Perspectiva quadridimensional

Processo gráfico contemporâneo (1997), que cria cenas com diferentes pontos de vista a partir de um observador móvel.

A perspectiva quadridimensional é um processo gráfico contemporâneo desenvolvido, em 1997, pelo artista plástico Denis Mandarino,[1] que tem como principal característica a representação de cenas panorâmicas que sintetizam, no quadro, o que foi visto por um observador em movimento.[2]

Quadríptico: Observação no Tempo (1997), acrílico sobre tela, 240 x 160 cm. Processo de perspectiva quadridimensional.

Neste tipo de desenho, os suportes pictóricos podem ser superfícies planas ou curvilíneas (arcos, cilindros, esferas, calotas côncavas ou convexas etc.).[3] [4]

Desenvolvido a partir da Teoria da Percepção Quadridimensional (1995),[5] o sistema foi exibido, pela primeira vez, no quadríptico 'Observação no Tempo'.[6]

A perspectiva quadridimensional instaura um efeito de completude, pois simula a possibilidade de se ler, simultaneamente, o todo e a parte.[7] 

Análises geométricas editar

 
Múltiplos pontos de fuga em uma cena panorâmica.

A pintura 'Observação no Tempo' exibe as seguintes características:[8][1]

1. a representação tem diversos pontos de fuga, resultado que só pode ser conseguido por um observador que rotacionou a cabeça, ou se movimentou lateralmente durante o processo de observação;
2. diferentes linhas do horizonte, o que indica que o observador deslocou-se também no sentido vertical, alterando a sua altura em relação ao chão (linha de terra);
3. o desenho tem a abrangência de uma objetiva grande-angular, sem as curvaturas provocadas por esse tipo de lente fotográfica, numa espécie de realidade aumentada.

Ao se compreender a artificialidade dos processos de perspectiva, surgidos desde o Renascimento, a perspectiva quadridimensional (ou 4D) pode ser vista como mais um sistema, de expressão gráfica, com vantagens em algumas situações e desvantagens em outras. O interesse crescente, por novas formas de expressão, tem exigido o conhecimento dessa modalidade de perspectiva para a função de professor, em concursos públicos.[9][10][11]

Diferentes abordagens quadridimensionais editar

 
Pintura panorâmica de Li Cheng, China, séc. X.

Arte editar

Muitos artistas, ao longo da história da arte, produziram paisagens panorâmicas que evocavam a percepção humana como contínua, sem a utilização, contudo, de pontos de fuga. Tais exemplos podem ser encontrados na arte chinesa[12] ou nas 'ninfeias' de Claude Monet.[13] O tempo, cada vez mais, tem se tornado um fator de motivação para a arte contemporânea e os conceitos presentes no desenho e na pintura vão de encontro às reflexões sobre a inter-relação do homem com o espaço quadridimensional.[14]

Sabe-se que, desde o começo da civilização, os artistas tentam representar o movimento por meio de imagens sequenciais.[12]

No Impressionismo, Claude Monet pintou a série 'Catedral de Ruão', a fim de captar a luminosidade da paisagem em diferentes momentos.[15] No Cubismo, um mesmo objeto podia ser representado a partir de diferentes posições, de modo que as suas faces pudessem ser vistas simultaneamente[16], essa técnica tem sido explorada desde a antiguidade egípcia, onde a tradição artística impunha que as coisas deveriam ser desenhadas da forma mais fácil de serem interpretadas, com a fragmentação dos objetos a partir de pontos de vista frontais.[17] No Futurismo, as imagens eram sobrepostas com o intuito de representar o deslocamento dos elementos.[18] O mesmo conceito de movimento, apesar de desacelerado, está presente em o 'Nu Descendo a Escada' de Marcel Duchamp.[19] Nestes exemplos, o observador mantinha a sua posição fixa e os objetos da cena é que estavam em movimento. No sentido lato, contudo, é evidente que o tempo, de algum modo, estava presente, mesmo que de forma inconsciente.[20]

Artistas contemporâneos, como a pintora Lanna Pendleton Hall, interpretam paisagens panorâmicas, por meio de recortes retangulares, que exibem as variações tonais ocorridas ao longo do dia. Diferentemente das pesquisas de Monet, Lanna apresenta essas variações em uma única tela.[21]

Educação editar

Na educação, desde o ensino básico, este tema tem sido incorporado progressivamente, partindo-se da perspectiva central renascentista, passando pelas projeções axonométricas, até chegar-se à contraposição com os métodos contemporâneos, como o da perspectiva holográfica e da perspectiva quadridimensional.[22][23]

Geologia editar

Acredita-se que os espaços da superfície terrestre devem ser concebidos não como entidades tridimensionais, mas sim, quadridimensionais, como complexos de fenômenos espaço-temporais.[24]

A geotecnologia aproveita-se da possibilidade de o usuário movimentar-se, tal como ele faria com uma maquete no mundo real. Essa associação, de dados temporais, cria condições para que a prática analítica da geologia seja vista em perspectiva quadridimensional.[25]

Realidade aumentada editar

A realidade aumentada,[26] a visão panorâmica,[27] os planos curvilíneos[28] e a interatividade[29] têm sido explorados por diversas áreas do conhecimento, como: design, arquitetura, geografia, cinema, entre outras, pois as exigências da percepção têm evoluído pelas gerações.

Referências

  1. a b Universidade do País Basco (2014). «La perspectiva cuatridimensional...». Consultado em 4 de junho de 2014 (em castelhano)
  2. SILVA,, Nadja Fonsêca da (2017). O ‘ocaso’ do curso de formação de professores em ciências biológicas: constructos multidimensionais do ‘crepúsculo’ acadêmico (PDF) (Tese de doutorado). Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso. 155 páginas. Consultado em 12 de outubro de 2017 
  3. Katiki, Androniki. Featured Artists Vol IV. Winchester: Mediaplan Publisher, 2013. ISBN 9789609877466 (pp. 20-23).
  4. Design24horas.com.br (2014). «Perspectiva quadridimensional (vídeo educacional)». Consultado em 4 de junho de 2014 
  5. Portal Alô Artista. «Percepção quadridimensional». Conteúdo. Consultado em 5 de agosto de 2014 
  6. Faculdades Rio Branco (31 de outubro de 2013). «Professor tem trabalho publicado em livro internacional». Acontece. Consultado em 5 de agosto de 2014 
  7. NUNES, Silvia Regina (2012). A Geometrização do Dizer no Discurso do Infográfico (PDF). Campinas: Universidade Estadual de Campinas. 148 páginas. Consultado em 3 de outubro de 2018 
  8. Design24horas.com.br (3 de junho de 2014). «Perspectiva Quadridimensional (vídeo)». Consultado em 4 de junho de 2014 
  9. Unifacex (2014). «Processo seletivo para admissão de professores» (PDF). Edital N° 04 - 10 de abril 2014. Consultado em 5 de agosto de 2014 
  10. Prefeitura de Anajás (2015). «Concurso público - Ensino da arte» (PDF). Consultado em 10 de abril de 2015 
  11. ECA-USP (23 de agosto de 2012). «Concurso para o cargo de professor doutor» (PDF). Diário Oficial Poder Executivo. Consultado em 16 de junho de 2015 
  12. a b Otto G. Ocvirk (2014). Fundamentos de Arte. [S.l.]: Mc Graw Hill. ISBN 978-85-8055-375-8 
  13. Tuitearte, 'Ninfeias' de Claude Monet no Museu de l’Orangerie Arquivado em 4 de março de 2016, no Wayback Machine., página visitada em 17 de julho de 2015. (em castelhano)
  14. Ocvirk, Otto G. (2013). «Fundamentos de Arte - Busca por uma nova dimensão espacial». McGrall Hill. Consultado em 17 de fevereiro de 2015 p. 254.
  15. SBPC, Impressionismo: 230 anos de luz, página visitada em 17 de julho de 2015.
  16. Infopédia, verbete: Cubismo, página visitada em 17 de julho de 2015.
  17. Guilherme Assis (2014). Smartphones e o Ser humano (p. 15). [S.l.]: Universidade Católica de Brasília. 56 páginas 
  18. Enciclopédia Itaú Cultural, Futurismo, página visitada em 17 de julho de 2015.
  19. Caroliny Pereira, A temporalidade na pintura nu descendo uma escada, de Marcel Duchamp Arquivado em 21 de julho de 2015, no Wayback Machine., UNICAMP, página visitada em 17 de julho de 2015.
  20. Andrew Graham-Dixon (2012). Arte, o guia visual definitivo. [S.l.]: Publifolha. 612 páginas 
  21. Athena Art Society, Lanna Pendleton Hall, página visitada em 15 de julho de 2015.
  22. Ana Sofia dos Penedos Alves (2016). O Desenho da Perspectiva na Concepção de Trompe L’oeils e Anamorfoses. [S.l.]: Universidade de Lisboa. pp. 98 (p. 63) 
  23. «Perspetiva quadridimensional - REDA». Perspetiva quadridimensional - REDA. Consultado em 7 de março de 2019 
  24. Marcelo Martins de Moura-Fé, Historicidade e Contemporaneidade do Conceito de Paisagem, UERJ, página visitada em 16 de junho de 2015.
  25. BÜCHI, Allan. Mapeamento Geológico com Alicação do BGS Ddigital Workflow e Modelagem Implícita. Dissertação de mestrado. UFMG, Belo Horizonte, 2018.
  26. Tecmundo, Endgame: o jogo de realidade aumentada da Google, página visitada em 16 de julho de 2015.
  27. Oniria, Simulador 3D de Fórmula 1
  28. Info Abril, Samsung lança monitor de 27 polegadas com tela curva Arquivado em 21 de julho de 2015, no Wayback Machine., Notícias (2014), página visitada em 16 de julho de 2015.
  29. Delta 5, Piloto por um Dia Arquivado em 17 de julho de 2015, no Wayback Machine., página visitada em 16 de julho de 2015.

Ver também editar

Ligações externas editar

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