Síndrome de Kinsbourne

A Síndrome de Kinsbourne, também conhecida como Opsoclonus Myoclonus Syndrome (OMS), Opsoclonus-Myoclonus-Ataxia (OMA) e Dancing-Eyes Syndrome é uma desordem neurológica rara, de causa desconhecida, que aparenta ser resultado de um processo autoimune envolvendo o sistema nervoso. É uma condição extremamente rara, afetando 1 a cada 10.000.000 (dez milhões) de pessoas por ano. Ela afeta de 2% a 3% das crianças com neuroblastoma e existem relatos de ocorrência em casos de doença celíaca, doenças neurológicas e disfunção autonômica(disautonomia).[1][2]

Síndrome de Kinsbourne
Sinônimos Síndrome de Opsoclonus-Mioclonus; Opsoclonus Myoclonus Syndrome; Opsoclonus-Myoclonus-Ataxia; Dancing-Eyes Syndrome
Especialidade neurologia
Classificação e recursos externos
CID-10 G25.3
CID-9 379.59
CID-11 936930510
DiseasesDB 31932
MeSH D053578
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Sinais e sintomas editar

Os sintomas da Síndrome de Kinsbourne incluem:

  • opsoclonus: movimentos oculares rápidos, involuntários, multivetoriais (horizontais e verticais), imprevisíveis, conjugados e rápidos sem intersacádicos [rotação rápida dos olhos];
  • mioclonia: espasmos breves e involuntários de um músculo ou de um grupo de músculos;
  • ataxia cerebelar: tanto troncular quanto apendicular;
  • afasia: um distúrbio de linguagem no qual há um comprometimento da fala e da compreensão da fala, causado por dano cerebral;
  • mutismo: um distúrbio de linguagem no qual uma pessoa não fala, apesar de evidências de capacidade de fala no passado, muitas vezes parte de um distúrbio neurológico ou psiquiátrico maior;
  • letargia;
  • irritabilidade;
  • hipersalivação(sialorreia);
  • estrabismo: uma condição na qual os olhos não estão devidamente alinhados entre si;
  • vômito e outros problemas de deglutição;
  • distúrbios do sono.

Aproximadamente metade de todos os casos de Síndrome de Kinsbourne ocorre em associação a um neuroblastoma, um câncer do sistema nervoso simpático que geralmente ocorre em bebês e crianças.

Curso da doença e subtipos clínicos editar

Na maioria dos casos, a Síndrome de Kinsbourne começa com um surto agudo de sintomas físicos em dias ou semanas, mas alguns sintomas menos óbvios, como irritabilidade e mal-estar, podem começar semanas ou meses antes.

Causa editar

Em crianças, a maioria dos casos está associada a um neuroblastoma e, em muitos dos outros casos, existe a suspeita de associação a um neuroblastoma de baixo grau que regrediu espontaneamente antes da detecção. Em adultos, a maioria dos casos está associada a um carcinoma de mama ou carcinoma pulmonar de células pequenas.[3] É uma síndrome paraneoplásica (o que significa "indiretamente causada por câncer"), uma das poucas síndromes paraneoplásicas que ocorre tanto em crianças quanto em adultos, embora o mecanismo de disfunção imune subjacente à síndrome em adultos seja, provavelmente, bem diferente.

Existe também a hipótese de que uma infecção viral (talvez a encefalite de St. Louis, Epstein-Barr, Coxsackie B, enterovirus, ou mesmo uma simples gripe) causem os casos remanescentes, apesar de uma conexão direta ainda não ter sido provada,[4] ou, em alguns casos, a doença de Lyme.[5]

A Síndrome de Kinsbourne não é geralmente considerada uma doença infecciosa. A Síndrome de Kinsbourne não é transmitida geneticamente.

Diagnóstico editar

Por ser uma doença tão rara e por ocorrer em uma idade média de 19 meses (6 a 36 meses), o diagnóstico médico pode ser lento. Alguns casos foram diagnosticados como tendo sido causados por um vírus. Depois que um diagnóstico de Síndrome de Kinsbourne é feito, um neuroblastoma associado é encontrado em metade dos casos, com uma espera média de 3 meses.[6]

O padrão da eletroencefalografia(EEG) é geralmente normal.[7]

Tratamento editar

Não existe cura definitiva para a Síndrome de Kinsbourne. Entretanto, várias drogas têm se provado efetivas em seu tratamento.

Algumas das medicações usadas para tratar os sintomas são:

  • ACTH: tem demonstrado melhoras nos sintomas, mas pode resultar em uma recuperação incompleta com déficits residuais.
  • corticóides (como a prednisona ou prednisolona) usados em altas dosagens (500 mg - 2 g por dia, de forma intravenosa pelo período de 3 a 5 dias) pode acelerar a regressão dos sintomas. Subsequentemente, costuma ocorrer uma redução muito gradual, por intermédio de pílulas. A maioria dos pacientes requer altas doses por meses ou anos antes de diminuir.
  • Imunoglobulina Intravenosa (IVIg): usadas frequentemente, com resultados variados.
  • Várias outras drogas imunossupressoras, tais como ciclofosfamida e azatioprina, podem ajudar em alguns casos.
  • Quimioterapia para o neuroblastoma pode ser efetiva, apesar de os dados serem inconclusivos e não convincentes até o momento.
  • Rituximab tem sido usado com resultados encorajadores.[8]
  • Outras medicações são usadas para tratar os sintomas, sem influenciar a natureza da doença (tratamento sintomático):
    • Trazodona pode ser útil contra a irritabilidade e problemas do sono;
  • Alternativas adicionais de tratamento incluem plasmaferese para recaídas severas e não responsivas a corticoides.

The National Organization for Rare Disorders (Associação Nacional para Desordens Raras - NORD) recomenda a terapia FLAIR, consistindo de um protocolo de três agentes, envolvendo uma alta dosagem inicial de ACTH, IVIg, e rituximab que foi desenvolvida por National Pediatric Myoclonus Center, e tem os resultados mais bem documentados.[9] Quase todos os pacientes (80-90%) mostraram melhoras com esse tratamento e a taxa de recidivas (recaídas) aparenta ser da ordem de 20%.[10]

Um resumo mais detalhado (em inglês) das alternativas de tratamento disponíveis atualmente pode ser encontrada em Treatment Options

As seguintes medicações deveriam ser provavelmente evitadas:

Referencias editar

  1. Baets, J; Pals, P; Bergmans, B; Foncke, E; Smets, K; Hauman, H; Vanderwegen, L; Cras, P (2006). «Opsoclonus-myoclonus syndrome: A clinicopathological confrontation». Acta Neurologica Belgica. 106 (3): 142–6. PMID 17091618 
  2. Deconinck, N; Scaillon, M; Segers, V; Groswasser, J. J.; Dan, B (2006). «Opsoclonus-myoclonus associated with celiac disease». Pediatric Neurology. 34 (4): 312–4. PMID 16638509. doi:10.1016/j.pediatrneurol.2005.08.034 
  3. Shukla, Rakesh; Ahuja, RC; Kumar, Rajesh; Singh, Dilip; Sinha, Manish (2010). «Opsoclonus–myoclonus syndrome caused by varicella-zoster virus». Annals of Indian Academy of Neurology. 13 (3): 211–2. PMC 2981762 . PMID 21085535. doi:10.4103/0972-2327.70876 
  4. Peter, L; Jung, J; Tilikete, C; Ryvlin, P; Mauguiere, F (2006). «Opsoclonus-myoclonus as a manifestation of Lyme disease». Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry. 77 (9): 1090–1. PMC 2077735 . PMID 16914760. doi:10.1136/jnnp.2006.091728 
  5. Pranzatelli, M.R. (1992). «The neurobiology of the opsoclonus-myoclonus syndrome». Clinical neuropharmacology. 15 (3): 186–228. PMID 1394242. doi:10.1097/00002826-199206000-00002 
  6. Ronald, David. Clinical Pediatric Neurology, 3rd edition, 2009, page 205.
  7. Pranzatelli MR, Tate ED, Travelstead AL, Longee D (Janeiro de 2005). «Immunologic and clinical responses to rituximab in a child with opsoclonus-myoclonus syndrome». Pediatrics. 115 (1): e115–9. PMID 15601813. doi:10.1542/peds.2004-0845 
  8. «Effect of Increased Immunosuppression on Developmental Outcome of Opsoclonus Myoclonus Syndrome (OMS)». ResearchGate. Consultado em 4 de setembro de 2015 
  9. «Opsoclonus-Myoclonus Syndrome - NORD (National Organization for Rare Disorders)». Consultado em 4 de setembro de 2015 

Leituras recomendadas editar

  • Mitchell WG, Davalos-Gonzalez Y, Brumm VL, Aller SK, Burger E, Turkel SB, Borchert MS, Hollar S, Padilla S (Janeiro de 2002). «Opsoclonus-ataxia caused by childhood neuroblastoma: developmental and neurologic sequelae». Pediatrics. 109 (1): 86–98. PMID 11773546 
  • Pranzatelli MR, Travelstead AL, Tate ED, Allison TJ, Moticka EJ, Franz DN, Nigro MA, Parke JT, Stumpf DA, Verhulst SJ (Maio de 2004). «B- and T-cell markers in opsoclonus-myoclonus syndrome: immunophenotyping of CSF lymphocytes». Neurology. 62 (9): 1526–32. PMID 15136676. doi:10.1212/WNL.62.9.1526 
  • Rothenberg AB, Berdon WE, D'Angio GJ, Yamashiro DJ, Cowles RA (Julho de 2009). «The association between neuroblastoma and opsoclonus-myoclonus syndrome: a historical review». Pediatr Radiol. 39 (7): 723–6. PMID 19430769. doi:10.1007/s00247-009-1282-x