Sylvia Likens

adolescente norte-americana

Sylvia Marie Likens (Lebanon, 3 de janeiro de 1949Indianápolis, 26 de outubro de 1965) foi uma adolescente norte-americana torturada e assassinada por Gertrude Baniszewski, muitos dos seus filhos e diversas outras crianças da vizinhança. Seus pais eram trabalhadores carnavalescos e deixaram Sylvia e sua irmã Jenny aos cuidados da família Baniszewski três meses antes da sua morte em troca de 20 dólares por semana. Baniszewski, dois de seus filhos; Paula e John, dois jovens da vizinhança; Coy Hubbard e Richard Hobbs, foram acusados e condenados pelo crime. Sua tortura e assassinato foram descritos pelo procurador público do caso como o "mais terrível crime cometido no estado de Indiana".[1]

Sylvia Likens
Sylvia Likens
Sylvia Likens aos 16 anos em um retrato de junho de 1965
Nome completo Sylvia Marie Likens
Nascimento 3 de janeiro de 1949
Lebanon, Indiana
Morte 26 de outubro de 1965 (16 anos)
Indianápolis, Indiana
Nacionalidade Estados Unidos estadunidense

Infância editar

Sylvia Marie Likens nasceu em 3 de janeiro de 1949 no Lebanon, Indianapolis. Seus pais se chamavam Lester Cecil (1926 - 2013) e Elizabeth "Betty" Frances (nascida Grimes; 1927 - 1998). Ela era filha do meio entre dois conjuntos de gêmeos: Diana May e Daniel Kay, dois anos mais velhos e Jenny Fay e Benny Ray, que eram um ano mais novos. O casamento dos Likens era instável, e eles viviam se mudando diversas vezes. Sylvia constantemente era obrigada a ficar com parentes ou conhecidos quando seus pais estavam em turnê com o circo.[2] Em seus 16 anos de vida, Sylvia morou em nada menos que 14 endereços diferentes. Antes ela era deixada na casa da avó ou viajava com os pais quando eles não encontravam ninguém para cuidar dela e da irmã.

Em sua adolescência, Sylvia ocasionalmente trabalhava como babá, faxineira, engomando roupas ou passando recados para amigos e vizinhos, muitas vezes dando à sua mãe grande parte dos seus ganhos. Ela foi descrita como uma garota amigável, confiante e animada, com longos cabelos castanhos claros e ondulados que se estendiam abaixo dos seus ombros, e sendo apelidada de "Cookie" por seus amigos.

1965

Em 1965, Sylvia e sua irmã Jenny estavam morando com a mãe em Indianápolis, mas logo ela estaria viajando com o circo novamente. Lester Likens, que havia se separado da mulher recentemente, deixou as duas filhas com Gertrude Baniszewski, mãe de Paula, uma garota que as Likens haviam conhecido. Apesar de Gertrude e suas sete crianças serem pobres, Lester Likens, em seu depoimento, disse que não adentrou ao interior da casa para ver suas condições para receber as filhas, mas encorajou Baniszewski a "endireitar suas filhas assim como fazia com as próprias crianças".[3]

Abuso e morte editar

Baniszewski, descrita pelo jornal Indianapolis Star como uma mulher anêmica e depressiva, fruto do stress de casamentos fracassados, começou a descontar sua raiva nas meninas Likens, batendo nas duas quando o primeiro pagamento chegou atrasado.

Baniszewski aumentou os abusos contra Sylvia. Gertrude a acusou de ter roubado doces de um supermercado, doces que ela na verdade havia comprado, e humilhou a garota quando ela admitiu que teve um namorado. Ela chutou Sylvia nos genitais e a acusou de estar grávida. Paula era quem estava grávida na época, ela derrubou Likens e a chutou no chão. No julgamento foi provado, em contrapartida da defesa de Baniszewski, que era impossível que Sylvia estivesse grávida.[4]

Sylvia foi acusada de fazer fofocas no colégio sobre Stephanie e Paula, acusando-as de serem prostitutas. Este foi, supostamente, o motivo do namorado de Stephanie, Coy Hubbard, atacar Sylvia fisicamente usando golpes de judô. Baniszewski começou a encorajar Hubbard e outras crianças da vizinhança a atormentar Likens, incluindo, entre outras coisas, queimar sua pele com cigarros e a fazendo tirar a roupa e a forçando inserir uma garrafa de Coca-Cola em sua vagina.[3]

Após isso, Gertrude começou a agredir Sylvia frequentemente, até que a garota foi retirada da escola e não lhe foi mais permitido sair de casa. Quando Likens urinou em sua cama, foi trancada no porão da casa e proibida de usar o banheiro. Mais tarde, ela foi obrigada a consumir a urina e as fezes espalhadas pelo porão. Nesse período, Baniszewski começou a tatuar no dorso de Sylvia a frase "I'm a prostitute and proud of it!" com uma agulha aquecida. Como Gertrude não conseguiu terminar a frase, Richard Hobbs a finalizou.[3]

Sylvia tentou fugir poucos dias antes da sua morte, após ouvir um plano de Baniszewski em deixá-la morrer em um bosque das redondezas. Todavia, Sylvia foi pega por Gertrude, sendo como punição amarrada no porão onde comeu somente biscoitos secos. Em 26 de outubro de 1965, após múltiplas escoriações, ela morreu de Hemorragia cerebral, segundo o relatório médico.[3]

Assim que Stephanie Baniszewski e Richard Hobbs perceberam que Sylvia não estava respirando, Stephanie tentou aplicar respiração boca-a-boca até perceber que ela estava morta.[5]

Julgamento editar

Baniszewski mandou Richard Hobbs chamar a policia, que teve acesso a uma carta a qual Sylvia tinha escrito alguns dias antes, obrigada por Gertrude, a qual dizia que ela havia feito sexo com um grupo de jovens por dinheiro, e que eles a levaram de carro, bateram nela, a queimaram e tatuaram a frase no seu dorso.[3] Antes da Polícia ir embora, Jenny Likens parou um dos policiais e sussurrou: "Me tire daqui e lhe contarei tudo."[6]

 
Richard Hobbs e John Baniszewski durante o julgamento em 1966

Durante o conturbado julgamento, Baniszewski negou qualquer responsabilidade pela morte de Sylvia, alegando insanidade mental. Segundo seu depoimento, ela afirmou que estava muito doente para tomar conta de suas crianças. Os advogados dos menores envolvidos (Paula e John Baniszewski, Richard Hobbs e Coy Hubbard) afirmaram que eles foram pressionados por Gertrude para cometer as torturas. Quando Marie Baniszewski, a filha de onze anos de Gertrude, foi convocada como testemunha de defesa, ela mudou o discurso e admitiu que havia sido forçada pela mãe para aquecer o alfinete com o qual Hobbs tatuou na pele de Sylvia Likens e que havia visto a mãe agredir Sylvia no porão.

Em 19 de maio de 1966, Gertrude Baniszewski foi condenada pela prática de assassinato em primeiro grau, porém foi poupada da pena de morte, e condenada à prisão perpétua. Sua filha Paula, que deu à luz uma menina durante o julgamento, a qual deu o nome de Gertrude em homenagem à sua mãe, foi condenada por assassinato em segundo grau e também foi condenada a prisão perpétua. Richard Hobbs, Coy Hubbard e John Baniszewski foram enviados para um centro juvenil, onde ficaram dois anos detidos.

Em 1971, Paula e Gertrude Baniszewski foram julgadas novamente. Paula confessou sua culpa e foi solta dois anos depois.[3] Gertrude Baniszewski, todavia, foi novamente condenada por assassinato em primeiro grau. Ela conseguiu condicional em 1985, apesar da indignação pública e de pedidos contra sua libertação.

Morte editar

Gertrude Baniszewski mudou seu nome para Nadine van Fossan e se mudou para Iowa, onde morreu de câncer no pulmão em 16 de junho de 1990.

 
Jenny Likens durante o julgamento da condicional de Gertrude em 1985

Conta-se que Jenny Likens, que estava casada e morando em Beech Grove, Indiana, viu o obituário de Gertrude no jornal e escreveu para sua mãe uma carta: "Boas notícias: a maldita Gertrude morreu. Ha ha ha! Estou feliz com isso".[7] Jenny Likens morreu de infarto do miocárdio em 23 de junho de 2004, com 54 anos. A casa no endereço 3850 East New York Street onde Sylvia foi torturada, ficou abandonada nos 44 anos desde o crime até que foi finalmente demolida em 23 de abril de 2009.[8]

Destino editar

Richard Hobbs morreu de câncer de pulmão com 21 anos, quatro anos depois de deixar o reformatório.[9]

Após o massacre na Westside Middle School, John Baniszewski, chamando a si próprio de John Blake, fez uma declaração dizendo que jovens criminosos não são irrecuperáveis, descrevendo como ele conseguiu superar seu passado de crimes.[10] Ele morreu em um hospital de Lancaster, Pensilvânia, em decorrencia de complicações de diabetes, em 19 de maio de 2005. Estava com 52 anos, sendo casado e pai de três filhos.[11]

Coy Hubbard, o namorado de Stephanie Baniszewski que usou golpes de judo contra Sylvia, passou a vida saindo e entrando na cadeia, tendo sido acusado tempos depois de assassinar dois homens. Ele morreu com 56 anos de ataque do coração em 23 de junho de 2007 em Shelbyville, Indiana. Ele tinha uma esposa, cinco filhos, dezessete netos e um bisneto.[12]

Paula Baniszewski, que foi presa junto da mãe com dezessete anos, foi condenada à vinte anos de prisão. Enquanto presa, deu à luz uma menina (inicialmente chamada Gertrude) que mais tarde foi adotada. Ela realizou uma tentativa fracassada de fuga da prisão em 1971.[13] Em 1972 recebeu condicional e assumiu uma nova identidade. Ela acabou casando e tendo dois filhos; últimos indícios afirmam que ela vivia em uma fazenda em Iowa[14], com relatos recentes afirmando que estava morando na cidade de Marshalltown, ainda em Iowa.[15]

No ano de 2012.[16], uma assistente escolar no estado de Iowa foi suspensa da escola de nível médio do distrito. Segundo consta, ela trabalhava no local como professora substituta desde 1996[15][16]. Após uma denúncia anônima, que começou com um rumor postado no Facebook, foi denunciado para a polícia que a mulher chamada de Paula Pace era na verdade Paula Baniszewski[16], e que queriam que as pessoas soubessem de seu passado criminoso[15]. A administração não informou o motivo da suspensão de Pace, mas reuniões foram agendadas para discutir o caso[16]. Após uma investigação, Pace foi demitida pela prefeitura de Conrad[15]. Segundo o representante da prefeitura, ela teria dado informações falsas durante o processo de contratação, e se recusou a dar mais explicações[15]

As acusações de participação de Stephanie Baniszewski, segunda mais velha, na morte de Sylvia foram retiradas depois que ela colaborou com a justiça. Ela virou professora e teve vários filhos.[17]

As acusações de participação no crime de Anna Ruth Siscoe, Judy Darlene Duke, Michael John (Mike) Monroe, e Randy Gordon Lepper foram retiradas. Randy Lepper morreu em 14 de novembro de 2010 em Indianapolis com 56 anos.[18]

Em 10 de maio de 2015, a irmã de Sylvia, Diana, agora usando o nome Dianna Bedwell e seu marido Cecil Knutson foram declarados desaparecidos por seu filho, Robert Acosta. Dianna e Cecil foram vistos jogando em um dos casinos em Valley View, na California. Ambos foram gravados pelas câmeras de segurança deixando o local por volta das duas da manhã por carro, não aparecendo na casa do filho em La Quinta. Acosta contactou a polícia e apareceu na mídia pedindo informações sobre o paradeiro de seus pais.[19] Quinze dias depois, em 25 de maio, o casal foi encontrado em uma parte remota da Califórnia. Cecil havia morrido, e Dianna estava severamente desidratada após sobreviver apenas de água de chuva e algumas sobras de comida. Dianna foi levada de helicóptero para o hospital, tendo relatado aos investigadores que ela e o marido estavam buscando um atalho quando se perderam e atolaram o carro.[20]

Publicações editar

  • A feminista Kate Millett escreveu um livro relacionado ao incidente, O Porão: Meditações sobre o Sacrifício Humano. Millett disse durante uma entrevista que o assassinato de Sylvia Likens "é a história da opressão às mulheres. Gertrude parecia querer administrar alguma justiça terrível e verdadeira a essa menina: que era isso que era ser uma mulher."[21]
  • O autor Natty Bumppo escreveu sobre o assassinato, The Indiana Torture Slaying.[21]
  • O livro The Girl Next Door (2007), de Jack Ketchum, é uma história ficcional ambientada nos anos 1950 levemente baseada nesse caso, e foi adaptado para o cinema, com Blythe Auffarth no papel principal.[21]
  • By Sanction of the Victim, de Patte Wheat, é uma história ficcional baseada nesse crime, ambientado nos anos 1970.[carece de fontes?]
  • Uma peça chamada Hey, Rube, escrita por Janet McReynolds, foi produzida mas jamais publicada.[22]
  • O filme An American Crime estrelando Catherine Keener como Baniszewski, Elliot Page como Likens, e Jeremy Sumpter como Coy Hubbard estreou no Sundance Film Festival em 2007.[21]
  • O livro Let's Go Play at the Adams foi baseado no caso.

Ver também editar

Referências

  1. "Avenging Sylvia." Time Magazine. 27 May 1966.
  2. The Torturing Death of Sylvia Marie Likens: Foster Care. Crime Library.com.
  3. a b c d e f "The murder of Sylvia Likens." Arquivado em 7 de agosto de 2001, no Wayback Machine. Indianapolis Star, Library Factfiles.
  4. The Torturing Death of Sylvia Marie Likens: A Dubious Start. Crime Library.com
  5. http://www.trutv.com/library/crime/notorious_murders/young/likens/13.html
  6. The Torturing Death of Sylvia Marie Likens: The Letter Before End. Crime Library.com.
  7. «The Indianapolis Star». Suitcase Of Sorrow By LINDA GRAHAM CALECA(4-3-99). Consultado em 8 de junho de 2009. Arquivado do original em 20 de maio de 2012 
  8. «WIBC». House where 1965 murder occurred is torn down. Consultado em 29 de junho de 2009. Arquivado do original em 20 de maio de 2012 
  9. [1]
  10. The Torturing Death of Sylvia Marie Likens: In Memoriam; Crime Library.com
  11. [2]
  12. [3]
  13. [4]
  14. [5]
  15. a b c d e David Pitt (2012). «Paula Pace, Iowa Teacher's Aide, Fired After Discovery Of Connection To 1965 Baniszewski Torture, Killing» (em inglês). Huffington Post 
  16. a b c d Lydia Warren. «Teacher's aide suspended after school officials learn she was part of a family who tortured and killed a teenage girl in 1965» (em inglês). Mail Online  Texto " DailyMail on Facebook" ignorado (ajuda)
  17. [6]
  18. [7]
  19. Sylvia Likens' older sister vanishes in California
  20. «Elderly missing couple found in California, husband dead». globalnews.ca. Consultado em 25 de maio de 2015 
  21. a b c d Broeske, Pat H. "A Midwest Nightmare, Too Depraved to Ignore." New York Times. 14 January 2007.
  22. Regensberg, Pam (8 de março de 1997). «Santa actor being investigated in Ramsey case». Longmont, Colorado Times-Call. Consultado em 25 de agosto de 2008