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Francisco de Assis Magalhães Gomes (Ouro Preto, 16 de janeiro de 1906 - Belo Horizonte, 17 de julho de 1990)[1] foi um engenheiro, físico, professor e historiador brasileiro[2]. Em 1928, formou-se como engenheiro civil e de minas na Escola Nacional de Minas e Metalurgia de Ouro Preto, ganhando o prêmio de viagem à Europa como aluno laureado de sua turma. Entre 1933 e 1938, trabalhou como engenheiro na Prefeitura de Belo Horizonte e, a partir de 1933, foi professor de física do Curso Anexo da Faculdade de Medicina pois desde seus tempos de estudante e por incentivo de seu pai - o médico, botânico e químico Francisco de Paula Magalhães Gomes[2] — resolvera se dedicar ao ensino e pesquisa da física. Em 1938, por concurso público, assumiu as cátedras de física da Escola de Minas de Ouro Preto e da Escola de Engenharia da UFMG. Em 1939, participou do grupo de professores e intelectuais que fundou a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, inicialmente uma instituição privada, depois integrada à UFMG em 1947, onde organizou seu Departamento de Física[1]. Magalhães Gomes provocou uma grande atualização e modernização do ensino e pesquisa da física em Minas Gerais, promoveu o intercâmbio com instituições nacionais e internacionais, incentivando alunos e colaboradores a se especializarem no exterior. [1]Revelou que, para isso, recebeu influência indireta e se inspirou na conduta do destacado físico Gleb Wataghin, de origem ítalo-russa, que viera de Turim, em 1934, para organizar o Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo[3]. Wataghin foi professor de importantes físicos brasileiros, todos colegas próximos de Francisco Magalhães Gomes, entre os quais Marcelo Damy de Souza Santos, Abraão de Morais e Paulus Aulus Pompeia.[3][4]

Em 1952, diante das perspectivas de desenvolvimento das aplicações pacíficas da energia nuclear, Magalhães Gomes liderou a organização do Instituto de Pesquisas Radioativas (IPR), da Escola de Engenharia da UFMG, que foi uma instituição pioneira no desenvolvimento da pesquisa nuclear no Brasil. Esta iniciativa contou com o decidido apoio técnico e financeiro do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), por meio de seu primeiro presidente, almirante Álvaro Alberto, e de seu diretor científico, o físico Joaquim da Costa Ribeiro, professor da Faculdade Nacional de Filosofia [1][3]. De acordo com o depoimento do cientista José Israel Vargas, ex-professor de química superior da UFMG e ex-ministro da Ciência e Tecnologia, o IPR “foi o primeiro do país dedicado inteiramente à pesquisa em energia nuclear, o que incluía a prospecção de minérios radioativos, estudos de física, metalurgia e materiais”.[1]

Poucos anos depois, ele dirigiu a equipe que instalou, no campus da UFMG (onde foi construída a sede do IPR) o reator nuclear de pesquisas Triga, adquirido da empresa estadunidense General Atomic, com apoio técnico e científico da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e financeiro do governo de Minas Gerais. O reator Triga, inaugurado em 1960, foi o segundo reator nuclear de pesquisa instalado no país [5]. Posteriormente, durante o governo Geisel, o IPR foi desligado da UFMG e incorporado à Nuclebrás com o nome de Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), medida que, à época, foi criticada por Magalhães Gomes, que defendia sua permanência na UFMG e que, mais tarde afirmou: “ A intervenção se deu no governo Geisel (…) A Universidade Federal de Minas Gerais fez todos os esforços para demover o presidente da República. (…) Os militares têm mania de se dizerem mais nacionalistas do que os civis”. [5]

Magalhães Gomes também se empenhou na luta pela transformação da UFMG em uma universidade moderna e com os vários ramos do saber integrados e para que ela não fosse, segundo suas próprias palavras, “uma congérie de escolas sem maior ligação umas com as outras” [1]. Trabalhou, entre outros, com os reitores Mendes Pimentel e Pires e Albuquerque e, já nos anos sessenta, em meio às discussões sobre a reforma universitária, adotou publicamente posição de apoio ativo à reforma, contra a instituição da cátedra, pelo regime de tempo integral dos docentes e em favor da criação dos institutos centrais. Participou intensamente do grupo que organizou o Instituto de Ciências Exatas (ICEx) no campus da UFMG, que reuniu as áreas de física, química e matemática e, posteriormente, estatística e ciência da computação, sendo, de 1968 a 1972, seu primeiro diretor. [1]

De 1955 a 1957, integrou o Conselho Deliberativo do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), nomeado pelo presidente Café Filho e, a partir de 1962, foi membro efetivo da Comissão Nacional de Energia Nuclear, nomeado pelo presidente João Goulart, da qual se afastou, em 1965, por discordar dos rumos da política nuclear e da perseguição a cientistas por parte do novo regime.[1][2][3]

Foi membro titular da Academia Brasileira de Ciências desde 1951 e da Academia Mineira de Letras, eleito em novembro de 1982 devido a seu perfil de humanista e amante da literatura.[1][2]

Publicou “História da Siderurgia no Brasil” (Editora Itatiaia/Ed. Universidade de São Paulo, 1983) e “A Eletrificação no Brasil”, em 1986, sob o patrocínio da Eletropaulo- Eletricidade de São Paulo S.A., na série História e Energia.[1]

Faleceu em Belo Horizonte em 17 de julho de 1990, aos 84 anos. Era casado com Maria Clara Birchal Magalhães Gomes, com quem teve treze filhos.[1]


Referências

  1. a b c d e f g h i j k Moreno, Márcio Quintão (2006). Humanismo e Ciência Para Francisco de Assis Magalhães Gomes. [S.l.]: Editora UFMG; 1ª edição. pp. 67–72–141–142–207–208–223–263–264–265–266 
  2. a b c d Filho, Amilcar Vianna Martins (2013). Novo dicionário biográfico de Minas Gerais: 300 anos de história. [S.l.]: Instituto Cultural Amilcar Martins. pp. 210–211 
  3. a b c d História da Ciência no Brasil: acervo de depoimentos. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, Instituto de Direito Público e Ciência Política, Centro de Pesquisa e Documentação da História Contemporânea do Brasil-CPDOC e FINEP-Financiadora de Estudos e Projetos. 1984. pp. 63–64–65 
  4. Salmeron, R. A. (2002). Gleb Wataghin - vol. 16, número 44. [S.l.]: USP-Estudos Avançados. p. 310-311-312 
  5. a b Andrade, Ana Maria Ribeiro de (2006). A opção nuclear, 50 anos rumo à autonomia. [S.l.]: Comissão Nacional de Energia Nuclear -CNEN e Museu da Astronomia e Ciências Afins -MAST/Ministério da Ciência e Tecnologia. p. 70-71-72