Irisalva Moita (Sá da Bandeira,1924–2009) foi uma arqueologista, conservadora e olisipógrafa portuguesa que fundou o Museu da Cidade e esteve à frente das escações do Teatro Romano em Lisboa. [1]

Biografia editar

Irisalva Constância de Nóbrega Nunes Moita nasceu a 21 de maio de 1924, em Sá da Bandeira (atual Lubango), em Angola, antiga colónia portuguesa. Ainda jovem, a família mudou-se para Lisboa. Aí se licenciou em 1949 em Ciências Históricas e Filosóficas.

Interessou-se pela arqueologia e no início da década de 1950, obteve uma bolsa de investigação da secção de arqueologia do Instituto de Alta Cultura, organismo criado pelo Ministério da Educação do Estado Novo, para desenvolver e aperfeiçoar a cultura artística, a investigação científica e as relações culturais com o estrangeiro, bem como para divulgar a língua e a cultura portuguesas. A bolsa duraria duas décadas, tendo Moita estado envolvido em várias investigações e escavações arqueológicas, começando pelo estudo da cultura dolménica portuguesa, como a Anta da Cunha Baixa, perto de Viseu, e a Anta do Carapito I, no distrito da Guarda, bem como outros sítios na região do Alentejo. [2][3]

Estudou em pormenor a cultura castreja, período que, em Portugal, se considera geralmente compreendido entre o século IX a.C. e o século I a.C., altura em que os romanos dominaram o país. A partir de meados dos anos 50, os seus interesses centrar-se-ão cada vez mais na capital, desde o período romano, quando era conhecida por Olisipo, até mais ou menos à atualidade. O seu papel na arqueologia em Lisboa foi necessário devido ao aumento das obras de construção, como a do Metro de Lisboa, iniciada em 1955. [4]

Viu-se frequentemente envolvida na proteção de infra-estruturas e artefactos prestes a serem destruídos pelas obras. Com o tempo, tornar-se-ia internacionalmente conhecida como especialista em preservação urbana. Entre as suas escavações contam-se as do Parque Florestal de Monsanto, do teatro romano de Lisboa, do Hospital Real de Todos-os-Santos na Praça da Figueira e da necrópole romana da mesma zona. [2][5][4]

Durante a década de 1950, Moita leccionou também na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e frequentou o curso de Conservador de Museus. Em 1958 integrou a rede de seis museus do Museu de Lisboa, tornando-se Conservadora-Chefe de 1970 a 1994. Tornou-se especialista em Olisipografia, e dedicou-se ao estudo de textos ligados a Lisboa, nomeadamente no que respeita ao desenvolvimento histórico e urbanístico da cidade. Interessou-se particularmente pelo caricaturista português e proprietário de uma fábrica de cerâmica, Rafael Bordalo Pinheiro, tendo publicado vários artigos sobre ele e as personagens do seu tempo.

Foi também comissária de várias exposições, nomeadamente sobre o Culto de Santo António em Lisboa; o Marquês de Pombal, realizada no bicentenário da sua morte; Lisboa Quinhentista - A imagem e a vida na cidade, uma exposição sobre as gentes de Lisboa, o seu ambiente, modos de vida, divertimentos e mentalidade; Azulejos de Lisboa; Faianças de Rafael Bordalo Pinheiro; e o abastecimento de água no tempo de D. João V. [3][1][6]

Para além dos catálogos de exposições, o seu trabalho incluiu a coordenação de O Livro de Lisboa, preparado para a Expo98, para o qual contribuiu também com dois artigos. [7]

Entre 1973 e 1975, Irisalva delineou uma nova estrutura para o Museu de Lisboa, na qual propunha uma abordagem cronológica e evolutiva do desenvolvimento da cidade. Supervisionou a expansão do museu, desde o relativamente pequeno museu em que ingressou até ao museu multi-localizado dos nossos dias, com uma rápida expansão da coleção. [8]

Manteve-se activa até ao fim da sua vida: percorria Lisboa sempre atenta a eventuais destruições do património da cidade, como demolições de azulejos antigos ou de cantarias classificadas, que denunciava.

Irisalva Moita faleceu a 13 de Junho de 2009, mas a sua morte só foi anunciada no dia 23 do mesmo mês, segundo instruções suas.[5]

Reconhecimento editar

Em 2004, foi agraciada pela Presidência da República Portuguesa com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. [9]

A Câmara Municipal de Lisboa distinguiu-a com a Medalha de Honra da cidade, entregue pelo então presidente António Costa, pelo o trabalho que desenvolveu nos museus da cidade. [5] O seu nome consta da toponímia da cidade, no Lumiar. [10][3]

Referências editar

  1. a b «Irisalva Moita». www.agendalx.pt. Consultado em 21 de maio de 2024 
  2. a b «Details view: Irisalva Moita (1924-2009)». debategraph.org. Consultado em 21 de maio de 2024 
  3. a b c «A olisipógrafa Irisalva Moita numa Rua da antiga Quinta dos Alcoutins». Toponímia de Lisboa. 4 de julho de 2018. Consultado em 21 de maio de 2024 
  4. a b «Roteiros de Olisipo - Necrópole e via romana da Praça da Figueira». www.roteirosdeolisipo.pt. Consultado em 21 de maio de 2024 
  5. a b c Queirós, Luís Miguel (24 de junho de 2009). «1924-2009». PÚBLICO. Consultado em 21 de maio de 2024 
  6. «Rua Irisalva Moita». Toponímia de Lisboa. 14 de fevereiro de 2019. Consultado em 21 de maio de 2024 
  7. Moita, Irisalva (1994). O livro de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte 
  8. «Sobre Nós». Museu de Lisboa. Consultado em 21 de maio de 2024 
  9. «ENTIDADES NACIONAIS AGRACIADAS COM ORDENS PORTUGUESAS - Página Oficial das Ordens Honoríficas Portuguesas». www.ordens.presidencia.pt. Consultado em 21 de maio de 2024 
  10. «Código postal da Rua Irisalva Moita: 1600-273». www.cttcodigopostal.pt. Consultado em 21 de maio de 2024