Revolta de La Villa de Don Fadrique

A Revolta de La Villa de Don Fadrique, conhecida localmente como Los sucesos (Os acontecimentos),[1][2] foi uma revolta que ocorreu na vila espanhola de La Villa de Don Fadrique (actualmente na comunidade autónoma de Castela-Mancha) durante a Segunda República Espanhola, de 6 de Julho a 10 de Julho de 1932.[3] A revolta começou numa greve durante a ceifa que resultou numa revolta camponesa de carácter comunista com enfretamentos e tiroteios entre os camponeses revoltosos e a Guarda Civil.[3][4] Outros eventos provocaram o incêndio de eiras, de maquinária agrária e a interrupção das comunicações telefónicas e terrestes, das últimas, as estradas e o comboio.[3][4]

Localização de La Villa de Don Fadrique.

Contexto editar

A Espanha estava a atravessar períodos conturbados da sua história, a ditadura de Primo de Rivera acabara anos antes e a República tinha sido instaurada há um ano. Embora que esta estivesse governada por facções esquerdistas o país ainda tinha muito presente as forças conservadores e monárquicas e muitas das políticas republicanas jamais seriam efectivamente implementadas.

 
Esquerdistas em La Villa de Don Fadrique na década de 1930.

A Reforma Agrária prometida pelos governantes da República que tanto era esperada pelos camponeses não chegou e estes viram ir por água abaixo as suas espectativas de melhoria na sua qualidade de vida, muito dependente do campo que estava na mão duma minoria muito poderosa, os latinfundários.[3]

A revolta editar

6 de Julho editar

A 6 de Julho começaram as movimentações camponesas revoltadas com o facto da maioria das terras estarem acumuladas nuns poucos latifundários e da esperada Reforma Agrária não ter acontecido.[3] O investigador local Pedro Organero conclui:[3]

85% das terras da vila estavam em mãos de 12 proprietários e mais de dous terços da povoação dependia do trabalho no campo.
Original {{{{{língua}}}}}: El 85% de las tierras de la localidad estaba en manos de 12 propietarios y más de dos tercios de la población dependían de la contratación en el campo.
— Pedro Organero

Nesse dia muitos assalariados da vila fizeram greve. Os grevistas pediam:

  1. Um dia de descanso cada quinze de trabalho;
  2. Aumento dos salários;
  3. A não contratação de trabalhadores de outras vilas até à ocupação total dos locais. (Cumprindo a Ley de términos municipales, promulgada pela República no seu primeiro mês de governo).[3]

Madrugada de 7 de Julho a 8 de Julho editar

Na madrugada de 7 de Julho a 8 de Julho foi quando a tensão explodiu. Quem atacou primeiro é uma informação ainda hoje desconhecida, há duas versões, a da maioria dos jornais (La Vanguardia, El Castellano, ABC...)[5] que culpa aos grevistas de ter atacado primeiro e, por outra parte, os defensores dos camponeses, cujos relatos foram publicados por Mateos Manzanero e Gabriel Ramos e alguns jornais operários tais como a La Tierra.[3]

Na madrugada de 7 de Julho a 8 de Julho, a confrontação agravou-se e findou numa luta aberta entre patrões e trabalhadores. Celestino Mendoza, de 90 anos, narra assim a sua experiência:[3]

Eu era muito pequeno, mas lembro-me de estar espreitando à janela e ver a gente correr dum lado para o outro. Sobretudo os homens. Gritavam acerca da cousa do trabalho. Uns diziam uma cousas e outros diziam outra. Até que acabaram a tiros e morreram vários.
Original {{{{{língua}}}}}: Yo era muy pequeño, pero me acuerdo estar asomado a la ventana y ver a la gente correr de un lado para otro. Sobre todos los hombres. Gritaban sobre la cosa del trabajo. Unos se decían una cosa y otros se decían otra. Hasta que terminaron a tiros y murieron varios.
— Celestino Mendoza

Mendoza acredita que foi a Guarda Civil que abateu os manifestantes.[3]

Uma das primeiras acções tomadas pelos revoltosos foi a de cortar as comunicações com o resto do país.[3] Esta decisão de pouco serviu dado que os patrões já tinham enviado dous telégrafos ao Governador Civil e a Guarda Civil já vinha a caminho.[3][5]

Sobre esta acção diz um idoso:[3]

Lembro-me que esse dia saí da minha casa com a minha mãe à eira da Olaya e vi no final da rua um operário que tinha subido um poste como um lagarto e cortou os cabos com umas tesouras de podar.
Original {{{{{língua}}}}}: Recuerdo que ese día salí yo de mi casa con mi madre a la era de la Olaya y vi al llegar al final de la calle a un obrero que se subió a un poste como un lagarto y cortó los cables telefónicos con unas tijeras de podar.
— Anónimo

8 de Julho editar

A 8 de Julho chegaram os reforços da Guarda Civil de Toledo e das povoações vizinhas, perfazendo mais de 150.[3] Com a polícia a chegar em massa, a luta empiorara:[3]

Durante o dia 8 morreu um Guarda Civil, um patrão e dous camponeses, dentre eles, o irmão do ex-presidente da câmara comunista. Os patrões procuravam ao ex-presidente da câmara mas como não o encontraram, mataram o irmão.
Original {{{{{língua}}}}}: Durante el día 8 murió un Guardia Civil, un patrono y dos campesinos, entre ellos, el hermano del ex alcalde comunista. Los patronos buscaban al ex alcalde pero como no lo encontraba, mataron al hermano.
— Benito Díaz

9 e 10 de Julho editar

Nos dias 9 e 10 de Julho continuariam a chegar reforços da Guarda Civil para conter a revolta, tendo ido também o director geral Miguel Cabanellas.[3] Os revoltosas finalmente seriam derrotados dado que já não tinham armamento e a polícia chegava de todos los lados.[3]

Consequências editar

Repressão editar

Os grevistas foram vencidos já que estes já quase não tinham armamento e a Guarda Civil crescia graças aos reforços que chegavam de toda a Espanha.[3] A repressão que sucedeu à revolta foi severa, com detenções que se prolongaram durante vários dias, visando o enfraquecimento dos comunistas e a disuasão de outros movimentos operários de inspiração revolucionária.[3][6] Tudo isto foi acompanhado com a criação de Tribunais militares.[5]

Não se sabe com ciência exacta se os enfrentamentos contra os patrões estavam planificados pelos assalariados ou, pelo contrário, foi uma greve que findou numa revolta não prevista.[3] A direita política aproveitou estes acontecimento para denunciar uma "ameaça comunista" sobre a Espanha.[3]

Bastião comunista e alcunha editar

Desde a Revolta de 1932 a vila é considerada um bastião do movimento revolucionário e comunista. De facto, até os dias de hoje a localidade é conhecida como La pequeña Rusia (A pequena Rússia) e Villa de Lenin (Vila de Lenin).[3][7]

Foi esta povoação que elegeu o primeiro presidente da câmara comunista da Espanha, Luis Cicuéndez.[7][8] E foi também onde viveu por muitos anos Cayetano Bolívar, o primeiro deputado comunista desse país.[8]

Referências

  1. «Historia». www.villadonfadrique.com (em espanhol). Consultado em 6 de março de 2017 
  2. Digital, La Vanguardia. «Edición del domingo, 10 julio 1932, página 24 - Hemeroteca - Lavanguardia.es». hemeroteca.lavanguardia.com (em espanhol). Consultado em 6 de março de 2017  line feed character character in |titulo= at position 49 (ajuda)
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v «Villa de Don Fadrique: La pequeña Rusia de Castilla-La Mancha» (em espanhol) 
  4. a b «Pedro Organero presentará su libro sobre los sucesos de julio de 1932 en la Villa de Don Fadrique — El Semanal de La Mancha». El Semanal de La Mancha (em espanhol) 
  5. a b c «ABC (Madrid) - 12/07/1932, p. 33 - ABC.es Hemeroteca». hemeroteca.abc.es (em espanhol). Consultado em 6 de março de 2017 
  6. ««Mañana será todo de tos»». La Voz de Galicia (em espanhol). 11 de março de 2016 
  7. a b Bonnet, Romain (31 de agosto de 2009). «Les événements de Villa de Don Fadrique et la Deuxième République espagnole (juillet 1932, Tolède)». Cahiers de civilisation espagnole contemporaine (em francês). Consultado em 6 de março de 2017 
  8. a b «Presentan un libro sobre los Sucesos de La Villa de Don Fadrique de julio de 1932». www.mundoobrero.es (em espanhol). Consultado em 6 de março de 2017 
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