Sermonde

localidade e antiga freguesia de Vila Nova de Gaia, Portugal

Sermonde é uma das freguesias agregadas da atual freguesia de Grijó e Sermonde,[1] concelho de Vila Nova de Gaia, distrito do Porto. Tem 1,41 km² de área e 1360 habitantes (2011).[2] A sua densidade populacional é de 964,5 hab/km². De carácter ainda marcadamente rural, é a freguesia com menos habitantes do concelho. Tem por lugares principais Asprela e Brantães.

Portugal Sermonde 
  Freguesia portuguesa extinta  
Símbolos
Brasão de armas de Sermonde
Brasão de armas
Localização
Município primitivo Vila Nova de Gaia
Município (s) atual (is) Vila Nova de Gaia
Freguesia (s) atual (is) Grijó e Sermonde
História
Extinção 2013
Características geográficas
Área total 1,41 km²
População total (2011) 1 360 hab.
Densidade 964,5 hab./km²
Outras informações
Orago São Pedro

População editar

População da freguesia de Sermonde [3]
1864 1878 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011
261 334 360 393 497 488 520 539 592 717 710 771 1 053 1 225 1 360
Distribuição da População por Grupos Etários
Ano 0-14 Anos 15-24 Anos 25-64 Anos > 65 Anos 0-14 Anos 15-24 Anos 25-64 Anos > 65 Anos
2001 217 226 641 141 17,7% 18,4% 52,3% 11,5%
2011 220 164 758 218 16,2% 12,1% 55,7% 16,0%

Média do País no censo de 2001: 0/14 Anos-16,0%; 15/24 Anos-14,3%; 25/64 Anos-53,4%; 65 e mais Anos-16,4%

Média do País no censo de 2011: 0/14 Anos-14,9%; 15/24 Anos-10,9%; 25/64 Anos-55,2%; 65 e mais Anos-19,0%

Toponímia editar

O topónimo Sermonde deriva de Sesmondi, genitivo latino de Sesmondo, ou seja, "propriedade de Sesmondo". Sesmondo é um nome germânico associado ao significado de proteção.[4] Sesmondo, do qual se conhecem os patronímicos Sesmondiz, Sesmundiz e Sezemondisi, eram nomes frequentemente usados no Norte da Península Ibérica entre os séc. V e XIII, herdados dos Suevos e Visigodos. Assim, algures na Idade Média, estas terras terão pertencido a um Sesmondo, nome que lhes ficaria associado.

História editar

Sermonde teve presença pré-romana e romana, atendendo à proximidade com o Castro do Monte Murado (Srª da Saúde, Pedroso), um povoado castrejo habitado pelos Túrdulos Velhos e posteriormente romanizado (ano 7 d.C.).[5] No sopé sul do Castro, com abundantes fontes de água, os terrenos férteis de Sermonde seriam usados para a atividade agrícola, pastorícia ou caça. Relevante também da ocupação romana, a Via XVI do Itinerário de Antonino, estrada romana que ligava Lisboa a Braga e que passaria nos limites de Sermonde servindo o Castro, num trajeto sensivelmente semelhante ao da atual EN1.[6]

Da ocupação Suévica e Visigótica (séc. V a VIII) ficaram vestígios na toponímia, como o próprio nome Sermonde (ver Toponímia) e possivelmente Brantães (do antropónimo Burunta).[7]

Após a invasão Muçulmana no início do século VIII, estabelece-se ao longo do vale do Douro uma zona-tampão instável entre cristãos e muçulmanos, ficando esta faixa de território praticamente desabitada.

Com a reconquista, particularmente após a presúria de Portucale em 868, inicia-se o repovoamento da região. O território, de início assenhoreado pelos respetivos "presores" – nobres da monarquia asturo-leonesa – vai-se parcelando ao longo do séc. X e XI pela linha de herdeiros, em doações ao clero ou vendido a fidalgos em ascensão económica e social. É no contexto de aquisição de propriedades por um dos fidalgos da época, Soeiro Fromarigues, já detentor de vasto património a Sul do rio Douro, que surge a primeira referência escrita a Sermonde. Trata-se de uma escritura de 1087, a designada Carta de Penso,[8] em que Soeiro Fromarigues adquire a Mendo Trutesendes, por 100 “modios”, três partes de uma tal “vila” de Penso localizada entre "Billanes" e "Curveiros", sendo outra parte dividida com "Sesmondi" e com "Rial", abaixo do castro de Pedroso e no percurso do rio Serzedo.[7]

 
Carta de Penso, Baio-Ferrado Mosteiro de Grijó, pág. 110

Neste período surgem também as primeiras referências à paróquia de Sermonde. No més de Agosto de 1144, descendentes de Ederónio Alvites doam o "Monasterio sancti de Sesmondi" ao Bispo do Porto D. Pedro Rabaldes e seus sucessores.[9][10] A data da fundação do "Monasterio" de Sermonde (um pequeno cenóbio, não um mosteiro na acepção atual do termo) é incerta, mas remontará à primeira metade do séc. XI. Neste período viveu aquele que terá sido o seu fundador, Ederónio Alvites, a quem também se atribui, juntamente com a sua esposa, Tristina Pinioliz, a fundação do Mosteiro de Pedroso entre 1017 e 1026.[11]

Desde aquela doação de Agosto de 1144, e até ao presente, a Paróquia de Sermonde foi então de apresentação à Sé do Porto. Isto tornou o povoado de Sermonde num pequeno enclave entre as vastas propriedades dos vizinhos Mosteiros de Grijó e Pedroso, independente das suas jurisdições.

No foral de Gaia e Vila Nova, concedido por D. Manuel I, em 20 de Janeiro de 1518, são referidos os foros a que a população de Sermonde estava obrigada.

Em 2013, no âmbito da reorganização nacional do território das freguesias, Sermonde é extinta enquanto freguesia autónoma, sendo agregada com Grijó numa nova freguesia denominada Grijó e Sermonde.[1]

Brasão editar

As chaves em aspa evocam São Pedro, orago da freguesia; as espigas de milho querem significar os trabalhos agrícolas; a fonte quer representar e lembrar a fonte da Ameixoeira e outras de menor significado existentes na freguesia; por fim, a lira faz lembrar a tradição musical existente na população desde tempos remotos. A autoria é de Luís Moreira (Gabinete de Estudos e Projetos de Heráldica Administrativa). Aprovado em Assembleia de Freguesia a 7 de Outubro de 1997.

Património editar

Igreja de São Pedro (matriz): A igreja primitiva com origens no séc. XI e utilizada ao longo dos tempos foi substituída pela atual, cuja primeira pedra foi colocada a 27 de Janeiro de 1876. A bênção e inauguração ocorreu a 29 de Junho de 1877. A arquitetura é marcadamente oitocentista, sóbria e modesta. Da frontaria sobressai um torreão sineiro central, coroando a empena; o pórtico é rectangular e sobrepujado por amplo janelão. No interior: a imagem do séc. XVIII de São Pedro (orago da freguesia), Menino Jesus, Santa Ana e Cristo Crucificado. A habitação adjacente hoje em ruínas, antiga residência paroquial, e terrenos anexos outrora pertencentes à paróquia, foram vendidos após a implantação da República e são hoje propriedade particular.

 
Igreja Matriz de Sermonde

Capela de Nossa Senhora de Lourdes: inaugurada no dia 23 de Agosto de 1885 em homenagem às aparições da Virgem Maria em Lourdes. As obras ter-se-ão iniciado em 1883, nas comemorações dos 25 anos das aparições, conforme data gravada na padieira da porta principal, por iniciativa de Teodoro José de Lima e custeadas com donativos e ofertas da população. Em 1985, ano do centenário, são feitas obras de beneficiação: construção de torre sineira na fachada principal, alpendre, casa de mordomos na retaguarda e revestimento de interiores e exteriores com azulejos brancos, sobras de obras de manutenção da igreja matriz. A festa anual realizava-se no último domingo de Agosto com arraial, novena, missa e procissão até à igreja.

Quinta da Asprela

Referências editar

  1. a b Diário da República, 1.ª Série, n.º 19,Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro (Reorganização administrativa do território das freguesias). Acedido a 2 de fevereiro de 2013.
  2. INE. «Census 2011, pág. 112» (pdf). Consultado em 4 de Janeiro de 2015 
  3. Instituto Nacional de Estatística (Recenseamentos Gerais da População) - https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes
  4. «Germanic personal names in Galicia» 
  5. http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5357
  6. http://viasromanas.planetaclix.pt/#bragalisboa
  7. a b Barbosa da Costa, Francisco. S. Pedro de Sermonde Notas Biográficas. [S.l.: s.n.] 
  8. Baio-Ferrado Mosteiro de Grijó
  9. Censual do Cabido da Sé do Porto
  10. Maria João Oliveira e Silva. SCRIPTORES ET NOTATORES: A Produção Documental da Sé do Porto (1113-1247). Univ. Porto Fac. Letras. Dissertação de Mestrado. 2006
  11. Mattoso, José. A nobreza medieval portuguesa: a família e o poder. Lisboa: Editorial Estampa, 1981. Capítulo A nobreza rural portuense nos séculos XI e XII.