Possessão espiritual

Possessão espiritual, posse espiritual ou subjugação[1] é a crença paranormal e ou sobrenatural segundo a qual almas, espíritos, deuses, daemons, demônios, animas, extraterrestres ou outras entidades imateriais assumem o controle de um corpo humano, normalmente prejudicando a saúde e ou seu comportamento. O termo também pode descrever uma ação similar de se movimentar um objeto inanimado, possivelmente através da telecinésia. O conceito de possessão existe em quase todas religiões, incluindo o Cristianismo,[2] o Budismo, o Vodu haitiano, Wicca e tradições da África e do Sudoeste Asiático. O conceito também pode ser visto na mitologia e no folclore de muitas culturas. Dependendo do contexto cultural em que se dá, a possessão pode ser considerada voluntária ou involuntária, tendo efeitos benéficos ou prejudiciais para o possuído. (Ver Transtornos de transe e possessão)

Os mais suscetíveis de serem possuídos são pessoas com limites fracos e baixa auto-estima, o que para céticos acerca da possessão aponta para o envolvimento do ego disfuncional em manifestações deste fenômeno, em vez de reais entidades externas.[3]

Possessão espiritual e medicina editar

A Classificação internacional de doenças (CID) em sua décima atualização, a CID-10, em seu item F44.3 define os chamados "Transtornos de transe e possessão" como:

"Transtornos caracterizados por uma perda transitória da consciência de sua própria identidade, associada a uma conservação perfeita da consciência do meio ambiente."

Contudo, explicitamente descreve em alínea seguinte:

"Devem aqui ser incluídos somente os estados de transe involuntários e não desejados, excluídos aqueles de situações admitidas no contexto cultural ou religioso do sujeito."[4]

Nesse sentido é feita a distinção entre o estado de transe normal - a exemplo a hipnose, não mais considerado doença - e o transtorno dissociativo psicótico, uma patologia psiquiátrica. Exclui-se desse item também, entre outros, a esquizofrenia. Evidencia-se também na CID que os estados de transes tidos por espiritualistas como oriundos de "possessões espirituais" - comuns em ambientes religiosos - não são acobertados pelo item F.44.3 citado, e não são considerados patológicos; e apesar da CID reconhecer tais estados de transe ao excluí-los explicitamente, também não aponta "espíritos" como causa de transe algum, mesmo que alguns adeptos espiritualistas insistam em dizer o contrário.[5][6]

A expressão "possessão" figura no referido item da CID com acepção que remete aos estados de agitação demasiada, de agressividade ou mesmo de fúria; e mediante tal acepção a leitura do item associado em íntegra implica, nitidamente, o não reconhecimento da tal causa "espiritual" (vide alínea). Argumento em favor da asserção inicial deriva também do fato de que o reconhecimento de tal causa pela Organização Mundial de Saúde implicaria a inserção compulsória dessa na CID bem como a necessidade de tratamento ou acompanhamento específicos visto serem tais estados de "possessão" prontamente reconhecidos, antes de mais nada pelos próprios espiritualistas, como situações muitas vezes prejudiciais à saúde do "possuído" e que requerem por tal tratamento ou mesmo acompanhamento "espiritual" imediato, tratamentos esses certamente fornecidos - segundo suas crenças - pelos referidos grupos ou autoridades religiosas capacitadas junto aos seus templos ou ambientes de reuniões; contudo não definidos, estabelecidos, tampouco cogitados pela Organização Mundial de Saúde.[7][8][9]

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em sua quarta revisão (1994), incluiu advertência contra a interpretação equivocada de experiências espirituais ou religiosas como transtornos mentais e distinguiu dos transtornos mentais uma outra categoria de problemas classificados como “outras circunstâncias que podem ser foco de atenção clínica”, incluindo-se a isto uma subcategoria específica denominada “problemas espirituais ou religiosos”, para a orientação de profissionais da saúde no diagnóstico e tratamento de alguns possíveis problemas não-patológicos dos pacientes.[10]

Possessão espiritual e as diferentes explicações espiritualistas editar

Espiritismo editar

Segundo o espiritismo[1] possessão espiritual seria sinônimo de subjugação, uma das variedades da obsessão. De acordo com o espiritismo o termo possessão estaria incorreto por dois motivos: porque implica a crença em seres criados e voltados perpetuamente ao mal, o que estaria em desacordo com a doutrina espírita que ensina que todos os seres progridem com o tempo conforme a Lei do progresso; e porque implica a ideia de apoderamento de um corpo por um espírito estranho, uma espécie de coabitação, quando na verdade o que ocorreria seria um constrangimento, uma dependência absoluta que uma alma pode achar-se em relação a espíritos inferiores. Portanto segundo este conceito, médiuns que incorporam espíritos superiores e praticam o bem não são considerados possessos. A subjugação portanto consiste na paralisação da vontade fazendo aquele que a sofre agir a seu mau grado. A subjugação pode ser moral, quando o subjugado toma resoluções absurdas e comprometedoras julgando sensatas, ou corporal, quando o espírito inferior atua sobre o corpo do subjugado provocando movimentos involuntários.

Exemplos editar

Incidentes
Individuais

Ver também editar

Referências

  1. a b Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns (PDF). [S.l.: s.n.] 
  2. Sociedade Bíblica do Brasil (2017). Marcos 5:9, Lucas 8:30. [S.l.]: Sociedade Bíblica do Brasil (publicado em 31 de maio de 2017). ISBN 9788531116179 
  3. The Call of Spiritual Emergency: From Personal Crisis to Personal Transformation, Bragdon, Emma. Harper & Row Pub. 1990. p.44.
  4. CID em sua versão 10, conforme publicado pela Word Healt Arganization (WHO)
  5. Chaves, José Reis - "OMS reconhece a influência dos espíritos em nossa vida. A Organização Mundial de Saúde e sua coragem de dizer a verdade." - Coluna no jornal O Tempo de 14/01/2013 - Belo Horizonte
  6. «Cópia arquivada». Consultado em 28 de janeiro de 2013. Arquivado do original em 29 de novembro de 2014 
  7. «Chaves, José Reis - "A Organização Mundial de Saúde e sua coragem de dizer a verdade." - Artigo online do jornal [[O Tempo]] de 14/01/2013, e discussões - Belo Horizonte, MG.». Consultado em 28 de janeiro de 2013. Arquivado do original em 17 de janeiro de 2013 
  8. «Desobsessão - Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira - Federação Espírita Brasileira - Departamento Editorial - Rua Souza Valente, 17 CEP: 20941-040 - Rio - RJ - Brasil» 
  9. International Classification of Health Interventions (ICHI) - World Health Organization
  10. GREYSON, Bruce. Experiências de quase-morte: implicações clínicas. Rev. psiquiatr. clín., São Paulo , v. 34, supl. 1, 2007 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832007000700015&lng=en&nrm=iso>. access on 21 Nov. 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832007000700015.

Bibliografia editar

Ligações externas editar