Sismo de Caracas de 1967

O Sismo de Caracas de 1967 foi um movimento sísmico ocorrido na Venezuela que açoitou a Caracas e o Litoral Central (La Guaira, no actual estado de Vargas) a 29 de julho de 1967 às 8:05 p.m, hora da Venezuela (UTC-4, nesse tempo).[1] Teve como o seu epicentro o litoral central, a 20 km de Caracas, e teve uma duração de 35 segundos.[2] Este fenómeno telúrico afectou em maior medida às zonas de Altamira, Los Palos Grandes e o Litoral Central. Após o sismo, seguiram réplicas de menor intensidade.[3]

Sismo de Caracas de 1967
País Venezuela
Data 30 de julho de 1967
Epicentro 67°24'_N_67_24_0_W 10° 41' N, 67°24'" N 67° 24' O{{#coordinates:}}: latitude inválida
Mapa
Identificador USGS iscgem833882

O Distrito Federal foi sacudido por um sismo de 6.5 a 6.7 graus na escala de Richter com uma duração de 35 a 55 segundos.[4] Na zona de Caracas deixou um balanço de 2.000 feridos e 236 mortos.[3] Os danos materiais a mais de 10 milhões de dólares estadounidenses.

Acontecimentos editar

5:27 a.m. editar

Às 5:27 (hora de Colômbia, (UTC-5)) produziu-se um poderoso tremor cuja intensidade, na cidade de Bogotá, onde não produziu danos maiores, no entanto se registou 10 mortos em diferentes zonas do país e milhares de pesos em perdas materiais.[5] O sacerdote José Rafael Goberna, subdirector do Instituto Geofísico de Los Andes, estimou em 10 graus na escala de Mercalli e de 10 no epicentro, o qual foi localizado a 350 quilómetros ao noroeste de Bogotá e a 200 quilómetros de profundidade com 90 segundos de duração.[5] Produziram-se poucos danos materiais nessa cidade e depois de uma réplica às 10:25 a.m. a gente, pouco a pouco, regressou aos seus lares passado o meio dia. Este sismo foi mais leve que o ocorrido a 9 de fevereiro de 1967 às 10:29 com um minuto, aproximadamente, de duração.[5]

Na Venezuela, país fronteiriço da Colômbia, este tremor provocou danos em San Cristóbal, capital do estado Táchira, com um resultado de 2 pessoas falecidas.

20:05 editar

Às 20:05 p.m., hora da Venezuela, Caracas foi sacudida por um sismo de 6.7 na escala de Ritcher. O pessoal do Observatório Cajigal não pôde precisar exactamente nem o epicentro, nem a magnitude do sismo porque ao sismógrafo pendular se lhe romperam as flexas das agulhas e as equipas de células fotoelétricas sofreram também defeitos. Depois do sismo o director do observatório, capitão de mar e guerra Ramiro Pérez Luciani, estimou que o epicentro se achava na falha de Humocaro, estado Lara, a uns 350 quilómetros de Caracas; mas ao dia seguinte, ao examinar os relatórios de danos, corrigiu a sua apreciação, localizando-o no Mar do Caribe a 70 km da costa, em frente ao Litoral Central. Devido aos danos nas equipas sismológicos, o director do Observatório Naval informou que teria de recorrer aos institutos especializados estrangeiros para determinar com exactidão os dados do sismo. [6]

Na Catedral de Caracas, localizada no centro da cidade, estava-se oficiando uma missa quando ao momento do sismo os vitrais do templo subitamente explodiram e os feligreses que estavam perto se afastaram rapidamente para a Praça Bolívar. Em poucos segundos a centenária Cruz Pontifical que coroava a fachada se desmonorou em queda livre até golpear o solo, fragmentandose em pedaços ficando marcada sua silhueta no mesmo. Um dos presentes recordaria o facto com as seguintes palavras: “Vi quando a cruz se desprendeu e ficou gravada no andar como uma queimadura de ferro candente; nesse preciso momento o sismo cessou”, o que fez que muitas pessoas atribuíssem isto como um milagre divino e durante vários dias dita silhueta era venerada pelos fiéis até que, a 2 de agosto, as autoridades decidiram remover o troço de concreto sem dar mais explicações. Actualmente, depois de várias décadas de rumores e especulações a respeito de seu paradeiro, o mesmo está preservado na Capela do Santo Cristo da Misericórdia, localizada no sector do Vale.

Paralelamente nos estudos Sonomatrix -localizados no sector de Antímano- o técnico de som Alejandro López, o organista Tulio Enrique León e o compositor Germán Narvaez, estavam a trabalhar na gravação de uma pista instrumental para um tema gravado por um coro infantil uns dias antes. Ao fugir os três homens do estudo durante o movimento sísmico os microfones, consolas e as equipas de gravação de fita magnética ficaram em funcionamento gravando-se assim o único som registado do tremor.[7][8] Desta gravação a empresa FAVEDICA editaria mais tarde um disco single com uma breve narração que explicava o sucedido e, ademais, se incluiu em dito singelo uma composição musical alusiva ao incidente ocorrido na Catedral de Caracas antes descrito titulada: "O Milagre da Cruz", a qual foi escrita por Oswaldo Oropeza e interpretada por Manuelita Sandoval junto conjunto dos Irmãos Oropeza.[9][8]

Por outra parte num dos estúdios de Rede Venezuelana de Televisão, localizado no sector dos Ruices, a essa mesma hora se estava a gravar um programa especial (que seria transmitido no 1 de agosto, quando essa rede televisiva celebraria o seu terceiro aniversário) e, ao se iniciar a actuação da cantora folclórica venezuelana Purita Reina quem estava acompanhada do conjunto musical de Mario Suárez e o balete da televisora, começou a se mover o decorado de uma nuvem o qual saltava de acima a abaixo em brusco movimento vertical. O luminotécnico chamou a atenção dos funcionários por esta falha e, enquanto, os artistas continuaram com os seus trabalhos até que o movimento do decorado passou de vertical a ondulatório e, ao ver-se todos os presentes de que estava a ocorrer um sismo, fugiram com medo do lugar enquanto a câmara caiu a um lado e, segundo reportou a imprensa da época sobre este incidente, nas imagens gravadas se mostrava claramente que o solo se movia em sentido ondulatorio até que a câmara se apagou. Também, em outro estudo do canal, se encontravam mais de 600 pessoas esperando para ver um torneio de luta livre que ia ser transmitido ao vivo mas, com a única excepção do susto causado pelo movimento sísmico, felizmente não se registaram vítimas que lamentar e o edifício da televisora também não sofreu danos.[10]

A expansão abarcou violentamente durante uns 55 segundos a zona sísmica exterior do norte de Caracas, a qual que se estende por mais de 20 quilómetros entre as populações de Arrecifes e Naiguatá. Estas zonas do Litoral Central junto com as de Altamira e Los Palos Grandes em Caracas, foram as que sofreram maiores danos.

Em Caraballeda, no actual estado de Vargas, cinco dos onze andares do edifício "Mansão Charaima" ficaram destruídos; uns meses depois tratou-se de demolir o edifício com explosivos e, ao não se conseguir isto, deveu se empregar uma bola de demolição. Também o Hotel Macuto Sheraton sofreu fortes danos em suas estruturas.

 
Placa Conmemorativa em Lembrete ao Sismo em Chacao, em seu quadragésimo aniversário, localizada na praça Francia de Altamira

O Município Chacao, localizado no leste de Caracas, ficou dominado por uma grande nuvem de pó cinza. Para perto da Praça Altamira derrubou-se o edifício "Neverí". Na primeira avenida de Los Palos Grandes, veio-se abaixo o edifício "San José" de 9 andares, o qual foi reconstruído e que hoje em dia conserva o seu nome. No edifício "Mijagual", de 10 andares, celebrava-se essa noite uma festa e os convidados que assistiram à mesma também faleceram.[8] Na avenida Luis Roche de Altamira, oito dos andares do edifício "Palace Corvin" desapareceram durante o sismo. Também ficaram afectados os edifícios "Roxul", "Royal Coral" e "Blue Palace", localizados nessa zona.[11] Actualmente na praça Altamira existe uma placa conmemorativa da tragédia.

O acontecimento causou uma grande cobertura de imprensa e televisão dando-se assim, pela primeira vez na televisão venezuelana, uma transmissão por 24 horas de forma ininterrumpida.

Ao forte sismo seguiram-lhe um total de 30 réplicas, todas de menor intensidade, a cada uma das quais enchia de pânico a quem as sentiam, já que tinham o temor do primeiro sismo, que foi considerado um sismo pela gravidade da sua escala.

Nos dias subsiguientes servidores públicos dos organismos competentes e milhares de voluntários resgataram os corpos que jaziam entre os escombros. Os restos dos edifícios e derrubes foram transportados à Base Aérea da Carlota para a sua revisão. Durante 6 meses os condutores que circulavam pela autopista podiam ver o panorama do ocorrido naquele dia.

Em Maracay, capital do estado Aragua (localizada a uns 80 quilómetros ao sudoeste de Caracas), registaram-se cinco pessoas falecidas e 100 feridas. Em outras cidades reportaram-se unicamente danos estruturais.

A raiz deste sismo o então presidente da Venezuela, Raúl Leoni, dispôs a criação de duas comissões que encarregar-se-iam de avaliar os danos produzidos e, entre as conclusões das mesmas, se propôs ao Poder Executivo a criação de um instituto que se encarregasse do estudo e investigação dos sismos em Venezuela. Posteriormente, durante a primeira presidência de Rafael Caldera, criou-se (mediante o decreto N° 1053, do dia 27 de julho de 1972) a Fundação Venezuelana de Investigações Sismológicas (Funvisis). [12][13]

Mortos e danos materiais editar

O desastre deixou a mais de 301 mortos (236 mortos registados), 2.000 feridos, 80 mil pessoas sem moradia e uma perda material de 450.000.000 de bolívares (10.465.116 USD na época). Seis edifícios foram destruídos, 40 edifícios foram declarados não habitáveis, 180 edifícios sofreram deteriorações graves e um número não quantificado de moradias, de um e dois andares, resultaram avariadas, especialmente nas fachadas, paredes com reboco, frisos, varandas e cornijas.

Ver também editar

Referências editar

  1. Nava, Melvin (29 de julho de 2005). «O sismo quatricentenario de Caracas». Venelogia (em espanhol). Consultado em 29 de julho de 2018. Cópia arquivada em 18 de maio de 2015. As marcas do relógio que apontam ao oeste da torre da Catedral de Caracas se romperam e as suas agulhas se detiveram às 8:02 minutos da noite de sábado de 29 de julho de 1967, refletindo em seu tétrico tempo a paragem no violento movimento sísmico conhecido como o Sismo Cuatricentenario de Caracas, porque a cidade andava nos festejos dos seus primeiros quatro séculos de existência, elogios quatro dias antes, a 25 de julho. 
  2. Rial, J. A. (10 de novembro de 1978). «The Caracas, Venezuela, earthquake of July 1967: A multiple‐source event». Advancing Earth and Space Science (em inglês). Consultado em 29 de julho de 2018. A general study of Caribbean plate tectonics is first focused on the determination of fault parameters and source processes of the Caracas (Venezuela) earthquake of July 29, 1967 (mb = 6.5, Ms = 6.7). Synthetic seismograms which closely reproduze the observed P, SH, and Love wave seismograms were generated using generalized ray and mode theories. The results indicate a complicated faulting process, consisting of at least three separated sources aligned along a Nl0°W trending ‘in echelon’ vertical left lateral strike slip system of three faults that ruptured from north to south, at three discrete places with an extreme separation of 90 km. The process of rupture progressed southward with a mean velocity of 3 km/s. The focal depths of the individual sources varied between 8 and 27.5 km. The total dislocation was calculated as 120 cm along the direction N 10°W, and the total average moment as 4 × 1026 dyn cm. The multiple character of the event severely constrains the number of suitable source models that can bê inferred, thus facilitating the process of inversion. Tectonic implications are briefly discussed, and local geology is successfully invoked to support the source model. doi:10.1029/JB083iB11p05405
  3. a b «Assim se escutou o sismo de 1967 em Caracas». Diário El Nacional (em espanhol). 29 de julho de 2017. Consultado em 29 de julho de 2018. Cópia arquivada em 21 de julho de 2017. A Fundação Venezuelana de Investigações Sismológicas difundiu o som do sismo que mudou a história da cidade capital. A sacudida durou uns 35 segundos e afectou em grande parte a zonas como Altamira, Los Palos Grandes e o Litoral Central. Algumas réplicas de menor intensidade continuaram depois do sismo. A seu passo, o lamentável acontecimento deixou mais de 200 pessoas mortas e 2.000 resultaram feridas. Umas 80.000 pessoas ficaram sem lar, seis edifícios resultaram destruídos, 40 edifícios foram declarados não habitáveis e 180 edificações sofreram deteriorações graves. 
  4. Sistema de Teleinformación de Sismología Histórica da Venezuela. «Event record». Sismología Histórica da Venezuela. Consultado em 21 de abril de 2016. Cópia arquivada em 25 de dezembro de 2012 
  5. a b c Salguero Florez, Hernando (30 de julho de 1967). «Susto sem danos, nem vítimas em Bogotá». O Tempo. Consultado em 15 de abril de 2016 
  6. «Terramoto de Caracas 29-07-1967». Consultado em 15 de abril de 2016 
  7. «Gravação de Audio feita no sismo de Caracas de 1967». 1 de fevereiro de 2007. Consultado em 16 de abril de 2016 
  8. a b c Valeria Pedicin; Johann Starchevich (30 de agosto de 2017). «Outro forte sismo como o de 1967 ameaça a Caracas». O Estímulo (em espanhol). Consultado em 29 de julho de 2018. Cópia arquivada em 7 de outubro de 2017. Na noite do sábado de 29 de julho de 1967 o técnico de som Alejandro López; o organista Tulio Henrique León e o compositor Germán Narváez, encontravam-se num estúdio de som em Antímano, gravando uma pista para uma canção de Natal. Luis Herrera, então chefe da fracção parlamentar de Copei no Congresso, e a sua esposa, Betty, preparavam-se para chegar a uma recepção no edifício Mijagual de Altamira. (...) López, Henrique León e Narváez saíram em pânico dos estúdios Sonomatix enquanto as equipas de gravação registavam o áudio do momento exacto dos sons do sismo. Os Herrera –futuro casal presidencial- ficaram aterrorizados em seu lar, e mais ainda, quando souberam que todos os assistentes à recepção no “Mijagual” faleceram, após que o edifício de dez andares ficasse reduzido a escombros. 
  9. «O Milagre da Cruz Sismo de Caracas 45 rpm». 28 de julho de 2017. Consultado em 2 de agosto de 2017 
  10. Arancibia, Enrique (13 de agosto de 1967). «Um sismo de 45 segundos em video-tampe». Caracas. Bohemia (228): 84 ao 86 
  11. «Sismo Cuatrocentenario de Caracas». Sismicidad Universidade de los andes (em espanhol). Consultado em 29 de julho de 2018. Cópia arquivada em 25 de dezembro de 2012. Os que vivemos este trágico acontecimento nunca poderemos esquecer a destruição total de quatro dos edifícios das zonas mencionadas: o Neverí e Palace Corvin em Altamira e Mijagual e San José nos Palos Grandes, derrubaram-se entre nuvens de pó e ante os olhos de muitas pessoas, como castelos de naipes. Assim mesmo, ficaram gravemente afectados o Blue Palace, Royal Coral e Roxul. 
  12. «Reseña Histórica». Funvisis. Consultado em 21 de abril de 2016. Cópia arquivada em 24 de maio de 2016 
  13. «Cumprem-se 49 anos do Sismo de Caracas (Fotos+Videos)». Informe 21 (em espanhol). 29 de julho de 2016. Consultado em 29 de julho de 2018. Cópia arquivada em 29 de julho de 2018. Desta forma e acolhendo às propostas das comissões ad-honorem designadas segundo o Decreto N° 797 da 24 de novembro de 1971, estabelece-se a Fundação Venezuelana de Investigações Sismológicas (Funvisis) mediante o decreto N° 1053, publicado na Gaceta Oficial N° 29864 de data de 27 de julho de 1972. 

Ligações externas editar