Socialismo do século XXI

conceito político

Socialismo do século XXI é um conceito político e um slogan cunhado pelo sociólogo alemão Heinz Dieterich, em 1996. Foi usado por Hugo Chávez durante um discurso no Fórum Social Mundial de 2005 e tem sido divulgado por Dieterich activamente em todo o mundo desde 2000, especialmente pela América Latina.[1]

Fernando Lugo (Presidente do Paraguai), Evo Morales (Presidente da Bolívia), Lula da Silva (Presidente do Brasil), Rafael Correa (Presidente do Equador) e Hugo Chávez (Presidente da Venezuela) em 29 de janeiro de 2009

Heinz Dieterich é considerado o conselheiro (informal) do processo de desenvolvimento bolivariano, executada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez. Segundo Dieterich, nem o capitalismo industrial e nem o socialismo real conseguiu "resolver os problemas urgentes da humanidade, como pobreza, fome, exploração, opressão econômica, o sexismo, o racismo, a destruição dos recursos naturais, e a ausência de uma real democracia participativa".[2]

Para corrigir estas falhas, Dieterich sugere a construção de quatro instituições básicas dentro da nova realidade da civilização pós-capitalista, a saber:[2]

  1. Equivalência económica, que deverá ser baseado na teoria marxista do valor-trabalho e é determinada democraticamente por aqueles que criam diretamente valores, em vez de os princípios da economia de mercado;
  2. A democracia da maioria, que faz uso de plebiscitos para decidir sobre questões importantes que afetam a sociedade como um todo;
  3. Democracia de base, com base nas instituições democráticas como representantes legítimos dos interesses comuns da maioria dos cidadãos, com uma protecção adequada dos direitos das minorias;
  4. O assunto de forma crítica e responsável, aos cidadãos de forma racional, ética e esteticamente autodeterminada.

Depois da guinada à esquerda, a qual levou Chávez e vários políticos de esquerda à presidência, veio a onda conservadora e também novo avanço de políticos à esquerda nas disputas eleitorais das presidências dos países. Porém, segundo o próprio Dietrich, essas ascensões recentes não podem ser classificada como "socialismo do século XXI".[3]

Pós-neoliberalismo editar

O pós-neoliberalismo, também conhecido como antineoliberalismo, é um conjunto de ideais caracterizadas pela rejeição do neoliberalismo e das políticas econômicas do Consenso de Washington.[4][5][6] Embora haja um debate acadêmico sobre os aspetos definidores do pós-neoliberalismo, este é frequentemente associado ao "progressismo fiscal" como uma resposta aos excessos ou fracassos do neoliberalismo, envolvendo nacionalização e redistribuição da riqueza, ou mesmo protecionismo e sindicalismo.

O movimento teve uma influência particular na América Latina, onde a maré rosa levou ao reestabelecimento de governos de esquerda na década de 2000.[7] Exemplos de governos pós-neoliberais incluem os antigos governos de Evo Morales na Bolívia e Rafael Correa no Equador.[8]

História editar

A ideia do pós-neoliberalismo surgiu durante a maré rosa das décadas de 1990 e 2000, quando críticos latino-americanos de esquerda do neoliberalismo, como Hugo Chávez e Evo Morales, foram levados ao poder. Segundo os investigadores, a eleição de Chávez como presidente da Venezuela em 1999 marcou o início definitivo da maré rosa e do movimento pós-neoliberal.[9] Após a sua eleição, Rafael Correa, Néstor Kirchner, Evo Morales e vários outros líderes associados ao movimento pós-neoliberal foram eleitos na América Latina durante as décadas de 2000 e 2010.[6] Na década de 2020, o presidente eleito chileno Gabriel Boric, que saiu vitorioso nas eleições gerais chilenas de 2021, prometeu acabar com o modelo econômico neoliberal do país, afirmando: “Se o Chile foi o berço do neoliberalismo, será também o seu túmulo”.[10]

Embora as ideias do pós-neoliberalismo não sejam exclusivas da América Latina, estão amplamente associadas à região.[11]

Ideologia editar

O pós-neoliberalismo procura mudar fundamentalmente o papel do Estado nos países onde o Consenso de Washington outrora prevaleceu.[12] Para conseguir isto, os líderes pós-neoliberais na América Latina têm defendido a nacionalização de diversas indústrias, nomeadamente as indústrias do gás, da mineração e do petróleo.[6] O pós-neoliberalismo também defende a expansão dos benefícios sociais, um maior investimento governamental na redução da pobreza e uma maior intervenção estatal na economia.[13]

Críticas editar

De acordo com as definições tradicionais, a palavra "socialismo" remete a um sistema econômico onde há propriedade coletiva dos meios de produção para satisfazer as necessidades humanas de bem estar social,[14] características que estão extremamente distantes da realidade Venezuelana, cuja economia encontra-se majoritariamente nas mãos da iniciativa privada[carece de fontes?]. Tim Worstall, analista da revista americana Forbes, afirma que a economia da Venezuela não possui de fato um sistema socialista, mas sim uma política econômica que se opõe à atuação dos mercados.[15]

A despeito disso, existem outras críticas ao chamado "socialismo do século XXI" vinda de setores da direita política, que afirmam que este modelo de governo defende ideias "ultrapassadas" e "fora de moda".[16] José María Aznar afirma que o "socialismo do século XXI" assume características autoritárias e totalitárias.[17] O Arcebispo de Mérida, dom Baltazar Porras, disse que o socialismo do século XXI é ideologicamente indefinido, que visa "distrair a atenção" e que "parece mais um supermercado" e/ou tecnicamente seria a volta ao Escambo, segundo seu pronunciamento. Para o arcebispo, outras características do "socialismo do século XXI" são o autoritarismo, o populismo e o militarismo.[18]

Há também aqueles que pensam que o "socialismo do século XXI" trata-se de um mero slogan, como também existem aqueles que afirmam que tais políticas pretendem criar o que chamam de economia equivalente, onde o cidadão não obtém nenhuma receita com base no seu conhecimento ou preparo, mas no tempo necessário para concretizar um produto ou serviço e, neste contexto, os cidadãos perdem o poder de decidir o quão valioso o seu trabalho é.[19]

Ver também editar

Referências

  1. Cristina Marcano (3 de janeiro de 2007). «Entrevista a Heinz Dieterich» (em espanhol). Kaosenlared.net. Consultado em 27 de maio de 2011 
  2. a b Heinz Dieterich. Der Sozialismus des 21. Jahrhunderts – Wirtschaft, Gesellschaft und Demokratie nach dem globalen Kapitalismus. [S.l.: s.n.] 
  3. «As diferenças entre avanço da esquerda na América Latina e 'onda rosa' de duas décadas». BBC News. 4 de julho de 2022. Consultado em 16 de Julho de 2022 
  4. Davies, William; Gane, Nicholas (2021). «Post-Neoliberalism? An Introduction». Theory, Culture & Society (em inglês). 38 (6): 3–28. doi:10.1177/02632764211036722  
  5. Öniş, Ziya; Şenses, Fikret (novembro de 2003). «Rethinking the Emerging Post-Washington Consensus: A Critical Appraisal» (PDF). Middle Eastern Technical University. Economic Research Center. ERC Working Papers in Economics (em inglês). 3 (9). Consultado em 14 de junho de 2022 
  6. a b c Macdonald, Laura; Proulx, Kristina R.; Ruckert, Arne (2017). «Post-Neoliberalism in Latin America: A Conceptual Review». Third World Quarterly (em inglês). 38 (7): 1583–1602. doi:10.1080/01436597.2016.1259558 
  7. Encarnación, Omar G. (9 de maio de 2018). «The Rise and Fall of the Latin American Left». The Nation (em inglês). Consultado em 14 de junho de 2022 
  8. Merino, Roger (4 de outubro de 2011). «What is 'Post' in Post-Neoliberal Economic Policy? Extractive Industry Dependence and Indigenous Land Rights in Bolivia and Ecuador». University of Bath - Department of Social & Policy Sciences (em inglês). SSRN 1938677  
  9. McLean, Ian; McMillan, Allistair (2009). The Concise Oxford Dictionary of Politics (em inglês) 3 ed. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780199207800. Consultado em 14 de junho de 2022 – via Oxford Reference 
  10. Cambero, Fabian (20 de dezembro de 2021). «Student protest leader to president-elect: Gabriel Boric caps rise of Chile's left» (em inglês). Reuters. Consultado em 28 de fevereiro de 2024 
  11. Grugel, Jean; Riggirozzi, Pia (2012). «Post-neoliberalism in Latin America: Rebuilding and Reclaiming the State after Crisis» (PDF). Blackwell Publishing/International Institute of Social Studies. Development and Change (em inglês). 43 (1): 1–21. doi:10.1111/j.1467-7660.2011.01746.x. Consultado em 14 de junho de 2022 – via ePrints Soton at the University of Southampton 
  12. Wylde, Cristopher (2012). Latin America After Neoliberalism (em inglês). [S.l.]: Palgrave Macmillan. ISBN 9780230301597. Consultado em 28 de fevereiro de 2024 
  13. Kaltwasser, Cristóbal Rovira (2011). «Toward Post-Neoliberalism in Latin America?». Latin America Research Commons on behalf of Latin American Studies Association. Latin American Research Review (em inglês). 46 (2): 225–234. ISSN 1542-4278. doi:10.1353/lar.2011.0029 
  14. SPL Statements and leftlets. «What is socialism?» (em inglês). Analítica. Consultado em 3 de março de 2016 
  15. Tim Worstall (7 de abril de 2015). «Venezuela's Not Suffering From Socialism But From Anti-Marketism» (em inglês). Forbes. Consultado em 3 de março de 2016 
  16. Aníbal Romero (25 de janeiro de 2005). «Socialismo: fracaso y mito» (em espanhol). Analítica. Consultado em 27 de maio de 2011. Arquivado do original em 19 de janeiro de 2012 
  17. «José Maria Aznar cuestiona el Socialismo del Siglo 21» (em espanhol). Diario El Universo. 13 de setembro de 2007. Consultado em 27 de março de 2011. Arquivado do original em 13 de janeiro de 2012 
  18. «Arzobispo venezolano: "Socialismo del siglo XXI" es indefinido y parece "supermercado"» (em espanhol). Aciprensa. Consultado em 27 de maio de 2011 
  19. Francisco Endara D. (29 de maio de 2009). «El peligro del socialismo del siglo XXI» (em espanhol). Asturias Liberal. Consultado em 27 de maio de 2011 

Ligações externas editar