Plot twist (em português brasileiro: reviravolta no enredo[1]) é uma mudança radical na direção esperada ou prevista do enredo de um romance, filme, série de televisão, quadrinho, jogo eletrônico ou outra obra narrativa.[2] É uma prática muito usada para manter o interesse do público na obra, para normalmente surpreendê-los com uma revelação surpresa. Quando acontece perto do fim de uma história, geralmente é conhecido como um final surpresa, uma conclusão inesperada que faz com que o público pare para reavaliar toda a narrativa e os personagens.[3]

Revelar uma reviravolta para leitores ou espectadores com antecedência é comumente considerado um spoiler, uma vez que a maior parte das obras relacionadas a este elemento desenvolvem-se no intuito de alcançar a surpresa.[4]

Mecânicas editar

Anagnórise editar

Anagnórise, ou descoberta, é o reconhecimento súbito do protagonista (ou de outro personagem) de sua própria identidade e natureza.[5] Através desta técnica, as informações anteriormente inexplicadas do personagem são reveladas. Um exemplo notável de anagnórise acontece em Édipo Rei.[6] Onde Édipo mata seu pai e se casa com sua mãe na ignorância, aprendendo a verdade apenas no clímax da peça.[6] O primeiro uso deste dispositivo como o final surpresa de um mistério de assassinato foi em "As Três Maçãs", um conto medieval das Mil e Uma Noites, onde o protagonista Jafar ibne Iáia descobre por acaso um item-chave no final da história que revela o culpado por trás do assassinato.[7][8]

Flashback editar

Flashback ou analepse é a interrupção súbita da sequência cronológica narrativa da história pela interpolação de eventos ocorridos anteriormente.[5] É usado para surpreender o leitor com informações previamente desconhecidas que fornecem a resposta para um determinado mistério, colocando certo personagem em uma visão diferente ou revelando a razão para uma ação anteriormente inexplicável.

Narrador não confiável editar

Um narrador não confiável distorce o final revelando, quase sempre no final da narrativa, que o mesmo havia manipulado ou inventado a história contada até então, forçando o leitor a questionar suas suposições prévias sobre o texto.[5]

Falso protagonista editar

Um falso protagonista é um personagem apresentado no início da história como o personagem principal, mas depois descartado, geralmente morto para enfatizar que não retornará. Um exemplo clássico é Marion Crane, de Psicose, que é brutalmente assassinada no início do filme. Outro exemplo é a personagem Casey Becker em Pânico, que apesar de estampar o cartaz e todo o material promocional do filme, é morta nos primeiros quinze minutos.

Peripeteia editar

Peripeteia é uma inversão súbita da fortuna do protagonista, seja para o bem ou para o mal, que surge a partir das circunstâncias do personagem de maneira natural.[9] Ao contrário da mecânica de deus ex machina, a peripeteia deve ser lógica dentro do quadro da história.

Deus ex machina editar

Deus ex machina é um termo latino que significa "deus vindo da máquina". Refere-se a um inesperado, artificial ou improvável dispositivo, personagem ou evento introduzido repentinamente em uma obra de ficção para resolver uma determinada situação ou desemaranhar a trama.[10] Nos teatros da Grécia Antiga, o "deus ex machina" ('ἀπὸ μηχανῆς θεός') era o personagem de um deus grego, literalmente trazido ao palco em um guindaste (μηχανῆς-mechanes), logo após a resolução de um problema aparentemente insolúvel pela vontade do deus. Em seu sentido moderno e figurativo, o "deus ex machina" traz o final da narrativa através da resolução inesperada (geralmente de maneira feliz) para o que aparentava ser um problema insuperável. Este mecanismo é usado frequentemente para terminar uma história sombria sobre uma nota mais positiva.

Justiça poética editar

Justiça poética é um mecanismo literário em que a virtude é recompensada e o vício é punido, de tal forma que a recompensa ou punição tem conexão lógica com o ato.[10] Na literatura moderna, este mecanismo é muitas vezes usado para criar reviravoltas irônicas do destino em que o vilão é pego em seu/sua própria armadilha.

Arma de Chekhov editar

A arma de Chekhov refere-se a uma situação em que um personagem ou elemento da trama é introduzido no início da narrativa[11] e, muitas vezes, a utilidade do item não é imediatamente aparente até chegar o momento em que este alcança importância fundamental na história. Um mecanismo semelhante a arma de Chekhov é a "planta", o qual prepara determinado elemento para ser repetido inúmeras vezes ao longo da história. Durante a resolução, o verdadeiro significado da planta é revelada. Ambos os mecanismos são usados para criar uma antecipação do que irá acontecer.

Arenque vermelho editar

Um "arenque vermelho" é uma pista falsa, criada com a intenção de direcionar os investigadores a uma solução incorreta.[12] Este mecanismo geralmente aparece em romances policiais e ficções de mistério. A pista falsa é usada como um tipo de desorientador, um mecanismo destinado a distrair o protagonista e por extensão, o leitor, afastando-o da resposta correta ou das pistas verdadeiras. Um arenque vermelho também pode ser usado como um tipo de falso antecipador.

In medias res editar

In medias res (latim para "no meio das coisas") é uma técnica literária onde a narrativa começa no meio da história, ao invés do início (ab ovo ou ab initio).[13] Os personagens, cenários e conflitos são frequentemente introduzidos através de uma série de flashbacks ou através de personagens que discorrem entre si sobre eventos passados. Esta técnica cria uma reviravolta quando a causa não explicada anteriormente do incidente é revelada, culminando no clímax.

Narrativa não-linear editar

Narrativa não-linear é um mecanismo de narração que revela a trama e o personagem em uma ordem não-cronológica.[14] Esta técnica requer a atenção do leitor em tentar organizar a linha do tempo da trama, a fim de compreender a história. Um final surpresa pode ocorrer como resultado de todas as informações reunidas, sendo direcionada até o clímax que coloca os personagens ou os eventos em uma perspectiva diferente.

Cronologia reversa editar

A cronologia reversa tem como função revelar o enredo em ordem inversa, ou seja, a partir do evento final para chegar no inicial.[15] Ao contrário de histórias cronológicas, onde as causas vão progredindo antes de chegar a um efeito final, as não cronológicas revelam o efeito final antes de explicar e desenvolver as causas que levaram a ela, portanto. A causa inicial seria nada mais do que o final surpresa da trama.

Ver também editar

Referências

  1. «"Rei da comédia" derrapa em "Tá Rindo do Quê?"». Folha de São Paulo. Consultado em 14 de outubro de 2022. Acontece que o filme tem mais de duas horas e uma reviravolta no enredo que faz com que o drama inicial vire uma espécie de comédia romântica. 
  2. Ralph Stuart Singleton; James A. Conrad; Janna Wong Healy (1 de agosto de 2000). Filmmaker's dictionary. [S.l.]: Lone Eagle Pub. Co. p. 229. ISBN 978-1-58065-022-9. Consultado em 27 de julho de 2013 
  3. Judith Kay; Rosemary Gelshenen (26 de fevereiro de 2001). Discovering Fiction Student's Book 2: A Reader of American Short Stories. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 65. ISBN 978-0-521-00351-3. Consultado em 27 de julho de 2013 
  4. Jonah Lehrer, Spoilers Don’t Spoil Anything, Wired Science Blogs
  5. a b c Chris Baldick (2008). The Oxford Dictionary of Literary Terms. [S.l.]: Oxford University Press. p. 12. ISBN 978-0-19-920827-2. Consultado em 23 de julho de 2013 
  6. a b John MacFarlane, "Aristotle's Definition of Anagnorisis." American Journal of Philology - Volume 121, Number 3 (Whole Number 483), Fall 2000, pp. 367-383.
  7. Pinault, David (1992). Story-Telling Techniques in the Arabian Nights. [S.l.]: Brill Publishers. pp. 95–6. ISBN 90-04-09530-6 
  8. Marzolph, Ulrich (2006). The Arabian Nights Reader. [S.l.]: Wayne State University Press. pp. 241–2. ISBN 0-8143-3259-5 
  9. Michael Payne; Jessica Rae Barbera (31 de março de 2010). A Dictionary of Cultural and Critical Theory. [S.l.]: John Wiley & Sons. p. 689. ISBN 978-1-4443-2346-7. Consultado em 23 de julho de 2013 
  10. a b Joseph Twadell Shipley (1964). Dictionary of World Literature: Criticism, Forms, Techniques. [S.l.]: Taylor & Francis. p. 156. GGKEY:GL0NUL09LL7. Consultado em 23 de julho de 2013 
  11. Gregory Bergman; Josh Lambert (18 de dezembro de 2010). Geektionary: From Anime to Zettabyte, An A to Z Guide to All Things Geek. [S.l.]: Adams Media. p. 201. ISBN 978-1-4405-1188-2. Consultado em 23 de julho de 2013 
  12. Linus Asong (2012). Detective Fiction and the African Scene: From the Whodunit? to the Whydunit?. [S.l.]: African Books Collective. p. 31. ISBN 978-9956-727-02-5. Consultado em 23 de julho de 2013 
  13. Tim Clifford (1 de janeiro de 2013). The Middle School Writing Toolkit: Differentiated Instruction Across the Content Areas. [S.l.]: Maupin House Publishing, Inc. p. 63. ISBN 978-0-929895-75-8. Consultado em 23 de julho de 2013 
  14. Josef Steiff (2011). Sherlock Holmes and Philosophy: The Footprints of a Gigantic Mind. [S.l.]: Open Court. p. 96. ISBN 978-0-8126-9731-5. Consultado em 23 de julho de 2013 
  15. John Edward Philips (2006). Writing African History. [S.l.]: University Rochester Press. p. 507. ISBN 978-1-58046-256-3. Consultado em 23 de julho de 2013