Tonga 0–22 Austrália (2001)

As seleções nacionais de futebol de Tonga e da Austrália se enfrentaram no dia 9 de abril de 2001, em uma partida válida pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2002. Disputado no International Sports Stadium, localizado na cidade de Coffs Harbour (com mando dos tonganeses), o jogo terminou em 22 a 0 para os Socceroos, com John Aloisi fazendo 6 gols. Este confronto bateu 2 recordes: a maior goleada de uma seleção até então, superando a vitória por 20 a 0 do Kuwait sobre o Butão pelas eliminatórias da Copa da Ásia de 2000[1][2][3][nota 1] e também o de maior placar na história das eliminatórias da Copa do Mundo (Irã 19–0 Guam, 5 meses antes). O recorde, no entanto, só durou 2 dias, quando a mesma Seleção Australiana fez 31 a 0 sobre a Samoa Americana, também em Coffs Harbour.[4]

Tonga x Austrália
Evento Eliminatórias da Oceania para a Copa do Mundo de 2002
Data 9 de abril de 2001
Local International Sports Stadium, Coffs Harbour, Austrália
Árbitro Harry Atisson (Vanuatu)
Público 1.000

Além de Aloisi, Damian Mori e Kevin Muscat foram os jogadores com mais de 3 gols na partida.

Cenário editar

A primeira tentativa da Oceania de classificar as suas seleções para a Copa do Mundo FIFA aconteceu no ano de 1966, quando a Austrália acabou sendo derrotada pela Coreia do Norte por 9-2 no placar agregado.[5] Nas eliminatórias subsequentes, as equipes do continente disputaram a vaga juntamente com as da Ásia, até que uma fase de classificação para a Confederação de Futebol da Oceania foi introduzida em 1986.[6] Já nas eliminatórias da Oceania para a Copa do Mundo de 2002, dez equipes participaram do torneio de eliminatórias.[7] Elas foram divididas em duas chaves com cinco seleções cada, sendo que todas se enfrentavam, e os dois líderes de cada grupo disputavam uma final no formato de ida e volta. O vencedor das eliminatórias da Oceania então avançou para um mata-mata na fase internacional contra o quinto melhor colocado da América do Sul para então finalmente entrar na fase de grupos da Copa do Mundo.[7] As seleções da Austrália e de Tonga estavam localizadas no Grupo 1, juntamente com Fiji, Samoa e Samoa Americana. Todas as partidas foram disputadas na cidade de Coffs Harbour, na Austrália, em abril de 2001.[7] Para o técnico australiano Frank Farina, a qualidade do campo foi decisiva para a escolha do estádio.[8]

A Austrália, juntamente com a Nova Zelândia, eram as seleções da área da Oceania mais fortes em termos técnicos e em questão de títulos. Ambas as equipes foram as únicas a vencerem a Copa das Nações da OFC e a se classificarem para a fase de grupos da Copa do Mundo; até esta data, a Austrália havia conseguido a classificação em 1974 e a Nova Zelândia em 1982.[9] Tonga, que filiou-se à FIFA apenas em 1994, possuía um time formado por jogadores que atuavam somente no campeonato nacional, ao contrário dos australianos, embora tivesse vencido o grupo da Polinésia nas elimintorias da Copa de 1998. Antes desta partida, a Austrália estava colocada na 75ª posição no Ranking Mundial da FIFA, enquanto os tonganeses ocupavam o 185º lugar. Antes da partida contra a Austrália, Tonga havia vencido a seleção de Samoa por 1-0.

Resumo da partida editar

 
O zagueiro Craig Moore, um dos 8 jogadores que atuavam na Europa a disputar o jogo.

Em janeiro de 2001, Frank Farina sugeriu que sua seleção jogaria com o elenco dividido com jogadores que atuavam na Europa e também em times locais.[10] Como as eliminatórias ocorriam no meio da temporada europeia, vários times apelaram à FIFA para que a Austrália não usasse os jogadores que atuavam no "Velho Continente", e o então presidente da Federação Australiana de Futebol, Tony Labbozzetta, concordou inicialmente com as exigências da FIFA. Farina, então, convocou 20 jogadores para a partida contra Tonga - 12 que jogavam em clubes australianos e 8 que atuavam na Europa.[11][12] Porém, vários treinadores reclamavam da ausência de seus comandados - Gordon Strachan, então treinador do Coventry City (Inglaterra), apelou para que John Aloisi fosse liberado ou até excluído da convocação para repor a vaga do marroquino Mustapha Hadji, que estava suspenso.[13]

Entre os jogadores que defendiam equipes do próprio país, a participação do meia Con Boutsianis era a principal dúvida antes do jogo, uma vez que ele enfrentava um julgamento por sua participação em um assalto em 1998. O Tribunal da Corte do estado de Victoria condenou o jogador por roubo e também o multou em 20 mil dólares australianos, mas foi liberado para atuar.[14]

Antes do jogo, o volante Ned Zelić (que não jogava pelos Socceroos desde 1997) anunciou em entrevista que sua carreira na seleção estava encerrada e que teria interesse em jogar pela Croácia (país onde possui origens), mas que "não se tornaria possível"[15] e o meia Paul Okon (capitão do time) optou em atuar pelo Middlesbrough, fazendo com que o zagueiro Kevin Muscat herdasse a braçadeira, apesar de seus problemas disciplinares.

O placar se manteve zerado até os 3 minutos de partida, quando a Austrália marcou o primeiro gol com Scott Chipperfield após cruzamento de Damian Mori, que faria o segundo aos 12 minutos, de cabeça. Aos 14, Aloisi faria seu primeiro gol no jogo, finalizando de fora da área com o pé esquerdo. Muscat, de pênalti, balançaria as redes de Tuahiva Fincfeuiaki pela quarta vez 3 minutos depois. Mori faria o segundo gol dele e o quinto da Austrália aos 23, chutando no ângulo do goleiro tonganês, e no minuto seguinte Aloisi faria o sexto gol, num cruzamento do próprio Mori.

Aos 30, Muscat faria o segundo gol dele e o sétimo da Austrália, também de pênalti. Aloisi fez seu hat-trick aos 37 minutos, finalizando de cabeça, e aos 39 Mori repetiu o feito, aproveitando cruzamento de Lindsay Wilson. O décimo gol veio aos 45, também com Aloisi.[16]

Segundo tempo editar

John Aloisi faria seu quinto gol aos 51 minutos, depois que a bola bateu em vários jogadores e finalizando cara a cara com Fincfeuiaki. Aos 54, Muscat faz o 12º gol australiano, novamente de pênalti, e Mori faria seu quarto gol, novamente de cabeça. O sexto (e último) gol de Aloisi no jogo veio aos 63 minutos, após um novo cruzamento de Wilson. Pouco depois, o técnico de Tonga, Gary Phillips (também australiano), queimou as 3 substituições de sua equipe, sacando Toakai Toto, Filisione Taufahema e Lokoua Taufahema e colocando Unaloto Feao, Solomone Moa e Timote Moleni.

Aos 65 minutos, o zagueiro Tony Popović faria o 15º gol da Austrália, e 4 minutos depois Farina colocou em campo Boutsianis e David Zdrilić nos lugares de Steve Corica e Mori, que tornaria-se o maior artilheiro da seleção até 2008,[17] quando Tim Cahill o superou. Tony Vidmar balançou as redes de Tonga pela décima-sexta vez aos 73 minutos, Zdrilić deixou sua marca aos 77 após rebatida na grande área e Archie Thompson (substituto de Aloisi) faria o décimo-oitavo gol aos 80. Muscat, após rebote de Fincfeuiaki numa finalização de fora da área, faria seu quarto gol na partida.

O vigésimo gol australiano veio com Chipperfield, após um erro do goleiro tonganês, que deixou a bola escapar, enquanto Boutsianis, aos 85, faria seu primeiro gol com a camisa da seleção ao finalizar no ângulo. O último gol foi de autoria de Zdrilić, no final do jogo.[16]

Detalhes editar

9 de abril de 2001 Tonga   0 – 22   Austrália Estádio Internacional de Coffs Harbour, Coffs Harbour
16:30 (UTC+10)
Chipperfield   3'   84'
Mori   12'   22'   39'   57'
Aloisi   14'   23'   36'   45'   51'   63'
Muscat   17' (pen)   28' (pen)   54' (pen)   83'
Popović   65'
T. Vidmar   73'
Zdrilić   77'   90'
Thompson   79'
Boutsianis   85'
Público: 1 500
Árbitro:  VAN Harry Attison
 
Tonga
GK 1 Tuahiva Fincfeuiaki
DF 2 Kilifi Uele
DF 3 Toakai Toto   63'
DF 5 Filisione Taufahema   63'
MF 6 Halapua Falepapalangi
MF 9 Lokoua Taufahema   63'
MF 10 Siua Maamaloa
MF 11 Akoli Mafi
FW 16 Hateni Manu
FW 17 Kaisani Uhatahi
FW 19 Teu Fakava
Reservas
4 Unaloto Feao   63'
15 Timote Moleni   63'
7 Solomone Moa   63'
8 Ipeni Fonua
12 Taniela Fonua
13 Falame Ilangana
14 Lopeti Halapoi Fuimaono
18 Penieli Moa
20 Villiami Taufahema
Treinador
Gary Phillips
 
Austrália
GK 18 Clint Bolton
DF 3 Craig Moore
DF 4 Tony Popović
DF 5 Tony Vidmar
DF 2 Kevin Muscat
MF 6 Hayden Foxe
MF 8 Scott Chipperfield
MF 10 Steve Corica   69'
MF 16 Lindsay Wilson
FW 9 John Aloisi   73'
FW 19 Damian Mori   69'
Reservas
MF 13 Con Boutsianis   69'
MF 11 David Zdrilic   69'
FW 20 Archie Thompson   73'
GK 1 Michael Petković
MF 7 Aurelio Vidmar
DF 12 Steve Horvat
DF 14 Simon Colosimo
DF 15 Fausto De Amicis
DF 17 Scott Miller
Treinador
Frank Farina

Reações sobre a partida editar

Logo após a partida, Frank Farina classificou a vitória como "embaraçosa" e pediu à OFC para revisar o formato das eliminatórias da Oceania para a Copa do Mundo, enquanto seu compatriota Gary Phillips questionou a necessidade da Austrália convocar um número expressivo de jogadores europeus.

Gordon Strachan, técnico do Coventry City, fez duras críticas à FIFA e à Federação Australiana de Futebol por terem mantido Aloisi na lista de convocados. Ele ainda afirmou que outros jogadores australianos que atuavam na Europa, inclusive o capitão Paul Okon e o goleiro Mark Schwarzer foram liberados para jogar enquanto o atacante não fosse utilizado.

Dick Advocaat, que treinava os zagueiros Popović e Craig Moore no Rangers (Escócia), também se mostrou chateado em relação a Farina, afirmando ainda que a Austrália "não precisava dos seus jogadores estrangeiros para vencer um jogo como esse". O técnico australiano rebateu as críticas de Advocaat

Notas

  1. Em 1966, a Líbia fez também 21 gols sobre Omã, que na época ainda não era filiado à FIFA.

Referências

  1. «Australia set record». News24 (em inglês). 10 de abril de 2001. Consultado em 9 de abril de 2020 
  2. «Guam line up for long road to glory». FIFA.com (em inglês). 31 de maio de 2019. Consultado em 9 de abril de 2020 
  3. Montague, James (12 de março de 2015). «A Moment Atop the World for Bhutan's Last-Ranked Team». The New York Times (em inglês). Consultado em 9 de abril de 2020 
  4. Jones, Graham L. (16 de abril de 2001). «Fair Play Takes a Real Beating Down Under». Los Angeles Times (em inglês). Consultado em 9 de abril de 2020 
  5. «World Cup 1966 Qualifying». Rec.Sport.Soccer Statistics Foundation (em inglês). RSSSF. Consultado em 17 de fevereiro de 2015 
  6. «World Cup 1986 Qualifying». Rec.Sport.Soccer Statistics Foundation (em inglês). RSSSF. Consultado em 17 de fevereiro de 2015 
  7. a b c «2002 FIFA World Cup Korea/Japan Preliminaries; Results, Oceanian Zone». Federação Internacional de Futebol. Fédération Internationale de Football Association. Consultado em 17 de fevereiro de 2015. Cópia arquivada em 20 de março de 2013 
  8. Cockerill, Michael (19 de dezembro de 2000). «Perfect pitch wins Coffs Harbour right to host Socceroos' World Cup qualifiers». The Sydney Morning Herald (em inglês). Consultado em 30 de junho de 2020 – via Newspapers.com 
  9. «Nova Zelândia». Confederação de Futebol da Oceania. Consultado em 19 de fevereiro de 2015 
  10. Cockerill, Michael (2 de janeiro de 2001). «Farina to give homeboys a chance to call the tune». The Sydney Morning Herald – via NewsBank 
  11. Cockerill, Michael (27 de março de 2001). «Farina delays announcing squad as he ponders whether to defy FIFA edict». The Sydney Morning Herald (em inglês). Consultado em 9 de abril de 2020 – via Newspapers.com 
  12. Cockerill, Michael (28 de março de 2001). «Frustrated Farina leaves Okon in England». The Sydney Morning Herald (em inglês). Consultado em 9 de abril de 2020 – via Newspapers.com 
  13. Tousidis, Meno (4 de abril de 2001). «Plea to ban Aloisi». The Advertiser. Adelaide – via NewsBank 
  14. Cockerill, Michael (3 de abril de 2001). «Con free to play for Socceroos after escaping jail term». The Sydney Morning Herald (em inglês). Consultado em 9 de abril de 2020 – via Newspapers.com 
  15. «Zelic burns his bridges». The World Game (em inglês). Special Broadcasting Service. Sportal. 29 de março de 2001. Consultado em 9 de abril de 2020 
  16. a b Cockerill, Michael (11 de abril de 2001). «Farina will not bow to pressure from UK». The Sydney Morning Herald – via Newspapers.com 
  17. Gatt, Ray (10 de abril de 2001). «Record rout has little meaning». The Australian – via NewsBank