Ataúro

ilha e município de Timor-Leste
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Ataúro (também conhecida como Atauro ou Pulau Atauro, em tétum) é uma pequena ilha e um município timorense[2], que se localiza a aproximadamente 25 km ao norte de Díli, capital de Timor-Leste, no extinto segmento vulcânico do Arco Interno de Banda, entre as ilhas Indonésias de Alor e Wetar.[1] Administrativamente é um recém-criado município de Timor-Leste desde 1 janeiro de 2022.[3] Ataúro cidade da qual se distancia 24 km através do estreito de Wetar, no mar de Banda.[1][4]

Ilha Ataúro

Ataúro visto de Díli
8° 15′ S, 125° 35′ L
Geografia física
País Timor-Leste
Área 117,35  km²
Geografia humana
População 8.000[1]
Ataúro situa-se a norte do distrito de Díli

A ilha apresenta aproximadamente 25 km de extensão por 9 km de largura, o que compreende uma área de cerca de 117 km², habitada por uma população em torno de 10 mil pessoas. A capital do município é o aglomerado urbano de Vila Maumeta.

Ataúro tornou-se o 14º município timorense, foi criado pela Lei Nº 14/2021 de 7 de julho de 2021, que modificou a Lei Nº 11/2009, de 7 de outubro 2009, também conhecida como Lei da Divisão Administrativa do Território. O texto legislativo que criou o município de Ataúro foi aprovado em 31 de maio de 2021, promulgado em 30 de junho de 2021 pelo Parlamento Nacional de Timor-Leste e passou a ter efeitos a partir do dia 1 de janeiro de 2022[5].

Etimologia editar

Ataúro significa "cabra" no dialeto insular local, mas a ilha é também conhecida como Kambing (Pulau Kambing) pelos Indonésios.[nota 1] A denominação vem em virtude da grande quantidade de cabras que vagueiam por lá.

História editar

Veja também: História de Timor-Leste

Colonizada junto com Timor-Leste por Portugal no século XVI, Ataúro foi usada como ilha-prisão logo após a chegada dos portugueses. No tempo do Timor português, a ilha de Ataúro foi colocada com parte do município de Díli. Quando Timor-Leste se tornou independente, houve uma proposta para reorganizar os distritos e fazer de Ataúro uma área autônoma. Entretanto, a autonomia não foi concedida à época, Ataúro só veio a tornar-se um município, quando desmembrou-se de Díli em 1 de janeiro de 2022[5].

No boletim da Sociedade Geográfica de Lisboa, volume 36, há o seguinte relato sobre a ilha:

Pelo decreto supracitado, foi Ataúro colocada sob a dependência administrativa do concelho de Díli, devendo-se ao ilustre governador, sr. Eduardo Marques, a instalação de seu primeiro posto militar, que se montou em 25 de julho de 1909, no lugar de Beloi (...)[6]

Em 11 de agosto de 1975, quando a UDT organizou um golpe em uma tentativa de interromper a crescente popularidade da Fretilin, o governador português Mário Lemos Pires abandonou Díli e foi para Ataúro, de onde ele mais tarde tentou firmar um acordo entre os dois grupos. Ele foi instado pela Fretilin a voltar e retomar o processo de descolonização, mas ele insistiu que esperava instruções do governo de Lisboa, então com pouco interesse na questão.

O caos por fim levou à ocupação indonésia. Após décadas de luta, em 20 de maio de 2002, Ataúro se tornou parte do Timor-Leste independente.

Geografia editar

 
Vista parcial de um trecho da ilha de Ataúro

A ilha é dividida em cinco distritos, cada um com sua respetiva vila: Bikeli e Beloi no norte, Macadade (antes Anartutu) no sudoeste, e Makili e Vila no sudeste, sendo esta última a maior aglomeração. Outros povoados importantes incluem Pala, Uaroana, Arlo, Adara, e Berau. Uma estrada asfaltada liga Vila a Pala, enquanto as outras aglomerações tem estradas de terra que as ligam. Há uma pista de pouso em Ataúro.

O monte Manucoco é o ponto mais alto da ilha, e está a 995 m de altitude. O estreito que separa Ataúro de Timor tem quase quatro mil de profundidade,[1] enquanto que, inversamente, o lado que separa Ataúro de Wetar é muito mais raso. Geólogos da Universidade de Melbourne estão, junto com a Diretoria Timorense de Energia Mineral e Recursos e o Instituto Politécnico de Díli, trabalhando para fazer o primeiro mapa geológico de Ataúro, em parte para melhorar a infraestrutura da ilha, ainda muito carente.

Ataúro é pequena e instável, tem terreno escarpado e frequentemente sofre em virtude de deslizamentos de terra e carência de água potável, especialmente durante a estação seca. As fontes de água potável estão presentes a aproximadamente 2 km a norte de Berau, com pequenos reservatórios nas proximidades de Macadade e dos declives orientais do Monte Manucoco. Poços de água no litoral suprem água de qualidade ruim para a maior parte das vilas costeiras. Portugal está financiando um novo projeto para melhorar a disponibilidade de água e infraestrutura de distribuição na ilha.

Ataúro apresenta duas estações definidas - chuvosa e seca. A vegetação consiste de florestas de Eucalyptus sp. (o que demonstra uma proximidade com a Australásia), em terrenos íngremes e morros, habitualmente onde pedras calcárias afloram. Já as florestas tropicais se mostram presentes nos vales. A ilha vem sofrendo com extensivo desmatamento desde que Portugal começou a colonizá-la, no começo do século XVI.

Um ferry-boat liga Ataúro à capital do país, Díli, uma vez por semana. A conexão leva em torno de duas horas. O embarcadouro fica em Beloi. Pode-se chegar à ilha também por barcos pesqueiros. Uma pista de pouso e decolagem fica perto de Vila Maumeta. Ataúro tem recentemente se tornado um destino para o ecoturismo, o que tem tornado seus corais conhecidos entre os amantes do mergulho.[7]

Cultura editar

Ataúro é algo incomum em Timor-Leste, visto que a maioria dos habitantes de sua parte norte é Protestante, e não Católica. Eles foram evangelizados pela missão da igreja Calvinista neerlandesa de Alor no começo do século XX. Há também alguns protestantes entre a população que vive ao sul da ilha.

O povo de Ataúro fala três dialetos wetarenses, principalmente falados em Wetar e Liran na Indonésia.

Galeria editar

Notas

  1. Kambing também significa "cabra" em Indonésio bahasa

Referências

  1. a b c d Neil Matthews (2007). Travels with Mensans. [S.l.]: Lulu.com. 224 páginas. ISBN 9781847533401 
  2. «Divisões Administrativas». Governo de Timor Leste. Consultado em 3 de outubro de 2015. Cópia arquivada em 3 de outubro de 2015 
  3. Lusa: Parlamento timorense vota criação de novo município da ilha de Ataúro a partir de 2022
  4. Ana Maria Magalhães (2012). Uma Aventura na Ilha de Timor. [S.l.]: Leya. 240 páginas. ISBN 9789722124058 
  5. a b «N.o 14/2021: Segunda Alteração à Lei n.o 11/2009, de 7 de outubro (Divisão Administrativa do Território)» (PDF). Publicação Oficial da República Democrática de Timor-Leste. 7 de julho de 2021. Consultado em 27 de janeiro de 2023 
  6. Adm. da sociedade (1910). Boletim da Sociedade de geographia de Lisboa, Volume 36. [S.l.]: Ed. própria 
  7. Da redação (17 de abril de 2005). «Ethical tourism on an untouched island». The Sun Herald. Consultado em 25 de setembro de 2015 

Veja também editar

Ligações externas editar

 
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