Psicologia hospitalar

Psicologia Hospitalar é um ramo da Psicologia da Saúde ainda inexistente em vários países mas cada vez mais difundida no Brasil estando incluída no currículo das principais Universidades.[1]

Símbolo da Saúde mental integrando psiquiatria e psicologia

Em alguns países o termo Psicologia Hospitalar é considerado inadequado porque pertence à lógica que toma como referência o local para determinar as áreas de atuação, e não prioritariamente às atividades desenvolvidas. Por isso esse termo é pouco citado e pouco usado em publicações científicas de outros países.[2]

Segundo a definição de Kern e Bornholdt (2004) e também de Chiattone (2000),[1] a atuação do psicólogo da saúde é principalmente na área hospitalar, mas também pode ser feita em campanhas de "promoção da saúde", educação em saúde mental, em pesquisas e aulas nas universidades por exemplo. Logo, todo psicólogo hospitalar é psicólogo da saúde mas nem todo psicólogo da saúde é hospitalar.

Histórico editar

Desde a década de 40 as políticas de saúde no Brasil são centradas no hospital seguem um modelo que prioriza as ações de saúde via atenção secundária (modelo clínico/assistencialista), e deixa em segundo plano as ações ligadas à saúde coletiva (modelo sanitarista). Nessa época, o hospital passa a ser o símbolo máximo de atendimento em saúde, ideia que, de alguma maneira, persiste até hoje. Muito provavelmente, essa é a razão pela qual, no Brasil, o trabalho da Psicologia no campo da saúde é denominado Psicologia Hospitalar, e, não, Psicologia da Saúde.

Não é possível falar em Psicologia Hospitalar no Brasil, sem falar de Mathilde Neder. Ela foi pioneira na Psicologia Hospitalar no Brasil, atuando no instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas (então COT) em colaboração com o Dr Eurico de Toledo Freitas com a equipe de enfermagem e na assistência pré e pós cirúrgica.

A Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar foi fundada em 1997 por 45 psicólogos com sede em Belo Horizonte com o objetivo de reunir, difundir as pesquisas na área, organizar melhor a profissão e definir suas atividades junto ao Conselho Federal de Psicologia. O título de especialista em psicologia hospitalar, foi regulamentado pela resolução 014/2000 do CFP.[3]

Para incentivar as pesquisas nesta área a SBPH, segundo seu site [3], tem um prêmio que é oferecido por ocasião da realização dos congressos.

Abordagens editar

As abordagens mais comuns na psicologia hospitalar são a psicologia cognitiva, a psicologia comportamental, a psicologia sistêmica e a psicanálise. Mas assim como em todas as outras áreas essas abordagens aparecem integradas sendo difícil diferencia-las na prática.

Características dos pacientes editar

Quando hospitalizados, os pacientes adquirem novas características dentro deste novo processo de ressignificação da sua subjetividades. Camon (2003), cita alguns exemplos:

  • Passa a significar a partir dos diagnósticos: seu espaço vital não é mais o mesmo, agora torna-se algo que dependa da escolha médica;
  • Hábitos anteriores terão que se transformar: aquela rotina e práticas que eram realizadas, agora são deixadas de lado para adaptar-se ao espaço hospitalar. Há que se conviver com o hospital e a doença;
  • Fragmentação do paciente: quando inserido neste contexto, não existe um sujeito visto na sua totalidade. Ele torna-se o diagnóstico e seu tratamento se dá de forma fragmentada por meio de diferentes especialidades médicas;
  • Invasão e abuso: quando não há o respeito com o paciente, o acesso a ele torna-se invasivo e um ser incapaz de realizar escolhas. Ele torna-se um sujeito visto como impossibilidade no processo de escolher o que é melhor para si. O sujeito é visto como alguém vulnerável e apto para ser controlado pelo corpo médico.

Atuação editar

O Psicólogo hospitalar atua geralmente segundo um modelo biopsicossocial que assim como a abordagem holística busca observar o indivíduo em todos sistemas com quem interage (familiar, social, biológico, psicológico...) simultaneamente e com inter-relações constantes entre elas. Mas também existem psicólogos mais voltados para a psicologia clínica atuando geralmente junto com a psiquiatria em hospitais psiquiátricos ou em centros especializados em aconselhamento.

É comum que o trabalho do psicólogo seja feito em associação com o Assistente social, principalmente em serviços cujo objetivo seja o Acolhimento Psicossocial.

Segundo Queiroz e Araujo (2007),[4] o psicólogo hospitalar contribui para a equipe multidisciplinar de saúde participando ativamente da tomada de decisões, principalmente ao fornecer e solicitar mais informações e ao expandir discussões durante as reuniões de equipe. Essas atitudes ajudam a manter uma visão global do paciente e chamar atenção para outros pontos de vista. Suas contribuições são maiores quando os pacientes são acompanhados desde a chegada ao hospital e a equipe do hospital já tem padrões de comunicação bem estruturados para uma abordagem multidisciplinar adequada.

Atividades editar

Entre as atividades do psicólogo da Saúde definidas pelo Conselho Federal de Psicologia (2003a), o psicólogo hospitalar estão:[1]

Funções editar

Rodriguez-Marín (2003)[5] sintetiza as seis tarefas básicas do psicólogo que trabalha em hospital:

  • Função de coordenação: relativa às atividades com os funcionários do hospital;
  • Função de ajuda à adaptação: em que o psicólogo intervém na qualidade do processo de adaptação e recuperação do paciente internado;
  • Função de interconsulta: atua como consultor, ajudando outros profissionais a lidarem com o paciente;
  • Função de enlace: intervenção, através do delineamento e execução de programas junto com outros profissionais, para modificar ou instalar comportamentos adequados dos pacientes;
  • Função assistencial direta: atua diretamente com o paciente;
  • Função de gestão de recursos humanos: para aprimorar os serviços dos profissionais da organização.

Ver também editar

Referências

  1. a b c KERN, E. C.; BORNHOLDT E. Psicologia da saúde x Psicologia Hospitalar: definições e possibilidades de inserção profissional. Disponível em: [1] (23/01/2010)
  2. CHIATTONE, H. B. C. A Significação da Psicologia no Contexto Hospitalar. In Angerami-Camon, V. A. (org.). Psicologia da Saúde – um Novo Significado Para a Prática Clínica. São Paulo: Pioneira Psicologia, 2000, pp. 73-165.
  3. «Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar - SBPH». Consultado em 2 de Abril de 2010 
  4. QUEIROZ, E., Araujo, T. C. C. F. R. Trabalho em equipe: um estudo multimetodológico em instituição hospitalar de reabilitação. Interam. j. Psicol, 2007. scielo.bvs-psi.org.br [2]
  5. RODRÍGUEZ-MARÍN, J. En Busca de un Modelo de Integración del Psicólogo en el Hospital: Pasado, Presente y Futuro del Psicólogo Hospitalario. In Remor, E.; Arranz, P. & Ulla, S. (org.). El Psicólogo en el Ámbito Hospitalario. Bilbao: Desclée de Brouwer Biblioteca de Psicologia, 2003, pp. 831-863.

Bibliografia editar

  • 7. CAMON, V. A. A.; Psicologia Hospitalar: Teoria e Prática. 2ª Edição. São Paulo: Pioneira Thonson Learning, 2003.