A Vinca difformis, comummente conhecida como erva-da-inveja[1], é uma espécie de planta medicinal e ornamental da família das Apocináceas.[2] É originária da orla mediterrânica.[3]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaVinca difformis

Classificação científica
Reino: Plantae
Sub-reino: Tracheobionta
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Gentianales
Família: Apocynaceae
Subfamília: Rauvolfioideae
Género: Vinca
Espécies
V. difformis

Nomes comuns editar

Além de «erva-da-inveja» esta espécie dá ainda pelos seguintes nomes comuns: pervinca[4] (não confundir com as espécies Vinca minor e Vinca major, que consigo partilham este nome comum); congorsa[5] (também grafada congossa[6], alcangorça[7], alcongosta[7], congossa-maior[7], erva-congorça[7] e erva-concorça[7]) e salva-da-inveja.[7][8]

Etimologia editar

Do que toca ao nome científico:

 
Ilustração

Descrição editar

A Vinca difformis é um subarbusto, portanto pertence ao tipo fisionómico dos caméfitos e do hemicriptófitos (planta perene que passa o Inverno em forma de roseta), que se estende pelo solo com longas ramadas, que podem alcançar os dois metros de comprimento, as quais se cobrem de folhas ovadas ou lanceoladas, brilhantes e opostas, com 2 a 7 centímetros de comprimento.[3][12]

As flores são azuladas ou violáceas, podendo, inclusive, por vezes, parecer mais esbranquiçadas. São flores pedunculadas, de cálice permanente e glabro, com um tubo afunilado e comprido, que pode chegar até aos 18 milímetros de comprimento, que se abre em cinco lóbulos um pouco assimétricos, que podem atingir os 16 milímetros de comprimento e que lembram vagamente a imagem duma hélice. A sua época de floração decorre entre Inverno e a Primavera.[2][12][6]

Distribuição editar

É originária da orla mediterrânea, particularmente do Mediterrâneo Ocidental, conglobando a Argélia, Marrocos e o Leste italiano.[8]

Portugal editar

Trata-se de uma espécie presente em território português, nomeadamente no Arquipélago dos Açores e em Portugal Continental..[6]

Mais concretamente, do que toca a Portugal Continental, trata-se de uma espécie endémica, presente nas zonas do Noroeste ocidental, Centro-norte, Centro-oeste calcário, Centro-oeste olissiponense, Centro-leste montanhoso, Centro-sul arrabidense, Sudeste setentrional, Sudeste meridional e no Barrocal algarvio.[7]

Do que toca aos Açores, é uma espécie naturalizada, tratando-se por isso de um apófito (planta que está fora do seu habitat natural, por virtude da acção humana).[6]

Ecologia editar

Encontra-se geralmente em locais sombrios, húmidos e esquinados, seja a coberto de bosques (tipicamente carvalheiras) e silvados, em zonas ribeirinhas (ripícola) ou mesmo na margem de caminhos (ruderal).[1][12][7]

Propriedades editar

Contém alcalóides diferentes dos das outras espécies do seu género.[13]

Contém propriedades galactógenas, antidisentéricas, calmantes, antitóxicas, tónicas, aperientes, antilitiásicas, vulnerárias, hemostáticas e adstringentes.[13]

Taxonomia editar

A Vinca difformis foi descrita por Pierre André Pourret , na obra On the Asclepiadeae n.º 30, publicada em 1810.[14]

Citologia

Número de cromossomas de Vinca difformis (Fam. Apocynaceae) e taxones infraespecíficos: 2n=230.[15] 2n=46.[16]

Sinoníma
Vinca intermedia

Subespécies editar

Distinguem-se duas subespécies[17]:

  • Vinca difformis subsp. difformis : que medra no Mediterrâneo central e nos Açores.[18]
  • Vinca difformis subsp. sardoa Stearn (Syn .: Vinca sardoa (Stearn) Pignatti ): que medra na Sardenha.[19] Difere da subsp. difformis por causa da penugem das margens das folhas e da ponta do cálice das flores e pela largura de 6 a 7 centímetros das flores.[8]

Abonações históricas e literárias editar

Há uma abonação histórica do naturalista romano Plínio, que descreve esta pervinca como uma planta sempre verde, com a qual se fazia grinaldas.[12]

O folclore tradicional português atribuia a esta planta propriedades mágicas apotropaicas, para combater o mau-olhado, espantar fantasmas e devolver o viço aos que "se desengam de amores". Neste sentido, José Leite Vasconcellos, na sua obra «Tradições populares de Portugal», registou o costume de «Contra as feiticeiras é bom trazer uma pedra de ara, com aipo, arruda, loureiro, oliveira e herva de inveja, tudo numa saquinha», próprio da Idade Média em Portugal.[20]

No mesmo sentido, Zófimo Consiglieri Pedroso, na sua obra «Contribuições para uma Mitologia Popular Portuguesa», corrobora esta prática das portuguesas medievais levarem consigo um saquinho contendo ervas e objectos com propriedades apotropaicas, com alusão a um processo da Inquisição de Évora, em que uma condenada trazia consigo um saco de pano negro, contendo ervas mágicas, das quais a erva-da-inveja.[21] Na mesma toada, Gil Vicente, na sua farsa, «O auto das fadas», também faz figurar uma personagem, «a Feiticeira», munida de um "alguidarinho e saquinho de hervas", que se serve da "herva de enveja" para fins mágicos.[22]

É possível que o nome «erva-da-inveja», se deva exactamente a esta tradição popular, que associava esta planta a práticas mágicas contra o mau-olhado.[20]

Referências

  1. a b Infopédia. «erva-da-inveja | Definição ou significado de erva-da-inveja no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 1 de dezembro de 2020 
  2. a b «Vinca difformis» (em inglês). The Plant List. 2010. Consultado em 25 de julho de 2014 
  3. a b Missouri Botanicaal Garden (2014). Tropico, ed. «Vinca difformis» (em inglês). Consultado em 25 de julho de 2014 
  4. Infopédia. «pervinca | Definição ou significado de pervinca no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 1 de dezembro de 2020 
  5. Infopédia. «congorsa | Definição ou significado de congorsa no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 1 de dezembro de 2020 
  6. a b c d «Vinca difformis | Flora-On | Flora de Portugal interactiva». flora-on.pt. Consultado em 1 de dezembro de 2020 
  7. a b c d e f g h «UTAD- Jardim Botânico -Vinca difformis Pourr. subesp. difformis». Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Consultado em 1 de fevereiro de 2020 
  8. a b c «The Euro+Med Plantbase Project». ww2.bgbm.org. Consultado em 1 de dezembro de 2020 
  9. «vinca - WordSense Dictionary». www.wordsense.eu (em inglês). Consultado em 27 de março de 2023 
  10. «pervinca - WordSense Dictionary». www.wordsense.eu (em inglês). Consultado em 27 de março de 2023 
  11. Alrich, Peggy & Higgins, Wesley. (2016). "Phalaenopsis difformis." 26. 20-21.
  12. a b c d Crespí, António Luis (1998). Flora iberica. Plantas vasculares de la Península Ibérica e Islas Baleares. Madrid: Real Jardín Botánico, C.S.I.C. 630 páginas. ISBN 978-840-006-222-4 
  13. a b Dr. Berdonces I Serra. «Vinca difformis». Tikal ediciones ISBN 84-305-8496-X. 960 páginas 
  14. «Vinca difformis». Tropicos.org. Missouri Botanical Garden. Consultado em 19 de Outubro de 2013 
  15. Proves Chromosome atlas of flowering plants. Darlintong, C. D. & A. P. Wylie (1955).
  16. Proves Sur la caryologie de quelques plantes récoltées pendant la III Reunion de Botanique Péninsulaire. Fernandes, A. & M. Queirós (1971) Mem. Soc. Brot. 21: 343-385
  17. «World Checklist of Selected Plant Families: Royal Botanic Gardens, Kew». wcsp.science.kew.org. Consultado em 1 de dezembro de 2020 
  18. «World Checklist of Selected Plant Families: Royal Botanic Gardens, Kew». wcsp.science.kew.org. Consultado em 1 de dezembro de 2020 
  19. «World Checklist of Selected Plant Families: Royal Botanic Gardens, Kew». wcsp.science.kew.org. Consultado em 1 de dezembro de 2020 
  20. a b Leite Vasconcellos, José (1882). Tradições Populares Portuguesas. Porto: LIVRARIA PORTUENSE DE CLAVEL & C .ª. p. 123 
  21. Consiglieri Pedroso, Zófimo (1988). Contribuições para uma Mitologia Popular Portuguesa e Outros Escritos Etnográficos. Lisboa: Dom Quixote. p. 7. ISBN 978-972-200-210-3 
  22. Monteiro, J. G. (1834). Obras de Gil Vicente, vol III. Hamburgo: OFFICINA TYPOGRAPHICA DE LANGHOFF. p. 97 

Ligações externas editar

 
Wikispecies
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