TUD Ganz-MÁVAG (RFFSA)

Trem unidade diesel operado pela RFFSA entre 1974 e 1987

Os Trens Ganz-Mavag foram encomendados pela RFFSA entre 1970 e 1973 e foram distribuidos para os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo.[1] Ao todo foram adquiridos 12 unidades, e foram inseridas no serviço em 1974.[1]


TUD Ganz-MÁVAG
TUD Ganz-MÁVAG (RFFSA)
Primeira viagem de testes do Trem Unidade Diesel Ganz-MÁVAG, 1974.
Descrição
Propulsão Diesel-hidráulica
Fabricante Ganz-MÁVAG
Número de série 200-211
Modelo Classe Única
Ano de fabricação 1972-1973
Locomotivas fabricadas 12
Tipo de serviço Passageiros
Características
Bitola 1,00mm

1,60mm

Tipo de truques Ganz Mavag DES 602 35325
Comprimento 76.000mm
Peso aderente 32.500kg
Tipo de combustível oléo diesel
Capacidade de combustível 2200 litros
Fabricante do motor Ganz-MÁVAG
Limite de RPM 1250 RPM
Tipo de motor 12 VFE 17/24
Gerador SZX 280N 4
Número de cilindros 12
Tamanho dos cilindros 170mm
Tipo de transmissão Hídro-mecãnica
Modelo da Transmissão H 37/B
Performance
Velocidade máxima 140km
Velocidade mínima 70km
Esforço de tração 8967kg
Freios da locomotiva A disco
Sistema de freio WF 3-1-V
Operação
Ferrovias Originais RFFSA
Apelidos Trem Húngaro

Avião sobre trilhos

Data de entrega 1973
Ano da entrada em serviço 1974
Ano da saída do serviço 1987 (SP)

2018 (PI)

Ano de aposentadoria 1987 (SP)

2018 (PI)

História editar

Aquisição editar

 
A Ganz atuava na América do Sul desde a Década de 1930.

Durante o processo de aquisição, a Rede Ferroviária Federal estudou ofertas de vários fabricantes, tendo concentrado maior atenção nos do Leste Europeu por uma questão de menor preço. Na década de 1960 o governo brasileiro incentivou a troca de commodities como café e soja por máquinas fabricadas no Leste Europeu. Em São Paulo, naquela época, o governo estadual adquiriu 83 locomotivas fabricadas na Alemanha Oriental para aproveitar um saldo comercial na exportação de café e soja para aquele país.[2][3] A indústria húngara Ganz-MAVÁG possuía experiência na construção de trens diesel, incluindo um fornecimento de trens para a Argentina nos anos 1930, e a Rede Ferroviária Federal passou a negociar a aquisição de trens com essa empresa em meados de 1971, tendo assinado um contrato de aquisição.[4] Apesar das especulações sobre a troca de café e soja pelos trens, a estatal brasileira pagou cerca de 8 milhões de dólares pelas composições por meio de financiamento.[5]

Em janeiro de 1972 foi anunciada publicamente a aquisição de 12 trens de 4 carros na Hungria.[6] A intenção da Rede Ferroviária Federal era empregar os novos trens nas rotas Rio São Paulo e Porto Alegre-Uruguaiana, esta última com uma intenção de se alcançar futuramente Buenos Aires.[7][8]

Projeto e fabricação editar

Para acelerar o desenvolvimento do novo trem, a Ganz-MAVÁG aproveitou o projeto do trem-unidade diesel fornecido em 1965 para a Ferrovia Nacional do Egito e adicionou pequenas alterações. A principal característica anunciada do novo trem era a capacidade de atingir 140 quilômetros por hora. A encomenda da Rede Ferroviária Federal era composta pelos seguintes carros:[9]

  • A – 12 carros - Motor - Cabine
  • B – 12 carros - Reboque Buffet
  • C – 12 carros - Reboque - Cabine

Os trens foram construídos em Budapeste entre 1972 e 1973, sendo embarcados para o Brasil em outubro de 1973 no navio “Lóide Nova Iorque”. Os dois primeiros trens chegaram ao Rio de Janeiro em 29 de outubro de 1973.[10]

Operação editar

 
Anúncio publicitário sobre a introdução do Trem Húngaro na rota Santos- São Paulo, 1977.

Já batizados como "Trens Húngaros", os mesmos fizeram sua viagem inaugural em 1974, entre as estações de D.Pedro II e Japeri, com a presença de autoridades governamentais e da RFFSA, entre ambos estava o ministro dos transportes Mario Andreazza.[1] Os carros-restaurante foram equipados com fornos micro-ondas da marca Phillips, sendo uma das primeiras aplicações desse equipamento no Brasil.[11]

Em março os trens passaram a correr diariamente, saindo as 17:30 e meia e chegando as 23:37, no Rio e São Paulo.

Inicialmente era previsto que com a chegada das unidades, iriam ser substituidos as velhas automotrizes Budd, porém acabou não ocorrendo essa substituição, de modo que, em 1975, as opções de ramal em São Paulo eram estas:

  • 8h10 — Automotriz Budd
  • 11h30 — Santa Cruz diurno, conhecido como DP-1, com um par de FA-1
  • 17h30 — "Trem Húngaro"
  • 23h10 — Santa Cruz, com SD-38[1]

Os "Trens Húngaros" começaram a operar na linha Jundiaí a Santos em 1977, devido a problemas em sua linha original devido a constantes subidas que tinham no trecho, e os carros foram desenvolvidos para operarem em trechos planos.[12]

Retirada de Serviço (São Paulo) editar

Em meados de 1980 a RFFSA decide suspender as viagens do "Trem-Húngaro" por falta de peças, e os poucos carros ainda operacionais foram transferidos para a Baixada Santista, onde foram aproveitadas pela Companhia Siderúgica Paulista, para transporte dos funcionarios entre a usina e Santos. Em São Paulo, foram retirados de serviço em 1987.[1]

Metrô de Teresina editar

O governo do Piauí resolveu por um serviço de transportes leves sobre trilhos (VLT), que no início seriam fornecidos as unidades pela Materfer da Argentina. Devido a falta de recursos financeiros, os carros restantes do "Trem Húngaro", que estavam parados em Porto Alegre, foram reformados pela empresa cearense Embrametra e transferidos para o Metrô de Teresina em 1991.[13] Ambos devem ser substituidos com a chegada de novos trens.

Referências

  1. a b c d e «Trem Húngaro - A expectativa de um trem rápido - "Avião sobre trilhos"». vfco.brazilia.jor.br. Consultado em 28 de dezembro de 2023 
  2. «Chegam em dezembro as locomotivas alemãs». Jornal do Commércio (RJ), ano 140, edição 282, página 7. 2 de setembro de 1967. Consultado em 14 de janeiro de 2023 
  3. «Ademar diz que não crê na prorrogação do mandato de Castelo após falar com ele». Jornal do Brasil, ano LXXV, edição 153, página 14. 3 de julho de 1965. Consultado em 14 de janeiro de 2023 
  4. Revista Refesa (dezembro de 1971). «Trens velozes com todo o conforto». Centro Oeste. Consultado em 14 de janeiro de 2023 
  5. Rede Ferroviária Federal S/A (19 de abril de 1972). «Relatório Anual 1971». Correio da Manhã, ano LXXI, edição 24238, página 11. Consultado em 14 de janeiro de 2023 
  6. «RFF compra novos trens na Hungria». Jornal do Brasil, ano, edição 253A, página 23. 30 de janeiro de 1972. Consultado em 14 de janeiro de 2023 
  7. Notas diversas (21 de junho de 1973). «Trens Húngaros». Correio da Manhã, ano LXXIII, edição 24596, página 5. Consultado em 14 de janeiro de 2023 
  8. «Vida de cão. Morte de que?». Jornal do Commércio (RJ), ano 148, edição 28, página 9. 2 de novembro de 1973. Consultado em 14 de janeiro de 2023 
  9. José Emílio Buzelin (1 de março de 1994). «Formação dos Trens Húngaros». Centro Oeste. Consultado em 14 de janeiro de 2023 
  10. Resumo (30 de outubro de 1973). «Trens Húngaros». Jornal do Commércio (RJ), ano 148, edição 25, página 2. Consultado em 14 de janeiro de 2023 
  11. Irênio de Faro (8 de outubro de 1974). «Forno de microondas para trens». Jornal do Commércio (RJ), ano 148, edição 7, Caderno JC 2, página 1. Consultado em 4 de janeiro de 2023 
  12. «Trem Húngaro - A expectativa de um trem rápido - "Avião sobre trilhos"». vfco.brazilia.jor.br. Consultado em 13 de janeiro de 2024 
  13. «Trem Húngaro - A expectativa de um trem rápido - "Avião sobre trilhos"». vfco.brazilia.jor.br. Consultado em 13 de janeiro de 2024