Portugueses na Indonésia

Os portugueses foram os primeiros europeus a estabelecer uma presença colonial nas ilhas da Indonésia, em 1512. O objetivo de dominar as fontes das especiarias que alimentavam o lucrativo comércio das especiarias, nos princípios do século XVI, juntamente com esforços de missionários portugueses, resultaram no estabelecimento de fortalezas e entrepostos comerciais, e deixaram um forte elemento cultural português que permanece na Indonésia até aos nossos dias.

Estabelecimento editar

 
A planta da noz-moscada é nativa da Ilhas Banda da Indonésia. Outrora uma das mercadorias mais valiosas do mundo, atraiu as primeiras potências europeias à Indonésia.

Os avanços tecnológicos dos portugueses no início do século XVI — designadamente na construção de navios e no fabrico de armas — permitiram-lhes empreender expedições de exploração e expansão bem longe da sua terra natal. Começando com as primeiras expedições enviadas da recém-conquistada Malaca em 1512, os portugueses foram os primeiros europeus a estabelecer uma presença colonial na actual Indonésia, procurando dominar as valiosas fontes de especiarias[1] e aumentar os seus esfoços missionários. As tentativas iniciais dos portugueses para estabelecer uma coligação e um tratado de paz em 1512 com o Reino de Sunda de Java Ocidental,[2] falharam devido à hostilidade entre os reinos indígenas de Java. Os portugueses deslocaram-se, então, mais para Leste, para as Ilhas Molucas, que eram constituídas por um conjunto de principados e reinos que estavam ocasionalmente em guerra uns com os outros, mas que mantinham um comércio inter-ilhas e internacional. Através, quer de conquistas militares quer de alianças com os governantes locais, os portugueses estabeleceram entrepostos, fortes e missões na Indonésia oriental, nomeadamente nas ilhas de Ternate, Amboina e Solor. A segunda metade do século XVI marca o culminar das actividades missionárias portuguesas, numa época em que as conquistas militares no arquipélago já haviam terminado e em que os seus interesses na Ásia Oriental começam a deslocar-se para o Japão, Macau e a China. O açúcar do Brasil e o comércio de escravos no Atlântico, por sua vez, contribuem, também, para desviar as atenções da Indonésia.

Os portugueses foram, também, os primeiros europeus a aportar às Celebes do Norte. São Francisco Xavier visitou e apoiou a missão de Tolo, na ilha de Halmaera, a primeira missão católica nas Molucas. A missão foi criada em 1534, quando alguns chefes de Morotia vieram a Ternate pedindo o baptismo. Simão Vaz, padre de Ternate, deslocou-se a Tolo fundando a missão que acabou por se tornar objecto de conflito com os espanhóis. Mais tarde, Simão Vaz acabou por ser assassinado.[3][4]

Declínio e legado editar

Após a derrota militar de 1575 em Ternate contra um levantamento local, a conquista holandesa de Amboina, das Molucas do Norte e das Ilhas Banda e a impossibilidade em controlar o comércio na região, a presença portuguesa no arquipélago ficou reduzida a Solor, às Flores, a Timor Ocidental — na actual província indonésia da Sonda Oriental — e ao conhecido Timor Português — hoje Timor-Leste.[5] Além de uma pequena comunidade em Tugu,[6] um distrito ao norte da cidade de Jakarta.

Em face da ambição inicial de dominar o comércio asiático, o legado português na cultura indonésia parece hoje algo modesto: a keroncong, um instrumento de cordas semelhante ao cavaquinho; um vasto número de palavras indonésias de origem portuguesa, recordação do tempo em que o idioma de Camões era a lingua franca do arquipélago; e muitos apelidos familiares, especialmente na zona oriental da Indonésia, tais como da Costa, Dias, de Freitas, Gonsalves, etc.

O impacto mais significativo da chegada dos portugueses foi, no entanto, a destruição das redes comerciais preexistentes e a sua reorganização em novos moldes, como resultado, em grande parte, da conquista de Malaca e do estabelecimento do cristianismo na Indonésia. Persistem no arquipélago, até aos dias de hoje, várias comunidades cristãs, reforçando os laços de afinidade com os europeus, principalmente entre os ambonenses.[7]

Ver também editar

Referências

  1. Ricklefs, M.C (1993). A History of Modern Indonesia Since c. 1300, 2.ª edição. Londres: MacMillan. pp. 22–24. ISBN 0-333-57689-6 
  2. Sumber-sumber asli sejarah Jakarta, Jilid I: Dokumen-dokumen sejarah Jakarta sampai dengan akhir abad ke-16. [S.l.]: Cipta Loka Caraka. 1999 ;Zahorka, Herwig (2007). The Sunda Kingdoms of West Java, From Tarumanagara to Pakuan Pajajaran with Royal Center of Bogor, Over 1000 Years of Prosperity and Glory. [S.l.]: Yayasan Cipta Loka Caraka 
  3. Vaz, Simon. Halmahera dan Raja Ampat sebagai kesatuan majemuk: studi-studi terhadap. [S.l.: s.n.] 279 páginas 
  4. Francis Xavier; His Life, His Times: Indonesia and India, 1545-1549‎. [S.l.]: Xaviers mission. 179 páginas 
  5. Miller, George (ed.) (1996). To The Spice Islands and Beyond: Travels in Eastern Indonesia. Nova Iorque: Oxford University Press. pp. xv. ISBN 967-65-3099-9 
  6. «A comunidade de Tugu». Instituto Camões. Consultado em 25 de agosto de 2023 
  7. Ricklefs (1991), páginas 22 a 26

Ligações externas editar