Sons de Ling

procedimento de avaliação comportamental que avalia a habilidade de detecção auditiva de crianças e bebês

Os Sons de Ling são empregados em Audiologia para avaliação comportamental da habilidade de detecção auditiva quanto perda auditiva em bebês, a efetividade de aparelhos auditivos e do implante coclear.[1][2][3][4][5][6] O conjunto dos sons utilizados no teste foi desenvolvido por Daniel Ling, definido pela avaliação das frequências de 250 Hz até 8000 Hz utilizando os fonemas: /a/, /i/, /u/, /sh/, /s/ e /m/.[7][8][9][10][11]

Exemplo de implante coclear em uma criança
Exemplo de implante coclear em uma criança

Conceito e aplicação editar

O teste dos Sons de Ling é aceito e aplicado amplamente por audiologistas devido sua eficácia e praticidade, em linhas gerais, os sons que compõem a prova permitem a cobertura de largo espectro de fala, entre 250Hz e 8000 Hz, por meio do uso de sons de baixa, média e alta frequência.[1][10][12] A avaliação comportamental baseada nos Sons de Ling permite verificar a habilidade da criança para detectar todos os aspectos de fala, dado que os sons utilizados no teste englobam a faixa de frequência de todos os fonemas.[5][4][10] Assim, é possível avaliar quais sons a criança consegue detectar, discriminar e identificar.[5][6][12][11] As habilidades analisadas podem ser definidas como:[12][5]

  • Detecção (reconhecimento da presença ou ausência de estímulo sonoro);
  • Discriminação (percepção da diferença ou semelhança entre dois, ou entre mais sons);
  • Identificação (reprodução de um som ou identificação por meio de figuras de um som escutado).

Dessa forma, os Sons de Ling buscam avaliar se a criança consegue escutar na faixa de frequência de 1000 Hz as três vogais /a/, /u/ e /i/, em ambiente silencioso a uma distância de no máximo 4 metros.[13][5][7] Em 2000 Hz o som fricativo de /sh/ deve ser identificado, enquanto para a frequência de 4000 Hz deve ocorrer a detecção do som consonantal /s/, realizado a uma distância de no máximo 2 metros. Contudo, o teste é tipicamente aplicado em uma cabine de isolamento acústico com auxílio de um audiômetro. O fonoaudiólogo, profissional responsável pela avaliação, utiliza o sistema de som para emitir os estímulos sonoros para a pessoa que está na cabina, além de tampar a boca para que o individuo testado não faça a discriminação dos sons por meio de leitura labial.[5][7]

Entende-se que para ocorrer a detecção dos fonemas, é necessário que haja integridade das células ciliadas externas, responsáveis por detectar e amplificar sons de baixa intensidade, assim, perdas auditivas podem ser percebidas por meio desse tipo de teste. Fonemas fricativos, como, por exemplo, o som do fonema /s/ possuem intensidade de emissão por volta de 22dB, e com a perda de células ciliadas na frequência de emissão pode ser percebida quando não há reconhecimento ou algum erro na fala em fonemas fricativos como /f/, /v/, /s/ ou /z/, por exemplo[14]

 
Tabela relacionando os fonemas utilizados no teste de Sons de Ling e suas frequências específicas, além disso, sua intensidade de emissão[15].

Tendo em vista a prática clínica, a percepção auditiva para fonemas específicos é bastante utilizada para a pesquisa do comportamento auditivo, tanto com o intuito de compreender informações diagnósticas, quanto para obter informações de rotina de pacientes (crianças e adultos) usuários de Aparelho auditivo e Implante Coclear[16][17].

Dentre os benefícios de utilização dos Sons do Ling, pode-se citar[17]:

  1. Esses sons englobam a faixa de frequências correspondente à fala, com o uso de apenas seis estímulos distintos, fornecendo informações de forma ampla sobre a variação de resposta frente às frequências.
  2. É um teste rápido e de fácil aplicação.
  3. Os Sons do Ling são símbolos naturais da fala, e seu uso na avaliação permite analisar se métodos de processamento do sinal da fala, como, por exemplo, o aparelho auditivo, estão funcionando de forma adequada.

As respostas comportamentais esperadas são as mesmas ao realizar o uso de instrumentos musicais.[5][13] Além disso, cabe a atenção para o fato que em relação aos estímulos de fala para criança, a voz da mãe ou do pai podem desencadear melhores respostas.[13][5]

Referências

  1. a b Li, Aijun; Zhang, Hua; Sun, Wen (20 de agosto de 2017). «The Frequency Range of "The Ling Six Sounds" in Standard Chinese». ISCA: ISCA. doi:10.21437/interspeech.2017-329. Consultado em 23 de maio de 2023 
  2. «Cochlear implantation in autistic children with profound sensorineural hearing loss». Brazilian Journal of Otorhinolaryngology (em inglês) (1): 15–19. 1 de janeiro de 2018. ISSN 1808-8694. doi:10.1016/j.bjorl.2016.10.012. Consultado em 19 de junho de 2021 
  3. Rissatto, Mara Renata; Novaes, Beatriz Cavalcanti de Albuquerque Caiuby (junho de 2009). «Próteses auditivas em crianças: importância dos processos de verificação e validação». Pró-Fono Revista de Atualização Científica (2): 131–136. ISSN 0104-5687. doi:10.1590/s0104-56872009000200008. Consultado em 19 de junho de 2021 
  4. a b Agung, Katrina B.; Purdy, Suzanne C.; Kitamura, Christine (1 de maio de 2005). «The Ling Sound Test Revisited». Australian and New Zealand Journal of Audiology (1): 33–41. doi:10.1375/audi.2005.27.1.33. Consultado em 19 de junho de 2021 
  5. a b c d e f g h AB, Suporte educacional (2021). «Ferramentas para a escola | Advanced Bionics». advancedbionics.com. Advanced Bionics. Consultado em 19 de junho de 2021 
  6. a b «Rehab At Home: What Is The Ling Six Sound Test?». The MED-EL Blog (em inglês). 21 de novembro de 2018. Consultado em 19 de junho de 2021 
  7. a b c Santos, Maria Jaquelini Dias dos (8 de novembro de 2016). «Avaliação audiológica infantil: a utilização da audiometria com reforço visual com estímulos de fala». Bauru. doi:10.11606/t.25.2016.tde-07112016-112359. Consultado em 19 de junho de 2021 
  8. Ling, D. (1976). Speech and the hearing-impaired child: Theory and practice. Washington, DC: Alexander Graham Bell Association for the Deaf.
  9. Ling, D. (2002). The Ling six-sound test. Proceedings of the 2002 Alexander Graham Bell Convention, St Louis, MO.
  10. a b c McDonnell, S.. “The Ling Sound Test: What Is Its Relevance in the New Zealand Classroom?.” (2014).
  11. a b «Services aux élèves - Guide des ressources destinées aux enseignants - Soutien aux élèves sourds ou malentendants | Éducation Manitoba». www.edu.gov.mb.ca (em francês). Consultado em 26 de julho de 2021 
  12. a b c Smiley, Donna F. (2004). «Using the Ling 6-sound test everyday». Audiology Online. Consultado em 18 de junho de 2021 
  13. a b c Foundations of Spoken Language for Hearing-Impaired Children. Ling Daniel. Ear and Hearing: August 1990 - Volume 11 - Issue 4 - ppg 317.
  14. Coelho, Bruna. Telemetria de resposta neural: implicações nas habilidades auditivas e linguísticas em crianças usuárias de implante coclear/Bruna Coelho; Orientadora, Maria Madalena Canina Pinheiro - Florinópolis, SC, 2013. 73 p. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) Universidade Federalde Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde. Graduação em Fonoaudiologia. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/169690/TCCBruna.pdf?sequence=1&isAllowed=y
  15. ALVARENGA, K. F. Avaliação audiológica em bebês: 0 a 1 ano de idade. In: BEVILACQUA et al. Tratado de Audiologia. São Paulo: Ed. Santos, 2011. p.517-532.
  16. MED-EL (28 de março de 2018). «Tudo sobre o Teste de Som Ling Six». the MED-EL Blog. Consultado em 26 de abril de 2023 
  17. a b Santos, Maria Jaquelini Dias dos (2016). «Avaliação audiológica infantil: a utilização da audiometria com reforço visual com estímulos de fala» (PDF): 168–168. Consultado em 26 de abril de 2023 

Ver também editar