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Notícias falsas editar

Ao longo da crise sanitária, tem-se registrado um grande volume de notícias falsas a respeito da doença, que se disseminam através das mídias digitais e se colocam como um obstáculo adicional ao enfrentamento da pandemia.[1][2] Muitas dessas notícias são profissionalmente criadas por grupos organizados de forma a transmitir confiabilidade[1][2] e são financiadas por indivíduos e instituições com motivações comerciais, políticas ou outras.[2] A camada menos instruída da população é o alvo mais vulnerável e,[2] segundo o Ministério da Saúde, boatos espalhados na Internet têm reduzido o alcance das campanhas de vacinação promovidas no país desde 2016.[3]

Os conteúdos falsos visaram primeiramente confundir sobre aspectos sanitários da doença, disseminando falsas técnicas de prevenção, diagnóstico e cura. Depois, concentraram-se em descredibilizar o isolamento social e em colocar em evidência o impacto negativo sobre a economia,[4]assim, foram veiculadas falsas informações como a que a Organização Mundial da Saúde teria revogado as recomendações de isolamento social e dados falsos sobre outros países, como Estados Unidos, Itália, Países Baixos e Suécia, de forma a corroborar o relaxamento do isolamento.[4]No início de 2020, ganharam grande repercussão as recomendações feitas em vídeo por um "químico autodidata" de substituir o álcool gel pelo vinagre como antisséptico para a mãos,[5]de forma que o Conselho Federal de Química pronunciou-se em nota oficial sobre a eficácia das soluções alcoólicas e repudiando a ação de um profissional não qualificado e não registrado.[5][6]As informações enganosas também são usadas para descredibilizar informações científicas e o sistema público de saúde, conduzindo a população a se proteger menos eficazmente contra a doença.[7] Além disso, outras postagens almejam a disseminar o alarde público[2] e o medo da vacina, com alegações de que os imunizantes causariam alterações no DNA, levando a cânceres, transmitiriam HIV e ou próprio coronavírus[8] e que levariam à infertilidade feminina[9][10] e à masculina.[11]

Populações indígenas são especialmente suscetíveis às informações falsas.[12]Frequentemente, o acesso à Internet fica limitado aos pacotes gratuitos oferecidos pelas operadoras de telefonia, que normalmente incluem Facebook, Instagram e WhatsApp.[13] A ideia de que o DNA pode ser alterado ou que essa população estaria sendo usada como cobaia para testes do imunizante são as principais razões para os indígenas se recusar a tomar a vacina.[12]A oposição de Jair Bolsonaro à vacina é outro fator para os indígenas desconfiarem da vacinação. A fala do presidente com maior repercussão entre os povos indígenas foi "se você virar um jacaré, é problema de você (…) Se você virar o super-homem, se nascer barba em alguma mulher ou um homem começar a falar fino (...)".[13]Na cultura ameríndia, o animais são como seres humanos, sendo plausível que um homem se transforme em réptil.[12]Pastores evangélicos também se mostraram difusores do discursos antivacina, alguns deles tendo propagado a informação de que a vacina é dotado de um "chip do diabo".[12][13][14]

No interior do estado de São Paulo, dois juízes distintos fundamentaram decisões contrárias às medidas sanitárias impostas por decretos municipais e estaduais com base em uma falsa declaração da Organização Mundial de Saúde. Segundo os magistrados, a OMS teria desrecomendado o lockdown no combate ao coronavírus e que não haveria comprovação sobre a eficácia do isolamento. A organização, contudo, nunca fez essa declaração e tem se posicionado publicamente pelas restrições sociais.[15]


Diversas iniciativas foram criadas no mundo todo com esclarecer a população e combater a desinformação.[2] Rede sociais e de comunicações têm criado dispositivos para eliminar falsas informações sobre a doença.[16]O Ministério da Saúde elaborou uma página para desmentir notícias falsas e a Organização Mundial da Saúde abriu um canal de comunicação no WhatsApp para dirimir dúvidas em português.[4]Ainda não há provisão legal para combater as notícias falsas, mas "provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou tumulto" é contravenção conforme o artigo 41 da Lei de Contravenções Penais.[2]

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Referências

  1. a b Paumgartten, Francisco José Roma; Delgado, Isabella Fernandes; Pitta, Luciana Da Rocha; Oliveira, Ana Cecilia Amado Xavier de (29 de maio de 2020). «Drug repurposing clinical trials in the search for life-saving COVID-19 therapies; research targets and methodological and ethical issues». Vigilância Sanitária em Debate (2): 39–53. ISSN 2317-269X. doi:10.22239/2317-269x.01596. Consultado em 4 de abril de 2021 
  2. a b c d e f g «Fake news, a pandemia da desinformação em tempos de Coronavírus». Metrópoles. 9 de outubro de 2020. Consultado em 4 de abril de 2021 
  3. Monari, Ana Carolina Pontalti; Filho, Claudio Bertolli (26 de abril de 2019). «Saúde sem Fake News: estudo e caracterização das informações falsas divulgadas no Canal de Informação e Checagem de Fake News do Ministério da Saúde». Revista Mídia e Cotidiano (1): 160–186. ISSN 2178-602X. doi:10.22409/ppgmc.v13i1.27618. Consultado em 4 de abril de 2021 
  4. a b c «Fake news comprometem enfrentamento ao novo coronavírus». Notícias UFJF. 19 de maio de 2020. Consultado em 4 de abril de 2021 
  5. a b Vidale, Giulia. «Fake news sobre coronavírus propõem até troca de álcool por vinagre». VEJA. Consultado em 4 de abril de 2021 
  6. «NOTA OFICIAL - PROPRIEDADES DO ÁLCOOL GEL». CFQ - Conselho Federal de Química. Consultado em 4 de abril de 2021 
  7. Almeida, Alanny de; Almeida, Amanda de; Sousa, Maria Paloma Lima; Sousa, Maria Patrícia Vitorino de; Liberato, Ludmila Cavalcante; Silva, Cicero Rafael Lopes da; Silva Filho, José Adelmo da; Pinto, Antônio Germane Alves (2020). «COMO AS FAKE NEWS PREJUDICAM A POPULAÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA COVID-19?: REVISÃO NARRATIVA». Brazilian Journal of Development (8): 54352–54363. doi:10.34117/bjdv6n8-013. Consultado em 4 de abril de 2021 
  8. Ferreira, Nicola. «Vacina contra covid-19 causa câncer e HIV? Cuidado com onda de fake news». www.uol.com.br. Consultado em 4 de abril de 2021 
  9. Schraer, Rachel. «Vacina contra covid não afeta fertilidade, afirmam especialistas». www.uol.com.br. Consultado em 4 de abril de 2021 
  10. Pennafort, Roberta. «É #FAKE que vacina das farmacêuticas Pfizer e BioNTech para Covid-19 cause infertilidade em mulheres». G1. Consultado em 4 de abril de 2021 
  11. Rômany, Ítalo (5 de janeiro de 2021). «[Agência Lupa] #Verificamos: É falso que estudo demonstra que vacina contra Covid-19 pode afetar fertilidade masculina». Agência Lupa. Consultado em 4 de abril de 2021 
  12. a b c d Oliveira, Joana (25 de março de 2021). «'Chip do diabo' e medo de ser cobaia afastam indígenas da vacina contra a covid-19». EL PAÍS. Consultado em 4 de abril de 2021 
  13. a b c Gragnani, Juliana. «Epidemia de fake news ameaça vacinação em terras indígenas». BBC News Brasil. Consultado em 4 de abril de 2021 
  14. Pedrosa Neto, Cícero (5 de fevereiro de 2021). «Caos na pandemia: Indígenas viram alvo de fake news antivacina». Amazônia Real (em inglês). Consultado em 4 de abril de 2021 
  15. «Juízes usam informação falsa sobre a OMS para fundamentar decisões». Consultor Jurídico. Consultado em 4 de abril de 2021 
  16. Digital, Olhar (17 de março de 2021). «YouTube remove 30 mil vídeos para combater fake news». Olhar Digital. Consultado em 4 de abril de 2021 
  17. «Retórica da desinformação». Rádio Paulo Freire. Consultado em 6 de abril de 2021 
  18. Castillo, Sofia Isabel Vizcarra; Santos, Débora de Oliveira; Castro, Henrique Carlos de Oliveira de (5 de janeiro de 2020). «Fake News no contexto da pandemia de COVID-19: considerações a partir da cultura política». Rizoma (1): 165–184. ISSN 2318-406X. doi:10.17058/rzm.v1i1.15435. Consultado em 6 de abril de 2021