Vetores de transmissão da dengue

A transmissão da dengue é feita através da picada de mosquitos infectados do gênero Aedes, sendo as principais espécies o Aedes aegypti, Aedes albopictus, Aedes scutellaris, Aedes africanus (Theobald) e o Aedes luteocephalus (Newstead).[1]

Aedes aegypti editar

 
Aedes aegypti

O Aedes Aegypti é o principal vetor da dengue e febre amarela.

Aedes albopictus editar

 
Aedes albopictus

O Aedes albopictus é vetor de dengue no sudeste da Ásia. Em 1930, demonstrou-se a ocorrência de transmissão experimental da doença, entre humanos voluntários, tendo esse mosquito como vetor (SIMMONS e col. 1931, citado por KNUDSEN 1986, p. 421[2]). Foi isolado vírus DEN-2 dessa espécie em Cingapura, em período de epidemia de dengue (RUDNIK E CHAN 1965 citado por KNUDSEN 1986, p. 421[2]). Durante o período que compreendeu os anos de 1966 e 1968, isolou-se o vírus DEN-2 do Ae. albopictus, em Cingapura. Naquela oportunidade, circularam os vírus DEN-1 e DEN-2, considerados os responsáveis pela epidemia de dengue. Ambos os vírus foram isolados do Ae. albopictus e, apenas o DEN-2, do Ae. aegypti. O padrão da curva epidêmica seguiu a flutuação sazonal de ambos os prováveis vetores (SIMMONS e col., 1931, citado por KNUDSEN 1986, p. 421[2]).

Vários estudos sobre a susceptibilidade de mosquitos ao vírus DEN foram realizados com o emprego de diversas populações de Ae. albopictus, tanto das Américas, quanto de outras regiões do globo. Das populações estabelecidas no Novo Mundo, citam-se as de Houston, Memphis, New Orleans, Indianapolis, todas dos EUA, e a de Cariacica, Estado do Espírito Santo, Brasil. A população a OAHU, do Havaí, tem sido muito usada como padrão, em estudos comparativos, bem como as populações de Ae. aegypti.

Trinta e quatro populações de mosquitos, pertencentes a sete gêneros, e 22 espécies foram testadas, em laboratório, em relação à susceptibilidade ao vírus DEN. Entre elas, figuravam três populações de Ae. albopictus, a OAHU, a POON (da Índia) e a TAIW (de Taiwan). Essas três populações e várias outras espécies de Aedes mostraram-se mais sensíveis do que as de Ae. aegypti à infecção oral, pelos quatro sorotipos de vírus dengue e ao da encefalite japonesa. Como conclusão, os autores consideraram a possibilidade de que a forma da doença com sintomas graves pudesse estar associada a cepas mais virulentas e capazes de altas viremias e que o aumento de sua incidência na Ásia estivesse relacionado ao deslocamento do Ae. albopictus pelo Ae. aegypti no ambiente urbano.[3]

MITCHELL e col. (1987)[4] demonstraram, em condições experimentais, que a população de Ae. albopictus de Houston tem competência para transmitir os vírus DEN 1 a 4. A população testada mostrou-se sensível à infecção oral e capaz de transmitir, por picada, os quatro sorotipos, embora com diferenças na sensibilidade a cada um, e, em todos os casos, foi menos eficiente que o Ae. aegypti de Porto Rico, que foi usada como espécie controle. A taxa de infecção do Ae. albopictus para DEN 1 a 4 variou de 64% a 100%. A infectividade das cepas do vírus, também, variou, sendo os de maior infectividade o DEN-1 e DEN-2, intermediário o DEN-3 e menos infeccioso o DEN-4. Isto pode ter refletido nas taxas de transmissão.

demonstraram susceptibilidade bastante variada para as populações de Ae. albopictus, com taxas de infecção intestinal e disseminação de 71% e 38% para a população de Houston, 100% e 52% para a de Memphis e 100% e 59% para a de New Orleans. As taxas para a população de Ae. aegypti de Houston foram 70% e 30%, fenômeno atribuído a barreiras localizadas no intestino médio e glândulas salivares do mosquito. Outra população testada foi a de Ae. albopictus coletada em Cariacica, ES, Brasil. Os mosquitos foram prontamente infectados para os quatro sorotipos de vírus de dengue, com taxa de infecção variando de 19% a 52%[5].

A competência vetora das populações de Memphis e New Orleans foi significativamente mais alta do que as da população de Houston e de Ae. aegypti, com taxas de transmissão modificada de 52% e 59% para as primeiras e 38% e 30%, para a última. Em relação à taxa de transmissão populacional, que é mais relevante para avaliar o potencial transmissão ao hospedeiro humano, observou-se que nenhuma das populações de Ae. albopictus testadas foi capaz de transmitir o vírus DEN-1, de modo significativamente mais eficiente do que o Ae. aegypti.[6]

No estudo de MILLER e BALLINGER (1988),[5] as populações empregadas foram prontamente infectadas e competentes para transmitirem as cepas virais. A taxa de transmissão foi de 8% para DEN-4 a 35% para DEN-1, quando se considera o número de mosquitos capazes para transmitir em relação aos testados. Quando o cálculo incidiu sobre o número de espécimes capazes de transmitir, em comparação aos infectados, a taxa variou de 25% para DEN-4 a 75% para DEN-3, que foram bem inferiores às da população de Houston. Esta, segundo MITCHELL e col. (1987)[4], apresentou taxa de transmissão de 42% para DEN-4 a 88% para DEN-1, em condições experimentais, e transmitiu dengue após período de sete a 14 dias.

A transmissão vertical de DEN-1 foi estudada, em laboratório, durante três gerações de mosquitos.[7] Embora pequeno número de espécimes houvesse se infectado (taxa de infecção filial - TIF - baixa), a taxa de transmissão aumentou significativamente de F1 para F2, passando de 0,4% na geração parental para 4,2% e 2,5% em F1 e 3,4%, em F2. O mencionado autor teorizou que não haveria necessidade de muitos mosquitos infectados a cada geração para que o Ae. albopictus pudesse interferir na história natural da dengue. Não obstante, considerou que a TIF calculada para uma população não estima adequadamente a eficiência da transmissão vertical na natureza.

BOSIO e col. (1992),[8] baseados em trabalhos anteriores que demonstraram variação na eficiência do Ae. albopictus para transmitir, horizontalmente, o vírus DEN-1, avaliaram a transmissão vertical para verificar se ocorria a mesma variação e se essa era importante. Foram estudadas 5 populações, sendo três dos EUA (Indianapolis, Houston, e New Orleans), duas da Ásia (Cingapura e Japão) e, como controle, as populações OAHU de Ae. albopictus e Ae. aegypti. A variação nas taxas de transmissão vertical foi de 11% a 41%. As taxas de infecção filial variaram de 0,5% a 2,9%. Quando observadas nas populações e nas famílias de uma população, a TIF variou de 1,4% a 17,4%. O resultado da variação entre populações não foi estatisticamente significante, dado que as maiores variações foram observadas entre famílias de uma população e em indivíduos. Essa variação foi atribuída a possível herança genética no componente vertical da transmissão.

SERUFO e col. (1993)[9] descreveram o primeiro encontro de exemplares de Ae. albopictus, coletados na natureza e infectados por DEN-1, nas Américas. Durante epidemia de dengue no oeste do Estado de Minas Gerais, observou-se a ocorrência de 3 casos da doença no município de Campos Altos, área não infestada por Ae. aegypti. Larvas e adultos de Ae. albopictus foram coletados em 14 locais do município e testados para infecção por vírus DEN. Em decorrência, observaram-se dois lotes de larvas de Ae. albopictus positivos para DEN-1. Os testes foram realizados em culturas de células C6/36 e a identificação foi feita por imunofluorescência, empregando anticorpos monoclonais e por isolamento de vírus e PCR.

No México, durante surto de dengue em Reynosa, Tamaulipas, foram coletados vários mosquitos machos de Ae. albopictus naturalmente infectados por DEN-2 e DEN-3. O encontro foi diagnosticado por anticorpos monoclonais e por RT-PCR.[10]

Aedes scutellaris editar

O Aedes scutellaris ocorre em Amboina, Ilhas Aru, Ceram, Nova Guiné.

Aedes africanus editar

O Aedes africanus ocorre em Angola, Burkina Faso, Camarões, República Centro-Africana, Costa do Marfim, Guiné, Etiópia, Gabão, Quênia, Libéria, Moçambique, Nigéria, São Tomé e Príncipe, Senegal, Sudão, Uganda, Zâmbia, Zaire.

Aedes luteocephalus editar

O Aedes luteocephalus ocorre em Angola, Benim, Burkina Faso, Camarões, República Centro-Africana, Costa do Marfim, Guiné, Etiópia, Gana, Libéria, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, África do Sul, Sudão, Tanzânia, Zâmbia, Zimbabwe, Zaire.

Ver também editar

Referência bibliográfica editar

Referências

  1. Sonia Marta dos Anjos Alves Borges (2001). "Importância epidemiológica do Aedes Albopictus nas Américas" (PDF) . Licenciado sob a GNU Free Documentation License. Acessado em 22h38min de 16 de Março de 2008 (UTC).
  2. a b c Knudsen AB. The significance of the introduction of Aedes albopictus into the Southeastern United States with implications for the Caribbean, and perspectives of the Pan American Health Organization. J Am Mosq Control Assoc 1986; 2(4): 420-3.
  3. Rosen L, Roseboom LE, Gubler DJ, Lien JC, Chaniotis BN. Comparative susceptibility of mosquito species and strains to oral and parenteral infection with dengue and Japanese encephalitis viruses. Am J Trop Med Hyg 1985; 34(3): 603-15.
  4. a b Mitchell CJ, Miller BR, Gubler DJ. Vector competence of Aedes albopictus from Houston, Texas, for dengue serotypes 1 to 4, yellow fever and Ross River viruses. J Am Mosq Control Assoc 1987; 3 (4): 460-5.
  5. a b Miller BR, Ballinger ME. Aedes albopictus mosquitoes introduced into Brazil: vector competence for yellow fever and dengue viruses. Trans Royal Soc Trop Med Hig 1988; 82: 476-7.
  6. Boromisa RD, Rai KS, Grimstad PR. Variation in the vector competence of geographic strains of Aedes albopictus for dengue 1 virus. J Am Mosq Control Assoc 1987; 3(3): 378-86.
  7. Shroyer DA. Vertical maintenance of dengue-1 in sequential generations of Aedes albopictus. J Am Mosq Control Assoc 1990; 2(4): 424-8.
  8. Bosio CF, Thomas RE, Grimstad PR, Rai KS. Variation in the efficiency of vertical transmission of dengue-1 virus by strains of Aedes albopictus (Diptera: Culicidae). J Med Entomol 1992; 29(6): 985-9.
  9. Serufo JC, Oca HM, Tavares VA, Souza AM, Rosa RV, Jamal MC et al. Isolation of dengue virus type 1 from larvae of Aedes albopictus in Campos Altos city, State of Minas Gerais, Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz 1993; 88(3): 503-4.
  10. Ibañez-Bernal S, Briseño B, Mutebi JP, Argot E, Rodriguez G, Martinez-Campos C et al. First record in America of Aedes albopictus naturally infected with dengue virus during the 1995 outbreak at Reynosa, Mexico. Med Vet Entomol 1997, 11:305-9.