Hermínio Bello de Carvalho, que marcou o retorno de Araci Cortes e lançou Clementina de Jesus, e que culminaram na gravação do LP Rosa De Ouro Vol.1, pela Odeon.[1] Ainda naquele ano, o nome de Paulinho da Viola apareceu no LP Roda de Samba, da Musidisc. Essa gravadora, a mesma onde Paulinho estava registrando seus sambas, pediu para Zé Ketti organizar o conjunto A Voz do Morro, composto por integrantes do conjunto Rosa de Ouro - Anescar do Salgueiro, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Nelson Sargento e Paulinho - e acrescidos de Oscar Bigode, Zé Cruz e o próprio Ketti.[1] No processo de finalização desse álbum, um funcionário da Musidic não gostou do nome “Paulo César” e, tendo conhecimento da anedota, o jornalista Sérgio Cabral e Zé Ketti bolaram o nome artístico Paulinho da Viola.[15][16] Nesse primeiro disco, aparecem as composições "Coração vulgar", "Conversa de malandro" e "Jurar com lágrimas".

No mesmo ano, foi incorporado à ala de compositores da Escola de Samba G.R.E.S. Portela. A agremiação desfilou no carnaval de 1966 com um samba de sua autoria, em um enredo que homenageava o romance Memórias de Um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e conquistou seu décimo oitavo título de campeã no carnaval carioca. Aquele seria apenas o começo de uma relação estreita entre a Escola de Samba e Paulinho, que em 1970 fundaria a Velha Guarda da Portela e produziria o primeiro disco do grupo[17]. Tendo citado ou homenageado a agremiação em diversas composições[18], segue até hoje sendo um dos mais festejados e homenageados integrantes da Escola[19].

No início de carreira, Paulinho foi parceiro de nomes ilustres do samba carioca, como Cartola, Elton Medeiros e Candeia, entre outros. Destaca-se como cantor e compositor de samba, mas também compõe choros e é tido como um dos mais talentosos representantes da chamada Música Popular Brasileira. Torcedor do Vasco da Gama, participou do show comemorativo dos 113 anos do clube, onde apresentou as músicas "Coração Leviano" e "Foi um Rio que Passou em Minha Vida".[20]

Com uma obra fonográfica de mais de cinco décadas, Paulinho da Viola já gravou 18 discos de estúdio e diversos especiais ao vivo, incluindo um episódio da série Acústico MTV[21], posteriormente lançado como CD e DVD. Sua turnê comemorativa de 80 anos excursionou por diversas cidades do Brasil ao longo de 3 anos[22]. Enquanto compositor, já foi interpretado por nomes como Marisa Monte, Teresa Cristina, Chico Buarque, Zeca Pagodinho, Jards Macalé, Grupo Raça, Martinho da Vila, Zizi Possi, Beth Carvalho e muitos outros.

Discografia editar

 
Paulinho da Viola e Martinho da Vila
Carreira solo
Participações
  • 1965 — Rosa de OuroAraci Cortes, Clementina de Jesus e o Conjunto Rosa de Ouro
  • 1965 — Roda de Samba — Conjunto A Voz do Morro
  • 1965 — Roda de Samba Vol. 2 — Conjunto A Voz do Morro
  • 1966 — Os Sambistas — Conjunto A Voz do Morro
  • 1966 v Samba na Madrugada — Paulinho da Viola e Elton Medeiros
  • 1967 — Rosa de Ouro Vol. 2 — Araci Cortes, Clementina de Jesus e o Conjunto Rosa de Ouro

Prêmios e indicações editar

Ano Prêmio Categoria Trabalho Indicado Resultado Ref.
2008 Grammy Latino Melhor Álbum de Samba/Pagode Acústico MTV - Paulinho da Viola Venceu
2021 Grammy Latino Melhor Álbum de Samba/Pagode Sempre Se Pode Sonhar Venceu [23]

Referências

  1. a b c d e f g h i Marcos Antônio Marcondes (1977). Enciclopédia da música brasileira. Erudita, folclórica e popular. São Paulo: Art Editora. p. 590-592. 1190 páginas 
  2. Frazão, Dilva. «Paulinho da Viola». Consultado em 17 de março de 2021 
  3. «Paulinho da Viola». Memória Roda Viva. 6 de fevereiro de 1989. Consultado em 5 de fevereiro de 2015 
  4. Eliete Negreiros (22 de fevereiro de 2013). «Questões musicais: Paulinho da Viola e o choro: velhas histórias, memórias futuras». Revista Piauí. Consultado em 29 de junho de 2016 
  5. Guilherme Bryan (12 de novembro de 2012). «Paulinho da Viola completa 70 anos». Rolling Stone Brasil. Consultado em 5 de fevereiro de 2015 
  6. Eliete Negreiros (15 de março de 2013). «Salve Paulinho da Viola!». Caros Amigos. Consultado em 5 de fevereiro de 2015 
  7. André Carvalho (21 de novembro de 2012). «Paulinho da Viola, a nobreza do samba chegou aos 70». Nota de Rodapé. Consultado em 5 de fevereiro de 2015. Arquivado do original em 5 de fevereiro de 2015 
  8. Julio Cesar de Barros (26 de outubro de 2010). «Paulinho da Viola - 68 anos de boa música». Blog Passarela - Revista Veja. Consultado em 5 de fevereiro de 2015. Arquivado do original em 28 de março de 2015 
  9. «União de Jacarepaguá convoca portelenses para homenagem a Paulinho da Viola». SRZD. 22 de janeiro de 2009. Consultado em 5 de fevereiro de 2015 
  10. a b Lígia Scalise (25 de junho de 2007). «Paulinho da Viola: o sambista modesto». Revista Vida Simples. Consultado em 5 de fevereiro de 2015. Arquivado do original em 5 de fevereiro de 2015 
  11. a b c Bruno Ribeiro. «Entrevista com Paulinho da Viola». Substantivo Plural. Consultado em 5 de fevereiro de 2015. Eu trabalhava em banco e estudava para ser economista, olha só. Um dia – essa história é bem conhecida – o Hermínio Bello de Carvalho entrou no banco para pagar uma conta, descobrimos que já nos conhecíamos das rodas de choro e conversamos rapidamente sobre música. Antes de ir embora, ele me disse que eu deveria sair do banco enquanto ainda era jovem ou me tornaria um burocrata frustrado. Fiquei com aquilo martelando na cabeça. Dias depois, aceitei um convite dele para conhecer o Zicartola, um boteco que o Cartola e a Dona Zica tinham inaugurado na Rua da Carioca(...) Como eu era conhecido dos mais velhos, me chamavam para tocar com eles quando eu aparecia por lá, naquele bar. Me lembro de quando acompanhei Ciro Monteiro. Fiquei tão feliz que não consegui dormir naquela noite. Foi quando resolvi sair do banco. 
  12. Zuza Homem de Mello (2010). A Era dos Festivais. Uma parábola 5 ed. [S.l.]: Editora 34. p. 263. 528 páginas. ISBN 978-85-7326-272-8 
  13. André Diniz (2010). Almanaque do samba. A história do samba, o que ouvir, o que ler, onde curtir. [S.l.]: Zahar. p. 123. 312 páginas. ISBN 978-85-3780-873-3 
  14. Shin Oliva Suzuki (19 de junho de 2003). «Especial revive efervescência do Zicartola». Folha de S.Paulo. Consultado em 5 de fevereiro de 2015 
  15. Lucas Nobile (9 de outubro de 2010). «Paulinho da Viola: o samba vestido com fineza». O Estado de S.Paulo. Consultado em 5 de fevereiro de 2015 
  16. Leandro Souto Maior (3 de fevereiro de 2015). «Timoneiros da Viola se veste de verde e rosa para homenagear Cartola». O Dia. Consultado em 5 de fevereiro de 2015 
  17. «Velha-Guarda da Portela». Dicionário Cravo Albin. Consultado em 1 de fevereiro de 2024 
  18. «Paulinho da Viola 80 anos: cinco músicas que marcaram a história do samba | O Som e a Fúria». VEJA. Consultado em 1 de fevereiro de 2024 
  19. «Paulinho da Viola e mais famosos desfilam na Portela:'Coração batendo a mil'». G1. 21 de fevereiro de 2023. Consultado em 1 de fevereiro de 2024 
  20. «Cerca de 250 vascaínos estiveram no lançamento de DVD do Vasco». supervasco.com. 5 de junho de 2012. Arquivado do original em 7 de novembro de 2014 
  21. CD ACÚSTICO MTV - PAULINHO DA VIOLA, consultado em 1 de fevereiro de 2024 
  22. Rodrigues, Cleber. «Paulinho da Viola passa por cirurgia no Rio; show da turnê de 80 anos é cancelado». CNN Brasil. Consultado em 1 de fevereiro de 2024 
  23. Hussey, Allison; Bloom, Madison (18 de novembro de 2021). «Latin Grammy 2021 Winners: See the Full List Here». Pitchfork. Condé Nast. Consultado em 30 de dezembro de 2021 

Ligações externas editar

 
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