Nota: Para os vilancicos renascentistas, veja vilancete.

O vilancico barroco ou cantata-vilancico[1] foi uma das principais formas poético-musicais da música sacra barroca na Península Ibérica e respetivas colónias.[1] Surgiu da evolução dos vilancicos (também chamados vilancetes) do Renascimento.[1] A sua popularidade era tal que enchia as igrejas de fiéis durante as festividades, tendo praticamente todos os grandes compositores ibéricos do século XVII escrito vilancicos.[2]

Em Portugal e no Brasil editar

 
Folhetim dos Vilancicos das Matinas da Noite dos Reis de 1671

Em Portugal o vilancico teve o seu auge entre o primeiro quartel do século XVII até à sua proibição em 1723 por D. João V. Eram cantados em diversas solenidades religiosas, principalmente nas matinas do Natal e dos Reis e ainda na Imaculada Conceição e festas de santos vários, como São Vicente, Santa Cecília ou Santo António, em catedrais, mosteiros, conventos e igrejas por todo o país.[3]

Os vilancicos eram também presença central na Capela Real portuguesa. Vários foram os compositores que escreveram obras do género para serem cantados nas festividades do Natal, Reis e Imaculada Conceição, quase todas perdidas pelo terramoto de 1755 que destruiu a Biblioteca Real de Música. Felizmente, em pequenos folhetins espalhados por bibliotecas luso-brasileiras, são preservadas as partes poéticas que nos permitem ter uma ideia geral da sua estrutura.[3]

Eram escritos maioritariamente em castelhano, poucos em português e tinham um caráter propositadamente popular e profano, o que contribuiu para a sua extinção.[3]

No Brasil colonial o único vilancico de que se tem registo é o Matais de Incêndios, presente no Grupo de Mogi das Cruzes, atribuído ao compositor português Marques Lésbio.[4]

Em Espanha e Nova Espanha editar

Em Espanha a paixão pelo vilancico foi muito semelhante. Contudo, ao contrário do que ocorreu em Portugal, estes foram desaparecendo gradualmente, pelo que o termo "villancico" hoje significa apenas cantiga de Natal.

Em Nova Espanha o vilancico teve grande desenvolvimento, destacando-se as obras do compositor Gaspar Fernandes.

Vilancicos "étnicos" editar

 
Rei Mago negro (detalhe), discípulo de Grão Vasco, séc. XVI.

Os vilancico "étnicos"[5] são vilancicos que pretendem imitar, muitas vezes para efeito cómico, a língua e personalidade de uma etnia, criando personagens estereotipadas.[2] Estavam associados às celebrações do Natal e Epifania. Ao mesmo tempo respondiam ao gosto pelo exótico[2] e simbolizavam a adoração do Menino Jesus por todos os membros da sociedade (castelhanos, portugueses, galegos, negros, etc.).[2]

Vilancicos negros editar

Foram um dos principais géneros de vilancicos "étnicos". Procuravam imitar a língua portuguesa ou a língua castelhana, tal como eram faladas pelos escravos africanos.[1] A música era também adaptada aos instrumentos e às melodias tradicionais de África.[2]

Sobreviveram muitos vilancicos negros em arquivos ibero-americanos.[2] Alguns deles como "Sã qui turo zente pleta" e "Antonya Flaciquia Gasipà", gozam atualmente de grande popularidade.

Referências

  1. a b c d «Vilancicos negros do século XVII». Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura. 20 de junho de 2010. Consultado em 3 de janeiro de 2015 
  2. a b c d e f George J. Buelow (2004). A History of Baroque Music (em inglês) 1 ed. Indiana: Indiana University Press. pp. 372, 373, 374. ISBN 0-253-34365-8. Consultado em 13 de janeiro de 2015 
  3. a b c Mendes dos Remédios, Joaquim (1923). Os Vilhancicos. breve estudo bibliográfico-crítico dum género literário, que desapareceu há duzentos anos. Col: Subsídios para o estudo da Historia da Literatura Portuguesa, XXIII 1 ed. Coimbra: Lvmen. Consultado em 14 de janeiro de 2015 
  4. Katherine Dixson (2 de março de 2014). «Brazilian brilliance in Birmingham with Ex Cathedra». Bachtrack (em inglês). Consultado em 14 de janeiro de 2015 
  5. «La Accademia del Ricercare graba los villancicos "étnicos" de la catedral de Las Palmas». Soitu. 27 de janeiro de 2009. Consultado em 3 de janeiro de 2015 
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