Palazzo Rusticucci-Accoramboni

(Redirecionado de Piazza Rusticucci)

Palazzo Rusticucci-Accoramboni, conhecido também como Palazzo Rusticucci e Palazzo Accoramboni, é um palácio renascentista demolido e reconstruído posteriormente localizado no rione Borgo de Roma.[1] Construído por ordem do cardeal Girolamo Rusticucci, foi projetado por Domenico Fontana e Carlo Maderno fundindo diversos edifícios já existentes, motivo pelo qual o edifício não era considerado um bom exemplo de arquitetura. Originalmente na calçada norte da via Borgo Nuovo, a partir de 1667 o edifício ficou de frente para uma grande praça nova localizada a oeste da nova Praça de São Pedro projetada por Gian Lorenzo Bernini. A praça, chamada Piazza Rusticucci por causa do palácio, foi destruída entre 1937 e 1940 juntamente com o resto da Spina di Borgo para permitir a abertura da nova Via della Conciliazione, que liga a Cidade do Vaticano ao centro de Roma. Em 1940, o palácio foi demolido e reconstruído com uma planta diferente ao longo da calçada norte da nova via.

Vista do palácio reconstruído na Via della Conciliazione. Abaixo o famoso Caffè San Pietro, um dos mais antigos de Roma.

Localização editar

O palácio está localizado no rione Borgo de Roma na calçada norte da Via della Conciliazione, com a fachada principal de frente para o sul[2]. No mesmo quarteirão está o Palazzo dei Convertendi, outro edifício renascentista demolido no final da década de 1930 e reconstruído na década seguinte ao lado leste dele[2]. Do outro lado, a Via Rusticucci o separa do propileu norte que delimita a Piazza Pio XII (que ocupa a mesma área onde ficava a antiga Piazza Rusticucci) e de frente para a Basílica de São Pedro. O lado norte do edifício está ligado a dois outros edifícios renascentistas reconstruídos, o Palazzo Jacopo da Brescia e a Casa do médico do papa Paulo III[2].

História editar

Renascimento e barroco editar

 
Cardeal Girolamo Rusticucci.

Girolamo Rusticucci, secretário de papa Pio V (r. 1566–72), que, em 1570, nomeou-o cardeal de Santa Susana, comprou um palácio que ficava quase no final da Via Alessandrina (que mais tarde seria chamada de Borgo Nuovo) em 31 de março de 1572.[3] Este edifício, anteriormente pertencente a Roberto Strozzi (um expoente da famosa família Strozzi, de banqueiros florentinos), havia sido vendido em 1567 para o papa Pio V, que doou-o imediatamente para seu sobrinho Paolo Ghislieri.[3] Ghislieri vendeu-o para o cardeal cinco anos depois com a autorização do papa.[3] Para ampliar o edifício, Rusticucci também comprou várias casas vizinhas,[3] mas ele nem sempre conseguiu o que queria: uma idosa não quis vender seu imóvel e o arquiteto foi forçado a envolvê-lo no palácio ampliado[4]. A senhora e seus herdeiros viveram ali até que a casa foi finalmente vendida para o proprietário do Caffè San Pietro, um dos mais antigos cafés da cidade.[4]A feroz resistência de um outro proprietário forçou o cardeal a renunciar à ampliação do edifício para o leste na direção do Borgo Sant'Angelo, apesar das obras já iniciadas.[4] Uma poderosa rusticação angular que ainda existia na esquina entre o Borgo Sant'Angelo e o Borgo Nuovo em 1937 era testemunha da intenção frustrada do cardeal.[4] Muitos anos se passaram depois da aquisição do palácio de Ghislieri até que, em 1584, Rusticucci encarregou a tarefa de projetar um palácio maior ao arquiteto Domenico Fontana.[3][5] Depois da morte do papa Sisto V (r. 1585–90) e do breve reinado de Inocêncio X (out.-dez. de 1591), Fontana não conseguiu conquistar o favorecimento do papa Clemente VIII (r. 1592-1605) e acabou obrigado a se mudar para Nápoles. Por causa disto, a obra foi finalizada pelo seu sobrinho, Carlo Maderno.[5][6]

Vale notar ainda que, no início do século XVI, uma das casas que antecederam o palácio abrigava uma osteria.[7] No final da década de 1510, Rafael, que na época estava pintando os Lógias Vaticanas, frequentemente jantava com seus auxiliares numa das salas no fundo deste restaurante[7] e o grupo frequentemente discutia obras durante o jantar rascunhando diferentes soluções nas paredes.[7] Quando o palácio foi construído, a osteria permaneceu no local e os proprietários mantiveram essas paredes da sala ao longo dos anos.[7]

Por volta de 1630, o palácio abrigou por um curto período de tempo o Collegio Nazareno, uma das mais antigas escolas de Roma, fundado por José de Calasanz e atualmente localizado no Largo del Nazareno, no rione Colonna.[6]

 
O edifício no fundo através do portal rusticado aberto no Passetto di Borgo na antiga Via del Farinone é o antigo Palazzo Rusticucci-Accoramboni antes de sua demolição juntamente com a de toda a vizinhança.

Depois disto, os herdeiros da família Rusticucci venderam o edifício para Maria Accoramboni, membro de uma família da nobreza menor que havia emigrado da cidade úmbria de Gubbio para Roma.[6][8] Expoentes da família conseguiram atingir altos postos na igreja e na cidade: Ottavio foi bispo de Fossombrone e Urbino, Roberto foi vice-legado em Ferrara e, durante a epidemia de 1657, o proprietário do palácio, Roberto Accoramboni, recebeu pessoalmente do papa Alexandre VII a tarefa de defender o Borgo da peste.[9][6] Em 1667, a construção da Colunata de São Pedro por Gian Lorenzo Bernini obrigou a demolição do último bloco de casas (isola) que ainda existia de frente para a nova praça, situada entre as vias Borgo Nuovo e Borgo Vecchio: este bloco era conhecido como Isola del Priorato por causa da casa do priorado da Ordem dos Cavaleiros de Rodes que ficava ali.[10] A demolição criou ainda uma grande praça nova, que era delimitada no lado norte pelo Palazzo Rusticucci.[6] Esta praça, que funcionava como um vestíbulo da Praça de São Pedro, era chamada Piazza Rusticucci por causa disto.[6] Em 1775, numa loja no piso térreo foi fundado o Caffè San Pietro, um dos mais antigos cafés de Roma.[6]

Época moderna editar

Em 4 de março de 1902, o palácio se tornou a sede do Instituto Histórico Belga[11] e, depois de um curto período, foi adquirido pela Congregação da Propaganda Fide.[6] Em 1940, o edifício foi demolido durante as obras de construção da Via della Conciliazione[9] e parcialmente reconstruído no mesmo ano com base num projeto de Clemente Busiri Vici, um expoente de uma longa dinastia de arquitetos romanos.[6][12]

Apesar dos decretos de expropriação, atividades comerciais no palácio são conhecidas: em 1937, duas lojas estavam ativas na Piazza Rusticucci vendendo artigos religiosos. No piso térreo, o edifício abrigava ainda uma tabacaria, uma padaria, uma doceria e um restaurante.[9]

A padaria era a já citada osteria onde Rafael pintou seus rascunhos nas paredes. Em meados do século XIX, um zouave papal foi assassinado ali, o que resultou no seu fechamento.[7] Quando ela foi reaberta, diversos anos depois após a captura de Roma, em 20 de setembro de 1870, primeiro abrigando uma pizzaria e depois a padaria, as salas foram reformadas e todos os rascunhos se perderam.[7]

Descrição editar

O edifício original tinha uma aparência harmoniosa e pouco rebuscada, conhecida através da planta de Roma de Antonio Tempesta publicado em 1593[13], quando o palácio havia acabado de ser finalizado; a fachada contava com dezessete janelas e três pisos.[14] A fachada ao longo da Via Alessandrina lembra a de outros edifícios da mesma época, como o Palazzo Rospoli, construído na Via del Corso por Bartolomeo Ammannati.[14] Resultado da união de diversas casas menores, o edifício era muito longo, especialmente depois da construção de outra ala na extremidade ocidental, ao longo da Via del Mascherino, sessenta anos após a morte de Rusticucci em 1603[9][12]. Depois desta ampliação, o palácio foi unanimemente descrito por guias da cidade da época como "sem graça".[9] Sua fachada principal tinha uma aparência modesta e monótona com 83,35 metros de comprimento, três pisos e um mezzanino, vinte e duas janelas e um portal rusticado,[12] o que resultava numa área total de 2 700 m2.[12] Para a direita da entrada estava um pátio retangular com as três ordens clássicas: dórica, jônica e coríntia.[12] Do outro lado ficava um outro pátio retangular menor rodeado por um pórtico com serlianas.[12]

O edifício reconstruído é mais curto, com apenas treze janelas na fachada[12] e tijolos aparentes. Os dois pátios foram reconstruídos e tanto as cornijas das janelas quanto o portal rusticado foram reaproveitados do edifício original.[12] Atualmente o edifício ainda abriga do Caffè San Pietro.[6]

Uma fonte que ficava no pátio do palácio original foi levada para o jardim que fica entre as igrejas de Santi Bonifacio e Alessio e Santa Sabina, no monte Aventino.[15]

Referências

  1. Castagnoli (1958) p. 419
  2. a b c Gigli (1992), interior da capa
  3. a b c d e Gigli (1992) p. 86
  4. a b c d Borgatti (1926) p. 231
  5. a b Cambedda (1990) p. 38
  6. a b c d e f g h i j Gigli (1992) p. 88
  7. a b c d e f Borgatti (1926) p. 232
  8. Orioli, Giovanni (1960). Dizionario Biografico degli Italiani. Accoramboni, Mario (em italiano). Rome: Treccani 
  9. a b c d e Cambedda (1990) p. 40
  10. Gigli (1992) p. 144
  11. Mihaly, Roxana. «L'apertura degli archivi vaticani e la creazione delle accademie straniere a Roma». Târgu Mureș: Editura Universităţii "Petru Maior". The Proceedings of the European integration- between tradition and modernity Congress (em italiano). 6: 630. ISSN 1844-2048 
  12. a b c d e f g h Gigli (1992) p. 90
  13. Speelberg, Femke. «Antonio Tempesta's View of Rome: Portraying the Baroque Splendor of the Eternal City» (em inglês). The Metropolitan Museum of Art 
  14. a b Cambedda (1990) p. 39
  15. «Giardino di S. Alessio» (em italiano). www.sovraintendenzaroma.it 

Bibliografia editar

  • Borgatti, Mariano (1926). Borgo e S. Pietro nel 1300 – 1600 – 1925 (em italiano). Roma: Federico Pustet 
  • Ceccarelli (Ceccarius), Giuseppe (1938). La "Spina" dei Borghi (em italiano). Roma: Danesi 
  • Castagnoli, Ferdinando; Cecchelli, Carlo; Giovannoni, Gustavo; Zocca, Mario (1958). Topografia e urbanistica di Roma (em italiano). Bologna: Cappelli 
  • Cambedda, Anna (1990). La demolizione della Spina dei Borghi (em italiano). Roma: Fratelli Palombi Editori. ISSN 0394-9753 
  • Gigli, Laura (1992). Guide rionali di Roma (em italiano). Borgo (III). Roma: Fratelli Palombi Editori. ISSN 0393-2710