Tropeirismo no Paraná

O tropeirismo no Paraná refere-se à colonização tropeira na região dos Campos Gerais, em consequência do Caminho das Tropas, onde fundaram cidades e deixaram um legado cultural e econômico.[1][2][3][4]

Monumento ao Tropeiro no município da Lapa (PR).

História editar

 
Mapa da Província do Paraná em 1866.

A descoberta das minas de ouro de Minas Gerais teve como uma de suas consequências a grande demanda de gado equino e vacum. Recorreu-se então aos muares xucros da região missioneira do sul,[5] tocados pela estrada Viamão-Sorocaba, aberta em 1731.[6] Segundo Brasil Pinheiro Machado, a construção dessa estrada foi "acontecimento relevante na história paranaense".[5] Desligou Curitiba do ciclo litorâneo,[5] distanciando-a socialmente de Paranaguá e incorporando-a ao sistema histórico das guerras de fronteira,[5] dando-lhe oportunidade de uma marcha para o sul, para o norte e para oeste,[5] de maneira que Curitiba passa a significar o caráter de toda a região que será a futura província".[5]

No Paraná os tropeiros foram importantes na ocupação do segundo planalto. Os tropeiros muitas vezes precisavam pernoitar em pontos do percurso esperando a chuva estiar, ou nível dos rios abaixarem; isso gerava a necessidade de estoque de alimentos, disponibilidade de ferramentas e materiais para acampamento. O fluxo constante de pessoas ao longo da rota somado à esses acampamentos criava oportunidade para estabelecer comércio, nucleando pontos de urbanização.

Inaugurava-se assim o ciclo das tropas na história paranaense, que se estendeu até a década de 1870,[7] quando começou a era do transporte ferroviário.[5] Numerosos habitantes dedicaram-se ao rendoso negócio de comprar muares no sul, inverná-los em seus campos e revendê-los nas feiras de Sorocaba.[5] Foi essencialmente com a disseminação das fazendas de criação e invernagem que se fez a ocupação do território. Com base na propriedade das pastagens e no trabalho de escravos negros e índios, estabelecem-se as famílias que detêm o poder regional.[5] Graças às tropas que se estabeleciam ao torno de alguns rios, surgiram municípios como Lapa,[8] Ponta Grossa[9], Castro,[10] Piraí do Sul e Jaguariaíva.[11]

Cultura editar

Interior do Museu do Tropeiro, em Castro.
Museu do Tropeiro, localizado na cidade de Castro.
Casa Vermelha, espaço que abriga o Museu dos Tropeiros, na cidade da Lapa, no Paraná.
Museu dos Tropeiros, na Casa Vermelha.
 
Tropeiros por volta do ano de 1900 em Ponta Grossa.

Em 1986 uma pesquisa considerou o tropeirismo como patrimônio cultural do estado do Paraná e nos últimos anos o tema apareceu associado a diferentes iniciativas.[12] Foram realizados eventos em diferentes cidades do Paraná, e dos estados do sul do país, para discutir o tema, a montagem de museus, ou setores em museus locais, a organização de grupos como os “Clubes dos Tropeiros”, o fomento a publicação bibliográfica e de outros tipos de publicações.[12]

Como objeto de atenção das políticas públicas de patrimônio, o tropeirismo adquiriu centralidade em meados dos anos 80 do século XX.[12] A Coordenadoria do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, juntamente com outras instituições municipais, estaduais e federais, decidiu, em 1986, mapear as influências”do tropeirismo em alguns municípios.[12] A intenção era a salvaguarda da memória dessa atividade por meio do registro, também, dos bens materiais (na época, as casas de fazenda) associados ao tema.[12] Em 2006, o tropeirismo é retomado pela política de patrimônio. Uma pesquisa, patrocinada pelo IPHAN, apresenta-o sob a perspectiva do patrimônio imaterial.[12]

Os museus, ou casas de cultura, também se destacam na salvaguarda da memória do tropeirismo.[12] O Museu do Tropeiro, criado em 1977 em Castro, é considerado o mais importante do gênero no país.[12] Conta com um acervo de mais de mil peças, documentos e objetos históricos que retratam a vida do tropeiro.[12] Outros museus apresentam setores específicos relacionados ao tema, como é o caso do Museu Histórico Municipal Desembargador Edmundo Mercer Júnior, em Tibagi e da Casa Vermelha, em Lapa.[12]

Há ainda os clubes dos tropeiros, de Rio Negro e da Lapa, que têm, por objetivo, pesquisar o ciclo do tropeirismo e a sua influência na formação da cultura brasileira, resgatar a história dos tropeiros, além de promover atividades relativas ao tema.[12]

Diversos municípios possuem outros espaços culturais destinados ao tema tropeirismo. São parques, praças e monumentos, que buscam reunir festividades, memória e tradição.[13][14][15][16][17] Curitiba conta com o Parque dos Tropeiros, criado em 1994 em homenagem aos tropeiros.[18] Monumentos também se fazem presente na Lapa, Campo Largo, Ponta Grossa,[19] Telêmaco Borba, Piraí do Sul[20][21] e Jaguariaíva.

 
Tropeiros no brasão de armas do município da Lapa.

No município da Lapa, o dia do tropeiro foi instituído, através da Lei Municipal n° 353 de 1966, sendo festejado no dia 26 de abril.[12] Em 2004, Nossa Senhora das Brotas foi conclamada padroeira da Rota dos Tropeiros.[22][4] No Paraná, ficou instituída pela Lei n° 14356 de 2004 a primeira semana do mês de outubro como sendo a “Semana do Tropeiro” e, o dia 5 de outubro, o "Dia do Tropeiro".[12] Em 2019, por iniciativa de Lei, foi alterado no âmbito do estado do Paraná o Dia do Tropeiro que passou a ser no dia 26 de abril e a última semana do mês de abril como a semana do tropeiro.[23][24] Em 2008 em Piraí do Sul o dia 15 de novembro foi escolhido para comemorar o dia do tropeiro no município, entretanto a partir de uma proposta a data foi alterada em 2018 para o ser comemorada todo o primeiro domingo do mês de julho.[25][26][27] Em 2014 foi instituído em Jaguariaíva o dia municipal do tropeiro, que passou a ser comemorado em 12 de maio.[28][29][30][31] Em 2014 Curitiba instituiu o Dia da Memória Tropeira.[32][33]

O tropeirismo também está presente em muitos símbolos dos municípios do Paraná, como nos brasões municipais, bandeiras e hinos. No brasão de armas da Lapa há dois homens de cada lado do escudo representando os tropeiros.[34] O tropeiro também está presente nos brasões de Campo Largo,[35][36] Piraí do Sul[37] e Jaguariaíva,[38] assim como em suas respectivas bandeiras. Também está presente no brasão do Santuário Diocesano do Senhor Bom Jesus da Pedra Fria da cidade de Jaguariaíva.[39]

Turismo editar

Muitos municípios do Paraná foram formados basicamente pelo movimento tropeiro. Atualmente no estado mais de 100 municípios possuem algum tipo de ligação com o Tropeirismo.[12] No entanto, para caracterizar geograficamente esta importante rota, foram selecionados os municípios com maior ligação histórica para então viabilizar um produto turístico. Foi criada então a Rota dos Tropeiros, uma rota turística com municípios localizados na Região Metropolitana de Curitiba e Campos Gerais. O roteiro inclui Rio Negro, Campo do Tenente, Lapa, Porto Amazonas, Balsa Nova, Campo Largo, Palmeira, Ponta Grossa, Carambeí, Castro, Tibagi, Telêmaco Borba, Piraí do Sul, Arapoti, Jaguariaíva e Sengés.[12][4]

Ver também editar

Referências

  1. Carlos Zatti (2007). «Campeiros Do Paraná Tradicional». Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  2. Carlos Zatti (2009). «O Paraná de Bombachas». Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  3. Carlos Zatti (2010). «O Paraná e o Paranismo». Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  4. a b c Viaje Paraná (2019). «Campos Gerais». Secretaria de Comunicação Social do Paraná. Consultado em 23 de janeiro de 2020 
  5. a b c d e f g h i «Paraná: História». Nova Enciclopédia Barsa volume 11 ed. São Paulo: Encyclopædia Britannica do Brasil Publicações Ltda. 1998. p. 137 
  6. «Tropeiros de integração». Revista Viamão. 2008. Consultado em 19 de agosto de 2010. Cópia arquivada em 15 de fevereiro de 2009 
  7. «História do Paraná». Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. Consultado em 17 de janeiro de 2010 
  8. A história da Lapa segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
  9. A história de Ponta Grossa segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
  10. «História de Castro». Prefeitura Municipal de Castro. Consultado em 19 de agosto de 2018 
  11. Alves, Leonardo Marcondes. "Give us this day our daily bread: The moral order of Pentecostal peasants in South Brazil." Master Thesis in Cultural Anthropology, Uppsala University. (2018).
  12. a b c d e f g h i j k l m n o Moara Zuccherelli (2008). «A "Rota dos Tropeiros" - projeto turístico na região dos Campos Gerais: um olhar antropológico.». Universidade Federal do Paraná. Consultado em 23 de janeiro de 2020 
  13. «Tropeiros de TB realizam fogueira em homenagem a Santo Antônio». Prefeitura Municipal de Telêmaco Borba. 9 de junho de 2009. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  14. «Tropeiros de TB prestam homenagem a Santinha em Tibagi». Prefeitura Municipal de Telêmaco Borba. 31 de julho de 2009. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  15. «Festival Gastronômico homenageia o tropeirismo nos Campos Gerais». Diário dos Campos. 12 de julho de 2019. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  16. «Projeto resgata a história do Tropeirismo em Carambeí». A Rede. 7 de agosto de 2019. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  17. «I Romaria Tropeira pela Rota do Rosário chega a Arapoti». Rota do Rosário. 20 de janeiro de 2020. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  18. Magaléa Mazziotti (25 de março de 2015). «Visto de longe, o Parque dos Tropeiros, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), segue exuberante». Tribuna do Paraná. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  19. Fundação Municipal de Turismo. «Memorial do Tropeirismo». Prefeitura Municipal de Ponta Grossa. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  20. Sonia Maria Nascimento dos Santos; Alessandra Izabel de Carvalho (2013). «A Identidade Cultural do Município de Piraí do Sul e o Tropeirismo» (PDF). Secretaria do Estado da Educação. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  21. «Piraí do Sul inaugura monumento em homenagem ao tropeirismo». Diário dos Campos. 17 de agosto de 2015. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  22. «Rota dos Tropeiros» (php). rotadostropeiros.com.br. Consultado em 23 de janeiro de 2020 
  23. «Lei 19992, 13 de novembro de 2019 - Altera o art. 1º da Lei nº 14.356, de 7 de abril de 2014, que institui, no âmbito do Estado do Paraná, a Semana e o Dia do Tropeiro.». Diário Oficial do Estado nº 10564. 13 de novembro de 2019. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  24. «Tropeada de Guarapuava à Lapa é recebida com emoções e enaltece mudança do Dia do Tropeiro no Paraná». Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. 2 de dezembro de 2019. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  25. «Vereador propõe alteração na data de comemoração do 'Dia do Tropeiro'». Correio dos Campos. 7 de junho de 2018. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  26. «Lei da Câmara Número: 2231 - Altera a Lei Municipal nº 1.645/2008, que institui como data oficial do município, o DIA DO TROPEIRO em Piraí do Sul.». Câmara Municipal de Piraí do Sul. 7 de agosto de 2018. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  27. «Lei da Câmara Número: 2231 - Altera a Lei Municipal nº 1.645/2008, que institui como data oficial do município, o DIA DO TROPEIRO em Piraí do Sul.» (PDF). CMPS - Câmara Municipal de Piraí do Sul. 7 de agosto de 2018. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  28. «Origens de Jaguariaíva são lembradas na comemoração do Dia Municipal do Tropeiro». Correio dos Campos. 15 de maio de 2017. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  29. «Campus realiza o I Dia do Tropeiro no IFPR». IFPR Campus Jaguariaíva. 16 de maio de 2018. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  30. «Dia do Tropeiro é comemorado com resgate cultural e confraternização típica». Prefeitura Municipal de Jaguariaíva. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  31. «Jaguariaíva promove V dia do Tropeiro nesta sexta-feira». Folha Extra. 9 de maio de 2019. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  32. «Bernardi propõe a instituição do Dia da Memória Tropeira». Câmara Municipal de Curitiba. 1 de abril de 2014. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  33. «Cultura tropeira recebe apoio da Câmara Municipal de Curitiba». Câmara Municipal de Curitiba. 10 de abril de 2014. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  34. «Bandeira da Lapa». Secretaria da Educação do Paraná. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  35. «Brasão de Campo Largo». Secretaria da Educação do Paraná. 2007. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  36. «Bandeira de Campo Largo». Secretaria da Educação do Paraná. 2007. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  37. «Símbolos». Prefeitura Municipal de Piraí do Sul. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  38. «Brasão do município de Jaguariaíva». Secretaria da Educação do Paraná. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  39. Rafael Pomim (22 de agosto de 2016). «Santuário Do Senhor Bom Jesus Da Pedra Fria Lança Seu Brasão Oficial». Diocese de Jacarezinho. Consultado em 24 de janeiro de 2020 

Ligações externas editar