Regulus regulus sanctaemariae

Regulus regulus sanctaemariae Vaurie, 1954 é uma subespécie de estrelinha, conhecida pelo nome comum de estrelinha-de-Santa-Maria, endémica na ilha de Santa Maria, nos Açores.[2][3] A ave é a mais pequena do género Regulus, sendo residente não-migratória na zona do Pico Alto na região central da ilha.[4] A subespécie aparente ser radiação evolutiva recente da população do oeste da Europa.[5]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaEstrelinha-de-Santa-Maria

Estado de conservação
Espécie em perigo crítico
Em perigo crítico
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Família: Regulidae
ex-Sylviidae
Género: Regulus
Espécie: R. regulus
Nome trinomial
Regulus regulus sanctaemariae
Vaurie, 1954[1]

Descrição e habitat editar

É uma espécie discreta, que se movimenta na copa das árvores, o que torna a sua observação bastante difícil. Com um comprimento de apenas 8 a 9 cm e uma envergadura de 13 a 15 cm, é tão leve que pesa menos de 5 gramas (quatro ou cinco vezes menos que um vulgar pardal), sendo considerada a ave mais pequena da Europa. Alimenta-se de insectos, vermes e aranhas.

A plumagem é castanha-esverdeada, as asas pretas com margens esbranquiçadas na parte superior. Apresenta coloração esbranquiçada na garganta, com o peito e o abdómen acastanhado a creme. As patas são cinza-escuro a pretas. O bico é curto, preto e fino. Os olhos são comparativamente grandes, com cor preta brilhante, contrastando fortemente com a a cor das penas circundantes. No topo da cabeça apresenta uma lista característica, de cor amarela brilhante nas fêmeas e alaranjada nos machos.[6] É esta mancha amarelada no topo da cabeça que mereceu o nome de estrelinha. A subespécie mariense é a menor da espécie, de cores menos vivas e com o ventre esbranquiçado.

Os ninhos são esféricos, muito compactos, externamente de musgos, o interior com gramíneas e penas. O período de reprodução é entre Abril e Julho, com uma postura 9 a 11 ovos, brancos, sem manchas o pontos, com 12,5 mm por 10,5 mm. O período de incubação é de 15 a 17 dias, com os primeiros voos a partir dos 17 a 22 dias.

Apesar de não existir informação pormenorizada sobre a distribuição e abundância da subespécie R. r. sanctae-mariae, a nidificação ocorre preferencialmente sobre Erica azorica e ocupa preferencialmente zonas de mato misto onde esteja presente a E. azorica e o Viburnum tinus,[3] pois o cedro-do-mato (Juniperus brevifolia) já quase não existe na ilha de Santa Maria.

Apesar de um recente estudo sobre as subespécies insulares de Regulus regulus,[4] o estatuto taxonómico das subespécies açorianas carece de maior clarificação, já que a semelhança com o bis-bis madeirense e o longo isolamento genético que parece ter existido pode indicar especiação das populações açorianas.

Estado de conservação editar

Estando a população confinada ao território dailha de Santa Maria (ilha que na totalidade tem 97,4 km² de área),e tendo a sua população decrescido nas últimas duas décadas, de forma notória, a subespécie encontra-se criticamente em perigo, satisfazendo os critérios B1ab(iii) das normas da IUCN para avaliação do estado de conservação das populações de vertebrados.[7] A ave pode ser avistada, de forma dispersa um pouco por toda a ilha, nomeadamente nas zonas de mato misto, mas, de forma mais concentrada o habitat da subespécie está mais limitado às encostas do Pico Alto e às zona florestadas da costa norte em torno do Barreiro da Faneca, tendo ocorrido nas últimas décadas um acentuado declínio da extensão e qualidade das áreas disponíveis para a espécie. Neste contexto, os principais factores de ameaça são a substituição da floresta nativa por mata de criptoméria, a implantação de pastagens e a rápida expansão de algumas espécies de plantas invasoras. Por estas razões a R.Regulus sanctae-mariae, foi considerada "Ave do Ano 2012", pelo CADEP-CN (Clube dos Amigos e Defensores do Património-Cultural e Natural de Santa Maria, com o apoio de várias entidades, ONGAS e centenas de cidadãos, com o objetivo de chamar à atenção para a sua vulnerabilidade e apelo à necessidade de um projeto integrado e multidisciplinar de estudo, estratégia e plano de ação em vista à sua proteção. A proposta do CADEP-CN em associação com a representação dos Amigos dos Açores, em Santa Maria, foi aceite pela Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, em reunião tida com o Senhor Secretário Álamo de Meneses, no dia 28 de Outubro de 2011, no âmbito da visita estatutária do Governo dos Açores, à ilha. Em comunicado do Governo, emitido no dia seguinte, saiu o compromisso do avanço de um plano de proteção, já indicando algumas medidas específicas.

As outras duas subespécies de Regulus regulus que ocorrem nos Açores (R. r. inermis e R. r. azoricus) apresentam um estado de conservação que permite considerar como pouco preocupante a sobrevivência das suas populações.

Referências editar

Notas

  1. Vaurie, Charles. (1954). "Systematic notes on Palearctic birds. No. 8, Sylviinae, the genus Regulus". American Museum Novitates, 1684.
  2. Estrelinha de Santa Maria.
  3. a b Bannerman, D.A. & Bannerman, W.M. (1966) Birds of the Atlantic Islands. Vol. 3 – A History of the Birds of the Azores. Oliver & Boyd. Edimburgo e Londres.
  4. a b Päckert, Martin; & Martens, Jochen. (2004). Song dialects on the Atlantic islands: goldcrests of the Azores (Regulus regulus azoricus, R. r. sanctae-mariae, R. r. inermis). Journal of Ornithology 145(1): 23-30.[1]
  5. Knecht, S. & Scheer, U., "Die Vogel der Azoren". Zool. Beitr.. 22: 275-296. Bonn, 1971.
  6. Carlos Pereira, Aves dos Açores. Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, 2010.
  7. R. r. sanctae-mariae no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.

Ligações externas editar