Paulo Prado

escritor brasileiro

Paulo da Silva Prado (São Paulo, 20 de maio de 1869Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1943) foi um escritor, mecenas, poeta, cafeicultor e investidor paulista, descendente de uma das mais influentes famílias paulistas, filho primogênito do conselheiro Antônio Prado.

Paulo Prado
Nome completo Paulo da Silva Prado
Nascimento 20 de maio de 1869
São Paulo
Morte 3 de outubro de 1943 (74 anos)
Rio de Janeiro
Nacionalidade brasileiro
Ocupação cafeicultor, investidor, mecenas e escritor
Principais trabalhos Retrato do Brasil (1928)

Formado em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, graduou-se em 1899.

Teve participação fundamental junto com sua esposa, madame Marinette Prado na Semana de Arte Moderna de 1922, um importante acontecimento envolvendo a história cultural e o movimento modernista no Brasil. Também a ele, embora acompanhado de um grupo grande de adeptos da inovação, se deve a fundação de Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM) ocorrida em 1932, mal terminado a Revolução Constitucionalista.

Escreveu Retrato do Brasil — Ensaio sobre a tristeza brasileira, livro que gerou grande polêmica entre os intelectuais e que, constituindo uma das obras básicas sobre a cultura do Brasil, ainda hoje é muito lido e comentado entre sociólogos, antropólogos, professores e estudantes universitários.

Na minissérie Um só coração, exibida em 2004 pela Rede Globo, Paulo Prado foi interpretado pelo ator Tato Gabus Mendes.

Retrato do Brasil: Ensaio sobre a Tristeza Brasileira editar

 
Túmulo de Paulo da Silva Prado no Cemitério da Consolação em São Paulo (2022)

Retrato do Brasil: Ensaio sobre a Tristeza Brasileira é a obra mais célebre de Paulo Prado. Escrito entre os anos de 1926 e 1928, o livro levanta questões acerca da formação da nacionalidade brasileira e fomentou diversas discussões recorrentes até os dias atuais. A obra deve ser entendida à luz do horizonte de idéias que os intelectuais brasileiros comungavam naquele período. Paulo Prado era um modernista e, além de contemporâneo dos movimentos de vanguarda, estava diretamente ligado à produção intelectual e artística da época.

O livro é dividido em quatro capítulos e um post-scriptum. São eles: I – A Luxúria, II – A Cobiça, III – A Tristeza e IV – O Romantismo. Nos dois primeiros capítulos, o autor descreve as características do povoamento e da exploração no Brasil. No terceiro capítulo, Paulo Prado identifica o surgimento de um mal-estar no povo brasileiro, como conseqüência dos fatos relatados nos dois primeiros capítulos. A tristeza que se formou no período colonial se intensifica com o Romantismo, trabalhado por ele no quarto capítulo.

No post-scriptum o autor sintetiza algumas das idéias presentes no livro investindo um pouco mais na questão dos negros e da escravidão. É nessa parte também que o autor deixa explícito a sua metodologia “impressionista” e a relação com outros intelectuais. Além disso, Paulo Prado recomenda e prevê como solução dos problemas, uma revolução. Tal forma de projeção era comum entre os historiadores da época que compartilhavam de uma visão linear da história. Para ele, a revolução“será a afirmação inexorável de que quando tudo está errado, o melhor corretivo é o apagamento de tudo que foi mal feito.”[1] A seguir estão algumas das questões levantadas durante a obra:

Povoamento e Exploração do Brasil editar

O processo de povoação do Brasil, para Prado, se caracterizou pela relação de diversos fatores, entre eles a ausência de regras morais, em uma civilização considerada selvagem, e de leis ainda não estabelecidas pela metrópole. Essa conjuntura foi terreno fértil para posturas européias extremamente individualistas marcadas pelo sensualismo exacerbado. A presença dos índios somada à natureza nunca vista até então pelo europeu alimentou a fantasia de um paraíso na terra que colaborou para posturas libertinas e uma concepção de que aqui tudo se podia.

Tais comportamentos foram aliados e incentivados com os costumes indígenas, que segundo o autor, viviam entregues aos desejos carnais onde não existia nenhum tipo de pudor. Essa devassidão, trazida pela metrópole já em decadência, caracterizou em grande medida o surgimento do povo brasileiro.

Outra característica do explorador europeu era a cobiça e a ganância. Prado escreve que imanados do espírito aventureiro, os mais inglórios dos exploradores buscavam aqui formas de enriquecimento rápido. O descobrimento do ouro foi, dessa forma, enriquecimento dos mesquinhos e, concomitantemente, martírio do Brasil.

A Formação do povo brasileiro editar

O excesso da vida sensual e da ganância pelo ouro deixou traços permanentes no caráter brasileiro. São cicatrizes profundas que Paulo Prado caracteriza como perturbações psicológicas e patológicas. A exploração gananciosa deixou o povo brasileiro sem energias físicas o que o levou a desenvolver o sentimento de melancolia.

O Brasil se caracterizava, portanto, por uma massa amorfa e sem ânimo agravada pelo sentimento de melancolia. Esse era um ambiente perfeito para desenvolver, de acordo com ele, um mal degenerativo: o Romantismo. Foi nesse contexto que o autor identificou o surgimento de uma consciência geográfica do Brasil e também de pertencimento a uma mãe-pátria. O país nascia sob a invocação de belas palavras apaixonadas e irracionais. Segundo o autor, durante o romantismo no Brasil “tudo avassalou: política, literatura, artes, viver cotidiano, modos de sentir, afeições.”[2]

A questão racial e de miscigenação editar

Partilhando de concepções racialistas, Paulo Prado não desloca o problema brasileiro para o negro ou para índio; a maior preocupação do autor é a mestiçagem. Para ele, a miscigenação torna o indivíduo mais propenso a vícios e a doenças.

Além da miscigenação como um grande fator para o fracasso do Brasil enquanto nação, Prado considera a escravidão um elemento contraditório na formação do país. Pode-se perceber que ele não baseia o problema sobre uma ou outra raça, mas sim a miscigenação ou a problemas de construção social, como a escravidão. Nota-se que as teorias raciais são importantes para o entendimento do livro, porém, não são determinantes, já que o autor adapta essas idéias e usa à sua forma durante a obra. “Uma atitude antropofágica tipicamente modernista.” [3]

Concepção de História na Obra editar

De acordo com a proposta de Paulo Prado era imperativo o estudo do passado brasileiro para se entender o presente. O processo de povoamento, exploração e criação do país davam bases e explicavam o momento no qual o autor vivia. De certa forma, para complementar essa visão clássica da história, Prado também arriscou apontar caminhos em que o país deveria seguir.

Com bases na conjuntura do passado brasileiro, Paulo Prado identifica a propensão do Brasil ao mal da imitação, tanto na estrutura política quanto em “tendências sociais”. Ao avaliar o Brasil como um “corpo anêmico” sem formações sólidas, o autor também diagnostica o problema dos políticos que mesmo bem-intencionados são atrapalhados por uma tradição de “politicagem”. A solução para estes problemas historicamente construídos estão na guerra ou na revolução, de acordo com Prado. Muitos atribuíam a esse livro uma previsão da revolução de 1930 que ocorreria quase dez anos depois.[carece de fontes?]

As observações feitas no livro foram acusadas de pessimistas,[por quem?] o fato é que Paulo Prado enfrentava o desafio de reinventar a nacionalidade brasileira à luz das idéias modernas do começo do século XX, mesmo partilhando das idéias da geração de intelectuais do final do século XIX.

Referências

  1. PRADO, Paulo. Retrato do Brasil: Ensaio sobre a tristeza brasileira. Livraria José Olympio: Rio de Janeiro. 1962. p 180
  2. PRADO, Paulo. Retrato do Brasil: Ensaio sobre a tristeza brasileira. Livraria José Olympio: Rio de Janeiro. 1962. p 145
  3. DINIZ, Lúcio de Carvalho. TRISTEZA TUPINIQUIM: a melancolia brasileira no retrato do Brasil de Paulo Prado. Artigo disponível em: http://www.ichs.ufop.br/memorial/trab/h9_4.pdf

Bibliografia editar

  • ALMEIDA, Paulo Mendes de. De Anita ao Museu. São Paulo: Perspectiva, 1976.
  • BALDO, Luiza Maria Lentz. A IDENTIDADE NACIONAL: matizes românticos no projeto modernista. Revistas Boitata, Vol. 1, 2006, aritgo 20.
  • CAMARGOS, Marcia. Semana de 22. São Paulo: Boitempo, 2002.
  • MENEZES, Raimundo de. Dicionário literário brasileiro. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978.
  • DINIZ, Lúcio de Carvalho. TRISTEZA TUPINIQUIM: a melancolia brasileira no retrato do Brasil de Paulo Prado. Artigo disponível em: http://www.ichs.ufop.br/memorial/trab/h9_4.pdf.
  • PRADO, Paulo. Retrato do Brasil: Ensaio sobre a tristeza brasileira. Livraria José Olympio: Rio de Janeiro. 1962.
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