Trimetilaminúria (TMAU), também conhecida como síndrome do odor de peixe[1], é uma rara doença metabólica cujos principais sintomas são mau odor corporal, no hálito e na respiração, e gosto ruim na boca em caso de muito esforço uma queimação muito grande no estômago, e sentir com o corpo quente a mais que o normal. Essa doença se caracteriza pela incapacidade do corpo de metabolizar a trimetilamina obtida através da alimentação. Essa substância, que tem um forte odor, está presente em alguns alimentos e é produzida através da ingestão de alimentos ricos em colina e carnitina, como ovos, carnes vermelhas, peixe e alguns vegetais verdes. Os portadores dessa doença eliminam a trimetilamina através dos poros do corpo, suor, saliva, urina e fluidos reprodutivos, causando forte odor no indivíduo. Mesmo que a doença seja conhecida tradicionalmente pelo odor de peixe, o odor pode variar de acordo com cada pessoa, dependendo de características genéticas, da alimentação e do estilo de vida.Trabalhos que exigem mais esforço faz com que aumentem muito odor ruim.

Trimetilaminúria
Trimetilaminúria
Trimetilamina
Especialidade endocrinologia
Classificação e recursos externos
CID-10 E88.8
CID-9 270.8
CID-11 685690588
OMIM 602079
DiseasesDB 4835
MeSH C536561, C536561
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Medicamentos como amoxicilina, omeprazol, e alguns medicamentos para tratamento de depressão e muitos outros para outras doenças podem piorar os sintomas.



Essa doença tem dois tipos. A forma primária (TMAU1) é causada por um defeito no gene Flavina contendo Mono-Oxigenase 3 (FMO3), gene responsável pela produção da enzima Oxidase de Trimetilamina, que é responsável pela metabolização da trimetilamina (TMA) em N-óxido de trimetilamina (TMAO), uma substância sem odor, através de um processo chamado N-oxidação. A forma secundária (TMAU2) não é causada por defeito genético, mas por disbiose intestinal, alterações hormonais, entre outros fatores.

A doença não tem cura, mas existem algumas formas de diminuir levemente os sintomas, mais para trabalhos que exigem esforço corporal é quase inexistente a melhora. A trimetilaminúria geralmente não tem outros sintomas e não causa complicações à saúde do paciente. Mesmo assim, o estresse causado pela doença pode levar a sérios problemas psicológicos, como isolamento social, depressão e até tendências suicidas, e por conta de perseguição e brincadeiras maldosas pensamentos homicidas.

Uma condição similar à trimetilaminúria foi observada em uma criação de galinhas da raça Rhode Island, que produziam ovos com cheiro de peixe, especialmente após consumir ração contendo uma alta proporção de colza.

Histórico editar

A doença foi diagnosticada pela primeira vez em 1970. Em 2003, eram apenas 200 casos diagnosticados em todo o mundo. Hoje, estima-se que haja cerca de 100 mil casos da doença no mundo, porém a maioria dos pacientes ainda não teve a doença diagnosticada.

Sintomas editar

Os únicos sintomas da doença são mau odor corporal, no hálito e na respiração, e gosto ruim na boca com esforço físico uma queimação no estômago.

Ainda que a doença seja mais conhecida pelo odor a peixe, muitos pacientes apresentam outros tipos de odores, como odor a fezes, lixo, esgoto, borracha queimada, entre outros. Um mesmo paciente pode ter odores diferentes em momentos diferentes, dependendo da alimentação e do nível de estresse, esforço no trabalho, entre outros fatores, podendo variar também sua intensidade. As vezes sem mesmo se esforçar o odor pode ser intenso.

Se a pessoa tiver uma semana intensa de trabalho, com muito esforço físico ou estresse, o odor pode aumentar consideravelmente, mesmo que a pessoa não faça esforço nos dias subsequentes a o aumento do odor.

Os sintomas podem surgir em qualquer fase da vida. Quando se trata de TMAU1, os sintomas geralmente surgem na infância ou adolescência. Geralmente, os sintomas pioram durante a puberdade. Nos casos de TMAU2, os sintomas costumam aparecer já na idade adulta. Ainda que alguns pacientes manifestem os sintomas o tempo todo, alguns apresentam os mesmos de forma esporádica..

Alguns fatores podem agravar os sintomas, como a alimentação, estresse, atividade física e alterações hormonais. Acredita-se que os hormônios sexuais femininos, como progesterona e estrogênio, podem agravar os sintomas. Assim, os sintomas podem piorar antes e durante o período menstrual, depois de tomar anticoncepcionais orais e durante a menopausa.

As pessoas que convivem com pacientes dessa doença podem apresentar algumas reações alérgicas ao odor, como espirros, tosse e irritação no nariz.

Diagnóstico editar

Existem dois exames que podem diagnosticar a doença: o exame genético e o fenotípico. O exame genético é realizado com amostras de sangue ou saliva do paciente e detecta somente o tipo 1 da doença. Esse exame faz o sequenciamento do gene FMO3, cuja mutação acarreta a manifestação da doença. Como a trimetilaminúria é recessiva, o diagnóstico só é confirmado se o paciente tiver o defeito genético relacionado à doença em homozigose, ou seja, se ele tiver ambos os genes defeituosos. Se apenas um dos genes for defeituoso, o paciente ainda pode desenvolver a doença, mas geralmente ocorre de forma mais leve e esporádica.

O exame fenotípico é realizado com amostras de urina do paciente e detecta ambos os tipos da doença. Esse exame mede a quantidade de trimetilamina e de N-óxido de trimetilamina na urina e calcula a proporção entre essas substâncias: se mais de 10% da trimetilamina for eliminada na forma livre (sem ser oxidada), isso sugere que o paciente pode ter TMAU1, já que a capacidade de oxidação dessa substância está comprometida; se a proporção estiver normal, mas a quantidade de trimetilamina eliminada estiver alta, isso sugere que o paciente pode ter TMAU2. Para esse exame, o paciente deve ingerir uma quantidade alta de colina no dia anterior à coleta da amostra, para que seja testada a capacidade do corpo de metabolizar a trimetilamina.

Dificuldades no diagnóstico editar

A maioria dos pacientes com trimetilaminúria não chegam a receber um diagnóstico da doença ou demoram para descobrir que têm a doença. Isso se deve, principalmente, à falta de conhecimento por parte da comunidade médica e da população em geral sobre a existência dessa doença. A família e as pessoas próximas ao paciente, muitas vezes, não percebem o odor e as pessoas que percebem o odor, por desconhecerem doenças que causam tal problema, costumam pensar que se trata de falta de higiene. Os médicos, geralmente, não percebem o odor e acreditam que a queixa do paciente decorre de problemas psicológicos. Além disso, são poucos os laboratórios que realizam o exame para essa doença e muitos países não realizam nenhum dos exames. Nos laboratórios que realizam o exame, o custo do exame costuma ser alto, dificultando o acesso dos pacientes ao diagnóstico.

Diagnóstico diferencial editar

Além da trimetilaminúria, diversas condições podem causar os sintomas da doença. O mau odor também pode ser causado por má higiene pessoal, infecções por bactérias e fungos, doenças hepáticas, renais, gastrointestinais e outras doenças metabólicas.

Tratamento editar

Ainda não existe cura para a doença, e também não existe tratamento específico. Mas existem algumas formas de amenizar um pouco os sintomas, juntamente com um trabalho que não se esforce e pouco estressante, caso contrário não há melhora. O protocolo de tratamento mais usado é constituído por:

  • Dieta baixa em colina: Recomenda-se que o paciente evite comer alimentos com grande quantidade de colina. No entanto, a colina não pode ser eliminada totalmente da dieta, pois é uma vitamina e sua deficiência pode causar doenças graves, podendo agravar os sintomas. Então, recomenda-se ao paciente ingerir a quantidade recomendada do nutriente, de acordo com o sexo e a idade. Ingerir acima dessa quantidade pode agravar os sintomas.
  • Evitar alimentos com carnitina, trimetilamina e N-óxido de trimetilamina: A carnitina e o N-óxido de trimetilamina podem ser convertidos em trimetilamina por bactérias intestinais, então também devem ser evitados.
  • Probióticos: Ajudam a regular a flora intestinal, aumentando a quantidade de bactérias benignas e diminuindo as bactérias que produzem trimetilamina. Em caso de TMAU1 não se recomenda o uso, pois aumenta o número de bactérias aumentando a conversão de trimetilamina.
  • Sabonetes ácidos: A trimetilamina é uma base, então sabonetes ácidos com pH entre 5,5 e 6,5 ajudam a neutralizar a trimetilamina e facilitam a remoção da trimetilamina da pele.
  • Vitamina B2: Em casos de TMAU1, recomenda-se tomar suplementos de vitamina B2 200 mg diário, divididos em horários do dia, 40mg em 5x dia para aumentar a atividade enzimática.
  • Carvão ativado e clorofilina de cobre: Essas substâncias podem absorver toxinas, como a trimetilamina. Como a ingestão prolongada dessas substâncias pode causar efeitos colaterais, recomenda-se tomá-las por curtos períodos de tempo.
  • Laxantes: Diminuem o tempo de trânsito intestinal, diminuindo a produção de trimetilamina pelas bactérias intestinais. O laxante mais recomendado é a lactulose. Como podem causar efeitos colaterais, recomenda-se tomar por curtos períodos de tempo.
  • Antibióticos: Eliminam as bactérias intestinais. Os antibióticos mais eficientes são metronidazol, neomicina e amoxicilina. Como podem causar efeitos colaterais e as bactérias podem adquirir resistência, recomenda-se tomar por curtos períodos de tempo.
  • Evitar Exercícios Físicos: Exercicios físicos, mesmo que suor não saia pelos poros piora a condição, pois aumenta o fluxo sanguíneo, expulsando mais gases pelos poros do corpo, aumentando em muito o odor corporal.

Além dos procedimentos realizados com o objetivo de controlar o odor, também é recomendado que o paciente tenha acompanhamento psicológico para diminuir o estresse causado pela doença, o estresse piora em muito a condição da doença, aumentando o odor, e certos tipos de medicamentos utilizados para ajuda do estresse não são recomendados pois aumentam o odor.

Tratamentos alternativos editar

Recentemente, foi publicado um estudo que descobriu uma substância que inibe a produção de trimetilamina pelas bactérias intestinais: 3,3-dimetil-1-butanol (DMB). O objetivo desse estudo era inibir a produção de N-óxido de trimetilamina, uma substância que aumenta o risco de doenças cardiovasculares, mas, como ela também inibe a produção de trimetilamina, pode ajudar no tratamento de trimetilaminúria. Deve ser lançada uma pílula com esse composto para ser comercializada. Como o DMB pode ser encontrado no vinagre balsâmico, azeite de oliva extravirgem, vinho tinto e óleo de semente de uva, essas bebidas podem ser tomadas para amenizar os sintomas.

Genética editar

A forma primária da trimetilaminúria geralmente é herdada de forma autossômica recessiva, o que significa que a pessoa tem dois genes defeituosos. Nesse caso, os pais são portadores de uma cópia do gene defeituoso e podem ter os sintomas de forma leve ou temporária.

Mutações no gene flavina contendo mono-oxigenase 3 (FMO3), que está presente no braço longo do cromossomo 1, podem causar trimetilaminúria. Esse gene é responsável por produzir uma enzima que metaboliza compostos nitrogenosos obtidos a partir da alimentação, como a trimetilamina. Os compostos são produzidos pelas bactérias intestinais quando a pessoa ingere alimentos com trimetilamina, N-óxido de trimetilamina, colina ou carnitina. Geralmente, a oxidase de trimetilamina, produzida pelo gene FMO3, transforma a trimetilamina em N-óxido de trimetilamina, que não tem odor. Se a enzima não é produzida suficientemente por causa de uma mutação no gene FMO3, a trimetilamina não é metabolizada e se acumula no corpo. Como a substância é eliminada pelos poros, suor, saliva, respiração, urina e fluidos reprodutivos, o paciente apresenta um forte odor.

Há mais de 40 mutações conhecidas associadas à trimetilaminúria.

Mídia editar

Em 2013, foi lançado um filme produzido no México e Canadá cujo tema principal é a trimetilaminúria. The Boy who Smells like Fish conta a história de Mica, um homem que apresenta os sintomas da doença desde a infância

Ver também editar

Referências

  1. Redação Terra (19 de fevereiro de 2003). «Espanha tem 1º caso de síndrome do cheiro de peixe». Terra. Consultado em 5 de junho de 2011