Miami (tribo)

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Os Miami são uma tribo ameríndia algonquina, cujo nome provém do chippewa omaugeg, “povo da península”. Os europeus chamaram-lhes Twightwees, que possivelmente procederá de twah twah, canto do cisne, e por confusão com tawa “nu” foram chamados Naked Indians, índios nus. Dividiam-se em seis grupos: Atchatchatkangouen, Kelatika, Mengakonkia, Pepicokia, Wea (de wawiatenong) e Piankashaw. Estes dois ramos independentizaram-se como tribos.

Bandeira da Nação Miami

Localização editar

Os Miami viviam a sul do Lago Michigan, no nordeste de Illinois e norte de Indiana, e nas margens do rio Kalamazoo. Os Wea viviam nas proximidades da atual Chicago, para onde se mudariam para a zona do rio Wabash. Quanto aos Piankashaw, viviam no Wabash inferior. Actualmente, as três tribos vivem em Oklahoma.

Demografia editar

Em 1695 eram cerca de 4 500 indivíduos, mas o número diminuiu enormemente já que em 1887 apenas se listaram 64 nomes no rol tribal (350 na subagência Quapaw). Em 1937 eram 1390 e em 1960 totalizavam-se 305 Miami e 700 Wea no estado de Oklahoma. Em 1990 eram cerca de 500 no Oklahoma, mas segundo Asher em 1980 seriam cerca de 2 000 com os Illinois, os Wea e os Piankashaw. Segundo dados do Bureau of Indian Affairs de 1995, na Reserva Miami de Oklahoma havia 341 habitantes (1574 no rol tribal). Segundo o censo dos Estados Unidos de 2000, estavam recenseados 6 417 Miami.

Costumes editar

O sistema social dos Miami baseava-se em clãs exogâmicos, e os chefes dos clãs também eram membros do conselho do povo. Um deles era escolhido como líder civil. O líder guerreiro era escolhido pela sua habilidade de combate, e dirigia as incursões.

O principal alimento da sua dieta era um particular tipo de milho, considerado melhor que o que cultivavam os seus vizinhos. Durante o verão ocupavam povoados permanentes de carácter agrícola, e durante o inverno deslocavam-se para as planícies com outras tribos, a fim de caçar o bisonte. Viviam em habitáculos cobertos de matagal, similares aos das tribos das proximidades, e cada povoado tinha uma casa grande onde celebravam conselhos e outras cerimónias. Os Piankashaw eram no entanto mais parecidos culturalmente aos Kickapoo e aos Winnebago. Também celebravam o Midewiwin ou Grande Sociedade de Medicina, organização secreta onde os membros se criam capazes de proporcionar bem-estar à tribo e curar a melancolia. Eram importantes nas cerimónias os amuletos medicinais sagrados e outros objetos mágicos.

História editar

 
Litografia de Little Turtle, alegadamente baseada num retrato perdido feito por Gilbert Stuart, destruído no Incêndio de Washington perpetrado pelos britânicos em 1814[1]

Quando em 1658 o francês Gabrielle Druillettes os visitou, estavam estabelecidos em Green Bay (Wisconsin), mas até 1670, pressionados pelos Sioux, Confederação Iroquesa, Chippewa e outras tribos, partiram para a região onde hoje é Detroit e as margens dos rios Fox e Saint Joseph.

Mantinham boas relações com os Ottawa, Chippewea e Potawatomi, formando a Liga dos Seis Fogos com o fim de se defenderem dos Iroqueses. Em 1748 assinaram com os britânicos o Tratado de Lancaster. Assim, em 1748-1752 o líder La Demoiselle ou Old Briton dirigiu a partir da cidade de Pickawillany uma revolta contra os franceses, confederado com os Wea, Ottawa, Potawatomi, Piankashaw e Kickapoo. Porém, Charles Langlade atacou a cidade e queimou vivo o líder revoltoso.

Durante a revolta de Pontiac em 1763, estiveram contra os ingleses. Durante a Guerra da Independência dos Estados Unidos ajudaram a Grã-Bretanha, liderados por Little Turtle, e recusaram pactuar com os colonos; entre 1783 e 1790 mataram 1 500 colonos. Em 1790 Little Turtle venceu Josiah Harmar, e, em 2 de novembro de 1791, Arthur Saint Clair, provocando 600 mortos e 300 feridos. Little Turtle tentou então uma paz honrosa, mas o seu lugar-tenente Turkey Foot foi vencido e morto por Anthony Wayne em Fallen Timbers em 1792. Isto obrigá-los-ia em 1795 a assinar o Tratado de Greenville, pelo qual tiveram de ceder o Ohio meridional e oriental.

Durante 1812, apesar da oposição de Little Turtle, ajudaram Tecumseh até terem sido vencidos por Anthony Wayne em Mississimewa.

Entre 1790 e 1840 assinaram mais de 50 tratados. No de 3 de agosto de 1795 os Miami e os Wea tinham liberdade de caça nas terras cedidas aos Estados Unidos, e no de 22 de julho de 1814 ajudaram os Estados Unidos contra os britânicos. Em 2 de outubro de 1818 os Wea e os Piankashaw assinaram outro tratado, o qual lhes garantia o uso pacífico da terra, mas em 1820 tiveram de vender as tierras no Illinois e partir para o Missouri, e em 1832 para o Kansas. Pelo tratado de 1838 saíram do Kansas, exceto um grupo que permaneceu em Richardville, Godfroy e Meshekumnoquah (Indiana), onde ainda vivem os seus descendentes. Em 28 de novembro de 1840 assinaram o Tratado de Forks of Wabash (Indiana), pelo qual foram para o condado de Miami (Kansas), mas uns 300 foram levados para Morais des Cignes em 1843 em condições desastrosas.

Os Miami cederam ou transferiram a maioria do Indiana numa série de tratados antes e depois da Guerra de 1812. Euro-americanos que se estabeleceram na região perturbaram o seu modo de vida, levando a tempos de violência. Os chefes Richardville e Lafontaine lideraram a resistência à remoção dos Miami até 1846. Os chefes Miami negociaram a migração de metade da tribo no Caminho das Lágrimas (Trail of Tears) e deram refúgio a muitos que regressaram do Kansas.[2]

Em 1867 os Miami, Wea e Piankashaw, juntamente com os Peoria e outros, mudaram-se para território índio no Oklahoma e foram recolocados no condado de Ottawa, e o resto para Quapaw Agency em 1873, onde vivem hoje em dia. Não têm terra tribal, mas sim privada, já que a lei de 1887 (Allotment Act) lhes parcelou as terras. Além disso, um grupo hostil partiu para a Califórnia, onde cerca de 150 descendentes vivem em duas reservas. Em 30 de outubro de 1931 a tribo dos Miami recebeu uma constituição tribal das mãos do chefe Harley Palmer.

Lista de Miamis editar

Ver também editar

Referências

  1. Carter, Life and Times, 62–3.
  2. "The Miami Indians of Indiana: a persistent people, 1654-1994" / Stewart Rafert. ISBN 0-87195-111-8 (cloth). Indiana Historical Society (1996). Rafert, Stewart.

Bibliografia editar

  • Carter, Harvey Lewis. The Life and Times of Little Turtle: First Sagamore of the Wabash. Urbana: University of Illinois Press, 1987. ISBN 0-252-01318-2.

Ligações editar

 
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